>Confronto merecido

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Ganhar o Leste é fichinha pra quem jogava playoff no Oeste pela porcaria do Wolves

A gente merecia, né? Dois grandes jogos, um para fechar a Conferência Oeste e, ontem, um para fechar a Conferência Leste. Nada de lavada dessa vez, nada de jogo fácil ou de tanta emoção quanto o Duncan colecionando selos. A última partida entre Pistons e Celtics foi a partida que nos lembraremos dessa série para sempre, em que os dois times se legitimaram como verdadeiros merecedores de estar numa final. E o Boston, depois da vitória de ontem, vai enfrentar o Lakers como o real merecedor da honra.

Depois de falar tão mal do Celtics nesses playoffs, não vou fazer um soneto de amor para o time só porque eles ganharam o Leste, mas vou admitir que eles são realmente a equipe que nos dará a melhor final da NBA possível. O time vive de altos e baixos, mas os altos são realmente altos. Naqueles raros momentos em que o Celtics está passando a bola na medida certa – nem de menos, nem demais – e os arremessos estão caindo, em que o elenco mantém a agressividade nos dois lados da quadra, eles formam de verdade uma potência a ser batida, alguém que encarará de igual para igual o Los Angeles Lakers. Se tivermos sorte, esses momentos de pico no Celtics vão durar bastante para que tenhamos duelos épicos. Se tivermos azar, o Boston afundará novamente num ataque passivo, que vive de isolações, em que os arremessos de 3 pontos não caem, com uma defesa que não acerta uma rotação sequer e com reservas que ora entram e contribuem, ora vão na padaria comprar um cigarro pro técnico Doc Rivers. São essas duas faces do Celtics que me preocupam e que podem comprometer o espetáculo. Tudo que eu quero são confrontos disputados, de alto nível, que levem a um Jogo 7. É pedir demais, Papai Noel? Não custa te lembrar que você ainda está me devendo uma Alinne Moraes, que eu pedi ano passado e ainda não chegou.

Eu também queria um Jogo 7 entre Pistons e Celtics, confesso, mas fiquei feliz com o nível da partida de ontem e com a possibilidade de que aquele Boston seja a regra – e não a exceção – nas Finais. Mas proponho, já que não teremos NBA até quinta-feira que vem, que a Liga faça uma melhor de 5 jogos apenas entre Kevin Garnett e Rasheed Wallace. O confronto entre os dois ontem foi simplesmente insano e eu estava apenas esperando um deles puxar a faca. A marcação de um no outro foi muito, muito intensa, até o limite do que pode ser considerado falta. A brincadeira estava tão divertida que por vários minutos passei a ignorar o resto do jogo, me focando apenas nos dois batalhando por posição no garrafão. Por várias posses de bola consecutivas, tanto Garnett quanto Sheed não tocavam na bola durante o ataque, já que o outro não permitia – negando espaço no garrafão, tomando a frente, desviando os passes. Os times começaram a ignorar os dois lá, já que um anulava completamente o outro. É como dois Cavaleiros de Ouro que se enfrentam: seus poderes se anulam e a batalha durará 1001 dias, ou algo assim. Sempre achei o conceito legal mas nunca entendi porque as batalhas do desenho sempre duravam no máximo uns 2 episódios.

Com os times cuidando das suas vidas e deixando o pau comer solto entre KG e Sheed, a coisa estava satisfatória para ambas as partes. Até os juízes se meterem no meio. Marcaram uma falta do Rasheed Wallace que não fazia sentido, levando em conta tudo que estava acontecendo entre os dois o tempo todo, na quadra inteira. O Sheed foi à loucura, xingou pra burro, ainda que tomando uma falta técnica fosse ficar de fora de um possível Jogo 7. A narração gringa da ESPN criticou muito o Sheed por não calar a boca, mas não é difícil entender o lado dele, já que a marcação da falta foi aleatória, inconsistente e, pior: acabou com a brincadeira. Do outro lado da quadra, os juízes compensaram marcando uma falta em KG e com isso, em segudos, a disputa entre os dois não tinha mais credibilidade, não dava pra saber se eles podiam ou não continuar com o nível de intensidade, os dois começaram a perder minutos com o excesso de faltas e antes que pudessemos falar “paranguaricutirimirruaru” o Sheed perdeu completamente o controle. O jogo havia se tornado uma daquelas besteiras típicas da arbitragem se metendo demais, o Pistons precisava desesperadamente de uma vitória, Sheed sabia que a NBA (e o mundo) queriam ver o Celtics na Final e, pra piorar, nenhum de seus arremessos entrava. A partir daí Sheed se perdeu e quando voltou a ser eficaz de costas para a cesta, no final do jogo, já era tarde demais. Apesar de ter virado o jogo, o Pistons perdeu a liderança no único momento em que não havia mais tempo de correr atrás.

Mais uma vez, muito do mérito do Celtics vai para os coadjuvantes. Quando o time passa bem a bola, ao invés de isolar Garnett e Pierce e rezar para que os arremessos contestados de Ray Allen caiam, sobra muito espaço para o resto do elenco contribuir. Na noite de ontem, a contribuição foi mais defensiva do que qualquer outra coisa. Perkins teve mais uma partida sólida na defesa do garrafão e James Posey não apenas converteu os arremessos na hora certa como também se saiu muito bem na marcação de Billups e garantiu um roubo de bola no minuto final que selou a partida. Ainda me lembro quando o Posey era o melhor jogador daquele “o pior Denver Nuggets de todos os tempos” (que tinha o Nenê novato como titular ao lado de Juwan Howard, o cestinha, e os finados Vincent Yarbrough e Rodney White na armação) em que ele era um grande talento no ataque, disputado por várias equipes da NBA. Nas mãos de Doc Rivers, virou esquentador de banco, assim como o Leon Powe que perde espaço na mesma proporção em que joga cada vez melhor. Mas são eles que, quando contribuem, mantém o Celtics sólido na defesa, consistente no ataque, e deixam as estrelas brilharem.

Rajon Rondo sempre salva um jogo ou outro e muito do sucesso do Celtics acaba nas mãos dele porque ele é sempre o jogador que é deixado livre durante as marcações duplas. Seu nível de agressividade e sua pontaria têm uma importância tão grande no jogo que é complicado pensar que ele acabou de sair das fraldas. Ainda assim, gostaria que ele fosse mais agressivo e fosse com mais frequência para cima da cesta. É muito comum um contra-ataque puxado pelo Rondo ser abortado porque ele não tem culhão de bater para dentro, apenas pára e coloca a bola nas mãos de outra pessoa. Eu sei, se ele fosse para a cesta e errasse, todo mundo cairia matando, eu até entendo. Por enquanto, ele continua comendo pelas beiradas, mas não há dúvidas de que ele será grande um dia. Armador principal, excelente reboteiro, bom nas assistências e com um arremesse bem mequetrefe – é tipo um Jason Kidd que caiu da escada.

Torço para ver Powe, Cassel, Rondo e Posey tendo grandes atuações contra o Lakers, tudo em nome de um grande espetáculo. Vamos esperar ver um time consistente que aprendeu com os erros do passado (por passado, entenda a semana passada) e que esteja disposto a lutar para valer contra Kobe e seus amigos ao invés de se contentar com o título do Leste. Se depender do Garnett, que sequer sorriu com a vitória de ontem, o troféu do Leste vai ser tacado na privada ou então enfiado na orelha de quem se der por satisfeito com ele. O anel de campeão da NBA é o que importa para o Garnett e o que aconteceu até agora foi só aquecimento. Eles terem jogado 7 partidas contra o Hawks foi só pra treinar uns arremessozinhos, sabe como é.

Do lado dos perdedores, torço para que exista muita calma. Sei que deve ser complicado para o Pistons chegar pela zilionésima vez na Final do Leste, perder e ter que começar tuuuudo de novo na temporada seguinte, com aquele ar de “mas que puta tédio, não podemos pular para os playoffs logo de uma vez?”. Mas eu confio no Detroit para encarar o tédio e tentar de novo por mais uns 2 ou 3 anos, até que não seja mais tão fácil chegar lá no topo. Até lá, rezo para que o elenco seja mantido, que o Rasheed não seja crucificado por amar demais o jogo, e que talvez eles consigam um técnico que dê mais minutos para Rodney Stuckey, Jason Maxiell e Amir Johnson. Porque eu, pra variar, não consigo entender porque o Maxiell comanda num jogo, sequer entra no outro, o Stuckey passa de titular para garoto da água, e o Amir Johnson sequer entra em quadra enquanto o Ratliff “Mutombo cover” ganha minutos importantes. Doc Rivers, Flip Saunders, Rick Adelman, são todos técnicos famosos e eu sou só um blogueiro na terra do futebol e do samba, eles devem ter razão e eu sou muito burro. Muito. Burro.

Fique colado no Bola Presa nessa semana enquanto esquentamos os motores para a grande final entre Lakers e Celtics, incluindo o novo template para comemorar o confronto tão antecipado. Além disso, colocaremos nossas primeiras previsões para o próximo draft e nossa tradicional coluna de perguntas e respostas “Both Teams Played Hard”. Não percam!

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