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(não esquecer da piada com ‘run and gun’)

Eu não estava muito afim de falar desse caso do Gilbert Arenas até hoje. Eram dois motivos principais: o primeiro é que ele tem pouco a ver com basquete e é de basquete que eu gosto, depois porque eram tantas versões da mesma história que eu não sabia no que acreditar. Só que a história diz respeito ao Gilbert Arenas, um dos jogadores que a gente mais comentou nesses 2 anos e meio de Bola Presa e agora tem um fato bem concreto pra comentar: ele foi suspenso por tempo indeterminado pelo David Stern.

Para quem está bem por fora, o que aconteceu foi que saiu uma notícia dizendo que o Gilbert Arenas teria quatro armas de fogo guardadas em seu armário no Verizon Center, o ginásio do Wizards. Como a lei de posse de arma de fogo é bem dura em Washington, o caso começou a ser investigado pela polícia e pipocaram informações de que seria proibido ter armas de fogo em locais com a chancela da NBA. O Arenas respondeu que tinha as armas em casa, mas que, com medo de tê-las perto dos filhos pequenos, levou-as para o ginásio.
O caso foi sendo investigado quando surgiu uma outra história, de que o Arenas teria apontado a arma, descarregada, para o companheiro de time Javaris Critentton, aquele armador reserva que era do Lakers, foi para o Grizzlies na troca do Gasol e depois para o Wizards. E foi depois disso que as mais diferentes histórias começaram a aparecer.
Uma das histórias diz que o Arenas apontou a arma para o Critentton, que teria ficado assustado. Outra diz que o Arenas e o Critentton certa vez brigaram por causa de uma aposta em jogos de carta e como resposta (de brincadeira) o Arenas teria deixado três armas no armário do seu colega com um bilhete pedindo para que ele escolhesse uma delas. Também existem versões da história onde o Critentton teria sua própria arma de fogo no vestiário, essa carregada, e teria apontado ela para o joelho recém-operado do Arenas no meio dessa discussão/brincadeira/provocação sobre as apostas em jogos de carta.
A confusão já era grande mas a NBA não tinha tomado nenhuma providência. David Stern disse que estava acompanhando o caso de perto mas que ia esperar qualquer decisão da polícia, que ainda investiga o caso, para decidir se daria uma punição e qual seria ela. Tudo parecia se encaminhar para esse desfecho, o Arenas até soltou para a imprensa um pedido de desculpas muito bem escrito pelo seu advogado em que falava ter errado, exagerado na brincadeira e tudo isso que a gente conta pra diretora da escola.
Só que no dia seguinte apareceu o Arenas de sempre, o de verdade. Bocudo, incosequente e, por que não, um bocado burro. Ao invés de ficar quieto por um tempo e deixar o assunto esfriar, ele passou o dia comentando o caso no seu Twitter, criticando todo mundo da imprensa que tinha falado mal dele e insistindo que ele só tinha feito uma brincadeira. Para terminar, fez essa brincadeira antes do jogo do Wizards contra o Sixers.
Tá bom, eu ri um bocado quando vi ele fazendo a arma com a mão. Mas não é porque foi engraçado que não foi burro. Logo depois do jogo o David Stern soltou uma nota dizendo que o “Sr. Arenas” não estava em condição de participar de jogos da NBA e que por isso estava suspenso por tempo indeterminado. E ainda assustou com o trecho “está claro que as ações do Sr. Arenas vão resultar numa punição substancial ou, talvez, até algo pior”. Já se diz em proibí-lo de continuar na NBA ou de cancelar seu contrato zilionário com o Wizards.
Digo que o Arenas foi burro porque todo mundo sabe que o David Stern é pirado quando o assunto é o comportamento dos jogadores. Ele já suspendeu jogadores por 10 jogos quando os problemas judiciais deles tinham acontecido na offseason e nada tinham a ver com basquete, foi o responsável pelo patético código de vestimenta que obriga todos os jogadores a aparecerem de roupa social quando não vão jogar. É o David Stern que insiste em mostrar os jogadores fazendo ações de caridade no intervalo de todos os jogos e foi ele quem pediu para a Getty Images tirar do ar, ontem, a foto que eu postei aí em cima com o Arenas apontando suas armas de dedo. Se ele pegou pesado com as roupas, imagina o que ele iria fazer quando o assunto é realmente sério? Essa punição estava muito óbvia e o Arenas continuou provocando.
Ainda acho que muita gente na imprensa americana pegou pesado demais com o Arenas. O caso nem estava bem explicado (quer dizer, ainda não está) e já estavam crucificando ele, tratando-o como o pior dos criminosos. Mas, apesar de não concordar com os exageros, dá pra entender como eles nasceram: por que um cara vai ter quatro objetos cuja função é tirar a vida de outros seres humanos guardados no seu local de trabalho? As armas já fazem parte da nossa cultura, tem gente que é apaixonada por arma como outras são por carros ou basquete, mas não podemos esquecer que, no fundo, a função da arma é matar. O exagero ainda é exagero, mas é explicável.
A notícia mais recente do caso é que o Arenas estava tentando limpar a barra do Javaris Critentton. A versão foi contada pelo New York Post e parece encaixar com as outras contadas antes. Segundo o Post, o Critentton perdeu uma aposta num jogo de cartas para o pivô JaValle McGee e ficou bravo por uma discussão sobre as regras do jogo, o Bourré (que além de cidade da França, dança e música do Jethro Tull, é um jogo de cartas típico dos EUA).
O Arenas então começou a tirar sarro do seu colega que tinha perdido o jogo, dizendo que se não pagasse a aposta iria ter seu carro explodido (uma boa piada, convenhamos, eu teria dito que iria entregar um peixe na casa dele). Aí, ainda no avião, o Javaris teria dito para o Arenas que iria atirar no joelho dele (isso já foi pegar no ponto fraco!). Dias depois, no vestiário, o Arenas deixou suas armas no armário do Critentton com um bilhete dizendo “escolha uma” e disse que só estava deixando o trabalho do seu colega mais fácil. O armador, porém, respondeu algo como “Não precisa, eu tenho a minha” e mostrou sua arma carregada.
Não se sabe se ele chegou a apontar para o Arenas, se todo mundo riu, se eles se abraçaram, sei lá, não contaram nada depois disso. Mas falaram que o Arenas disse para o seu companheiro de time que iria assumir a responsabilidade pelo fato, encerrar isso e deixar o Critentton, que não tem nome, mídia e nem a mesma grana, longe disso. Acontece que o caso ficou grande demais e a história real acabou saindo. Ou seja, além do problema da posse de arma, de tê-las dentro de um lugar da NBA e ter sido suspenso pelo David Stern, o Arenas terá que lidar com o fato de ter mentido para a polícia, o que nunca é bom negócio nas séries policiais que eu vejo na TV.

Nos EUA o caso tem sido tratado bastante pela sua veia racial. O Stephen A. Smith da ESPN fez um artigo grande, até comentado no Rebote, dizendo que “idiotas como Gilbert Arenas estão envenenando a cultura negra”. Mas nesse caso eu concordo com outro americano, o (negro) Austin Burton, que disse: “Se fosse o Brad Miller apontando seu rifle de caça para o Aaron Gray em Chicago ele seria suspenso também”. Esse caso de armas em um local de trabalho é sério e não tem nada a ver com cor da pele, acho que chama mais a atenção pelo Arenas ser um jogador conhecido e polêmico do que por ser negro. Mas só estando nos EUA para entender um pouco melhor como eles lidam com a questão racial por lá.

Esse caso acaba sendo o marco de uma temporada que vinha sendo um grande anti-clímax para o Wizards e para o Arenas. Ele finalmente voltou depois de dois anos e meio parado mas o time não consegue vencer de jeito nenhum. O Arenas está até com bons números (22 pontos e 7,5 assistências, máximo da carreira) mas que não estão fazendo diferença na hora de vencer jogos, ao contrário, ele se destacou mais na temporada pelas bolas perdidas e lances livres errados em momentos decisivos dos jogos.
Convenhamos que o Jazz precisou de bem menos pra começar a oferecer seus jogadores em trocas. Esse caso é mais do que simbólico para o Wizards começar uma reestruturação geral em seu time. Caron Butler e Antawn Jamison ainda tem muito valor de troca na liga, Andray Blatche e Brendan Haywood são talentos que podem interessar muita gente e se o contrato do Arenas for realmente encerrado pela NBA, o espaço que isso deixaria na folha salarial do Wizards os colocaria na briga por Free Agents no ano que vem.
Acredito até que o Wizards deve estar torcendo demais para isso acontecer. Com o desempenho do time nesse ano, os 111 milhões investidos no Gilbert Arenas parecem um belo dinheiro jogado no lixo e a família Pollin, que comanda a equipe desde que o patriarca Abe Pollin morreu no começo dessa temporada, está indignada com os fatos e com o comportamento do Arenas perante eles, parece que não ficariam nem um pouco tristes de ver o Arenas longe de Washington. Ironia cruel do destino que foi o velho Abe Pollin que, muitos anos atrás, devido à grande violência na cidade de Washington, resolveu trocar o nome do time de Bullets (balas) para Wizards (magos).
Se por acaso Arenas continuar, vai ser um clima esquisito. O ambiente ficaria pesado e eles não teriam muito o que fazer, como seriam capazes de trocar aquele salário monstruoso? Que equipe iria poder e querer bancar? O ano que era pra ser o da volta de Gilbert Arenas foi o da infame volta do Washington Bullets.

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