>Análise dos técnicos – Divisão Sudoeste

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O ex-técnico Jeff Van Gundy afirmou que suas
olheiras são culpa do Bola Presa

Você pediu, você implorou, você esperneou e fez birra. Você ameaçou a gente de morte. Alguns caras nos Estados Unidos até mesmo se negaram a pagar suas dívidas do setor imobiliário, gerando uma crise econômica global. Jeff Van Gundy disse não ter motivos para viver ao ser demitido e não poder mais figurar em nosso post. Então é hora da gente deixar a preguiça de lado e cumprir o que prometemos: uma análise de todos os técnicos da NBA, um por um, pra você se mostrar para os amiguinhos e fingir que entende tudo de basquete. Só não vá pensando que vai conquistar alguma garota assim, até porque conhecer técnicos de basquete não vai te fazer ganhar dinheiro. Mas é o que separa os homens dos meninos, porque conhecer o LeBron James é fácil, aloprar o Kwame Brown é comum, mas saber se o técnico Eddie Jordan é bom ou ruim é coisa para um grupo seleto da população. Uma casta de fracassados que não tem mais nada pra fazer da vida além de absorver basquete e ficar escrevendo num blog por aí.

Resolvemos separar os técnicos por divisão, de modo a apresentar diariamente cinco deles de cada vez. Assim, teremos uma espécie de “semana dos técnicos” e, para celebrar a ocasião (não é sempre que fazemos um post tão exigido pelos leitores sem que tenhamos recebido propina), o técnico do Lakers, o vovô Phil Jackson, está olhando para você na nova foto do nosso template. Esperamos que todos os pentelhos que tanto pediram por essa série de posts estejam felizes e saltitantes e vamos então às análises, antes que bata a preguiça e a gente mude de idéia. Para começar, de forma aleatoriamente arbitrária, elegi a conferência do meu time, o Houston Rockets. Então, hora de fuçar nos técnicos da divisão Sudoeste.


Rick Carlisle, Dallas Mavericks

O técnico Rick Carlisle é famoso por ser um dos maiores estrategistas do basquete. Domina a parte tática do jogo como ninguém, ciente de todas as nuances e possibilidades em quadra. Muitos técnicos admitiram invejar a capacidade de Carlisle de adaptar suas táticas ao que está acontecendo no jogo, alterando o que for necessário para manter a partida sob controle. O único problema é que Carlisle é tão inteligente e versado no jogo da prancheta que acaba tendo problemas em se comunicar com seus jogadores no mundo real. Dá pra imaginar o cara falando por uns 15 minutos, citando nomes de jogadas, números, dados, traçando linhas e mais linhas na prancheta com trezentas variações de ataque e infinitas movimentações ofensivas para, ao terminar, ouvir alguém como o Ben Wallace perguntar: “Peraí, professor, o que você quer é que a gente coloque a bola na cesta, é isso?” É como se o PVC, o comentarista enciclopédia-humana da ESPN Brasil, fosse virar técnico de futebol. Ele ia descrever como o ataque adversário está usando uma variação da linha da Iuguslávia em 64 e os jogadores iriam tirar um cochilo. Um equivalente possível no futebol seria o Luxemburgo, que dizem ter problemas para se comunicar com os seus jogadores apesar (ou por causa) do domínio tático.

Quando estava no Pistons por duas temporadas, o Carlisle chegou a ser o técnico do ano e levou o Pistons a mais de 50 vitórias nas duas vezes, apanhando depois nos playoffs e sendo demitido. Quando foi para o Pacers, logo depois, venceu mais de 60 jogos, acabou em primeiro lugar na Conferência mas perdeu na Final do Leste para o Pistons de Larry Brown. Desde então, contusões acabaram com o elenco do Pacers e, diz a lenda, ninguém mais aguentava o blá-blá-blá do Carlisle, principalmente porque ele não tem muito tato para lidar com sujeitos como Jamaal Tinsley e Ron Artest. Agora ele é o novo e feliz técnico do Dallas Mavericks. Na temporada passada, quando Kidd foi trocado para o time, foi simplesmente tacado no elenco, apenas tapando o buraco deixado na armação. Não houve nenhuma adaptação do esquema tático. Agora, do jeito que Carlisle é biruta e do jeito que Kidd é um dos armadores mais inteligentes da NBA, é muito provável que o armador comande um ataque complexo com quatro mil variações. Se existe alguém no mundo capaz de entender o que o Rick Carlisle está pedindo, esse alguém é Jason Kidd. Para a próxima temporada, veremos se esse casamento dará certo e se Kidd parecerá ter menos de 60 anos. O único problema é que Carlisle costuma focar bastante na defesa e Kidd, bem, Kidd não defende mais nem ponto de vista.


Rick Adelman, Houston Rockets

O técnico do meu Houston sempre foi um dos meus favoritos na NBA. Na época em que Nash e D’Antoni não faziam o Suns correr como débeis mentais, o Sacramento Kings era sem dúvida nenhuma o time mais divertido de se assistir. Tudo porque a filosofia de Adelman é criar um ataque que flua naturalmente em quadra, com liberdade e criatividade. As variações ofensivas são muitas, a improvisação é estimulada e todo mundo acaba arremessando muito em seus times. No entanto, a ênfase não é na velocidade, como no Suns de D’Antoni. Aliás, Adelman não é um grande fã de contra-ataques, preferindo que o time tenha calma para desenvolver suas jogadas ofensivas. Alguns dizem que a tática de Adelman é uma suruba, em que todo mundo faz o que bem entende, mas outros afirmam que ele é bastante rígido com as movimentações ofensivas. Ele não se importa se um jogador incompetente errar 100 arremessos no jogo, desde que em todos eles tenha havido movimentação, fluidez e calma no ataque. Imagina como o Marbury ia ficar se coçando num esquema desses!

Num time de Adelman, todo mundo toca na bola. Os pivôs costumam sair de perto da cesta, ficando bastante na cabeça do garrafão, e aproveitando sua altura para dar passes precisos. Com Brad Miller e Yao Ming, funciona. Se tem uma coisa que o Adelman sabe fazer é usar as qualidades de seus jogadores ao máximo, seja altura, velocidade ou arremessos de fora. Mas o único modo de saber se Adelman sabe mesmo se adaptar ou se é ditatorial demais no ataque seria colocar o Kwame Brown em suas mãos e ver se ele insiste em colocar a bola nas mãos de moça do Kwame.

Por ser um técnico tranquilo, Adelman ficou famoso por saber lidar com jogadores problemáticos, tendo sucesso com Ron Artest e até com o Trail Blazers na época em que eles pareciam um episódio do “Cidade Alerta” da Record. Mas também tem fama de não cobrar muito os jogadores, principalmente na defesa. Recentemente, deu o braço a torcer e resolveu manter no Houston a defesa que havia sido instituída com sucesso pelo Jeff Van Gundy, modificando apenas a estrutura ofensiva. Deu bastante certo, o Houston destruiu na temporada regular mesmo sem Yao Ming, mas eu ainda não entendo o motivo de, nos playoffs, Adelman ter mudado a rotação do time. Ainda arrebento ele na saída.

Marc Iavaroni, Memphis Grizzlies

De duas uma: ou o Iavaroni é burro ou precisa muito alimentar suas crianças. De outro modo, não vejo porque teria aceitado o cargo de técnico do Grizzlies. Já foi assistente técnico de Pat Riley, passou os últimos anos se divertindo como assistente técnico na correria do Phoenix Suns, mas preferiu agora ser o capitão responsável por um barco naufragado pela metade. Se o cargo não fosse ruim o bastante, ainda aprontaram feio com o coitado, trocando a estrela do time, Pau Gasol, por três feijões mágicos e mais o Kwame Brown, o pesadelo de qualquer técnico. Talvez o Grizzlies esteja apenas montando um reality show apresentado pelo Silvio Santos, entitulado “Como enlouquecer um técnico novato”. Se ele não se matar até o fim da próxima temporada, receberá seu prêmio em barras de ouro, que valem bem mais do que dinheiro.

Se o Marc Iavaroni é bom ou ruim? É impossível dizer. Primeiro porque ninguém assistiu jogo nenhum do Grizzlies na temporada passada, nem a gente aqui no Bola Presa, nem os torcedores do time, nem a família dos jogadores. Segundo porque não dá pra julgar a capacidade de alguém tendo que comandar um dos piores elencos de toda a NBA. Contra o Iavaroni, consta a lenda de que, uns anos atrás, ele achava o Jake Tsakalidis o único pivô que seria capaz de rivalizar com Shaquille O’Neal. Como a especialidade do Iavaroni são os homens de garrafão, imagina só o tipo de merda que ele deve falar de armadores, por exemplo.

Byron Scott, New Orleans Hornets

O ganhador do prêmio de técnico do ano na temporada passada é um dos utilizadores na NBA da denominada “Princeton offense”, um conjunto complexo e rígido de táticas ofensivas utilizadas durante décadas pela Universidade de Princeton. Trata-se de priorizar a movimentação de bola, com uma infinidade de passes, a maioria dos jogadores atrás da linha de três pontos, até que exista espaço para arremessos livres ou infiltrações por trás dos defensores (sem duplo sentido, por favor). É um ataque lento, que visa a marcar poucos pontos, exige um grande esforço coletivo e é ideal contra adversários mais atléticos. Normalmente, armadores não são muito necessários na “Princeton offense”, porque qualquer um pode iniciar a movimentação ofensiva, então basta um armador mediano que esteja disposto a passar a maldita bola. Fica fácil de entender o porquê de Byron Scott ter trocado Marbury pelo Kidd assim que assumiu o Nets, não fica? Com Kidd, aliado à “Princeton offense” e aos famosos recursos motivacionais de Scott, o Nets chutou traseiros e foi campeão do Leste. Agora, no Hornets, quem rege a “Princeton offense” é o Chris Paul, um armador inteligente e disposto a passar a bola a todo custo.

É claro que a implantação da tática é mérito de Byron Scott, e ele é famoso por colocar em seus jogadores uma mentalidade de jamais desistir em momento algum das partidas, fazendo todo mundo acreditar que pode ganhar. Mas como seria seu desempenho sem armadores espetaculares como Kidd e Chris Paul para reger uma das movimentações mais complexas do universo basquetebolístico? E se você quer saber mais sobre a “Princeton offense”, pense duas vezes antes de pedir para o Bola Presa fazer um artigo a respeito: é difícil pra burro entender a fundo essa porcaria e também lembramos que toda vez que nos cobram algum post, o mercado financeiro dos Estados Unidos entra em colapso. Cuidado.

Gregg Popovich, San Antonio Spurs

O técnico que todos amam odiar, o técnico que não cansa de ganhar, que faz os nerds das pranchetas terem orgasmos múltiplos e coloca para dormir todo o resto da civilização ocidental contemporânea. Tudo porque Popovich foca seus esforços na defesa enquanto tem fama de ser um dos técnicos mais severos e controladores no ataque (ele é tipo mulher ciumenta). Tente dar um arremesso que Popovich não planejou com antecedência de 48 horas e você será colocado no banco. Para conseguir arremessar uma simples bola, Tony Parker precisa preencher um formulário e autenticar em três vias – seja lá o que isso significar. Mas a verdade é que os jogadores no Spurs apenas obedecem o que está instituído, colocando em prática um ataque maquinal e absurdamente funcional. Duncan estará sempre em posição para seu clássico arremesso usando a tabela, Tony Parker sempre poderá infiltrar e passar a bola para a zona morta e Bruce Bowen sempre estará livre por aquelas bandas, pronto para arremessar de três e ser um bundão. Apenas Ginóbili é inesperado porque ele faz as mesmas coisas de modos extraordinários, com aquelas passadas malucas e destrambelhadas que, segundo o próprio Popovich, matam ele do coração.

Quando falo do Popovich, sempre uso como exemplo sua relação com Tony Parker. O francês tinha uma cota máxima de arremessos que podia dar de trás da linha de 3 pontos (sem brincadeiras!) e, quando começou sua sua carreira no Spurs, era obrigado a passar a bola para fora do garrafão ao invés de fazer as bandejas que hoje lhe são marca registrada. Com o tempo, foi ganhando mais liberdade com o técnico – o que equivaleria a uma mãe dizer que a filha não pode ir para a balada, mas que agora pode passar maquiagem dentro de casa. Para nós, fracassados que perdemos para o Spurs a torto e a direito, sua relação ditatorial com o time, respostas mal humoradas e cara de quem está com uma eterna apendicite nos fazem odiar Gregg Popovich como poucos no mundo. Mas tem mais: “Pop” (como alguém tão mal encarado pode ter um apelido tão fofucho?) era dirigente do Spurs, demitiu injustamente o técnico do time e se auto-proclamou o novo treinador, cargo que exerce desde então. Se ele não fosse um branquelo em um time texano, provavelmente o presidente Bush iria colocar o exército para intervir na questão. E o mais engraçado é que Popovich disse que deve se aposentar assim que acabar o contrato de Tim Duncan, ou seja, provavelmente não quer testar como seriam seus resultados sem um dos melhores jogadores de todos os tempos ao seu lado. Bem, se pudesse escolher, eu também não testaria.

E não adianta me dizer que estou com dor de cotovelo porque sim, estou com dor de cotovelo. O Gregg Popovich ganhou demais na vida, deixa pelo menos um blog na internet dar a entender que o cara é fracassado, tá legal?

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