>Bagos gigantes

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Sam Cassell mostra o tamanho das bolas do Magic, 
que trocou dois de seus jogadores titulares

O Magic sempre mostrou que é um time disposto a arriscar. Quando o elenco parecia ter futuro e os comentários eram de que, com um grande arremessador de três pontos, eles seriam capazes de lutar pelo título, juntaram todas as moedinhas e ofereceram tudo que tinham disponível para o Rashard Lewis – na época um dos arremessadores mais badalados da NBA. O contrato foi ridículo, somando 124 milhões de dólares em 6 anos, e dá pra ter ideia do absurdo fazendo uma visita a esse site aqui, que calcula em tempo real quanto o Rashard Lewis ganhou no mundo real a partir do momento em que você entrou na página (adianto, é mais de 1 dólar por segundo). O jogador não vale tudo isso, nunca fez grandes coisas pela equipe, mas quanto você estaria disposto a pagar por um jogador que pode ser a última peça para vencer um anel? Na temporada seguinte à sua contratação, o Magic se tornou campeão do Leste e perdeu na Final da NBA para o Lakers. Não dá pra criticar a decisão.

Com a derrota, vieram novos papos. Supostamente o que faltava para ganhar o título era, então, alguém capaz de criar o próprio arremesso, decidir os jogos no final, encontrar uma bola de segurança que não fosse um arremesso de três forçado. Fizeram uma troca para conseguir Vince Carter, jogador longe de seu auge e com fama de fominha. Foi arriscado, mas o Magic preferiu apostar na imagem que o Carter construíra no ano anterior como tutor da pirralhada do New Jersey Nets. O sucesso do Carter foi moderado, por vezes parecia estragar o ritmo da equipe, por outras salvava o jogo, mas o Magic com ele chegou novamente à final do Leste – desse vez perdendo para o Celtics.

Não é estranho, portanto, que um time que chegou a duas finais de Conferência em anos consecutivos esteja sempre envolvido em tantos boatos de troca. Estão sempre dispostos a arriscar, a acrescentar uma peça final, a mudar o elenco vencedor para conseguir dar um passo a mais. É por isso que a resposta a uma fase de derrotas nessa temporada foi trocar vários jogadores – aquisições, como as de Carter e Lewis, arriscadas mas inteligentes. O Magic não tem aquela postura bizarra do Cavs da era LeBron, que trocava apenas por trocar e formou um circo de horrores, em Orlando as trocas tem uma visão de conjunto, um plano definido de qual é a identidade do time. Só trocam por quem se encaixa na brincadeira.

O primeiro passo do Magic nessa maratona de trocas anunciadas hoje foi se livrar do Rashard Lewis. Não que ele feda, como muita gente anda sugerindo recentemente. Longe disso, ele é um bom jogador, mas seu contrato vai até 2013 lhe pagando mais de 20 milhões por temporada bem quando o Magic não precisa mais de arremessadores. Todo mundo no elenco, até o garoto da água e a mãe do Dwight Howard, arremessam de três mesmo durante o sono. O processo de montar um elenco eficiente no perímetro que teria o Rashard Lewis como peça final deu tão certo, mas tão certo, que agora o Lewis é descartável. Já não fará nenhuma falta.

Em seu lugar, o Wizards manda nosso canalha favorito, Gilbert Arenas. Nos últimos anos Arenas sofreu com uma lesão, depois com a lesão resultante dele tentar voltar cedo demais para as quadras, depois com a lesão resultante dele treinar demais para se reabilitar mais rápido, e depois com a punição por ter feito uma piada com armas de fogo no vestiário (que ele ainda não engoliu muito bem e diz ter sido julgado injustamente). Faz tanto tempo que ele não pisa numa quadra de basquete que até dá pra esquecer que, uns anos atrás, ele era um dos jogadores mais fodões da NBA, cotado para ser MVP, marcando 60 pontos nos times com os quais tinha birra, e dando mais de 10 assistências por jogo em sua volta às quadras só pra provar que, se quisesse, teria fácil média de double-double como armador. Arenas era tão bom que recebeu um contrato de 111 milhões e um elenco de apoio de respeito para tentar um título do Leste, mas todo mundo do elenco se lesionou numa hora ou em outra (e quando estavam saudáveis perdiam pro Cavs de LeBron nos playoffs) e agora já era, desistiram do projeto, desmontaram o time, e já é tarde demais para o Arenas voltar e tentar fazer valer o contrato gigantesco Ele merecia esse contrato quando o Wizards queria ganhar naquela hora e acreditava em títulos, agora estão reconstruindo em volta do John Wall e o Arenas não apenas ganha dinheiro demais e é bom demais, mas também rouba minutos do novato John Wall porque jogam basicamente na mesma posição. Para o Wizards é melhor se livrar do Arenas por qualquer outro jogador que seja de outra posição e dê ideia de recomeço, de que o John Wall é a estrela, e se tiver um contrato mais curto é brinde. O Rashard Lewis tem um contrato um ano mais curto, não é metido a estrela (nem nunca foi, tem “jogador secundário” escrito na testa), e não vai roubar minutos do John Wall, pronto, tá ótimo. Enquanto isso o Arenas está jogando cada vez melhor, recuperando a forma, e pode criar o próprio arremesso como se esperava que o Carter fizesse na temporada passada. Fora que, como já provou que sabe passar a bola como armador principal, pode substituir Jameer Nelson numa das trocentas contusões anuais do garoto.

É claro que o Arenas pode pregar uma peça e envenenar a água de Orlando, exagerar e querer dar todos os arremessos finais do meio da quadra enquanto grita algo absurdo como “Colher!”, e segurar demais a bola, mas é mais um risco para o Magic que simplesmente vale a pena. O Arenas tenta começar de novo e deixar as polêmicas para trás, vai querer ser bom moço na nova equipe, está cada vez em melhores condições de jogo e tem potencial para voltar a ser jogador digno de papo sobre MVP. Se fizer merda e forçar muito o jogo, não vai ser nada que o Carter já não tenha feito tantas vezes no último ano, com a vantagem de que o Arenas é mais versátil e pode jogar nas duas posições de armação.

Essa troca, além disso, permitiu que o Orlando fosse ainda mais além com seus bagos gigantes. Com a chegada do Arenas, ficaram livres para enviar o Carter para o Suns. Aproveitaram para enviar dois jogadores de valor mas que, assim como Rashard Lewis, eram cada vez mais inúteis na equipe: Mickael Pietrus e Marcin Gortat. O Pietrus era importante na equipe graças à sua defesa e às bolas de três, mas desde que o JJ Redick passou a defender o bastante para conseguir ficar em quadra e teve atuações memoráveis nos playoffs, tem tido prioridade. Já o Gortat nunca foi muito usado mesmo, mas ele teve alguns momentos brilhantes em quadra, mesmo que raros, e o Magic resolveu lhe dar um salário gordinho só para impedir que os outros times interessados contratassem o rapaz (sabe como é, pivô é raro hoje em dia). No Magic faltam oportunidades porque o Dwight Howard é o dono absoluto do garrafão e o Brandon Bass joga cada vez melhor, em especial porque ele tem um arremesso de média distância consistente e aí não bate cabeça com o Dwight. No fim, valeu a pena investir no Gortat porque ele agora virou moeda de troca, só isso. Nenhum desses jogadores, no momento, fará falta para o Magic. O risco está mesmo é no que eles recebem em troca.

Em troca de Gortat, Pietrus, Carter e uma escolha de primeiro round no draft, o Suns mandou Jason Richardson e Hedo Turkoglu, além do Earl Clark (que só vai junto porque deve ter entrado no avião sem querer). Pra mim, Jason Richardson é o jogador perfeito para o Magic atual. Sua temporada pelo Suns tem sido fantástica, seus arremessos andam precisos, seu basquete anda eficiente como nunca, ele cria o próprio arremesso, e tudo isso sem exigir a bola nas mãos. Até chega a forçar o jogo, especialmente no primeiro período (dizem que se ele domina o primeiro quarto, é certeza de que terá um jogo fodão), mas nunca segurando demais o jogor. J-Rich joga bem sem a bola em mãos, se posiciona bem no perímetro e está sempre cortando para a cesta. É o jogador ideal para continuar a tradição de arremessos de três do Magic, um especialista no quesito que já liderou a NBA mais de uma vez em bolas de 3 convertidas, mas capaz de se virar quando o perímetro não estiver funcionando – e tudo isso sem comprometer a rotação de bola e o ritmo da equipe. Com o Hedo Turkoglu o negócio é diferente, ele também arremessa bem de três mas segura muito mais a bola, gosta de jogar como armador, e agora o Magic parece ter excesso de gente assim. Mas mesmo que o turco tenha minutos limitados, já deve valer a pena. Postei no começo da temporada sobre como o estilo do Turkoglu não se encaixava com o Suns de modo algum, que ele não tinha como render lá, e que sofrera com a mesma questão em Toronto. No estilo do Magic, pelo contrário, o Turkoglu parece um bom jogador, usa suas principais qualidades. Então mesmo que seus minutos fiquem restritos pela presença de Brandon Bass, Jameer Nelson, Jason Richardson e Gilbert Arenas, será no mínimo um jogador que pode render um pouco ao invés daquela lástima que ele era no Suns, em que não rendia nada. O jogador foi salvo e o Magic ganha de volta um reforço que deve estar muito grato e já conhece todo o andamento da equipe. É arriscado porque o contrato do turco é enorme e ele pode bater cabeça com outros jogadores, mas é tentador conseguir por um preço baixo um jogador que você sabe que vai render muito mais justamente no estilo de jogo da sua equipe – e que não rende nada em nenhum outro lugar.

Pro Suns, é um alívio se livrar do Turkoglu e receber o Marcin Gortat é um motivo para ver alegria na vida outra vez. Hakim Warrick quebra um belo galho no garrafão ofensivo mas falta alguém que possa sequer se fingir de pivô desde que o Robin Lopes se contundiu. Se o Gortat for mesmo aquilo que se supunha e puder dominar na defesa enquanto contribui no ataque com enterradas e jogo físico, o Suns nem fica com tanta saudade do Amar’e e para de tomar um pau de qualquer jogador com mais de um metro e meio de altura. E se o Gortat for um jogador limitado e souber apenas levantar os braços, o garrafão do Suns também já fica imediatamente melhor – estavam numa situação tão ruim que se um torcedor sorteado fosse jogar de pivô, seria lucro. Para isso perdem J-Rich numa temporada magistral, o que é uma pena, mas o Carter tem ao menos em teoria a possibilidade de tapar o buraco. Precisa de entrosamento com o Nash, soltar a bola, correr um bocado, mas o Carter já começa se encaixando no time em um aspecto básico: ele nunca defendeu bulhufas mesmo.

O Wizards deu o último passo necessário em sua reconstrução – que pra mim foi, até agora, impecável e relâmpago – se livrando de seu melhor jogador e dando espaço para John Wall, e o Suns ainda se debate para conseguir um garrafão pós-Amar’e e vai tentar tapar o buraco do J-Rich enquanto tenta descobrir se pode sonhar com alguma coisa enquanto ainda possuem o Nash. São todas mudanças significativas, mas quem mais tinha a perder com tudo isso era o Magic, porque o Suns e o Wizards fediam enquanto o Magic é um timaço que vem de duas finais de Conferência. A equipe de Orlando tem testículos de jumentinho para arriscar a esse ponto, e pra mim só apostou em coisas que valem a pena – mesmo se derem errado.

Jameer Nelson já está confirmado como titular (enquanto não se contundir, ele nunca joga mais de 70 partidas numa temporada), Arenas já avisou que está sussa de vir do banco, então o resto do quinteto inicial deve ter Jason Richardson (no papel de Vince Carter) e Turkoglu (no papel de Rashard Lewis), com o garrafão reforçado por Brandon Bass. Subitamente o time mantém as características usuais, sua identidade como um time de arremessadores, mas todo mundo sabe criar o próprio arremesso e o garrafão fica mais forte. Gilbert Arenas pode vir do banco armando o jogo e, claro, criando as próprias situações de cesta, ao lado de JJ Redick, e nos momentos cruciais de jogo o quinteto pode ter Jameer Nelson, Arenas, J-Rich, Turkoglu de ala (como teve que jogar no Suns) e Dwight no garrafão. Lembra quando ninguém no Magic queria decidir? E a bola parecia batata quente? O Turkoglu passou a criar cestas mesmo que a contragosto, o Jameer Nelson aprendeu a bater para dentro e forçar pontos, Arenas tem história como um dos jogadores mais decisivos de sua geração, e o Jason Richardson sabe muito bem criar espaço para si mesmo. É um Magic irreconhecivel.

Passei muito tempo não levando esse Magic a sério, meio como se eles fossem um Mavericks do Leste, sabendo que eles poderiam chegar a uma Final de NBA e esfregar minha cara no troféu e mesmo assim eu sempre iria achar que tudo ia dar merda. É que acho difícil ter medo de times que se baseiam nos arremessos de três porque eles são inconstantes e é preciso ter uma bola de segurança pra quando tudo o mais falha, pra quando a água bate na bunda. Pois agora eles tem, ao menos no papel, tudo o que é necessário. Devem chegar a mais uma final de Conferência, mesmo com os inevitáveis problemas de entrosamento que surgirão nos próximos meses. E, mesmo se der tudo errado, aplaudo os bagos dos engravatados de Orlando. Essa equipe que arrisca e inova já tem, pra mim, muito mais valor do que qualquer equipe de sucesso que bate na trave e não tem coragem de mudar os rumos. Quero ser igual ao Magic quando eu crescer.

Outras equipes, como Lakers, Nets e Rockets, fizeram trocas recentemente e vamos comentar delas nos próximos dias (sei que estamos meio devagar, prometo que a gente engrena ainda esse ano). Mas pegar um time vencedor, com chances de título, e mandar embora peças tão importantes para trazer jogadores polêmicos é coisa para poucos. Só por isso, já merecia que desse certo. Bem que o Arenas poderia tentar não andar nos vestiários armado dessa vez só pra ajudar um pouco.

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