Chance perdida

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Arremesso: Travis Outlaw está fazendo errado

Já até nos encheram o saco no formspring querendo saber quando vamos tirar aquele bando de “Calma ae” na coluna de links da nossa planilha de Free Agents. Calma, pessoal! Passamos um período com muitas mudanças, muitos contratos novos e tentamos dar atenção para o que era mais importante, como o trio de Miami, Carlos Boozer e Amar’e Stoudemire e para o que não poderia ficar para depois, como a análise das Summer Leagues. Agora, aos poucos, vamos falando de algumas contratações de menos nome ou menos impacto, mas que merecem ser comentadas.

Hoje falaremos de um time que começou o verão americano com grana sobrando o bastante para dar uma festa em um iate, mas que preferiu gastar para resolver umas dívidas e no máximo passar um fim de semana no Guarujá. Ou, em termos de basquete, começaram sonhando com LeBron James e se deram por satisfeitos depois com Travis Outlaw:  o New Jersey Nets.
O Nets começou a offseason deixando para trás vários resquícios da temporada mais fracassada da sua história: tem um novo dono, um bilionário russo de história estranha (Mikhail Prokhorov, sobre quem estou pesquisando para fazer um post da série “Dono da Bola“), não paga mais 8 milhões de dólares para o Bobby Simmons mostrar que não sabe jogar basquete, trocou de técnico, General Manager e não seria nenhuma surpresa se aparecessem com novos logos e uniformes só para esquecer do ano passado.
Quem acompanha o futebol inglês como eu já estava esperando que bilionário russo era sinônimo de gastos absurdos e contratações de jogadores de mais nome que talento, os homens do dinheiro da Premier League parecem gostar mais de manchetes anunciando contratações e euros do que de vitórias. Mas eis que o Nets então, ao perder LeBron James, fez algumas das contratações mais discretas e xoxas da liga, a primeira delas sendo Travis Outlaw.
O ala, que eu não vou chamar de fora-da-lei como ato em homenagem à ATO, Anti-Trocadilhos Organizados, chega para ser o que sempre quis ser na carreira: titular. Ele chegou na NBA no famoso draft de 2003 e direto do colegial. Tinha se destacado nos anos anteriores com boa técnica de arremesso, velocidade, boa altura e uma forma física alucinante. Relatos da época dizem que ele colocava moedas no topo da tabela! Com bom potencial, mas ainda meio cru, foi a 23ª escolha. O Blazers foi bem em não queimar o garoto nos seus primeiros anos e apenas trabalhava o rapaz em treinos. Seus minutos de jogo subiram de 2 minutos por partida no ano de novato para 13, depois 16, 22, 26, até chegar no auge, 27, na temporada retrasada.
No ano passado, porém, caiu de novo para 20 minutos e seu jogo, pela primeira vez, regrediu. No começo era legal ver que Outlaw, que além de uma aberração física, estava também refinando seu arremesso e se tornando um bom reboteiro. Durante sua melhor temporada ele até começou a ser chamado de “Sr. 4º período” em Portland, todas as bolas do time na reta final do jogo eram na mão dele. Em vários jogos ele arremessava mais que o Brandon Roy quando o time precisava de uma cesta urgente. Depois de se tornar um exímio arremessador ele mesmo disse que é apaixonado pelo seu arremesso e que é viciado em treiná-lo. O que parecia bom, no entanto, virou vício. Não demorou muito para o Travis Outlaw virar um buraco negro e arremessar toda bola que chegava nele, o que passava por ele não voltava, e também se tornou um jogador previsível, já que nunca infiltrava, enterrava ou procurava um companheiro livre, era só arremesso, arremesso e arremesso. Não à toa perdeu espaço para jogadores mais completos como Nicolas Batum e Rudy Fernandez.
A graça de acompanhar o Travis Outlaw no Nets vai ser ver como ele encara o seu papel e como o técnico Avery Johnson vai usá-lo. Eles estão contratando um jogador para ser uma das estrelas do time, alguém para confiar a bola com regularidade, ou é só mais um arremessador? Gostar ou não do Outlaw e da sua contratação depende exclusivamente do que você espera dele e de como se usa o seu talento.
No melhor dos cenários ele pode ser uma espécie de Luol Deng do Nets. Recebe pouco a bola, mas quando recebe tem a luz verde para arremessar. Deng, porém, tem aprendido a infiltrar, é ótimo em contra-ataque e um excelente reboteiro para sua posição. Também tem ao seu lado Derrick Rose, que sabe mais do que Devin Harris quando acionar seus companheiros. O pior dos cenários é o Travis Outlaw ser um novo Ricky Davis. Tem a luz verde para pontuar porque tem talento para isso mas sempre toma as decisões erradas: quer ser herói quando não deve, acha que é o melhor do time só porque é um pontuador, não ajuda em mais nada porque aceitou o rótulo de “scorer” e acha que pegar rebote, defender e essas frescura é função dos outros.
O salário médio de 7 milhões anuais pelos próximos 5 anos indica que eles estão esperando algo mais próximo da primeira opção, claro, mas achei uma contratação arriscada. Outlaw não deu indícios no passado recente de maturidade e de boas decisões em quadra, se nem com Roy e Andre Miller controlando o ritmo de jogo ele era obediente, imagina com o porra-louca do Devin Harris! A possibilidade do bom cenário existe, mas eu não me animaria demais com essa contratação se torcesse para o Nets. O Ronnie Brewer poderia exercer a mesma função e ser melhor em muito mais coisas e saiu bem mais barato para o Bulls. O Wesley Matthews, que precisou de só uma temporada para ser melhor do que o Outlaw em sete, saiu pelo mesmo preço do Jazz para o Blazers.
A segunda contratação foi de Johan Petro. Sim, Johan Petro. Na NBA você pode ser uma eterna promessa, não aprender a jogar mesmo depois de 6 anos entre os profissionais, não ter médias superiores a 6 pontos e 5 rebotes por jogo, nunca dar um pequeno indício de que pode melhorar o seu jogo, nunca ter tido uma partida boa sequer e mesmo assim ganhar um contrato de 10 milhões de dólares distribuídos em 3 temporadas. Tá bom que o Brook Lopez precisa de um descanso e eles não precisavam ir atrás de um gênio, mas precisava chutar o pau da barraca assim? Salários parecidos irão ganhar outros dois pivôs reservas e gringos, Nikola Pekovic no Wolves e Timofey Mozgov no Knicks. Os dois podem acabar sendo tão inúteis quanto Petro, mas pelo menos a gente ainda não sabe disso! Eles também tem uma história recente de algum sucesso para justificar a aposta, o Petro fez o que? Quando até a contratação só para fechar o elenco é ruim é que a coisa tá fedendo.
A terceira contratação até que não foi das piores, embora eu já tenha xingado muito esse ser humano nos últimos anos: Jordan Farmar. Com algumas diferenças de importância e de relevância no seu meio, o Farmar é o Robinho da NBA. Robinho surgiu bem em 2002, melhorou até 2004 e aí resolveu que queria ser o melhor do mundo. Não queria sair do Santos para qualquer time porque queria ir para um lugar onde pudesse ser o melhor do mundo. Foi para o Real Madrid porque queria ser o melhor do mundo. Saiu do Real Madrid porque na reserva não dava para ser o melhor do mundo. Foi para o Manchester City porque lá o projeto novo poderia alavancá-lo para ser o melhor do mundo. Voltou para o Santos porque virou reserva na Inglaterra e não poderia perder espaço na Copa do Mundo, afinal ser o melhor da Copa é o melhor atalho para ser o melhor do mundo. Robinho, em resumo, foi reserva em seus dois times na Europa, não é metade do que poderia ter sido, hoje é, forçando a barra a seu favor, o terceiro melhor jogador do Santos e mesmo assim ele insiste nesse papo imbecil de ser o melhor do mundo. A quantidade de vezes que eu escrevi “melhor do mundo” nesse parágrafo é o número de tapas na orelha que o Robinho precisava pra acordar pra vida.
Jordan Farmar fez uma excelente carreira universitária pela UCLA, começou bem na NBA em 2006, chegou a ser colocado lado a lado com Rajon Rondo como dois promissores jovens armadores no começo de 2007 e desde então insiste que quer ser titular na NBA. Ele ignora que o Phil Jackson preferiu usar o Smush Parker (e tinha jurado que nunca mais diria esse nome) ao Farmar no seu primeiro ano e que nunca pensou em tirar o Derek Fisher da posição nos anos seguinte. Também esquece que em 2007-08 já tinha virado o terceiro armador do time, perdendo a vaga de reserva para o Javaris Critentton (sim, o da confusão com o Arenas) e só foi salvo porque o Critentton foi para o Grizzlies na troca-doação do Pau Gasol. O Grizzlies nem pediu ele na troca! O Grizzlies! Sem contar os inúmeros jogos em que o Sasha Vujacic e o Shannon Brown usaram os minutos que seriam do Farmar só por defender ou arremessar melhor.
Robinho, se você é reserva no Manchester City, você nunca vai ser o melhor do mundo. Farmar, se você está disputando (e perdendo) vaga com Critentton, Vujacic e Shannon Brown, você nunca vai ser titular. Vou entrar na dança e estabelecer como objetivo do Bola Presa ter mais acessos que o UOL, quem será que consegue primeiro, nós, o Farmar ou o Robinho?
Depois de tanto falar que só ficaria no Lakers se virasse titular ou que iria mudar para um time onde começasse os jogos, Farmar não recebeu nenhum telefonema quando seu contrato acabou. Aí acho que alguém deu um toque de brother no rapaz, que aceitou o contrato de 12 milhões por 3 temporadas pelo Nets. Lá ele vai fazer o que é capaz de fazer, ser reserva. Ele tem velocidade, eventualmente tem grandes momentos e é um arremessador de três decente, obviamente tem espaço na NBA, mas precisou tomar um gelo para se tocar de que espaço é esse. Para o Nets foi importante ter um armador reserva que mantenha o ritmo rápido de jogo do Devin Harris, mas não vai ser algo que vai mudar os rumos da equipe.
A última contratação do Nets nessa offseason foi o glorioso Anthony Morrow, um dos melhores achados do Don Nelson nos últimos anos. O Morrow está, sem dúvida, na lista dos cinco melhores arremessadores de três da atualidade e não ficaria surpreso se algumas pessoas o considerassem O melhor, nem diria que essa pessoa deve ser a mãe dele. Seu aproveitamento é de 45,5% nas duas temporadas que jogou, o que é um absurdo para o número de bolas que ele arremessa.
Tudo o que um arremessador quer da vida é espaço. E para isso ele precisa que o seu marcador fique distraído ou ocupado com outra coisa, o que dá mais certo costuma ser um jogador de garrafão forte que chama a marcação dupla ou um driblador, que força a infiltração, passa pelo seu marcador e exige que outro largue a sua responsabilidade para tapar o buraco. Em seus bons dias esses dois tipos podem ser chamados de Brook Lopez e Devin Harris. Se os dois jogarem bem nessa temporada é possível que levem o Anthony Morrow nas costas, mas não será o contrário. É mais uma contratação para ajeitar o time, não para revolucioná-lo. Até porque a não ser que o Anthony Morrow mostre, de repente, que é um excelente marcador (quem conseguiria provar isso no Warriors?) e tem um jogo ofensivo além dos seus arremessos, ele deve ser reserva do ótimo Courtney Lee.
Com dinheiro de sobra para contratar uma grande estrela, o Nets chega perto do fim do período de contratações mantendo boa parte do time que foi o pior do ano passado e mais três reservas e um titular de passado recente duvidoso. E isso sem contar que eles mesmo admitiram que o Derrick Favors, terceira escolha do Draft 2010, ainda não está pronto para fazer muito estrago na NBA, é um projeto futuro. Será que em 2015 o Nets vira um grande time? Já tamo chegando, paiê? E agora?
Você sabe porque o Nets chama Nets? Apenas para rimar com os outros times da região, o New York Mets e o New York Jets. Merece o último lugar ou não merece?

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