O Philadelphia 76ers é o time queridinho de todo mundo nestes Playoffs: eles sobreviveram ao PROCESSO, comeram o pão que o tanking amassou e agora estão aÃ, com a melhor campanha da franquia desde que foram para a Final da NBA em 2001 e ganhando DEZESSEIS JOGOS seguidos para fechar a temporada regular. A superação foi confirmada com uma excelente atuação no Jogo 1 da série contra o Miami Heat, onde eles AMASSARAM os rivais por devastadores 130 a 103.
A coisa virou, porém, na segunda partida. O Sixers finalmente perdeu um jogo! O aproveitamento dos arremessos caiu de 48% no primeiro jogo para 41%; o nÃvel de acerto das bolas de 3 pontos despencou de 64% para 19%. O número de desperdÃcios de bola também subiu, foi de 10 para 14. E aà vem a pergunta fundamental: o que mudou de um jogo para o outro?
Vamos começar vendo essas três assistências do Ben Simmons no Jogo 1:
Os lances são bem diferentes, mas tem uma coisa em comum: em todos os casos Ben Simmons tem TODO O ESPAÇO DO MUNDO para trabalhar. Como os times não tem medo do seu (inexistente) arremesso de média e longa distância, eles marcam Simmons de longe, achando que assim vão congestionar o garrafão e fechar as linhas de passe. É uma estratégia muito usada contra qualquer armador que não arremessa, desde Tony Parker no começo da carreira até Ricky Rubio hoje em dia.
O que os times não percebem é que um passador do nÃvel de Simmons é capaz de qualquer coisa quando ganha esse espaço todo. Sem ninguém em cima dele, ele é capaz de ver a quadra inteira, observar toda a movimentação e simplesmente passar a bola no exato milissegundo que alguém fica livre:
Em alguns casos, contra alguns jogadores, essa estratégia pode ser válida. Mas não só Simmons está num nÃvel de passe e visão de jogo acima do normal, como o Sixers é um dos times que mais se movimenta sem a bola. Então se você for dar espaço para Simmons, é bom que os outros quatro jogadores não vejam a luz do dia! A estratégia também é falha porque dá muito espaço para Ben Simmons ganhar velocidade e DESTROÇAR defesas com suas infiltrações. É o que LeBron James fez a carreira inteira com quem o marcava a distância o desafiando a arremessar, ele pegava esse espaço para dar dois passos e se transformar uma locomotiva:
Erik Spoelstra, técnico do Miami Heat, não precisou de muito tempo para perceber que marcar Simmons desse jeito não iria o levar muito longe. A mudança veio no primeiro tempo do Jogo 2. A ideia foi brincar de técnico de basquete universitário e fazer uma boa e velha PRESSÃO QUADRA INTEIRA para impedir as duas situações acima: nada de espaço para ele observar a quadra e muito menos para ele ter espaço para correr. A diferença é gritante!
Reparem como nas seis posses de bola abaixo, todas numa sequência em que o Heat conseguiu fazer 17 a 2 em poucos minutos, o Sixers e Ben Simmons não conseguem impôr qualquer velocidade ou ritmo no jogo. Simmons tem dificuldade para passar do meio da quadra em alguns casos. Não há nem o pudor de mandar dois caras para cima do armador para obrigá-lo a se livrar da bola com um passe longo e arriscado. E em um dos lances o Simmons até se irrita, leva pro pessoal e faz falta de ataque no ótimo Justise Winslow:
A estratégia não é perfeita. Ela, por exemplo, CANSA MUITO!!! O Heat calculou e fez ela desse jeito mais agressivo em um momento especÃfico do jogo, basicamente só no segundo quarto, e não à toa o perÃodo que eles venceram por 34 a 13. Mais do que decisivo num jogo com a diferença final de 10 pontos, não?
E além da questão fÃsica, a pressão pode ser mortal para a defesa quando não é feita perfeitamente. Se você deixa o outro time se acostumar, ele se adapta. No lance abaixo, por exemplo, o Sixers passou POR CIMA…
Embora os ajustes táticos sejam gritantes e decisivos, não podemos ignorar outros fatores. No primeiro jogo o Sixers acertou dificÃlimos arremessos de 3 pontos, já no segundo errou um monte mesmo tendo mais arremessos sem marcação do que no Jogo 1, segundo dados da NBA.com. O incômodo da defesa do Heat pode ter entrado na cabeça dos jogadores do Sixers e influenciado o erro nos arremessos? Bem possÃvel, jogar com essa tensão no cangote é infernal, mas não podemos cravar que isso aconteceu mesmo.
O que temos certeza é que a marcação pressão fez a diferença no 2º quarto do Jogo 2 e que certamente veremos mais disso na próxima partida em Miami. Hora de esperar o contra-ataque do Sixers!