>Como enlouquecer seu técnico

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Mão na cabeça e documento, rapá

Um dia estava assistindo a um jogo do Denver Nuggets, um daqueles em que o George Karl, técnico do time, nem pensa em colocar o JR Smith na quadra. Foi quando um pessoal que estava comentando o jogo perguntou: “Por que não trocam ele logo de uma vez?”. Foi aí que começou a discussão sobre para onde ele poderia ir, quem ele poderia ajudar e o que o Denver poderia ganhar em troca. O primeiro time em que eu pensei foi o Warriors, time de correria, bolas de três, criatividade. Então mandei pra um colega torcedor do Golden State: “Ei, o que você acharia do JR Smith no seu time?”

A resposta disse tudo: “Ele é muito louco. Até para os padrões do Golden State”.

Essa resposta me assustou. Ela veio de um cara fanático pelo Baron Davis e pelo Stephen Jackson, um cara que vai ao êxtase quando outros times provocam o Golden State ou quando os juízes erram alguma marcação “porque assim o Warriors começa a jogar pra valer”. Se um cara desse acha que o JR Smith é doido demais até para jogar no Warriors, que praticamente não tem regras dentro de quadra (exagerei, claro, mas estão longe de ser o Spurs), é porque o garoto ou é doido demais ou a imagem dele está bem arranhada.

A história do JR Smith começou no New Orleans Hornets. Lá ele surgiu como um jovem jogador cheio de talento, com o físico perfeito para se tornar uma estrela na liga. Teve ótima atuações, até de campeonato de enterrada ele participou. Mas aí começou a ter problemas com o técnico do Hornets, que dizia que ele não o obedecia e acabou sendo mandado para o Chicago Bulls junto com PJ Brown em troca de Tyson Chandler. E, pouco depois, foi do Bulls para o Denver em uma troca para machucar o ego do garoto: foi para o Colorado em troca de Howard Eisley e duas escolhas de segundo round.

Isso deve ter mexido com o JR, seu começo de carreira no Nuggets foi destruidor. Todos diziam que ele não daria certo lá porque o Nuggets precisava de alguém que chutasse de três e ele não fazia isso. Pois de repente começou a fazer! Foi um começo de temporada arrasador, todos achavam que o Melo finalmente tinha seu parceiro. Todos menos o técnico George Karl.

Aos poucos ele foi saindo da rotação do Nuggets e a gota d’água foi quando ele se envolveu na famosa briga no jogo do Denver contra o Knicks. Depois disso ele tomou uma suspensão de 10 jogos e nunca mais voltou a ser titular, até porque, quando voltou, Allen Iverson estava na equipe.
Foi então a época de questionar o motivo que levava Karl a não usar o trio Iverson, JR e Melo juntos, já que, na teoria, seria um dos melhores trios ofensivos da NBA. E Karl sempre foi bem claro nas respostas. “JR Smith não obedece”, “JR se recusa a defender”, “JR perde o controle na quadra”.
Nos playoffs, contra o Spurs, o Nuggets perdeu por 4 a 1 na primeira rodada e JR Smith tomou boa parte da culpa. Primeiro por ser incapaz de acertar uma mísera bola de 3 pontos durante os primeiros 4 jogos da série. Depois por ignorar por completo as ordens do técnico mais uma vez.
Faltavam 50 segundos para o fim do jogo e a ordem era pra ele dar a bola para Iverson ou Carmelo. Ao invés disso, ele foi sozinho e arremessou uma bola de 3 de muito, muito longe e, claro, errou. George Karl foi à loucura e disse que pra ele acabava ali, JR Smith não jogaria mais com ele.

Não foi bem assim, o Nuggets não trocou o jogador e ele voltou para essa temporada. Não sem antes se envolver em uma polêmica, claro. Estava envolvido em uma briga numa baladinha de Denver e o time o suspendeu por alguns jogos.

Aí estavam todos contra JR. Ele era briguento dentro da quadra, briguento fora da quadra, não obedecia o técnico e não tinha se dado bem em nenhum dos times pelos quais passou. Pra responder, ele fez o que mais sabe: começou a arremessar sem parar.
Volta e meia você vê o JR Smith liderando o time em pontos com uma tonelada de bolas de três. Foram 7 de 8 bolas contra o Cavs, 4 contra o Kings e, nas últimas semanas, mais 6 bolas de novo contra o Cavs, 8 contra o Miami e mais 8 contra o Chicago. Quando o cara começa, é difícil fazer ele parar!

No jogo contra o Miami eu fiquei assustado de ver. Primeiro assustado em ver que ele não errava, a marcação grudava nele e ele metia na cara mesmo, depois fiquei assustado como ele perdeu completamente o controle dentro da quadra. Na defesa ele não marcava, quando pegavam a bola ele simplesmente saia correndo e olhava pra quem tinha a bola nas mãos e começava a bater palmas exigindo a bola, como se dissesse “Pelo amor de deus! Estou pegando fogo que nem no NBA Jam, toquem pra mim rápido!”. E quando tocavam ele arremessava sem pensar duas vezes. Acertou algumas e quando começou a errar George Karl o arrancou da quadra.

Sou completamente contra quem julga os jogadores pelo que eles fazem fora da quadra. Pra mim, eles podem andar armados em boates, ter dúzias de mulheres, podem torcer para o Palmeiras, gostar de jogar vôlei, qualquer coisa. Não tô nem aí! Como fã de basquete, me interessa o que eles fazem na quadra de basquete! Por isso me irrito um bocado quando vejo que as críticas ao JR Smith envolvem seu comportamento explosivo fora da quadra. Ele tem problemas dentro da quadra que muitas vezes atrapalham o seu time, mas ele ser de qualquer jeito fora da quadra deve ser ignorado.

Sobre o comportamento dele dentro da quadra, acho que o técnico fica numa situação difícil. Por um lado ele tem um jogador talentoso e um esquema que prima pela velocidade e pela criatividade, mas por outro lado o cara monopoliza o jogo de uma maneira que toda a criatividade e velocidade dos outros 4 jogadores em quadra fica anulada. O que fazer com um talento desse nas mãos? Ser ditador, duro, punir e tentar controlá-lo? Ou ser liberal e deixar ele fazer o que der na telha e ver se dá certo?
Eu não sei a resposta, mas confiaria em uma pessoa pra cuidar do garoto: Don Nelson. É, não acho ele doido demais até para os padrões do Golden State, aliás não acho ele doido, não. Chamar de doido um cara assim é chamar o instinto, a espontaneidade, de loucura. Ele, como tantos outros jogadores (Ben Wallace, Larry Hughes, Monta Ellis, Leandrinho, Kyle Korver) só precisa achar o time em que seu jogo encaixe. E eu, ainda, apostaria no Warriors.

Fica a idéia pro ano que vem.

– O texto foi inspirado por uma matéria da revista Dime que fala que o George Karl tem uma cara que ele faz sempre quando o JR Smith está na quadra, a “JR face“. A cara é essa:

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