>Chuta que é macumba

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Yao engole Przybilla junto com seus cereais matinais

Não teve nem um terço da graça da série mais legal dos playoffs (não deixe de ler o post do Denis sobre o jogo 6 entre Bulls e Celtics), mas também foi épico à sua própria maneira: o Houston está na segunda rodada dos playoffs.

Já escrevi esse post tantas vezes na minha cabeça que estou realmente emocionado de vê-lo tornar-se real. Na noite de ontem eu estava nervoso, assustado, em pânico, mas a verdade é que foi um processo completamente indolor, foi apenas “uma picadinha de formiga”, já diriam as enfermeiras pentelhas que enfiam agulhas nas nossas bundas. Obviamente o sensacional jogo entre Bulls e Celtics estava me ajudando a tentar ficar acordado, mas acima disso estava me fazendo pensar em outra coisa. Eu sabia que o jogo do Houston já tinha começado, mas não seria maluco de parar de assistir a partida épica que estava rolando em Chicago. Foi um modo de me distrair, de enganar meu nervosismo. Quando a partida finalmente acabou (que toco do Rose no Rondo!) e a transmissão passou para o Rockets e Blazers, o jogo já estava no terceiro período e praticamente acabado: o Houston acabara de ter uma sequência incrível no início do segundo tempo que sepultou de vez as chances de que viesse uma derrota.

Foi praticamente uma ejaculação precoce, ou seja, foi bom mas acabou assim que começou. De resto, foi só aproveitar a paisagem: o clima no ginásio, a alegria de todo mundo em quadra por levar o Rockets a vencer uma série de playoffs pela primeira vez desde 1997 (bons tempos daquele tal de século XX) e o nítido bom-humor dos próprios jogadores.

Se o jogo acabou sendo tão curto graças às prorrogações infinitas do Bulls e Celtics, dei um jeito de prolongar a experiência ao máximo com as entrevistas coletivas depois do jogo. Assisti a todas e me diverti com cada momento, do Rick Adelman dando entrevista de pé, até as piadas do Artest. Um repórter perguntou para o Ron sobre um momento do jogo em que ele se atirou na arquibancada para recuperar uma bola, sendo acolhido pela torcida eufórica. A resposta do Artest? “Bem, eu já estive na arquibancada antes.” As gargalhadas tomaram a sala com a referência à clássica pancadaria em Detroit, ao que o Yao acrescentou: “Mas dessa vez você estava jogando em casa!“.

“Na verdade, um cara me ofereceu uma cerveja! Quando ele fez isso eu pensei, quer saber, vou sentar aqui e aproveitar isso. Ele não está tacando em mim, ele está oferecendo… eu iria me sentar, mas tinha muitas câmeras!”

O Yao Ming riu tanto que provavelmente será preso da próxima vez que pisar na China, aposto que foi a maior expressão de sentimentos de um chinês desde que o próprio Yao gritou “foda” num jogo, um tempo atrás. Também foi muito engraçado, mas não está no vídeo acima, quando o Artest foi embora da entrevista e o Yao se despediu com um “See you at the club“, algo que poderia ser traduzido por uma adolescente emo como “a gente se tromba na baladeeenha!”. Sob as gargalhadas dos jornalistas e do próprio Yao, meio constrangido, ficou mais do que óbvio o caminho que o chinês percorreu, desde que entrou na NBA como um bom moço incapaz de dar uma enterrada, até passar da primeira fase dos playoffs acompanhado por um jogador tido como um mal exemplo, rindo de suas piadas politicamente incorretas.

Mas é o caminho até aqui de outra estrela do Houston que tanto me enche de angústia: Tracy McGrady. Na temporada passada, também passei a madrugada acompanhando as entrevistas coletivas de um Houston eliminado no jogo 7. McGrady havia prometido ganhar a série e afirmou que, caso isso não ocorresse, seria culpa sua. Palavras de alguém finalmente confiante em seu jogo, sentindo-se moderadamente saudável, e pronto para finalmente colher as honras de chutar a macumba que persegue sua carreira, passando da primeira rodada dos playoffs. Como nós sabemos, não foi o que aconteceu e, ao ser perguntado sobre sua promessa, Tracy McGrady começou a chorar. Motivo para trocentas pessoas caírem matando, comparando ele à Mari Alexandre no finado “Casa dos Artistas”, mas foi apenas um desabafo incontido de um jogador que percebia o buraco em que havia se enfiado. Sua partida havia sido impecável, mas o resto do elenco não mantivera o mesmo nível e a derrota foi inevitável.

Oposto do que aconteceu nessa série em que o Houston sagrou-se vencedor: com apenas 15 pontos por jogo (e tendo em vista que essa média foi catapultada pelos 27 que ele marcou na partida decisiva), Artest nem de longe foi uma estrela no ataque e, no entanto, todo o resto do elenco segurou as pontas. Perguntado sobre suas baixas médias ainda na entrevista coletiva de ontem, Artest respondeu com segurança que poderia estar fazendo uns 20 pontos por jogo e perdendo a série, ou então fazendo 12 pontos por jogo e indo para a segunda rodada. Como sempre, é uma compreensão brilhante de Ron Artest, que deu ao time aquilo que era necessário. Ao mesmo tempo, meio sem querer, tornou óbvio como o jogo de T-Mac nunca se encaixou bem no Rockets e acabou fazendo involuntariamente a equipe sofrer um bocado.

Já faz um tempo que a base desse time é a defesa. Faz muito sentido quando lembramos que um homem com quase 2 metros e 30 centímetros reside no garrafão defensivo e não é capaz de puxar velozes contra-ataques (existe no mundo uma tal de “gravidade” que puxa o chinês para baixo). A mentalidade defensiva deu certo e foi com ela que, com a contusão do Yao Ming na temporada passada, a equipe conseguiu aquela histórica sequência de vitórias mesmo fedendo na enorme maioria dos jogos. Bem, todos nós sabemos que o T-Mac não é um bom defensor, mas os problemas vão além. Com Yao recebendo marcações duplas e fazendo a bola girar no ataque, o resto do elenco tem sempre bastante espaço para jogar e, principalmente, arremessar. Mas McGrady não é efetivo a não ser que tenha a bola em mãos para criar o próprio arremesso. Se ele faz a bola rodar, não chama a responsabilidade, e se ele faz jogadas de isolação o resto do time fica de lado. Artest se encaixa tão melhor no esquema que parece piada: defende muito bem, se encaixando na filosofia da equipe (embora tenha sido sua pior temporada como defensor que eu presenciei, provavelmente pelo fardo de ter que contribuir demais no ataque), e seu estilo de jogo prioriza a força, as inflitrações e a rotação da bola.

A razão é até bem simples. Não apenas Artest lida muito bem com o fato de fazer apenas 10 pontos por jogo, com o resto do mundo também trata isso com normalidade porque ninguém dá a mínima para ele. Ninguém espera que ele faça 30 pontos por jogo e coloque uma partida nas costas, sempre tratado como coadjuvante e ignorado em parte graças a seu comportamento. É isso que permite que Artest passe um jogo inteiro distribuindo a bola e não haja pressão nenhuma em cima dele por isso. Quando McGrady não fazia 30 pontos, algo estava monstruosamente errado, e obviamente ele não lidava muito bem com as críticas, o que levou ao famoso choro após a última eliminação.

Vou ser bem sincero: o Artest fede às vezes, se apaixona pelo próprio arremesso, fica chutando sem muito critério. Mas em geral ele joga duro, fisicamente, defende com coração e deixa o jogo fluir, sem prender a bola. T-Mac mantinha a bola nas mãos, não sabia defender e não tinha condições físicas de jogar duro. O time era meio molenga, havia uma clara falta de esforço. Com a saída de T-Mac, o resto do elenco agradece: Scola, Carl Landry, Shane Battier, Aaron Brooks. Todos jogam duro e, sem suas contribuições, o Houston não teria eliminado o Blazers. Mesmo se tivesse McGrady em quadra.

Caso parecido aconteceu entre Magic e Sixers na noite de ontem. Com Dwight Howard suspenso, a bola passou muito mais tempo rodando no ataque do Magic e percebemos quão versáteis são seus jogadores. Deixar a bola com o Howard no garrafão e o resto do elenco ficar atrás da linha de três pontos esperando a bola voltar não é a única coisa que sabem fazer. As bolas de três continuaram vindo, é verdade, mas até o Rashard Lewis jogando de costas para a cesta no garrafão pudemos presenciar, num raro lembrete do porquê dele ganhar tanta grana. É uma estrela capaz de jogar de várias maneiras, em diversas posições, e o resto do time é profundo e recheado com grandes arremessadores. Ouso dizer que, com Marcin Gortat (o homem, a lenda, o mito, o fedor), o Magic foi um melhor time do que em qualquer outro momento nesses playoffs com Dwight Howard.

Provavelmente o Magic teria vencido o Sixers mesmpo com Howard, é verdade. Talvez, com Artest e Yao, T-Mac tivesse finalmente ganhado uma série de playoff. Mas a verdade é que, por mais que eu seja seu fã, prefiro a equipe contando com Luis Scola e Carl Landry do que com seu jogo estático, e o Magic parece melhor recebendo contribuições de todas as partes ao invés de confiar tanto na força no garrafão. Aqui é mais um caso de times com menos estrelas e com mais conjunto, cujo resultado é óbvio: estou fazendo um post sobre o Houston que enfrentará o Lakers nas semi-finais do Oeste, enquanto o Magic enfrentará o Bulls ou o Celtics nas semi-finais do Leste. Nada mais precisa ser dito.

Preocupo-me com o que acontecerá com T-Mac, gostaria que ele tivesse dado uma entrevista coletiva ao fim do jogo mas acho que seria muito cruel se isso tivesse ocorrido. Acredito que estejamos cada vez mais perto de ver a estrela se aposentar, seu corpo merece esse descanso. Mas talvez ele possa voltar como um sexto homem, com poucos minutos e uma nova mentalidade, sem a obrigação de carregar o mundo naquelas costas bixadas? Faço essa pergunta simplesmente por carinho e admiração, no entanto, porque a verdade é que o time está bem assim. Vamos ver, segunda-feira, que tipo de dor de cabeça podemos proporcionar ao Lakers com o trabalho coletivo que o Houston vem executando.

Ron Artest, que descobri recentemente ser um fã incondicional do Kobe Bryant, já afirmou que dentro da quadra os dois não são amigos e terão uma batalha dura. Será um duelo épico, mas o próprio Artest disse que Brandon Roy foi o jogador mais difícil de marcar que ele já enfrentou, e o único a marcar 40 pontos na sua cabeça. Então, se o pior já passou, não deveria me preocupar com o Kobe, não é mesmo? Não é mesmo? Não é mesmo? (bah, quem diabos estou tentando enganar?). Aqui no Bola Presa, com Lakers enfrentando o Rockets, o pau vai comer. Amizades serão desfeitas, ossos serão quebrados. Mas não aqui, estou falando de Artest e Kobe mesmo. No Bola Presa, a gente não leva nada tão a sério assim. No máximo, zoamos a mãe. E os mórmons.

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