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Tá, os playoffs estão chatos, é verdade. Não como assistir uma aula de Química ou um filme musical com Tim Duncan e um mímico, mas chatos para o que eles poderiam ter sido. As séries até agora, mesmo as disputadas, são sequências de jogos fáceis para um dos lados, e quem tem mando de quadra leva fácil. Não tivemos grandes espetáculos, confrontos, pancadaria e nem quinhentas prorrogações. Então, já que não estou fazendo nada, vou apontar uns dedos. Simplesmente porque tenho dedos.
Antes de mais nada, vale lembrar da reclamação patenteada Bola Presa ™ e resmungar sobre o tamanho da temporada regular. Então nós tivemos 82 jogos de uma das mais disputadas temporadas de todos os tempos e alguém esperava que desse pra manter o ritmo nos playoffs? É óbvio que os times, principalmente no Oeste, que foi mais parelho, estavam exaustos quando começou a pós-temporada e o nível técnico com certeza sofreu com isso. O tamanho da temporada regular também influencia na quantidade e na intensidade das contusões, o que nos leva a times desfalcados que não podem jogar com sua força máxima. Ou alguém aí acha que teremos grandes playoffs quando o Wizards, por exemplo, entra em quadra sem Arenas e Caron Butler?
E por falar em Wizards, a tal “temporada maravilhosa e mais disputada que a Sula Miranda no mundo dos caminhoneiros” não significa, de modo algum, que o nível foi alto, vide o Leste. Por lá, a temporada foi um campeonato de ver quem fedia menos, e no fundo demos de cara com playoffs que incluiam o Hawks, o Sixers, o Wizards desfalcado, o Raptors em decadência e o Cavs ruim-pra-burro-mas-com-LeBron. Na empolgação do momento a gente acha bacana, divertido, mas depois quando paramos pra pensar, o nível era tão baixo quanto conversa de Big Brother. O que, por sua vez, também não ajuda a definir o nível dos times que realmente importam. Somos obrigados a ver o Celtics e o Pistons nesse clima de “jogam quando bem entendem”, ora dando uma sova em times do Oeste, ora não precisando fazer nada além de coçar a bunda contra os times picaretas do Leste. São 82 jogos e a maioria é uma besteira, é o Celtics enfrentando o Heat e o Knicks quinhentas vezes, e quando o negócio é pra valer nos damos de cara com um Boston oscilante, com falhas técnicas e ataque amador, um Pistons sem intensidade, cansado e que às vezes parece até sem saco para jogar esse esporte idiota.
Mesmo no Oeste, em que o nível é alto pra burro, os times oscilam muito. Lembra dos tempos em que o Spurs era uma maquininha, jogava sempre igual e raramente tinha um jogo abaixo da média? Parece quen foram mil anos atrás, quando o Mutombo nem tinha bigode. Até os texanos-cuspidores-em-potes de San Antonio viram agora um time que teve altos e baixos muito discrepantes durante toda a temporada regular, contusões e até inconsistência na rotação, coisa que eu nuca iria pensar em ver o Gregg Popovich fazer. O mesmo aconteceu com a grande maioria dos times e nos playoffs isso fica ainda mais explícito.
É claro que também tem o quesito Acaso, como em tudo na vida. O Spurs teve atuações maravilhosas e atuações patéticas, e o fato de que as atuações maravilhosas não foram ao mesmo tempo em que o New Orleans, por exemplo, teve também uma atuação impecável contra eles, nos tirou o privilégio de ver grandes jogos, disputados e com 10 prorrogações. Mas não vou ser velho e ranzinza e tirar o mérito das lavadas, também são grandes jogos, e se o Spurs ganha um dia por uma diferença de 40 pontos apenas para perder por 40 dois dias depois é sinal de que existem falhas técnicas, defeitos, pontos fracos na equipe, que ao serem percebidos pelo advesário fazem o time desmoronar. Gosto desse jogo de xadrez, desse lance constante de procurar e esconder pontos fracos, mas cometer os mesmos erros dia-sim, dia-não, aí já é incompetência, que temos de sobra.
Eu também gostaria de apontar outro fato, mais polêmico, e que pode gerar ameaças de morte e um ou dois petelecos na orelha se me catarem na rua. Mas é que existem times que tornam a NBA divertida, interessante, emocionante, e times que tornam ela um espetacular jogo de bocha. Eu não tiro os méritos dos times mais chatos, também gosto de vê-los jogar, reconheço todos os seus méritos e, como amante de basquete, aprecio todas as partidas. Mas como ser humano com polegar opositor e paixão descontrolada e espontânea por esse esporte da bola laranja, eu me empolgo e grito e vibro e pulo muito mais com times que são emocionantes por si. Eu perdi o ar assistindo 3 prorrogações entre Nets e Suns, mas eu sequer levantei da cadeira na série entre Pistons e Celtics. Eu sou um fã inveterado do Kevin Garnett e adoro o jogo coletivo do Pistons, mas sabe como é, eu assisto jogo todos os dias de madrugada, acordo cedo e *uaaaaaah*, às vezes dá sono, né? No entanto, nunca pensaria em pescar durante o Warriors e Mavs da temporada passada, e embora eu boceje loucamente em qualquer jogo do Spurs, sempre assisto vidrado seus confrontos com o Suns. Alguns times até tornam os outros legais, e é por isso que vejo com pena o Suns eliminado cedo demais e playoffs cheios de pistões, esporas, águias, e setenta-e-seis.
As limitações técnicas do Celtics me irritam, a falta de intensidade do Pistons às vezes me faz cochilar, mas eu não acho que esses playoffs estão perdidos. E a prova disso são as últimas partidas, tanto do Oeste quanto do Leste. Esses times inconsistentes, que se acostumaram a jogar tirando o pé volta e meia, sabem que, se perderem agora, aqueles 82 jogos chatos pra danar vão ter sido em vão. Então agora, Finais de Conferência, jogos 4 ou 5, é que a coisa começa pra valer. Ontem, por exemplo, tivemos a noite da carreira de Kendrick Perkins e não foi em vão, foi apoiada por grandes atuações de Ray Allen, depois de uma conversa com os Monstars, e de Kevin Garnett, raro consistente. E, pra nossa sorte, foi uma grande noite para o Pistons também, que soube ter intensidade defensiva, viu Rip Hamilton continuar a chutar traseiros e Billlups voltar dos mortos. O problema é que o Rasheed Wallace ainda está com alergia de garrafão (acertou todos os seus 6 arremessos de trás da linha de 3 pontos) e falta intensidade bem ali, dentro da área pintada. Mas foi um grande jogo, algo que nós merecemos depois de aguentar tantos jogos desde o ano passado.
Acho que agora não temos mais que nos preocupar com jogos chatos e lavadas sem graça. Amanhã teremos o Pistons tentando ficar vivo, ainda que talvez sem Rip Hamilton, com uma contusão no ombro. E na noite de hoje, ou o Spurs joga muito ou vai ser eliminado merecidamente depois de uma temporada tão inconstante. Eliminado pelo Lakers, aliás, que deixei fora dessa conversa toda. Ainda que tenham vacilado aqui e ali, são o grande brilho dessa temporada. Aposto minhas fichas no time de Los Angeles como campeão da NBA. Questão de mérito, pura e simplesmente.