Para os perdedores, só resta um “facepalm”
Com o fim da imensa temporada regular – meu deus, demorou quase tanto quanto aquele terceiro filme do Senhor dos Anéis – não teremos mais que falar dos times fracassados, dos que fedem, dos que ficaram para titia. Então, antes de falar dos times de verdade, que disputarão os playoffs a partir de sábado à tarde, vamos nos despedir dos times de mentira que vão acompanhar a pós-temporada comendo pipoca e assistindo Zorra Total:
Timberwolves
A temporada foi um fracasso. Tinha gente, não vou apontar quem porque não tem nenhum espelho por perto, que achava que eles poderiam ser a equipe mais surpreendente da temporada. Mas o jovem time teve que lidar com um novo técnico que foi duramente questionado pelos jogadores no decorrer das partidas, se acostumar com o esquema dos triângulos que aparentemente ninguém entendeu, sofreu com lesões e tem um elenco que não faz sentido. Legal, o Al Jefferson é uma estrela e o Kevin Love uma máquina de pegar rebotes com um cérebro de físico nuclear, mas pra que serve se eles não conseguem jogar juntos porque são da mesma posição? O elenco é formado por dois tipos de jogadores: armadores principais e jogadores similares ao Al Jefferson, não dá pra fazer muita coisa com essas opções, é um álbum cheio de figurinhas repetidas. Quando o técnico Kurt Rumbis foi contratado, avisaram que seria um trabalho de longo prazo e que era para ele colocar a pivetada para sofrer mesmo, ainda que isso viesse com o custo de trocentas derrotas. Dito e feito, as derrotas vieram, a pirralhada sofreu, só não sei quanto tempo esse projeto aguenta ser de longo prazo. Meu palpite é que o esquema dos triângulos não vai dar certo, ninguém vai entender, o Ricky Rubio não vai jogar no Wolves, o técnico vai se queimar logo e então eles vão tacar tudo fora e começar de novo – mais uma vez.
Rockets
Um glorioso nono lugar no Oeste para um time que começou sabendo que a temporada estava perdida. No entanto, não ir aos playoffs é um golpe no ego do técnico Rick Adelman. Ninguém mais fala de lhe dar o prêmio de técnico do ano – ainda que ele mereça – e deu pra perceber que seu projeto ideal de um time com jogadores secundários e inteligentes, sem nenhuma grande estrela, não é o bastante para se classificar num Oeste tão disputado. Não adianta insistir nesse projeto utópico, para a temporada que vem o Kevin Martin terá que passar mais tempo com a bola nas mãos, e se Yao Ming conseguir andar ganhará papel importante na equipe. É uma pena que o sonho de um time de coadjuvantes tenha ficado no “quase”, e acredito que o Rick Adelman tenha percebido a impossibilidade e esteja pronto para tentar outra coisa. É a morte do Houston de figurantes. Mesmo sem as vitórias, eu vou ficar com saudade.
Kings
Um time com dois novatos que passaram a maior parte da temporada como titulares, um deles tocando na bola em todas as jogadas. Tyreke Evans é um monstro e joga como se tivesse 30 anos, conhecesse todos os xavecos e tivesse conta VIP no motel, ao invés de ser um virgem afobado. Omri Casspi, o outro novato titular, é muito bom e até mesmo passa a bola, apesar de ser judeu. Mas além de um time titular de pirralhos com responsabilidades grandes demais, ainda trocaram seu jogador mais importante no meio da temporada e tiveram que se enturmar tudo de novo. São jovens, despreparados, mas são legais de assistir e o potencial é gigante. Foram o meu time queridinho da temporada, espero que voltem ainda melhores para a temporada que vem.
Knicks
A gente pensava que o Suns do D’Antoni não sabia defender, não é engraçado? A gente só reconhece a beleza da Pitty depois de comparar com a Preta Gil. O projeto do D’Antoni no Knicks é oficialmente um fracasso, a defesa é patética, e eles podem até pontuar, mas na verdade nem isso funciona direito. Não arrumaram um armador que pudesse fazer o estilo de jogo funcionar (todo mundo disse que o Nash era “fruto do sistema” porque o Chris Duhon era um bom imitador, mas aí caiu o bigode falso e o Duhon foi apodrecer no banco de reservas), e quando o T-Mac apareceu para tentar organizar a casa na armação, curiosamente o time ficou ainda pior. Se eles parecem ruins correndo como loucos e arremessando sem critério, é só porque não vimos eles tentando pensar alguma jogada. Essa temporada foi um baita de um migué, foi só enrolação para passar o tempo, tipo quando você fica olhando para as horas no teu celular porque não tem nada para acrescentar à conversa e não sabe o que fazer com as mãos. O Knicks só está esperando contratar alguém pra temporada que vem e teve que enrolar um pouco. Eu pensava que eles tentariam mostrar que “dá pra vencer, só falta uma estrela” para tentar chamar alguém, mas eles preferiram ressaltar que arrumaram o maior espaço salarial da NBA e torcer que alguém vá morder a isca. O pior é que vai mesmo, mas não o LeBron. Nem fodendo.
Nets
Evitaram a pior campanha da história, pronto, tão no lucro. Esse time não merecia isso, insisto, eles tem um elenco balanceado, jovem, talentoso, e o começo terrível de temporada foi uma aberração – por contusões, azar, tabela – que acabou comendo seus cérebros. Quando eles venceram esse lado psicológico, com os jogadores minimamente saudáveis, as vitórias vieram (todas as duas) e as derrotas passaram a pelo menos ser competitivas. Eu acredito neles surpreendendo para a temporada que vem, mas já deixo um alerta: o pivô Brook Lopez mostrou sua verdadeira cara. Enquanto seu irmão Robin Lopez é simpático, feliz, brincalhão e estranhamente muito melhor jogador do que se imaginava – o Suns sente sua falta um bocado agora que ele está contundido -, o Brook Lopez é ultra-competitivo, esquentado e frustrável. É fácil tirá-lo psicologicamente de um jogo, e ele não lida bem com derrotas. Quando começou a perder no jogo dos novatos contra os sophomores (segundo-anistas), tacou o cacete no DaJuan Blair em uma falta idiota que sequer impediu a cesta. Vi vários jogos com um Brook Lopez descontrolado, e desconfio que ele dê o fora do Nets assim que o contrato permitir, fugindo antes desse time – que é dos mais promissores da NBA – dar realmente certo.
Grizzlies
Quem achava que o Grizzlies ia ser um time de verdade nessa temporada mande um e-mail pra gente para receber o prêmio “Pinóquio no ano”. Curiosamente eles tiveram mais cobertura na gringolândia por causa do Iverson, que mal jogou, e aproveitaram a atenção para chutar traseiros em rede nacional. Ficaram para trás na mesma corrida de várias vitórias seguidas dos times que estão nos playoffs e que acabou deixando o Houston de fora também – no Oeste você vence 4 partidas seguidas e não serve pra nada porque os outros times venceram 9. Eles deram só o azar de não estar no Leste, de enfrentar adversários tão bons, mas foi uma temporada heróica. Mostraram que o elenco é forte, que o Randolph é uma estrela, e só precisam desesperadamente de um banco de reservas. Se voltarem confiantes e reforçados na temporada que vem, tornam o Oeste ainda mais complicado, o que é ridículo, deveria ser proibido. Mas é um dos times mais divertidos de se assistir e fez a minha alegria nessa temporada.
Raptors
Pagaram o preço por dar um contrato de estrela para um jogador super secundário e além de tudo obrigá-lo a jogar num esquema completamente diferente daquele em que ele rendera alguma coisa. Todo mundo sabia que contratar o Turkoglu era cagada, até o pessoal do Magic, então azar do Raptors. Mesmo assim, no fundo eles mereciam mais ir para os playoffs do que o Bulls. Apesar de terem tido alguns momentos ruins que figuram entre os piores de qualquer time nessa temporada, os momentos altos do time foram realmente altos e deram sinais de que esse Raptors poderia estar fazendo estrago nos playoffs se não fosse esse motivo bizarro e invisível que ninguém sabe qual é. Por que diabos eles conseguem uma das piores defesas de todos os tempos, de repente passam a defender direito, e depois voltam a ter uma defesa horrível? Inexplicável. Mas pela chance de terem um desses altos momentos de repente, do nada, queria eles nos playoffs. Pelo menos eles estavam tentando, ao invés do Bulls que jogou jogadores fora pensando na temporada que vem e merece ser humilhado nos playoffs pra aprender. E tem mais, ir para a pós-temporada seria uma excelente despedida do Bosh, que depois de não ter se classificado não tem lá muitos motivos para continuar em Toronto.
Pacers
Confesso que vi pouquíssimo o Pacers, o que é uma pena porque eu realmente queria entender esse time. O Danny Granger tem chances de ser cestinha de várias temporadas, ele chuta traseiros, o Roy Hibert é um pivô muito técnico que deu uma aula de basquete no Dwight Howard, e tem um monte de estranhos jogadores brancos na equipe que não enterram mas são super finésse. Só que eles jogam numa correria maluca e não se tornam um time de verdade. É fato que num dia bom, em especial do Granny Danger, eles podem vencer qualquer equipe da NBA e sair de quadra com uma zebra, mas em geral eles simplesmente não conseguem se manter no jogo e desistem fácil. Eles precisam de um armador de verdade, daqueles que controla as coisas, que é chato, puxa orelha, não deixa comer doce antes do jantar. Sei que é bizarro dizer isso, mas esse Pacers horrível estaria no topo do Leste se tivesse o Billups.
Pistons
O Joe Dumars é um gênio. Ele vê coisas que ninguém mais vê. Ele não faz cagadas. Pagou contratos gigantes em dois jogadores de banco, Ben Gordon e Villanueva, não deu identidade nenhuma ao time, tentou resolver o time às pressas ao invés de tentar as estrelas que encerram seus contratos nessa temporada, não conseguiu trocar os jogadores mais velhos e insatisfeitos para renovar a equipe. Mas tudo isso é calculado. É um plano fantástico. Muito bem pensado. Envolve doze equipes, conspiração internacional, a empresa de colírios Moura, um camponês da Islândia, o serviço secreto americano e o Kwame Brown, mas se eu revelar o plano vão ter que me matar. Só passo adiantar que vai dar tudo certo para o Pistons, não há nenhum motivo para os torcedores do time aparecerem no Bola Presa (como já fizeram!) dando uma de “torcedores malas do Jazz” para ameaçar minha família de morte porque falei mal do Dumars. A campanha dessa temporada foi uma aberração, na próxima eles conseguem (a primeira escolha do draft).
Sixers
Ninguém entendia o Sixers, eles eram um time que deveria feder e por algum motivo dava certo, ia pros playoffs, ganhava de times grandes. Eles não tinham ninguém pra pontuar no garrafão, não tinham arremessadores de três pontos, e aí ficava todo mundo batendo pra dentro tentando um milagre – que sempre vinha. A explicação para esse fenômeno agora tem nome: Andre Miller. Sem ele na armação o Sixers foi pra cucuia. Toda a animação em cima do Louis Williams era besteira. O negócio é o seguinte: quando há animação em cima de um jogador desconhecido, vá atrás de alguém que veja os jogos do time dele até mesmo quando o time está perdendo por 80 pontos no minuto final. Só esse cara pode te dizer se o jogador tem potencial mesmo, por ver jogar nos momentos mais bizarros. Uma vez um torcedor gringo aleatório do Bucks disse para mim e para o Denis que um dia o Michael Redd seria All-Star e nós gargalhamos, porque o Redd era um zé-ninguém que só jogava os últimos 5 minutos de jogos perdidos. E se algum torcedor do tipo fosse perguntado ano passado, diria que o Louis Williams era um fominha maluco. Dar a armação pra ele foi suicídio, principalmente num time em que todo mundo só consegue produzir no contra-ataque e no mano-a-mano. O resultado foi que o Jrue Holiday, que é bom mas é o pior armador desse draft, recebeu a armação titular mesmo sem estar pronto pra ela. Desastre. O Sixers precisa mudar rápido, de técnico, de esquema (para tentar salvar a carreira do Elton Brand), e torcer para a pirralhada virar estrela. Afinal, o Iguodala coadjuvante não iria pros playoffs sem ajuda nem se estivesse no Houston com seus amigos de secundarismo.
Wizards
Vamos combinar que essa temporada do Wizards não valeu? Quando as três estrelas estavam juntas alegaram não ter entendido o esquema do novo técnico, depois disseram ter entendido mas que não estava funcionando, aí o Arenas botou a pistolinha pra fora e foi repreendido, depois fez piada com a merda (“pisou na merda abra os dedos”) e foi suspenso pelo resto da temporada. O pensamento do Wizards foi certo: se não tava dando certo nem com os três juntos, pra que manter apenas dois aqui se matando e ficar insistindo nesse erro? Então essa temporada foi o longo processo de tacar tudo no lixo e começar de novo, sem pressa. O Andrey Blatche é fominha, briguento, se desentende com os técnicos, mas é um monstro e o Wizards deve dar um papel central para ele na equipe quando o Arenas voltar. Eu estou mais curioso para ver esse novo Wizards, com o Arenas jogando sem aquele peso de “tem trocentas estrelas, deveríamos estar entre os 3 melhores do Leste”, do que eu estava antes. A temporada foi ruim mas foi legítima em sua tentativa de recomeço, melhor do que o migué do Knicks ou o remendo do Pistons. Vamos ver como vai ser a reconstrução da equipe daqui pra frente.
Hornets
Eu não via esse time dando certo nem quando eles estavam nos playoffs chutando traseiros, então não foi surpresa pra mim ver a equipe não indo pros playoffs dessa vez. Não me batam, torcedores do Hornets, mas o time simplesmente tem buracos grandes demais para ser uma potência – tem um negócio no basquete que chama “pontos”, e quem faz mais ganha. O melhor (se não único) pontuador da equipe na temporada foi o novato Marcus Thornton, e quando o Chris Paul estava saudável e pontuando por si mesmo, mostrou que pode ser cestinha da temporada se quiser – e que o seu time jamais ganharia desse jeito. O problema com o Hornets nem é falta de talento, mas sim figurinhas repetidas. Se o teu segundo melhor jogador é o reserva do seu melhor jogador (e que portanto só tem uns 10 minutos em quadra) você está encrencado. Por sorte (sorte?) o Chris Paul se contundiu e o Darren Collison teve oportunidade de mostrar como é bom, mas e depois, para as próximas temporadas? Se o time fosse completo, seria maravilhoso ter um cara tão bom na reserva para manter o ritmo, mas num time esburacado não faz sentido. O Hornets precisa decidir o que fazer, porque não dá para o Chris Paul ficar arrastando uma equipe sem os jogadores necessários por aí. Nem saudável ele teria feito milagre com esse time.
Clippers
Lembram do Blake Griffin? Só por ele o Clippers conseguiria entrar numa conversa de bar, e aí ele se contundiu, não jogou, e a equipe já era. Até houveram momentos em que o Clippers deu sinais de vida na temporada, com grandes vitórias, mas não dá pra competir com a maldição que os assola: foram várias contusões, várias mesmo, e além de tudo ainda tem a burrice da diretoria que faz umas trocas absurdas. Não há esperança, corram para as colinas. Minha impressão é que, mais do que ser um time ruim com um monte de jogadores machucados, o Clippers fez o que estava ao alcance para jogar a temporada fora, melhorar a posição no draft e economizar uma grana, afinal nenhum dos três torcedores do time está prestando atenção mesmo… Pra temporada que vem o Griffin deve estar de volta, mas eu seria um imbecil se achasse que eles dariam certo por causa disso. Vai dar errado, alguém vai pegar pneumonia, o braço do Griffin vai cair, eles serão assolados por torcedores mórmons do Jazz, enfrentarão uma praga de gafanhotos e terão a Preta Gil cantando para eles em todos os intervalos. Será um desastre.
Warriors
A temporada horrível do Warriors foi muito divertida, em particular porque o técnico Don Nelson resolveu usar um novato pela primeira vez na vida, e o rapaz chuta traseiros. O Stephen Curry também é figurinha repetida do Monta Ellis, mas mesmo sem defender bulhufas os dois infernizam qualquer equipe no campo ofensivo. Tem muita gente esperando o Don Nelson morrer para o Warriors se libertar e enfim ser levado a sério, mas quer saber? Tenho o palpite de que Ellis e Curry só dão certo assim na correria, e que o estilo de jogo do Nelson mais camufla as falhas do que prejudica a equipe. Quando o Knicks para de correr é que vemos como eles são ruins e a correria dá uma escondida nisso, a correria no Warriors também maqueia um pouco a falta de talento e profundidade do time. Se não fossem pelas milhares de contusões, o Warriors teria ido muito melhor e imagino uma melhora muito significativa para a temporada que vem. As contusões foram tantas que nem dá pra colocar a culpa no Don Nelson dessa vez por não ter criado um padrão de jogo ou de rotação de jogadores, afinal em cada partida tinha que entrar em quadra um torcedor sorteado da plateia. Quando o Don Nelson for embora, o Warriors vai ser muito pior e vai ter que começar a fazer trocas desesperadamente. Do jeito que está, por enquanto, ainda podem surpreender e assustar alguém. Com a evolução do Stephen Curry, que é melhor do que parece – pouca gente acompanhou porque o Warriors é café com leite – esse time vai fazer a alegria do basquetebol moleque na temporada que vem. E vão perder, claro, mas achei que fosse esse mesmo o objetivo. Ninguém no Warriors está reclamando, eles sabem que treinam pouco, que o Don Nelson é tranquilo e divertido, que podem mostrar o talento na correria para conseguir outros contratos. O Warriors é tipo a novela “Malhação” da NBA, em que a pivetada vai se mostrar pra conseguir lugar na novela das oito. E, como sempre acontece na Malhação, sempre aparece alguma gostosa, né, Juliana Silveira? Mas qualidade mesmo não tem. Qualidade é coisa de playoff, coisa que a gente encontra quando para de falar dos times fracassados e começa a acompanhar o mata-mata. Já estou com água na boca, e vocês?