As diferenças

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As faltas técnicas são as mesmas, mas a camisa… quanta diferença!

Agora sim a temporada pode ser dada como iniciada de verdade, com os jogos de quinta. Não porque foi a primeira rodada dupla da rede americana TNT, nem porque foram dois clássicos sensacionais, o Rockets contra o Mavs e o Suns contra o Hornets. Também não foi porque no outro jogo da noite o Larry Brown perdeu seu nono jogo consecutivo no comando do Bobcats (os outros oito foram na pré-temporada) e por algum motivo estranho não ouviu os meus conselhos. Nada disso.

A temporada começou na quinta porque Ron Artest tomou sua primeira falta técnica com a camisa do Houston Rockets. Até que isso acontecesse, a veracidade dos jogos poderia ser colocada em dúvida, poderia ser apenas uma simulação feita no computador, tipo quando a Globo faz aparecer uma lata de cerveja gigante no meio de um campo de futebol durante os intervalos. Poderia ser uma versão paraguaia com jogadores mexicanos sósias dos jogadores da NBA, o que aliás explicaria o bom humor do Popovich. O Artest tomando sua primeira falta técnica é como um selo de qualidade que comprova a autenticidade do produto. Ou seja, a partir de agora podemos levar a NBA a sério. Para os que precisam de mais provas, vale esperar o Rasheed Wallace tomar uma falta técnica em breve.

Se eu já defendia o Artest há muito tempo, agora que ele joga no Houston eu praticamente sacrifico ovelhas em seu nome durante rituais pagãos. Ou seja, se eu já era chato, agora vou ficar mais pentelho do que a mistura da Sonia Abrão com o João Kléber. Em todo caso, vamos fingir que eu sou imparcial e acreditar: a primeira falta técnica do Artest foi completamente injusta. Como diria o célebre Silvio Luiz, “confira comigo no replay”!

Para começar, o Josh Howard poderia lembrar que eu defendi suas férias e ter a decência de não descer a mão em ninguém do meu time, né? Mas na verdade foi um lance duro porém normal, e depois que o Yao deu uma trombadinha de malandro (ou ele abraçou muito o espírito americano ou ele é alto demais e nem viu o Josh Howard lá embaixo) o Artest achou melhor tirar o chinês do meio da confusão. Dá pra perceber que ele foi em direção ao Yao, ele só queria separar, apaziguar, pregar a boa vontade entre os homens. Só marcaram falta técnica porque estavam esperando ele puxar uma faca e cortar a cabeça de alguém a qualquer momento. Baita preconceito.

A fama do Artest, portanto, continua intocada. Mas algumas coisas mostraram-se completamente diferentes, o que indica que a temporada começou, mas que será bem diferente da temporada anterior. Pelo Rockets, por exemplo, agora quem chama as jogadas são os próprios jogadores, não o técnico Rick Adelman. Na maioria das vezes, na temporada passada, o Adelman chamava as jogadas do banco porque faltava aos jogadores a naturalidade de lidar com o complexo sistema tático. Trata-se de um enfoque livre, criativo, em que o Houston deveria simplesmente reagir aos movimentos da defesa, mas isso exige costume e domínio da proposta. Agora, os jogadores enfim entraram no clima, estão com o domínio das decisões e fizeram um monte de merda. Mas também acertaram bastante e ao longo da temporada tudo deve ficar praticamente automático. Porque, como diria o Maguila, “pensar é mó trampo”.

Também fiquei bastante surpreso em ver que a função de armador rodou mais do que fita do Lagoa Azul durante a partida. Em momentos diferentes, armaram o jogo Rafer Alston, Tracy McGrady, Aaron Brooks, Brent Brarry e Ron Artest. O Artest, aliás, foi armador em várias posses de bola consecutivas no último período, quando o jogo estava apertado. Ou seja, logo de cara já existe muita responsabilidade em suas mãos. Fiquei feliz porque o Rafer Alston é um armador terrivelmente inconstante e fanático pelo próprio arremesso, e com sua função distribuída entre muitas mãos, ele teve como passar mais tempo no banco. Seu reserva direto, Aaron Brooks, foi inclusive o responsável por ganhar o jogo nos minutinhos finais. Ele é tão inconstante e amalucado quanto o Rafer Alston, mas ao invés de arremessar sem critério ele bate para dentro do garrafão sem critério. Saiu de quadra com 14 pontos e 5 assistências, mas me deixou uma nítida impressão de que tinha exagerado um pouco na cerveja antes da partida, porque estava sem nenhuma amarra social, fazendo o que bem entendia. Cometeu uns erros grosseiros, fez umas bandejas lindas e depois provavelmente tentou beijar uma garota bastante gorda.

Pelo Mavs, algumas modificações colocadas em prática pelo novo técnico Rick Carlisle ficaram imediatamente perceptíveis. A bola passa agora muito mais tempo nas mãos de Jason Kidd, o que é sempre uma boa idéia. Na temporada passada ele ficava muito tempo só olhando o jogo, em geral livre para arremessar. Mas como ele arremessa como uma velha reumática, é melhor deixar a bola em suas mãos e um arremessador livre por perto, não é mesmo? Outra mudança foi Dirk Nowitzki, que parece ter sido instruído para segurar mais a bola e jogar dentro do garrafão. Isso é uma coisa que me irrita, aliás. O cara é grande, refinado, então ele tem que jogar dentro do garrafão e ficar enterrando a bola na cabeça de todo mundo? O forte do cara é o arremesso, é ficar atrás da linha de 3 pontos. Ele odeia tanto qualquer tipo de contato físico que deveria até mesmo estar jogando vôlei. É a mesma coisa com o Yao, exigir que ele enterre em todas as bolas sendo que seu talento é o arremesso, o gancho, a sutileza – foram 30 pontos contra o Mavs sem nenhum esforço. Saber usar um jogador de modo que possa usar suas melhores características é muito mais inteligente do que forçá-lo a uma situação desconfortável. O Nowitzki marcou 36 pontos, é verdade, mas em nenhum momento pareceu confortável, era como se tivesse perdido uma aposta e estivesse sendo obrigado a jogar usando uma saia de bailarina, e até mesmo prejudicou a fluência do ataque da equipe por segurar demais a bola. No final do jogo, desapareceu. Se ele faz 36 pontos num estilo que não é o seu, talvez fizesse 50 jogando onde gosta. É algo para o Carlisle pensar.

No outro jogo da rodada dupla, mais coisas indicaram que essa temporada será diferente da anterior. O Suns correu menos em quadra, o Nash segurou mais a bola e trabalhou mais como pontuador (em parte pela própria defesa do Hornets, que estava mais interessado em impedir os passes do canadense do que seus pontos) e o Leandrinho teve a pior partida que eu já presenciei do brasileiro. Sou um fã do Barbosa, não se enganem, mas ter que decidir entre ir pela direita ou pela esquerda não é com ele. O negócio dele é correr para frente e deixar todo mundo para trás. No basquete um pouco mais lento do Suns na noite de quinta, o Leandrinho sofreu muito e eu arriscaria dizer que deve ser sua pior temporada na NBA. Não por suas condições, mas porque o estilo do time agora lhe favorece bem menos.

Já pelo Hornets, o jogo estava apertado, suado, disputado, e aí no finalzinho o James Posey acertou três bolas seguidas de 3 pontos para garantir a vitória. Nessa temporada, o Hornets tem um banco de reservas, um jogador frio e versátil para fechar os jogos, e um Chris Paul que poderia andar sobre as águas se quisesse. Se há algum infiel que ainda não acredita no Hornets, cuidado, a futura igreja que louvará o atual MVP irá lhe queimar na fogueira.

Por enquanto é apenas o começo da temporada, os mesmos times e situações que estamos acostumados a amar, mas o que salta aos olhos são justamente as diferenças, aquilo que renova a experiência infinita do basquete para o nosso prazer. Espero que as faltas técnicas do Artest continuem as mesmas, mas que um anel de campeão no dedo seja, em breve, a grande diferença. Mas desde já, tenho medo do Hornets. Muito, muito medo.

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