>Aposentados

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Faça uma cara de velho aposentado

Durante nossa semana dos técnicos foram anunciadas duas aposentadorias. As duas passaram despercebidas por muita gente, refletindo a situação que cada um dos jogadores vivia, longe do auge. Mas o Bola Presa tem memória e presta uma singela, humilde, pacata (e outros adjetivos que significam que é o trabalho foi mal feito) homenagem a esses dois jogadores que fizeram parte da NBA e nos divertiram na última década.

Shareef Abdur-Rahim
Eu era uma daquelas pessoas esquisitas que ao invés de ter um Playstation tinha um Dreamcast. Tudo culpa do Danilo que me mostrou aquele maldito e bendito videogame. Lá gastei horas preciosas da minha vida jogando NBA 2k2, que cumpria seu papel de compensar a falta de jogos da NBA na TV, já que naquela época era difícil assistir jogos pela internet.
Uma das coisas mais legais do jogo era que os narradores tinham falas específicas para certos jogadores. Alguns óbvios, como o Iverson (“Allen Iverson is sweet, 6 foot, 160 pounds and the league-leading scorer? Simply unbelievable!”) e outros nem tão óbvios, como o Voshon Lenard. Mas o que mais me chamou a atenção foi quando eu joguei com o Atlanta (vício, eu sei) e ouvi que o Shareef Abdur-Rahim tinha uma fala só pra ele, que dizia que ele era o melhor jogador da NBA a não estar no All-Star Game e que já merecia.
Sério mesmo? Os números eram bons, mas o Hawks não ganhava nem de time feminino. Precisava que a ESPN transmitisse algum jogo do Hawks pra saber se o jogo tava mentindo pra mim. Eu levo narração de pixels muito a sério.
Graças ao Nenê, eles passaram. O Brasil queria ver o primeiro brasileiro decente em ação na liga e arranjaram de colocar um jogo do Nuggets no ar que originalmente eles não iriam passar. Por obra do destino, o jogo era contra o Hawks. O jogo me marcou porque foi o pior jogo de NBA que eu já vi, aquele Nuggets não ganhava nem o campeonato de Tocantins e o Hawks era um time ruim com jogadores bons. Um caso que volta e meia aparece na NBA.
Shareef Abdur-Rahim era um desses jogadores bons, logo fiquei impressionado com ele. Fui correr atrás e os números eram ainda melhores do que eu sabia. Shareef foi a terceira escolha do forte draft de 1996, para azar dele foi parar no Vancouver Grizzlies, time horripilante que tinha nascido um ano antes e que na sua história na NBA só se destacou porque foi a primeira equipe a ter uma página na internet, em 95.
Logo Shareef tomou conta do time e liderava a equipe em todas as estatísticas possíveis. Tirando seu ano de novato, quando teve média de 18 pontos, ele teve média superior a 20 em todas as temporadas que passou no Canadá, além de médias que variavam de 7 a 9 rebotes. Seguindo a sugestão do jogo do Dreamcast, em 2002 ele realmente foi para o seu único All-Star Game, mas aí ele já tinha saído do Vancouver Grizzlies e estava no seu primeiro ano no Atlanta Hawks.
No time da Georgia ele continuou jogando demais. Desfilando seu lindo arremesso de meia-distância e lindas fintas no garrafão, ele se tornou o líder do time que tinha o trio que mais fazia pontos na NBA, junto com o Glenn “Big Dog” Robinson e o Jason Terry. Mas como o Hawks é mais zicado que o Botafogo, o trio não deu em nada.
Então Shareef foi trocado para o Portland na troca que levou o Rasheed Wallace a jogar um jogo pelo Hawks antes de ir para o Pistons. No Portland, Shareef jogou mais como sexto homem do que como titular, mesmo assim manteve boas médias de pontos, com 16 por jogo. Falando em pontos, um recorde que passa despercebido é que Shareef é o 7° jogador mais jovem a alcançar 10.000 pontos na carreira. Mais rápido que ele só chegaram lá LeBron James, Kobe Bryant, Shaq, Kareem Abdul-Jabbar e Bob McAdoo.
Depois de dois anos no Blazers, ele tentou ir para o Nets, mas lá não foi aceito. Apesar de quase nunca ter perdido jogos na carreira por contusão, o Nets disse que o joelho dele estava zoado demais para eles assinarem um contrato com ele. O Kings não pensou duas vezes e fisgou o cara, que jogou normalmente na temporada seguinte e, acreditem, pela primeira vez, jogou uma série de playoff na vida! Mas aí no ano passado ele não conseguiu jogar por causa daquele joelho e na semana passada anunciou que se aposenta justamente porque o seu joelho não aguenta mais. O Nets acertou o diagnóstico um ano antes! Nem o Drauzio Varela pode pôr defeito nessa!
Então, adeus Shareef Abdur-Rahim, o talento mais desperdiçado da NBA: 13 temporadas, 1 All-Star Game, 1 série de playoff e talento pra dar e vender. E o Scalabrine acabou de ganhar um título, não foi?
Jason Williams
Em comum com o Shareef Abdur-Rahim, apenas o fato de terem ambos jogado pelo Sacramento Kings. De resto, nada.
Enquanto o Shareef era pura finesse, no maior estilo sommelier francês conversando com o príncipe de Mônaco sobre o último torneio de críquete, o Jason Williams era um moleque correndo pela escola, batendo nos nerds, levantando a saia das meninas e fazendo cuecão nos amigos. Uma vez perguntaram para o J-Will do que ele mais gostava em seus tempos de faculdade, ele respondeu “De ser expulso da escola“.
A carreira do Jason Williams na NBA se divide em três partes. A de resultado, a de aprendizado e a que ele foi moleque, mo-le-que.
A parte de resultado foi a sua última, em Miami, quando foi um armador com bom arremesso de três, ainda rápido mas por muitas vezes burocrático, e lá foi essencial no título de 2006 como armador titular.
Mas para virar esse cara quase calmo, tranquilo, que sabe organizar um jogo e não só correr como um doido, ele precisou passar por um período de transição, que aconteceu no Memphis Grizzlies sob a tutela do técnico Hubie Brown. O velhinho mostrou o caminho das pedras pro Jason Williams e lá ele se tornou, pela primeira vez na carreira, um armador não só talentoso, mas eficiente. Esse processo não foi nada fácil, mas foi decisivo para o J-Will ganhar seu título com o Heat.
Quando ele chegou em Memphis, foi perguntado sobre a qualidade do time e a resposta dele foi um simples “We suck“. Algo que poderia ser traduzido como “Somos horríveis” ou na língua do Bola Presa, “A gente fede“. Depois ele completou “Aceite os fatos, nós não somos bons. Pra mim somos o pior time da NBA hoje.”
E era verdade, ele era polêmico mas nunca dizia coisas só para ser polêmico. Depois, quando o time começou a melhorar (chegaram a ir para os playoffs com o 5° melhor recorde do Oeste), ele disse que não se arrependia de ter dito aquilo porque eles realmente eram horríveis quando ele tinha dado aquela entrevista, mas que depois tinha melhorado. Essa espontaneidade também foi marcada na sua aposentadoria. Mesmo já tendo assinado com o Clippers, ele de repente ligou para o time na semana passada e disse “Não sinto que estou com vontade de ir aí e jogar, acho que vou mandar os documentos para a aposentadoria“. Simples assim.
Mas nesse momento de lembrar a carreira de Jason Williams, o que mais marca não é sua fase de campeão no Heat e nem a de aprendizado no Grizzlies, o que ele deixa para a história é sua fase no seu primeiro time, o Kings. Lá que ele encantou o mundo e se transformou em ícone da NBA por anos.
Seus dribles eram geniais, ele era mais veloz do que qualquer Monta Ellis é hoje em dia e seus passes são capazes de gerar gargalhadas de tão inimagináveis. Mas muitas vezes resultavam em erros que faziam os técnicos e torcedores cortarem os pulsos, porque ele não se importava se era o primeiro ou o quarto período, ele tentava o que queria e às vezes errava na hora que não podia e entregava o jogo pro adversário. Mas quando dava certo era certeza de que iria ficar passando na TV por dias e dias e todo mundo ia querer imitar no parque no fim de semana.
Se o Jason Williams vivesse na era YouTube, pode ter certeza de que ele seria uma mega celebridade até entre quem não acompanha o basquete de perto. Coisa de artista.
Mas dane-se o que eu falo sobre ele porque arte não é pra ser discutida em blog de basquete, arte é para ser vista:

Reportagem com jogadores da NBA sobre Jason Williams

As 10 melhores jogadas de Jason Williams

5 minutos de jogadas do White Chocolate

Quem vê esses vídeos e não fica com uma vontade incontrolável de jogar basquete, não gosta do esporte.

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