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Tem um certo blogueiro por aí, que torce para um time aí, que por acaso está em terceiro lugar na Conferência Oeste, que não vai conseguir não escrever a respeito. Ao vencer o Nuggets na noite de ontem, o Houston Rockets manteve a terceira colocação e, ao mesmo tempo, evitou uma bagunça considerável na tabela.
O time de Denver mantinha o sétimo lugar no Oeste mas, se saísse vitorioso da partida de ontem contra o Houston, teria empatado na terceira colocação, ambos os times com campanhas idênticas nos quesitos vitórias e derrotas. Isso é um bocado retardado: a diferença entre o terceiro e o sétimo colocado ser apenas um simples confronto direto mostra o nível de competição que teremos na definição de cada vaga. A temporada passada apareceu constantemente na mídia sendo anunciada como “a mais disputada de todos os tempos”, graças à Conferência Oeste com 10 times capazes de pegar uma vaga e com chances de abocanhar mando de quadra.
Nessa temporada não há a mesma propaganda, talvez tenhamos coisas menos nobres como “a temporada com mais contusões de todos os tempos” ou “a temporada com menos jogos do Marbury em todos os tempos”, o que certamente não tem o mesmo apelo e não vai ajudar a enfiar dinheiro nas orelhas do David Stern. Apenas oito times têm chances reais de ir para os playoffs pelo Oeste dessa vez, a não ser que você seja a mãe do Nash e realmente acredite que eles vão conseguir chegar lá. Admiro a volta ao estilo “corra pela sua vida”, o Shaq está jogando pra burro e o time melhorou muito, mas chegar aos playoffs já não é mais questão de mérito do próprio Suns. Alguém tem que despencar lá de cima da tabela para abrir uma vaga e nenhum time parece em condições de começar a feder de uma hora para outra (principalmente porque o Marbury foi parar num time do Leste). O Blazers já provou que tem maturidade o bastante para manter um jogo consistente, o Nuggets com o Billups estranhamente sabe o que faz em quadra, e até o Mavs parece estar se esforçando depois do time inteiro ter tomado sermão do dono Mark Cuban, que colocou seus empregos a perigo. Difícil achar que alguma dessas equipes vai ter um piripaque.
Então, se você estudou matemática na primeira série e aprendeu frações usando pedaços de pizza, sabe muito bem que oito vagas para os playoffs e oito times lutando por elas vai dar mais ou menos, arredondando pra cima, uma vaga para cada time. Ou seja, o clima de derramar sangue pelos playoffs já era mesmo, mas a definição de quem vai pegar cada vaga está prestes a atingir níveis épicos: qualquer time pode acabar em qualquer posição. Menos o Lakers, disparado lá no topo, mas eles não têm graça mesmo.
Atrás do meu Houston, em terceiro lugar, Jazz e Blazers têm duas vitórias a menos – mas com dois jogos disputados a menos. O Hornets vem logo atrás, com três vitórias a menos e três jogos disputados a menos. O Spurs, segundo colocado, tem três derrotas a menos que o Houston – mas com três jogos a menos também. Denver e Mavs também estão encostadinhos, e basta uma sequência de vitórias para uns e uma sequência de derrotas para outros para termos sete times perfeitamente empatados na tabela, o que seria muito engraçado (embora pouco provável) e algum astrólogo por aí diria que é um alinhamento similar ao de Marte com Mercúrio e que os espíritos menos evoluídos vão, por isso, ser transferidos para o Hercólobus, o temível planeta vermelho.
Gostaria de me vangloriar do Houston estar na terceira colocação, tendo vencido 11 das últimas 13 partidas (e 9 das últimas 11 sem o Rafer Alston, que foi tarde!), mas a verdade é que essa posição não deve durar na bagunça do Oeste. Qualquer colocação vai dar mais ou menos na mesma (tirando o oitavo colocado, que vai pegar o Lakers e se lascar, a não ser que seja o Blazers, porque eles chutam o traseiro do Kobe e seus amiguinhos). Mas para o Houston, é essencial garantir um tipo específico de posição: uma que não enfrente o Utah Jazz.
O Denis falou de como o Jazz é realmente uma potência no Oeste e o time que joga mais bonito na NBA, mas além disso eles são simplesmente especialistas em chutar o traseiro do meu time. Das duas derrotas nos últimos 13 jogos, uma veio para o Bulls numa moscada bonita, e a outra veio para o Jazz, numa partida comum com a qual já estou mais do que acostumado. Eliminado duas vezes seguidas pelo time de Utah nos playoffs, as duas vezes mesmo tendo mando de quadra, o Houston é obviamente incapaz de descobrir o que fazer contra eles.
O Aaron Brooks está destruindo na armação do Houston, fazendo trocentos pontos e batendo pra dentro a torto e a direito, muitas vezes querendo ser a estrelinha assim como o Alston fazia de vez em quando, mas os resultados são mais positivos e ele está muito mais sob controle graças a um trunfo do Rockets: o armador Kyle Lowry. Ele pode não ser genial, pode não ter muito talento, mas mesmo assim era difícil mantê-lo longe do time titular no Grizzlies. O Mike Conley era o armador do futuro naquela equipe, mas como arrancar o Lowry da vaga se seu jogo era mais constante, mais sólido, mais eficiente? Ele é o armador com o qual eu sempre sonhei: bom o bastante para controlar o ritmo do jogo, ruim o bastante para não achar que o time é dele. Sua falta de talento é sua melhor qualidade nesse elenco, e seu jogo constante e mentalidade de trabalhar para a equipe lhe rendem assistências a rodo sempre que lhe são dados os minutos adequados. É com ele em quadra quando a coisa aperta que eu vejo meu Houston indo longe nos playoffs (com ele em quadra e com o T-Mac no banco, flutuando num pote de formol), mas há algo importante sobre o Lowry: ele não pode marcar o Deron Williams. O Yao Ming não pode marcar o Okur. Não há uma estrela no time que o Artest pudesse marcar, e não creio que ele se saísse muito bem contra o Boozer. Ou seja, eu preferia pegar o Lakers. Juro mesmo.
Portanto, não deixem a falta de barulho na mídia enganar: essa temporada pode ser tão ou mais disputada do que a anterior, qualquer um dos oito times pode terminar em qualquer colocação, e não tirem os olhos do meu Houston Rockets, que sofreu com tantas contusões, é sempre tão desconsiderado, tão ridicularizado, e tem no Kyle Lowry as chances de chutar todos os traseiros dessa Conferência. Menos o do Jazz. Afinal, não se pode ter tudo.