>Cabeça de jogador

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A arte de entender a cabeça de Tyronn Lue

Eu tive uma conversa quase filosófica com o Danilo algum tempo atrás. Filosófica mas sobre NBA, claro. Ficamos tentando entender como funciona a cabeça de um jogador da NBA, afinal a maioria deles encara o basquete e a liga de forma diferente da que nós, fãs. Para eles a NBA é o local de trabalho, os times são empresas e empresas que ficam em lugares dos EUA que eles gostam, não gostam ou onde têm alguma história. Além disso, eles vêem o lance do dinheiro e da fama de forma diferente da nossa. Imagino que a maioria dos nossos leitores não saiba como é não ter dinheiro e, de repente, se ver em posição de ganhar milhões e milhões de dólares por jogar 82 jogos de basquete assistidos em quase todos os países do planeta.

Acho que essa discussão é bastante válida nesses meses sem temporada porque é agora que os jogadores estão decidindo (ou estão decidindo por eles) onde e por quanto vão jogar.

Primeiro tem a parte da grana, que até já falamos aqui outras vezes na época da contratação do Baron Davis e do Elton Brand, mas é realmente uma questão importante para o jogador de basquete da NBA. Eles encaram o dinheiro que recebem não só como uma chance de viver bem para o resto da vida, mas como uma medida do valor deles como jogadores e de importância junto à franquia. Então não é importante receber apenas um bom dinheiro para o cara fazer até os netos viverem na boa, é importante receber de acordo com o que o cara representa para o time. Logo, o Chris Paul deve receber mais que o Tyson Chandler, que deve receber mais que o Morris Peterson. O Duncan recebe mais que o Tony Parker, que recebe mais que o Bruce Bowen e ainda pega a Eva Longoria.

Não é raro os contratos de dentro do time servirem como parâmetro para um novo contrato, para que o melhor ganhe mais e o pior menos. Quando isso não é respeitado até cria uma discussão na mídia e entre os fãs, afinal por que pagam tanto pelo Erick Dampier se o DeSagana Diop jogava mais tempo que ele? Ou por que oferecer mais dinheiro pelo Nenê do que pelo Marcus Camby se o Camby era mais importante que o Nenê no antigo garrafão do Denver? A disucssão veio à tona nas últimas semanas porque tem gente revoltada que o Antawn Jamison ganha mais grana que o Caron Butler, o mais mal pago do trio de Washington. Se bem que eu me sinto mal de chamar de “mal pago” alguém que ganha 8 milhões de dólares em um ano.

Também há a competição entre jogadores de times diferentes. Diz a lenda (isso nunca é confirmado da boca dos atletas) que o Zach Randolph tinha acertado um bom contrato com o Blazers e ia assiná-lo quando descobriu que o Pau Gasol tinha assinado um contrato ainda melhor com o Grizzlies. Então o Randolph se recusou a aceitar aquele contrato e disse que ele tinha que ganhar mais do que o Gasol por ser melhor do que ele. Pra mim é uma atitude ridícula, ele até pode se achar melhor que o Gasol, mas mudar o contrato por causa disso é idiota. Se todo mundo na NBA quisesse ganhar mais que o Brian Cardinal (em torno de 7 milhões por ano) os times iam à falência.

Também bastante discutido, principalmente entre os Free Agents irrestritos, que podem ir para qualquer time, é a cidade em que vão jogar. Assim que saíram as notícias de que o Baron Davis não iria continuar no Warriors, os times cogitados para ficar com o armador eram Kings, Clippers e até o Lakers, tudo porque o Baron Davis é do estado da Califórnia e já deixou bem claro que gosta de morar lá e porque também é envolvido na indústria de cinema, que é concentrada em Los Angeles. No fim das contas ele topou ir para o Clippers mesmo.

Outro caso famoso é o do Shaquille O’Neal, que disse que adora lugares quentes, de clima bom e que não tenha muito frio, neve pra ele nem pensar. Ele conseguiu isso. Jogou nos dois times da ensolarada Flórida (Miami e Orlando), no calor da Califórnia com o Lakers e agora está no deserto do Arizona com o Suns. Azar do Jazz e do Nuggets, em cidades frias pra burro, e do Portland e do Sonics, que ficam (ou ficavam) em cidades conhecidas pelas suas chuvas. Nunca tiveram a chance de ter o Shaq em seus times. O assunto da onde os jogadores moram veio à tona também na semana passada quando o Gilbert Arenas tirou sarro do seu companheiro de Universidade do Arizona, Richard Jefferson, porque ele estava indo para o Bucks. Aqui as palavras do Arenas:

“Richard Jefferson vai para Milwaukee… HAHAHA! Cara, isso é engraçado. Quando eu ouvi eu comecei a dar risada. Cara, como eu ri. E você sabe por que? Porque todo jogador odeia Milwaukee. Ninguém quer morar lá. Desculpe, Milwaukee, de pegar tão pesado com vocês, mas ninguém na NBA quer morar aí. Para ele sair de New Jersey, ou melhor de Nova York, porque ele morava lá, para ir para Milwaukee é como… bom, vamos dizer que não vai combinar com ele. Foi muito engraçado quando ouvi essa notícia, mas pelo menos o Yi Jianlian deve estar feliz. “

Vai ver que é por isso que o Bucks tem essa coisa de manter por lá os jogadores que dizem até publicamente que não querem jogar com eles. O Bucks deve ter noção de que se eles forem esperar alguém que realmente quer jogar com eles, o time não vai ter o elenco mínimo no dia que começar a temporada. E o Yi deve estar feliz mesmo, ele sempre disse que queria morar em uma cidade com alguma colônia chinesa e com o Nets ele estará ao lado de Nova York, que tem mais chinês do que táxi.

Mas um outro tema, o que eu acho mais interessante de todos, é saber qual é a ambição do jogador, saber o que ele quer de sua carreira.

Não é lei, mas o padrão mostra que primeiro o jogador quer entrar na NBA em algum time em que ele tenha tempo de quadra. O time pode ser bom, ruim ou médio, se ele tiver tempo pra mostrar que é bom, ótimo. Depois que ele provou o que é, a tendência é o jogador buscar o contrato mais lucrativo possível. Já li sobre jogadores que tem medo de se machucar ou de, de repente, perder espaço na NBA, então para eles o mais importante é conseguir o contrato mais longo e lucrativo possível. Por fim, quando o jogador vê que sua carreira está indo para o fim, ele tenta buscar o que não tem ainda. Então se ele não tem um título, vai para um time com chance de título. Se nunca jogou na cidade em que nasceu, tenta ir para lá, se quer ser técnico, vai para onde ele será aceito como auxiliar técnico, caso do Sam Cassell, que considera ir para o Denver para ser treinado pelo seu amigo George Karl. Não acho que o Denver seja um bom lugar para aprender algo sobre ser técnico de basquete, mas beleza, quem sou eu pra questionar o que o Cassell faz, não é?

Mas acontece que para alguns, a carreira não é tão comum assim e durante ela o jogador tem que fazer escolhas não tão óbvias. São reações que inicialmente causam espanto mas que pensando bem, dá pra entender.

O primeiro caso é o do Tyronn Lue. Ele acabou de assinar com o Milwaukee Bucks, sim, o time em que ninguém quer jogar. E não foi por desespero não, ele não corria o risco de ficar desempregado. O Suns o queria como reserva do Nash e até ouvi uns rumores de que o Miami, que precisa desesperadamente de um armador, além do Celtics e do Kings, queriam seus trabalhos, mas não, ele preferiu ir para o Bucks. Depois de tantos anos rodando pela NBA, principalmente em times ruins, era de se esperar que o Lue escolhesse ir para um time de mais prestígio para aparecer na TV, jogar os playoffs, ganhar jogos e até tentar ganhar um anel de campeão. Mas ao invés disso ele foi para um time que não está nem perto de um título e que já tem Mo Williams e o promissor Ramon Sessions em sua posição.

O motivo foi tempo. O Suns e todos os outros times usaram esse atrativo do título, dos playoffs para o Lue, mas ofereciam sempre o contrato mínimo por um ano. Apesar de não serem fontes oficiais, dizem que o Bucks ofereceu mais dinheiro e um contrato de 3 anos de duração. Depois de ser um andarilho em times ruins, o Lue decidiu se firmar financeiramente. Ainda em um time ruim, infelizmente.

Outro caso bem interessante é o do Jarvis Hayes. Ele foi draftado pelo Wizards e lá em Washington passou os primeiros anos de sua carreira, mostrou que era talentoso, que sabia marcar pontos mas também foi bastante irregular e se machucou bastante. Virou Free Agent, foi para o Pistons, foi muito bem na temporada vindo do banco e era peça importante como reserva de Hamilton e Prince. Mas então, de repente, já que era Free Agent de novo, assinou com o New Jersey Nets.

Até aí nada de mais, mas depois descobriram que ele tinha recebido propostas do San Antonio Spurs e do New Orleans Hornets. Ele poderia ser um reserva importante, que entraria em todo jogo em dois dos melhores times da liga, mas ao invés disso preferiu ir para o Nets, que está claramente em reformulação e pensando em ganhar de verdade somente em 2010, depois de tentar pegar o LeBron. E pior, financeiramente as propostas eram muito parecidas.

O motivo é bem claro, em New Jersey ele tem muitas chances de ser titular. Com Richard Jefferson foram da equipe, Trenton Hassell não sendo lá tudo isso e o Bostjan Nachbar sondado por times europeus e pelo Hawks, o Hayes praticamente não tem competição para ser peça importantíssima na equipe. Aqui está o que ele disse:

“No fim das contas a oportunidade de ir para um time e ter a chance de realmente jogar era algo que eu não podia deixar passar.”

Achei muito legal a atitude dele. Ao invés de se contentar em ser um coadjuvante em times bons como Pistons, Hornets e Spurs, ele preferiu jogar basquete pra valer, por mais minutos possíveis, no fraco Nets.

Muito legal ver que mesmo que eles pareçam pessoas diferentes, que enxerguem as coisas de forma bem diferente, às vezes dá pra encontrar uns caras com quem a gente se identifica, que mesmo nesse mar de dinheiro, fama e busca pela glória, consagração e imortalidade na história da liga, alguns queiram somente ir lá e jogar o máximo de basquete possível.

E você, o que faria? Se recebesse propostas financeiramente iguais, iria para o time a um passo do título, onde provavelmente seria segunda ou terceira opção do banco, ou iria para um time fraco onde, pela primeira vez na carreira profissional, teria chance de ser titular?

Vídeo: Jerome James

Não tem nada a ver com o assunto mas assim que eu vi esse vídeo eu precisei colocar ele aqui. É um mix de jogadas do grande, gordo, grosso e patético pivô do New York Knicks, Jerome James. É a prova final de que até sua tia gorda que aperta suas bochechas no Natal pode parecer um bom jogador com a edição de vídeo certa.

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