A “trade deadline”, data limite para realizar trocas nessa temporada, se aproxima. No fim da tarde de quinta-feira, times não poderão mais realizar nenhuma troca até a temporada seguinte. A tendência é que a maioria das trocas aconteça na quinta-feira, já que todos os times querem garantir a melhor situação possível e supostamente conforme o horário limite for chegando, a ganância vai dando lugar ao desespero e times admitem trocas mesmo em situações fora do seu ideal almejado. É no estouro do cronômetro que as trocas realmente impactantes acontecem.
Nessa temporada com a tabela de classificação tão embolada, com tantos times querendo um ou outro jogador para melhorar ou consolidar suas chances de playoff e tão poucos times dispostos a abrir mão de bons jogadores e reconstruir, é perfeitamente possível que nenhuma grande troca se consolide. Mas as pequenas trocas sempre acabam rolando e dessa vez começaram com antecedência: dois dias antes já temos duas trocas interessantes para analisar.
Trocar uns dias antes da data limite pode significar duas coisas diferentes: que os times entraram num acordo ideal para todos com bastante antecedência e não tinham como esperar ganhar nada melhor, ou que essa troca é apenas um primeiro passo para melhorar as possibilidades de uma troca melhor com outros times no estouro do cronômetro. Acredito que hoje tivemos uma de cada, então vamos analisar as trocas para tentar entender o que raios está acontecendo.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Courtney Lee mostra sua atuação shakesperiana”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/02/Lee.jpg[/image]
Hornets manda: Brian Roberts (para o Heat), PJ Hairston e duas escolhas de segunda rodada (para o Grizzlies)
Heat manda: Chris Andersen e duas escolhas de segunda rodada (tudo para o Grizzlies)
Grizzlies manda: Courtney Lee (para o Hornets)
Basicamente o Hornets está abrindo mão de peças muito, muito baratas (dois jogadores de fundo de banco e duas escolhas de segunda rodada) para tapar o buraco deixado com a lesão de Michael Kidd-Gilchrist, fora por toda a temporada. Esse tapa-buraco pode muito bem ser temporário, já que Courtney Lee está no último ano de seu contrato, mas ele realmente faz tudo que o Hornets precisa: defende bem, arremessa do perímetro e pontua quando necessário. Atualmente na oitava posição do Leste, parece que o Hornets quer segurar a vaga para a pós-temporada o máximo possível e está até topando uma “ajuda de aluguel” para isso – que, caso dê muito certo, pode ser continuada no futuro, muito embora Courtney Lee deva receber ofertas para compor banco de equipes mais vencedoras. Ao menos por enquanto, o Hornets subiu bastante de qualidade, passa a ser uma boa aposta para chegar aos playoffs no Leste, e não gastou praticamente nada no processo. Se conseguir, ainda pode fazer outras trocas com suas peças mais valiosas.
Já o Grizzlies abre mão de Courtney Lee basicamente para receber algo em troca do seu contrato expirante. Além do fato de que seria difícil segurar o jogador, especialmente tendo que abrir os bolsos caso queiram segurar o Mike Conley na temporada que vem, há também a possibilidade de que o Grizzlies esteja mesmo entrando num processo de reconstrução e não seria mais interessante manter o jogador. A possibilidade de reconstrução fica vitaminada com a adição de QUATRO escolhas de segunda rodada nessa troca, mas a prova de que ainda acreditam nessa equipe (que está atualmente em quinto lugar no Oeste!) aparece na chegada de Chris Andersen, que mesmo não tendo jogado necas com o Heat nessa temporada, certamente será de alguma ajuda no período em que Marc Gasol ficar fora da equipe com sua lesão no pé (dizem as lendas que serão ao menos 4 meses, o que seria desastroso!).
Enquanto isso o Heat entra nessa troca de espertão, mandando duas escolhas de segunda rodada, se livrando do contrato robusto do Chris Andersen que sequer estava jogando desde a consolidação de Hassan Whiteside, e conseguindo em troca um armador reserva para substituir Tyler Johnson, que lesionou o ombro e não volta mais nessa temporada. Mais importante, o Heat consegue deixar de estourar o teto salarial, economiza uma grana louca em taxas e ganha um mínimo de flexibilidade salarial para o futuro.
Todos os envolvidos saem ganhando e, embora ainda possam participar de outras trocas, fizeram essas aqui simplesmente porque faziam sentido imediato para as franquias. Caso raro de um monte de gente contente.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Prepare-se para ter a imagem do Jennings arremessando cravada na sua retina”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2016/02/Jennings.jpg[/image]
Magic manda: Tobias Harris
Pistons manda: Brandon Jennings, Ersan Ilyasova
Tobias Harris está no primeiro ano do seu contrato fantástico de 64 milhões por 4 anos. Esse contrato foi conquistado com uma temporada incrível em que Harris mostrou muito potencial e parecia ser uma das peças centrais para o futuro do Orlando Magic. Mas pouco mais de meia temporada depois, Harris não evoluiu muito, não assumiu nenhum papel de destaque e continuamente perde o protagonismo em quadra para a tonelada de novatos que o Magic vem colecionando. Com tantos jovens talentos ainda em seus minúsculos contratos de novato, incluindo o Aaron Gordon que brilhou no campeonato de enterradas e vem tendo cada vez mais espaço na equipe, não parece fazer muito sentido pagar 17 milhões nessa temporada para o Tobias Harris ter um papel secundário, a equipe sequer ir para os playoffs e a molecada ter que ficar brigando com ele por espaço.
Enquanto isso, a situação da armação do Magic passou por uma série de mudanças ao longo da temporada e ainda não encontrou-se um desenho ideal. Victor Oladipo é um jogador bastante completo, mas precisa muito da bola nas mãos e acaba diminuindo a relevância de outros jogadores do quinteto titular. Elfrid Payton arma melhor o jogo, tem mais visão de quadra, um cabelo mil vezes mais legal, mas não consegue arremessar de jeito nenhum e acaba comprometendo o ataque da equipe. Usar Payton como titular e Oladipo como reserva permite que o banco tenha um jogador mais completo agindo com carta branca e o melhor passador em quadra com o talento do quinteto titular, mas isso limita os minutos do Oladipo e compromete o arremesso de perímetro da equipe. Usar os dois ao mesmo tempo, como o Magic tentou fazer tantas vezes, deixa o time reserva sem um armador de verdade e praticamente inutiliza o banco.
Abrir mão do contrato do Harris que não fazia mais sentido para um time tão novo e ainda longe dos playoffs e ainda ganhar um armador que topa ser reserva se precisar e que tem um arremesso sólido do perímetro é uma situação bastante interessante. O contrato do Jennings vai expirar ao fim da temporada, mas não é como se o Magic quisesse contar com sua ajuda a longo prazo – o lance aqui é abrir espaço salarial e apagar o erro de ter dado a um jogador sem impacto um contrato de 60 milhões. Ervan Ilyasova vem de brinde na troca para dar uma equilibrada nos salários, mas apenas 400 mil do seu salário é garantido na próxima temporada, o que é bem pouco para o que ele pode acrescentar à equipe, e fácil de pagar à vista para se livrar do jogador caso a parceria não funcione.
Basicamente o Magic está conseguindo alguns jogadores que ajudam momentaneamente, mas está principalmente abrindo espaço salarial e no elenco para outras trocas até quinta – muitas delas aguardadas pela “galerinha de dentro” da NBA – ou para melhorar a equipe após o fim da temporada, caso não role ir para os playoffs mesmo. Se tivesse esperado até os 45 do segundo tempo da data limite de trocas, quando vários times precisando de ajuda iriam começar a ficar mais “flexíveis”, certamente o Magic conseguiria mais por Harris do que conseguiu aqui. Ele ainda é um jogador sólido e que ajudaria qualquer equipe da NBA. Mas a vontade de abrir espaço para outros movimentos falou mais alto, de modo que o Magic está dando apenas o primeiro passo num esquema maior de incrementação da equipe.
Já o Pistons aproveitou que tinha quase 20 milhões sobrando na sua folha de pagamento para chegar no teto salarial e resolveu pegar praticamente de graça o contrato que o Magic se arrepende de ter assinado. “Praticamente de graça” porque Jennings está no último ano do contrato mesmo, não cabia no Pistons que foi assumido por Reggie Jackson na armação, e Ilyasova perdeu espaço no garrafão e também seria dispensado na próxima temporada. Com dois jogadores sem espaço e que eventualmente iriam embora a troco de nada, o Pistons ganha um jogador que o Magic achava ser estrela – e que a gente ainda não sabe se não é mesmo, ou se só não estava nas condições ideias para dar certo. No Pistons a situação parece ideal: Harris não terá que morar no garrafão porque lá é a terra de Andre Drummond, e sua “falta de posição” (já que ele não é nem ala de força, nem ala pequeno) casa perfeitamente bem com a “falta de posição” de Marcus Morris. Se não trocarem o jogador-encrenca, é bem possível que os dois joguem juntos na ala e troquem constantemente de lugar na quadra, de função, de marcadores, etc. Seria um ambiente em que Harris poderia usar toda sua versatilidade sem competir tanto por minutos na posição – quando Caldwell-Pope voltar da lesão, deve ser o reserva dos DOIS e garantir o rodízio. Olhando para os playoffs na nona posição, o Pistons torna-se repentinamente mais forte e mais versátil e ganha um jogador capaz de criar cestas do nada, algo que faltava desesperadamente para uma equipe que vive das loucuras do Reggie Jackson. Não ter gastado todo seu espaço salarial com qualquer coisa disponível valeu a pena: o Pistons se aproveitou do arrependimento e da urgência do Magic para ganhar um jogador muito bom em troca de pouca coisa e que, ao meu ver, tem tudo para colocá-los em definitivo nos playoffs do Leste.