Baron Davis amaldiçoado

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“Olha, mamãe, agora sem as mãos!”

Nós, fãs da NBA, estamos prestes a presenciar algo de consequências catastróficas, algo que pode desestruturar toda a fina malha da relação espaço-tempo: Baron Davis está indo para o Los Angeles Clippers. A maluquice dessa afirmação é tão grande que sequer sei poder onde começar.

Para se ter uma idéia, estamos falando do jogador mais amaldiçoado do mundo do basquete indo jogar no time que mais precisa de um exorcismo em toda a NBA. Como comentei num post mais antigo, o Clippers deve jogar em cima de um cemitério indígena e, portanto, todos os jogadores querem fugir de lá o mais depressa possível. O primo pobre do Lakers simplesmente não consegue vencer, não importa o que aconteça, mesmo com elencos bacanas, simpáticos e promissores. Quando parece que não tem como algo dar errado, a maldição do Clippers sempre dá um jeitinho: quebrou o joelho do Shaun Livingston praticamente encerrando sua carreira, lesionou um Elton Brand que nunca havia nem pego uma gripe, contundiu Chris Kaman trocentas vezes e roubou o talento do Tim Thomas (não que ele tivesse muito, claro). O negócio por lá é tão complicado que, quando acabam os contratos, todos os jogadores correm para sair de lá imediatamente, basta lembrar do Lamar Odom. O que vimos agora é uma inversão total dessa lógica que fica ainda mais estranha quando pensamos no sujeito que decidiu ir jogar por lá: Baron Davis.

Quando perguntaram para o maluco do Don Nelson se ele estava preocupado em que Baron Davis desistisse do último ano de seu contrato, que era de escolha do jogador, ele respondeu algo nos moldes de “Nah, os 17 milhões que ele vai ganhar vão garantir que ele volte.” Depois disso, enfiou uma colher na orelha, usou uma toalha de banho como capa e pulou pela janela do nono andar. Coisas comuns em sua rotina. Apesar da insanidade do técnico do Warriors, estava mais do que óbvio que Baron Davis não iria deixar escapar os 17 milhões que, convenhamos, dão pra comprar um monte de balas de caramelo. Mas parece que, meio por birra, meio por maluquice (que deve ser contagiosa após passar tanto tempo ao lado de Don Nelson), ele resolveu mandar seu último ano multimilionário pelo ralo e ir bater uma bolinha no Clippers. Justo no Clippers. O sujeito deve curtir um cemitério indígena.

Entenda porque: em 9 temporadas, Baron Davis só jogou as 82 partidas da temporada em quatro ocasiões, três delas em seus três primeiros anos de NBA, naquele tempo em que ele tinha um joelho e dava pra brincar de pião na rua. A outra ocasião em que ele passou uma temporada inteira saudável foi, curiosamente, a temporada passada. Ou seja, quando finalmente o sujeito não se arrebenta em quadra, resolve ir jogar na maior taxa de gente quebrada por metro quadrado. Ele só pode estar brincando.

O contrato só pode se tornar oficial dia 9 de julho, mas o acordo verbal entre Davis e o pessoal do Clippers está estabelecido e parece definitivo. Duvido que tenham oferecido pra ele os quase 18 milhões que ele ganharia no Warriors, e dificilmente vão apresentar um basquete tão veloz quanto aquele que o permitiu se tornar um dos melhores armadores da NBA nas últimas temporadas. Mas isso parece não importar nem um pouco. Vai ver, ele tem fetiche por contusão. Mas o mais provável é que estivesse com vontade de ter alguém com mais de 20 centímetros jogando ao seu lado na equipe, só para variar. Ainda que o elenco do Warriors seja de alto nível (e um dos meus favoritos, aliás), era bem óbvio que Baron Davis era obrigado a carregar muito da filosofia ofensiva do time nas costas, e que ainda assim faltava profundidade e tamanho para atuações convincentes nos playoffs. Além do que Don Nelson, depois de colocar em prática um regime de “eles não existem” com novatos durante toda sua carreira, anunciou que deve colocar a pirralhada em quadra na temporada que vem. O que significa que ele desistiu da equipe, sabe que nos playoffs eles não vão conseguir ganhar de ninguém que não seja o Mavs, e está decidido a se comprometer com o futuro da equipe, motivo o suficiente para Davis pular do barco.

Do outro lado, com Baron Davis o Clippers de repente se torna um dos times mais bacanudos da NBA, além de um dos mais imprevisíveis: nunca vai dar pra saber quando alguém vai dar uma enterrada maluca, um passe incrível ou quebrar a perna e desmanchar um joelho. E o melhor de tudo é que Elton Brand deve continuar por aquelas bandas. Juro que não entendo o Brand, que pelo jeito é um bom samaritano, um sujeito legal com quem eu adoraria jogar gamão um dia desses. Após tantas temporadas só tomando pau no Clippers, completamente invisível para o grande público apesar das constantes médias de 20 pontos e 10 rebotes por jogo, Elton Brand tem a chance de sair correndo de lá mas não, preferiu ficar. Contundido durante toda a temporada passada, pareceu envergonhado quando falou sobre isso nas entrevistas e deu a entender que ficaria no Clippers apenas para desculpar-se com a organização que pagou seu salário enquanto ele em nada contribuia. Depois de tantos jogadores que não fazem nada, ficam jogando ludo na enfermaria e depois simplesmente dão o fora da equipe para assinar contratos milionários, ouvir a história do Elton Brand traz até lágrimas aos olhos. Além disso, Brand anunciou que estaria disposto a aceitar um salário menor para que a equipe pudesse contratar outras estrelas para jogar ao seu lado. Dito e feito, ele fará par com Baron Davis e, somados ao pivô Chris Kaman, o ex-novato Al Thornton e o recém-draftado Eric Gordon, têm tudo para viverem felizes para sempre.

Se não estivessem jogando no Clippers, claro. Não tem como colocar fé na equipe que sempre tem tudo para ser um fracasso. Ainda acho maluquice do Baron Davis, que poderia ter optado por lugares menos macumbados, mas deixando o misticismo e o histórico de contusões de lado, o Clippers tem tudo para ser uma versão pobre do Celtics. Como lado negativo, o fato de que o núcleo da equipe não é especialmente jovem, e as chances para ganhar anéis não devem durar por muitos anos. Mas pelo lado positivo temos muito talento junto e a possibilidade de atrair outros jogadores interessados em participar da brincadeira. Corey Maggette, ala do Clippers, por exemplo, é Free Agent e está sendo cotado por várias equipes. Trata-se de um jogador completo que tem como grande mérito a capacidade de sofrer faltas e cobrar lances livres quando o resto do seu jogo não funciona. Talvez, ao ver a equipe se formando ao seu redor, ele também escolha continuar no Clippers, nunca se sabe. Embora ele pareça interessado em verdinhas e conheça os espíritos malignos que devem passear pelo ginásio.

Se os ares parecem bons para o Clippers, a ida de Baron Davis para Los Angeles deixa o Warriors numa situação um tanto delicada. O time já não tinha armador reserva e agora fica até sem armador titular. O Monta Ellis já jogou improvisado na posição mas ele não sabe arremessar de fora e não é prendado na arte de passar a bola, ou seja, ele é um quebra-galho pra armar o jogo mesmo, apesar de ser simplesmente genial jogando de segundo armador. O Warriors vai ter muito espaço na folha de pagamento para contratar uma estrela para a equipe, mas como o estilo de jogo do técnico porra-louca Don Nelson vai ficar sem um armador capaz de correr como um débil mental? É hora do time de Golden State decidir exatamente o que quer fazer da vida, em quem vai estar apoiado o futuro da franquia, se o Don Nelson vai continuar mandando na budega e em quem ele quer confiar o cargo de armador principal. Agora, faz cada vez mais sentido o boato do Gilbert Arenas retornando para o Warriors, mas o Wizards acabou de assinar o Antawn Jamison por uma grana bem módica, requisito para conseguir convencer o Arenas a continuar em Washington.

Na abertura do festival de Free Agents (se você não sabe o que significa o termo “free agent”, está na hora de uma aulinha com a tia Ju), é hora de manter o olho no Warriors. E, pelo resto da temporada, também manter o olho na enfermaria do Clippers, claro.

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