>Na coluna Bola Presa, cada um puxa prum lado!
Com a chegada de Pau Gasol ao Lakers, os olhos se voltaram a Los Angeles e a possibilidade desse ser o passo decisivo para o time de Kobe ser campeão nos anos que se seguem virou o assunto preferido dos fofoqueiros por aí. O primeiro jogo de Gasol no Lakers foi simplesmente destruidor, embora ninguém por aqui tenha conseguido assistir porque não havia um maldito canal na internet que estivesse passando o diabo do jogo. Até pensei em ficar triste, mas a notícia agora é tãaaao semana passada que não vale mais a pena nem pensar nisso.
A troca da vez agora é outra: o Phoenix Suns levou Shaquille O’Neal em troca de Shawn Marion e Marcus Banks.
Esse é o momento ideal para a coluna Bola Presa! Aqui, opiniões opostas ficam lado a lado e você decide quem tem mais razão metendo a boca nos comentários!
Por que o Heat saiu ganhando?
por Denis
Anos atrás parecia que o GM do Lakers, Mitch Kupchak, era o maior dos pecadores da Terra. Todos os olhavam torto pra ele. Como ele ousava trocar o “jogador mais dominante de todos os tempos”?
Na época parecia estranho mesmo, parecia que o Lakers estava dando o melhor jogador da liga só pra manter o mimado Kobe calminho. Anos depois vemos que a troca foi bem pensada. A situação era insustentável. Ou se ficava com Kobe ou com Shaq. Se ficasse o Shaq, Kobe sairia como Free Agent e o time não receberia nada em troca. Se ficasse Kobe, poderiam trocar o Shaq por alguma coisa e começar do zero.
Decidiram começar do zero e o principal motivo é que todos lá sabiam que Shaq iria durar pouco. E durou, foram mais duas boas temporadas (embora não dominantes como outrora) e aí tudo afundou. Inúmeras contusões, números cada vez mais baixos, muitos problemas de faltas e pra completar, está no pior time da NBA.
O Heat tinha duas opções: a primeira era segurar Shaq, torcer para que ele conseguisse se manter saudável e, de algum jeito, melhorar de repente o elenco do time. A segunda era trocar Shaq com algum time que ainda acredite que ele possa ser a solução para um título imediato.
O Suns acreditou e para conseguí-lo ainda topou mandar um cara que merecia estar no All-Star Game todo ano, o Shawn Marion. Estão mais do que certos em aceitar a proposta!
O contrato do Marion é enorme, 16 milhões, quase tão grande quanto o do Shaq, que é de 20. Mas com a diferença de que o Marion ainda está no auge da forma, forma que ele exibe com médias de 16 pontos e quase 10 rebotes, sem contar a defesa, em que marca desde o armador até o ala de força adversário, e o contra-ataque, arma mortal do Suns que ele executa com perfeição. Para completar, no ano seguinte Marion tem a opção de sair do seu contrato e ser um Free Agent, então o Heat tem meia temporada para ver se quer o Marion na equipe, e aí convencê-lo a ficar, ou pode decidir por começar do zero mesmo e ter muito espaço para ir atrás de novas estrelas. Ano que vem Elton Brand é Free Agent, e lembremos que alguns anos atrás o Heat quase o pegou, só não conseguiu porque o Clippers tinha a opção de igualar a oferta e igualou. O Heat, aliás, não precisa se preocupar em atrair as estrelas pra lá porque só o fato de Dwyane Wade jogar por lá já faz o olho de muita estrela em time ruim brilhar.
Além disso, Marcus Banks, que vem junto com Shaq, pode ser uma boa opção na armação. Nunca vai ser uma estrela mas nunca achei ele ruim também, e na comparação com Chris Quinn, Smush Parker e Jason Williams eternamente machucado, ele não precisa de muito pra se destacar.
Acho então que o Heat venceu essa troca. Abandonam de vez a geração que trouxe o primeiro título para recomeçar, e o podem fazer ou com um jogador fora de série como Marion ou o liberando e usando o espaço do salário para contratar uma outra estrela. Faço até uma suposição otimista pra alegrar os fãs do Heat: e se o Marion topa optar por sair do contrato e ganhar um pouco menos do que ganha para continuar no Heat, aí eles chama o Elton Brand e eles tem no mesmo time Wade, Marion, Brand, Haslem e ainda quem eles pegarem no draft, que pelo recorde atual deles, deve ser alguém do topo do draft?
Claro que essa última parte é fantasia, suposição, mas mostra que essa troca cria possibilidades de um futuro bom para a franquia. Ficar com Shaq era ficar amarrado com o passado.
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Por que o Suns saiu ganhando?
por Danilo
A troca, por um lado, me deixou triste. É difícil sorrir ao ver esse Suns, um emblema do ataque porra-louca e desenfreado, se desmontar antes de ter ganhado um título. Mas a verdade tão incômoda quanto a Sonia Abrãao é que esse tal título provavelmente não viria sem alguma mudança significativa no elenco. Como o Denis provou em seu post sobre o Oeste, o maior problema do Suns é ganhar dos times grandes consistentemente, coisa essencial para os playoffs. Amaré já mostrou que não sabe marcar Tim Duncan, e o Oeste cada vez mais recheado com garrafões poderosos (Yao, Bynum, Gasol, Duncan, Tyson Chandler, Boozer) parece uma terra não muito promissora para o Phoenix Suns.
Abrir mão de Shawn Marion é doloroso mas necessário. Marion sempre foi reconhecido por ser injustamente um dos jogadores menos reconhecidos da NBA, o que é um paradoxo divertido. Ele tem talento para ser All-Star, faz de tudo em quadra e não exige a bola em suas mãos. Faz o trabalho sujo com perfeição, sempre ali comendo pelas beiradas. Muito se disse sobre o Marion ser essencial para essa equipe de uma forma silenciosa, mas eu acho que ele é sim dispensável. Grant Hill está jogando como um garoto, Leandrinho merece mais espaço, e o Boris Diaw nos últimos meses se lembrou que jogar basquete não se faz com um garfo e uma faca. Ainda há o novato, Alando Tucker, que se saiu bem em poucos minutos. A profundidade do Suns é o bastante para arriscar ficar sem o Marion, desde que pelo preço certo.
Eu sou aquele velho chato que vai estar na cadeira de balanços daqui umas décadas falando que videogame bom mesmo era o Super Nintendo e que o Shaq ainda pode jogar. Porque eu realmente acredito que o Shaq não está nessa decadência absurda em que a crítica o enfiou, e acho que até os 62 anos ele ainda vai ser mais dominante do que dez Eddy Currys juntos. Shaq tem problemas com faltas, as contusões estão avisando que ele não tem mais 18 anos, mas seus maiores problemas são outros: motivação e apoio do time. Quando motivado, Shaq perde peso e domina os jogos só pelo prazer da coisa. Além disso, Shaq depende (hoje e sempre) de ser envolvido no ataque pelos seus companheiros. Quando não recebe a bola e é obrigado a ficar subindo e descendo na quadra com seus 800 quilos sem participar do ataque, Shaq fica desanimado e prefere ir assistir ao filme do Pelé. No Lakers, me lembro perfeitamente bem dele tendo partidas apagadas, desmotivado sem receber a bola, e depois louvando Luke Walton aos quatro cantos porque o branquelo, então novato, conseguia passar a bola para ele como ninguém mais fazia. Bem, se Shaq se empolgou com Luke Walton, o que ele vai dizer sobre Steve Nash? Que tipo de motivação e empolgação em quadra terá Shaquille O’Neal ao jogar, pela primeira vez na vida, com um armador que se preocupa em passar a bola antes de qualquer coisa?
Se o Grant Hill conseguiu ficar saudável e rejuvenescido no Suns, acredito que o mesmo acontecerá com Shaq. Steve Nash tem esse poder sobre as pessoas, tornando suas vidas mais simples. É claro que eu não espero que o Shaq aguente a correria, e infelizmente o Suns deve correr um bocadinho menos. Mas nada que comprometa contra-ataques e o talento de Leandrinho, Nash e Amaré na quadra aberta. Se Yao Ming se encaixou bem num esquema de contra-ataques no Houston, por que Shaq não fará o mesmo? Além disso, o Suns tinha problemas gravíssimos jogando em meia-quadra. Nas séries contra o Spurs nos playoffs, bastava ao time de San Antonio parar uma jogada (o pick and roll) para deixar o Suns sem ter a menor idéia do que fazer quando não podia jogar no contra-ataque. O Shaq, mais do que transformar completamente o estilo do Phoenix Suns, será uma alternativa, uma possibilidade para essas horas. Pode passar muito tempo no banco, jogar pouco, deixar Diaw e Grant Hill em quadra, e entrar apenas quando o time precisa. O time é agora muito mais perigoso, profundo e capaz de amedrontar os grandes garrafões do Oeste. Perder Marion e o Marcus Banks, que aliás nunca sequer entrava em quadra, é um preço pequeno para um dos jogadores mais dominantes de todos os tempos que deve trazer uma opção inédita para o Suns nas horas de necessidade. E alguns títulos de brinde. Basta aguardar a saúde de Shaq se estabilizar e então assistir aos playoffs e ver o que esse time poderá fazer.