>Apelando no draft

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Chris Quinn, atual cestinha do Heat, tem cara de quem é preso dentro do armário pelos coleguinhas
Eu gosto pacas do sistema que a NBA utiliza para formar os elencos, com tetos salariais para as equipes e as escolhas de draft todo ano. Se eu pudesse ser mais radical, arrancaria a regra que permite aos times pagar multas para cada dólar acima do teto salarial, obrigando todo mundo a pagar exatamente a mesma grana para compor o elenco, sem tirar nem por. De todo modo, é um jeito interessante de igualar as chances de todas as equipes e, tirando as mutretas por aí (multas, jogadores que aceitam ganhar um pacote de bolachas e mais o dinheiro do busão só para ter chances de título, e jogadores que recebem “por fora” pra não contar na folha salarial) é uma idéia bacanuda para evitar apelações. Se a NBA vigiasse o Street Fighter, por exemplo, hadouken seria mais difícil de dar e o E. Honda não poderia andar enquanto dá “tapinha”.

Nesse esquema, coisas ridículas que acontecem no futebol são evitadas. Jogadores não são vendidos por milhões de dólares para outras equipes, deixando o time desfalcado e enriquecendo dirigentes. Times mais pobres não são obrigados a ter o Túlio em fim de carreira, e fica difícil montar um time só de estrelas só porque você tem poder financeiro. Na NBA você tem que trocar jogadores, igualar salários, analisar bem quanta grana você quer mesmo oferecer praquele sujeito que está prestes a ser contratado. É mais intelectual do que jogar dominó!

Além disso, os times que mais fedem na Liga são agraciados com as primeiras escolhas de draft. Eu adoro essa idéia mas algumas coisas nela são um tanto engraçadas. Por exemplo, acho que os americanos jogaram “Banco Imobiliário” demais e são muito apaixonados pela idéia de dados, sorte e revés. Por que o time com pior campanha não tem a primeira escolha do draft e pronto? Não, não, tem que ter um sorteio, tem que ter sorte e azar envolvidos, e sempre tem aquele time azarado que, com a pior campanha, acaba saindo só com a quarta escolha na noite do draft. Vai dizer que não dá um pouco de dó?

Eu também adoro o fato de que, em geral, o time com pior campanha é favorecido com uma boa colocação na hora de escolher seus novatos mas depende dele próprio para conseguir fazer a escolha certa. Tem que estudar cada jogador, analisar a fundo, ver como eles se saíriam em cada esquema de jogo. Se você achou que o Kwame Brown um dia ia ser bom, azar o seu. Se você resolveu apostar naquele tal de MVP da Euroliga (“Euroliga é um país, é?”) que, por algum motivo, ninguém mais quer, então parabéns por ter em seu elenco Manu Ginobili. Por isso, analisar cada jogador do draft é uma das coisas mais divertidas da NBA e lição de casa de todas as equipes. (E de todos os blogueiros desocupados por aí. Aliás, já adiantando, não percam daqui a trocentos meses nossa já genial cobertura do draft!)

Isiah Thomas, por exemplo, conseguiu certa fama como um cara que sabe draftar muito bem. Apesar de ser um técnico mequetrefe, feder ao se relacionar com os atletas e transformar o Knicks numa piada de mau gosto, até mesmo suas escolhas de draft questionáveis (David Lee, Renaldo Balkman) são realmente interessantes. Mas li dia desses na DimeMag que, quando estava em Indiana, Isiah cismou que queria draftar o Fred Jones. Enquanto isso, todos os olheiros eram unânimes no interesse por um rapaz com potencial chamado Tayshaun Prince. Na última hora, Isiah recebeu carta branca para escolher quem ele bem entendesse e acabou pegando mesmo o Fred Jones, que foi campeão de enterradas e nada mais. Enquanto isso, Prince acertava arremessos decisivos e históricos pelo Detroit em sua temporada de novato e hoje é um dos jogadores mais completos (e esquisitos!) de toda a Liga. Oras, bem feito, mais uma pro titio Isiah levar na orelha!

São essas coisas que tornam a NBA tão divertida. Já pensou que loucura seria o pior time do Brasileirão podendo escolher a novo promessa que surgiu em alguma categoria de base? Já pensou dirigentes estúpidos escolhendo o Carlos Alberto ao invés do Ronaldinho Gaúcho? Ah, teríamos mais motivos para odiar os dirigentes e times mais equilibrados. Diversão pura! Quer dizer, isso até algum fanfarrão querer estragar a brincadeira. Não adianta olhar pro lado, fingir que não é com você. É com você sim, senhor Miami Heat! Com quem mais seria, mocinho?

Eu me lembro muito bem da temporada em que o Cavs fedia horrores e placas dos torcedores de Cleveland diziam, humoradas: “Percam pelo LeBron“. Na época já era certeza que o LeBron seria a primeira escolha, mas ainda assim não consigo me lembrar do Cavs perdendo de propósito, abandonando a temporada no meio para agarrar o rapaz. Pode ser que eu tenha uma visão romântica, porque naquela época a gente podia brincar de pião na rua, não tinha assalto, dengue, essas coisas, mas eu juro que não lembro do time ter abandonado a temporada de vez pra se sair melhor no draft. Eles perdiam porque eram surrealmente ruins, assim como aquele Nuggets que tinha Nenê novato e Juwan Howard cestinha do time. Irch! Se eu contar isso no futuro, meus filhos não dormirão de noite.

Já o Miami Heat dessa temporada chutou o balde. Quando Wade e Marion não jogaram a mesma partida, desconfiei de que algo estava errado. Fui atrás de anúncios de contusão mas sempre com um pé atrás. Aí o Wade ficou fora para o resto da temporada, o Marion joga dia sim, dia não, o Heat chamou uma dúzia de manés da Liga de Desenvolvimento para serem titulares e o Pat Riley, técnico da equipe, foi embora para “analisar os jogadores que estarão no próximo draft”. Voltou só ontem, conheceu pela primeira vez os jogadores vindos da Liga de Desenvolvimento, e viu o zé-ninguém branquelo e magrelo Chris Quinn ser o cestinha da equipe depois de, dias atrás, o mesmo Quinn ter jogado todos os minutos de uma partida, sem sentar um segundinho sequer. Aliás, o Heat ganhou ontem, mas só porque era contra o Bucks, e provavelmente foi muito sem querer.

Resumindo, o Miami só não colocou cinco gorilas adestrados de circo para jogar porque as regras não permitem. E só não colocou cinco cachorros para jogar porque, caso um deles viesse a ser parente do Bud, o cão amigo, era capaz do time vencer uns jogos.

As regras de teto salarial são legais, o draft é uma sacada genial, mas sempre tem uns manés pra avacalhar com tudo. Abandonar a temporada nesse nível não dá. Ter 4 caras da D-League compondo o seu time? Vergonhoso. A NBA deveria dar um jeito de dar a primeira escolha do draft para o Miami mas obrigar o time a draftar o Kwame Brown. Se isso não for possível, é preciso pensar em outra coisa para que o final da longa temporada, que é justamente quando o negócio esquenta, não seja comprometido porque um time que precisa de uma vitória enfrente o Heat com o Chris Quinn como cestinha. Mas acho que estou sonhando, não dá pra evitar que os jogadores digam que estão contundidos, sentem no banco, e o técnico vá viajar a negócios para a praia de Miami. Se alguém tiver uma idéia a respeito, sou todo ouvidos. Já o David Stern, por sua vez, não se importa. Como um leitor do Bola Presa certa vez afirmou, ele está ocupado demais assinando as bolas que levam a marca da NBA.

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