>Avaliação anual de pivetes – Draft 2010

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Samardo Samuels. Nem precisa de legenda.

Quando a gente começou o blog uns bons anos atrás, não éramos tão chatos como somos hoje. Uma prova disso é que bem de vez em quando a gente até entrava na brincadeira de fazer apostas, palpites e futurologia. Comparar jogadores a gente sempre foi contra e vamos morrer sem fazer isso! Nem em 1º de abril eu faço um post comparando Kobe e LeBron. Mas nos últimos dois anos fizemos posts (Draft 2008, Draft 2009) que analisavam a classe de novatos e arriscávamos, baseado no que vimos no primeiro ano, qual poderia ser o futuro de cada uma dessas crianças nos próximos cinco anos.

Conceitualmente eu hoje não gosto desses posts que fiz. Acho que no fim das contas é um jeito barato, fácil e meio vazio de analisar os novatos. Mas ao mesmo tempo é bem prático, já que são mais de 30 por ano é difícil falar individualmente de cada um deles e a generalização da lista, seguida de alguns comentários específicos, cobre esse espaço na nossa cobertura. Na dúvida entre fazer e não fazer acabei decidindo por manter a tradição e analisar a classe de novatos do Draft 2010 ao mesmo tempo que faço minha magia negra para saber o futuro de cada um. Não é perfeito, mas pelo menos alguma coisa temos que manter todo ano nesse blog. Você se pergunta se deve confiar nessas previsões? Eu não acreditaria, mas você pode tirar as suas conclusões baseado no que dissemos no passado. Uma parte divertida desses posts é analisar o que eu já disse sobre os então novatos que hoje já são até candidatos a MVP.

Mas antes de mais nada vocês precisam saber os critérios. Dividimos as crianças em 8 grupos futurísticos, prevendo o que eles vão ser daqui uns anos. São critérios altamente científicos:

1.Mega Estrelas: São aqueles jogadores que vão jogar bem todo dia, que vão liderar franquias, que vão vender doces, biscoitos, tênis e celulares com seu nome, serão entrevistados pela Angélica e vão participar de vários All-Star Games.
Exemplos: LeBron James, Kobe Bryant, Tim Duncan, Derrick Rose.

2. Estrelas Light: Sem áçucar, a estrela de soja só é uma estrela dependendo do desempenho do time na temporada. O cara só é cotado para participar do All-Star Game se o time está bem. Geralmente esse atleta é mais discreto e não é unanimidade entre os fãs, apesar de serem excelentes.
Exemplos: David West, Pau Gasol, Stephen Jackson, Chris Bosh.

3.Caolho em terra de cego: Caolho em terra de cego é rei, mas ainda é caolho e não pega mulher. Esse tipo de jogador é muito melhor que a maioria da NBA mas ainda não pode se achar tudo isso.
São os jogadores que obviamente tem muito talento mas que nunca vão ser cogitados para liderar um time a uma campanha vitoriosa como uma primeira opção, são aqueles caras que só funcionam sendo a terceira opção do time. Em geral são jogadores que sofrem um certo preconceito porque um dia acharam que eles seriam Estrelas Light, ou sofrem pressão porque são novos e acham que podem virar uma Mega Estrela.
Exemplos: Lamar Odom, Michael Beasley, Jason Terry.

4. Role Player Integral: Cheio de gordura mas sem ser o Zach Randolph, são aqueles caras que têm um papel específico no time e que sempre fazem esse papel muito bem. Eles são os jogadores limitados mas que, o que sabem fazer, fazem com perfeição. Costumam ser o sexto-homem de um bom time.
Exemplos: Shane Battier, Eddie House, James Posey, Arron Afflalo.

5. Role Player Desnatado: Se não tiver integral vai desnatado mesmo. Têm a mesma função dos role players integrais mas são incompetentes demais para serem regulares e confiáveis. É o tipo de jogador que joga bem em casa e mal fora ou bem contra time ruim e mal contra time bom.
Exemplos: Sasha Vujacic, Chris Andersen, Zaza Pachulia, JJ Barea

6. Zé Alguém: São aqueles caras que você sabe que estão na NBA, que participam dos jogos, mas que em um jogo disputado e que vale alguma coisa nunca vão estar em quadra nos momentos finais a não ser que algo bizarro aconteça (muitas contusões, muitos jogadores eliminados por falta, chantagem atômica).
Exemplos: Hilton Armstrong, Ryan Hollins, Charlie Bell, Jason Collins

7. Pedaço de carne desforme e imprestável: É aquele tipo de jogador que entra ano, sai ano e por algum milagre divino o cara continua com contrato. Na prática é só um pedaço de carne desforme e imprestável que nunca entra em quadra, só esquenta banco, entrega gatorade, aplaude e depois da temporada arranja outro time pra fazer a mesma coisa. Eles estão na liga mas não jogam.
Exemplos: Sean Marks, Brian Cardinal, DJ Mbenga


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Uma coisa engraçada é que só para postar essa explicação eu já preciso dar uma editada nos exemplos porque algumas coisas mudam de ano para ano. Colocar o Rajon Rondo na categoria 3 parece estúpido hoje, assim como colocar o Lorenzen Wright como Pedaço de Carne Desforme e Imprestável é cruel depois que o coitado foi assassinado! Só isso já mostra como essas previsões são perigosas, mesmo jogadores já estabelecidos na NBA mudam muito de ano pra ano com treino, novas funções, novos times. Para os novatos tudo acontece com ainda mais intensidade. Então que fique claro, as previsões são baseadas mais no que cada um fez nesse ano, é mais um estudo do passado do que um feeling (tem que falar com o nariz empinado) irracional do que vai acontecer no futuro.


Essa foi a minha lista do Draft de 2008:


1. Mega Estrelas: Derrick Rose e OJ Mayo
2. Estrelas Light: Brook Lopez, Michael Beasley, Russell Westbrook, DJ Augustin, Greg Oden
3. Caolhos em terra de cego: Kevin Love, Eric Gordon, Jason Thompson, Jerryd Bayless, Rudy Fernandez
4. Role Player integral: Danilo Gallinari, Courtney Lee, George Hill, Nicolas Batum, DeAndre Jordan, Mario Chalmers, Marc Gasol
5. Role Player desnatado: Brandon Rush, Mareese Speights, Roy Hibbert, JaValle McGee, Ryan Anderson, Darrell Arthur, Luc Mbah a Moute, Mike Taylor, Anthony Morrow
6. Zé Alguém: Joe Alexander, Robin Lopez, Anthony Randolph, Donte Greene, Chris Douglas-Roberts, Kyle Weaver
7. PCDI: Kosta Koufos, Goran Dragic
0. Estarão fora da NBA: Alex Ajinca, DJ White, JR Giddens

No ano passado mesmo eu já tinha admitido algumas derrotas: Percebi logo que tinha subestimado o Kevin Love e o Jason Thompson, que vinham jogando bem. Mas bastou mais um ano pra tudo mudar, o Love é ainda mais espetacular do que eu poderia imaginar e o Jason Thompson, nunca entendi bem o motivo, perdeu espaço no Kings. Também tinha percebido que o Goran Dragic era melhor do que as minhas pessimistas primeiras impressões de pirralho inseguro. Não vejo ele ainda com condição de ser titular em nenhum time, mas obviamente o cara é bom. E já no ano passado admiti o erro em pensar que o Danilo Gallinari seria só um arremessador. É bom ler os meus arrependimentos passados para não me darem as broncas que já me deram um ano atrás!

Com o OJ Mayo eu ainda tinha esperanças, mas elas se foram nesse ano. Ele não conseguiu se firmar como armador principal, nem titular e nem reserva, que era o seu plano na offseason. Também não melhorou o seu arremesso e na defesa ficou estagnado. Como resultado perdeu a posição no time justamente para o cara com quem teve uma briga de socos e pontapés, Tony Allen, que revolucionou a defesa de perímetro do Grizzlies. Por pouco não foi trocado do Memphis e se for embora não vai fazer falta. É bom, pode ser titular ou 6º homem por aí, mas não é indispensável.

Nessa classe ainda podemos ficar preocupados com Michael Beasley e Brook Lopez, que entra ano e sai ano continuam com os mesmos defeitos. Se o Beasley não defender e não pensar mais em quadra, e se o Lopez não começar a pegar mais de um rebote a cada 100000 minutos em quadra, fica difícil ser chamado de estrela. Em compensação, mal aê Westbrook, respeito.

Essa análise é um bom exemplo de como a gente tem que ter muita paciência com vários jogadores. Os Blake Griffins desse mundo que já chegam jogando como se fossem veteranos são raros, o normal é ir com calma e é muito difícil adivinhar quem deslancha ou não. Alguns novatos até jogam poucos minutos e a gente, que não assiste treino, fica dando tiro no escuro. Lembro disso porque no começo dessa temporada, quando só Blake Griffin, Landry Fields e John Wall estavam se destacando entre os novatos, muita gente já queria decretar o Draft passado como o pior desde o trágico grupo de 2001. Calma lá, sem ejaculação precoce.


Para o Draft 2009 a minha lista foi essa:

1. Mega Estrelas: Tyreke Evans e Brandon Jennings
2. Estrelas Light: Stephen Curry
3. Caolhos em terra de cego: Ty Lawson, Jonny Flynn, Omri Casspi, James Harden
4. Role Player integral: Jordan Hill, DeMar DeRozan, Hasheem Thabeet, Terrence Williams, Chase Budinger, Jonas Jerebko, DeJuan Blair
5. Role Player desnatado: Earl Clark, Jrue Holiday, Tyler Hasnbrough, Rodrigue Beaubois, Wesley Matthews, Marcus Thornton, Darren Collison, Eric Maynor, Jeff Pendegraph
6. Zé Alguém: James Johnson, Jon Brockman
7. PCDI: Gerald Henderson, Austin Daye
0. Estarão fora da NBA: BJ Mullens

Sabe que eu estou até orgulhoso dessa lista? Um ano depois e eu não mudaria lá muita coisa. Quer dizer, mudaria bastante, é verdade, mas nada muito drástico ou absurdo. O interessante dessa lista é que as minhas mudanças são quase que todas para cima. Vários jogadores podem subir um ou dois degraus nessa lista. É o caso de DeJuan Blair, que se estabeleceu como titular no Spurs, DeMar DeRozan, menos cagão, Chase Budinger, bom titular no Rockets desde a saída do Shane Battier, Marcus Thronton, melhor notícia do Kings na temporada. Ainda tem o Darren Collison, certamente mais que só um role playerTyler Hansbrough, que  renasceu depois da mudança de técnico, Jrue Holiday por muitas vezes é o melhor jogador do Sixers e Wesley Matthews, no fim das contas, realmente vale toda aquela fortuna insana que o Blazers desembolsou para tirá-lo do Jazz.

Os que menos melhoraram foram justamente os melhores. Tyreke Evans e Stephen Curry sofreram com contusões, é verdade, além de estarem em times ridículos, mas esperava-se mais deles. Já o Brandon Jennings tem seus altos e baixos, coisa que deveria ter acabado mas que é compreensível em um time em que todo o sistema ofensivo sempre foi meio capenga. De qualquer forma, não acho que fiz nenhuma previsão absurda.

Os maiores erros, de novo, foram menosprezando bons jogadores. Depois de primeiros anos apagados, o Gerald Henderson e o Austin Daye têm mostrado talento. Naquela coisa dolorosa que é ver o Pistons jogar, as únicas coisas que não machucam os olhos são o renascimento do Tracy McGrady, o Rip Hamilton jogando por um novo contrato e a ascenção do Austin Daye. Ele tem um estilo meio Tayshaun Prince que pode render muito no futuro ao lado do Jonas Jerebko, boa promessa que perdeu toda essa temporada contundido.

Os poucos que caíram de nível foram o Terrence Williams, máquina de triple-doubles só na D-League, que não acha espaço no Rockets. Earl Clark, ainda longe do potencial anunciado mesmo com alguns bons momentos no Magic, e Hasheem Thabeet, que tem jeitão de ser um daqueles caras que é encarado promessa por 10 anos. Mas nunca se sabe, né? Tyson Chandler demorou uma eternidade até virar bom jogador, tudo pode acontecer. Também tem o Jonny Flynn, que mal consegue se firmar num time fraco como o Wolves mesmo depois de um primeiro ano com algumas boas atuações. Ele me lembra o TJ Ford, veloz demais e com algumas boas jogadas que dão a impressão de que o cara é um gênio, mas quanto mais você assiste mais percebe como ele está perdido em quadra. Talvez o esquema tático do Wolves não ajude, talvez ele esteja sempre perdido mesmo.

Para ler o post do ano passado quando eu elaborei a lista, clique aqui. 

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E, finalmente, minha lista para o Draft 2010:


1. Mega Estrelas: John Wall, Blake Griffin
2. Estrelas Light: DeMarcus Cousins, Wesley Johnson
3. Caolhos em terra de cego: Greg Monroe, Evan Turner, Derrick Favors, Paul George, Landry Fields, Jordan Crawford, Tiago Splitter
4. Role Player integral: Patrick Patterson, Gordon Hayward, Eric Bledsoe, Ed Davis, Gary Neal
5. Role Player desnatado: Trevor Booker, Samardo Samuels, Ekpe Udoh, Cole Aldrich, Xavier Henry, Al-Farouq Aminu
6. Zé Alguém: Luke Harangrody, James Anderson, Luke Babbitt, Greivis Vásquez, Avery Bradley
7. PCDI: Dexter Pittman
0. Estarão fora da NBA: Daniel Orton

Eu confesso que coloco o Evan Turner nessa posição por um pouco de acaso. Tive sorte ao assistir vários jogos do Sixers em que o Turner teve seus bons momentos; nos ruins, muitos, eu estava vendo outros times. Então sei que ele é capaz de ser melhor do que é embora tenha tido uma temporada broxante. Acredito que com mais confiança ele pode fazer algum estrago na NBA. Mesma coisa com o Wesley Johnson, não foi impecável, mas melhora pouco a pouco e vai ter espaço pra crescer no Wolves.

O Tiago Splitter tem talento para ser mais do que isso, mas não passou muita confiança nesse primeiro ano. Mesmo sem o período de treinos (ele não participou porque estava machucado), eu esperava mais de um cara com tanta experiência internacional. Talvez esse novo Spurs mais veloz e com mais bolas de três também não tenha ajudado.

O Jordan Crawford é um exemplo de como é difícil analisar novatos. A maioria deles a gente só conhece em uma situação, um esquema tático, um técnico, uma rotação. E só com o passar dos anos, com mudanças no time ou trocas, é que vamos conhecendo mais do cara. Com o Jordan Crawford essa troca aconteceu já no primeiro ano e ele saiu do fim do banco do Hawks, quase não entrava, para ser titular no Wizards. Em Washington ao lado de John Wall está sendo o pontuador que era no basquete universitário. Meteu 39 pontos na cachola do Miami Heat e outro dia fez seu primeiro triple-double na carreira. Talvez outros mal ranqueados só estejam escondidos como estava Crawford no Hawks.

Zoamos muito o Samardo Samuels, mas o fato é que ele garantiu seu lugar na NBA. Ter um cara não draftado, desconhecido e de nome engraçado como titular menos de um ano depois de ter a melhor campanha da NBA mostrava a decadência do Cavs pós-LeBron. Mas Samuels, símbolo dessa fase, fez bonito quando teve chance e certamente tem espaço na liga como um bom reserva. Orgulho do novo mascote do Bola Presa!

Não dá pra comentar todas as decisões hoje, qualquer coisa em especial perguntem nos comentários. Mas ano que vem voltarei aqui para apontar para mim mesmo, dar risada das bobagens que disse e me perguntar de novo por que diabos eu me arrisco em prever o futuro.

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