>

Quem diria, uns anos atrás, que Cavaliers e Wizards iam se tornar uma das maiores rivalidades da NBA? São duas séries de playoffs em dois anos, arremessos de último segundo tanto de Arenas quanto de LeBron e um legítimo, genuíno, ódio mortal entre os dois times. É o tipo de coisa que anda meio extinta na NBA desde que o Shaq chamava o Kings de “Sacramento Queens” e que foi ressurgir com duas franquias nem tão expressivas assim justo lá no Leste, que sequer tem graça. Os primos pobres do Oeste, pelo jeito, precisam dar um jeito de se divertirem.
A série de playoffs entre Cavs e Wizards em 2006 foi uma das coisas mais épicas que eu já vi, com jogos disputadíssimos e com LeBron e Arenas passando dos 40 pontos no mesmo jogo. O Cavs venceu a série no jogo 6, na prorrogação, quando LeBron se aproximou de Gilbert Arenas, que iria bater dois lances livres, e simplesmente afirmou:
“Se você errar os dois lances livres, nós vamos ganhar o jogo.”
O Arenas tremeu, errou os dois, e Damon Jones, o pior melhor arremessador do mundo, acertou a cesta da vitória no último segundo. No dia seguinte, Arenas estava num ginásio cobrando mil lances livres, com o orgulho mais destruído do que quando descobriram que ele trapaceou para conseguir o ranking online dele no jogo Halo, do Xbox. Os dois times se enfrentaram novamente nos playoffs do ano seguinte, como se uma força cósmica que gosta muito de basquete escolhesse a dedo quem vai se pegar na pós-temporada. O problema é que Arenas estava contundido e aí não teve muita graça, o Cavs levou fácil.
Na noite de ontem, Arenas estava com a bunda no banco de reservas de novo. Só muito recentemente ele voltou a treinar com o time e deve estar pronto para jogar novamente apenas meio na véspera dos playoffs. Ainda assim, de terno, o Agente Zero fez questão de não deixar que seus companheiros esquecessem da rivalidade ali em jogo. Fez barulho, riu um bocado, incentivou todas as jogadas. Quanto mais o jogo se aproximava de um final climático (graças, claro, a mais um terceiro período medíocre do Cavs), mais o jogo se tornava uma batalha e os xingamentos do dois lados aumentavam. DeShawn Stevenson e LeBron mostraram que se odeiam pra valer e não pouparam palavras um para o outro ainda com o jogo rolando. LeBron não jogou bem, fez muita porcaria, mesmo com 25 pontos, 7 rebotes e 7 assistências no jogo. É tipo se o Homem-Aranha for salvar um monte de gente de um incêndio e de repente, ooops!, deixar cair um infeliz pela janela e vê-lo virar patê lá embaixo, no chão. O melhor jogador do planeta também faz merda, mesmo que enquanto isso esteja fazendo 25 pontos. Claro que se um jogador meia-boca fizer 25 pontos, vai ser o melhor jogo de sua carreira, mas cada um tem os padrões que merece. Para alguém que ficou com a Alline Moraes, só a Scarlett Johanssonn e a Jessica Alba não vão ser consideradas baranguinhas.
Mas o LeBron realmente comprometeu as próprias chances de vitória graças a infinitos desperdícios de bola e uma falta de ataque grosseira em cima do DeShawn Stevenson (que o marcou praticamente todo o jogo, fazendo um bom trabalho). Ainda assim, o Damon Jones manteve o Cavs na partida com uma importante cesta de 3, e assim que converteu o arremesso, partiu para cima do banco do Wizards, em direção do DeShawn Stevenson, fazendo aquele gesto que o jogador do Wizards já imortalizou: passar a mão na frente da cara, de um lado para o outro. Quer dizer, imortalizou pelo menos pra mim, que agora faço isso também toda vez em que estou jogando e acerto um arremesso em cima de alguém, enquanto grito “I can’t feel my face” (“Não consigo sentir meu rosto”), o que não parece querer dizer nada mas é o que o Stevenson diz e, de algum modo estranho, significa que você é bom, está pegando fogo, e o cara que está te marcando é um mané. Mas se tratanto de imortalizar gestos de jogo eu sou questionável, porque na época em que Darius Miles e Quentin Richardson faziam aquele “sinalzinho” no Clippers depois de cada cesta, eu fazia também. Que ridículo. Falando nisso, será que o Darius Miles vai voltar a jogar basquete algum dia?
Graças à cesta do Damon Jones, o Cavs teve uma chance de empatar ou ganhar o jogo num arremesso final. LeBron com a bola nas mãos decidiu tentar a vitória, arremessando de 3, e ele até conseguiu se livrar bem da marcação do DeShawn, teve uma visão clara da cesta, mas a bola não entrou. Seu marcador não teve dó e soltou, logo depois do jogo:
“O LeBron é superestimado.”
Sei que tem uns gatos pingados por aí que concordam, mas faça-me uma garapa! O LeBron é o líder em pontos no último período dessa temporada, é absurdamente decisivo, tem médias tão altas que parecem erro de digitação, e o cara é superestimado? Pra merecer toda a atenção que dão para ele, o que LeBron teria que fazer? Ter médias de 50 pontos? Acabar com a fome na África? Derrotar Lex Luthor?
Mas uma coisa que não pude deixar de notar é a falta que o Ilgauskas faz para o Cavs. Contra o Nets, o time perdeu a partida num rebote ofensivo do Richard Jefferson num lance livre errado. Já falei aqui que acho o Ilgauskas o melhor da NBA em rebotes ofensivos e um dos melhores reboteiros no geral, simplesmente pela inteligência e capacidade de estar sempre tocando na bola, desviando, impedindo que jogadores adversários consigam rebotes limpos. O pivô que joga como se estivesse correndo dentro de uma piscina, em câmera lenta, me parece agora tão importante para a equipe quanto LeBron James. Não que o pivô lituano seja tão bom quanto o provável MVP, longe disso, só quero dizer que para o Cavs ter chances nos playoffs, ou quem sabe até de título, precisa ter os dois em quadra, um só não basta. Nem Big Ben e nem Varejão podem substituir Ilgauskas e isso fica cada vez mais óbvio a cada jogo.
Torço para que o Ilgauskas volte logo, e torço também para que o Wizards tenha Arenas de volta em breve e continue ganhando sem parar. Enquanto isso, faço minha fezinha para o Raptors sem Bosh perder todos os jogos que disputar. Não, não tenho nada contra o Canadá, não tenho motivos para odiar guardas florestais e ursos. Mas é que eu daria qualquer coisa para ver mais uma série de playoff entre Cavs e Wizards. No momento, o time de Arenas está dois jogos atrás do Raptors na luta pela quinta vaga no Leste, com o Cavs em quarto lugar. Depois do aperitivo de ontem, torço para essa rivalidade não acabar tão cedo.