>Considerações aleatórias sobre o prêmio de MVP

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Kyke Korver é um cagão, mas dependendo do critério podia até ser MVP

O prêmio de MVP, ou “Most Valuable Player” (Jogador Mais Valioso) para os íntimos, é o prêmio mais importante da temporada na NBA. Mas não é só isso. Ele também é, sem a menor sombra de dúvidas, o prêmio mais imbecil.

Começa por esse lance de “valioso”. Como assim valioso? Significa o jogador que renderia mais dinheiro se fosse vendido num mercado de escravos? Bem, nesse caso o jogador mais valioso seria um com dentes saudáveis e que carregasse muito peso. Mas acho que não é esse o espírito da coisa.

Seria o jogador que tem mais penduricalhos de ouro no pescoço, que anda com os carros mais luxuosos, que tem a conta no banco mais gorda e que, portanto, seria mais valioso em caso de pagamento de seguro? Aí acho que seria com Shaq e Garnett.

Por acaso seria o jogador que faz mais em quadra recebendo menos salário, sendo assim valioso para os cofres do time? Nesse caso, arriscaria dizer que o MVP deve ser o Monta Ellis, do Golden State Warriors.

Seria o jogador que, misticamente, melhora o aproveitamento do time quando está em quadra mesmo que não seja diretamente responsável por isso? O Denis acabou de me avisar que o Blazers tem 23 vitórias e 13 derrotas quando o James Jones joga, com apenas 8 vitórias e 16 derrotas quando ele não entra na partida. Sendo assim, o cara seria o MVP fácil, fácil.

O negócio é bem subjetivo mesmo. O prêmio vai para o jogador mais valioso para sua equipe mas isso pode significar um milhão de coisas. Talvez Derek Fisher seja o mais valioso por acertar um ou dois arremessos de sorte em jogos decisivos. Talvez Kyle Korver seja o mais valioso por ser o que faltava para uma equipe como o Jazz. Bem, como esse negócio é polêmico e complicado de entender, vamos dar uma olhada no Manual para Votação para o Prêmio de MVP. Ah, o manual não existe? Então como diabos se elege o MVP da temporada?

É bem simples: 125 desocupados enfiados na imprensa esportiva, três de cada uma das 30 cidades com times na NBA e o resto de onde eles bem entenderem, votam em seus escolhidos. São jornalistas, comentaristas, narradores, essa raça que se finge de imparcial (às vezes nem finge) e que na hora obviamente vota no seu “menininho de ouro” lá da cidade, porque “eu vi ele crescer”, “eu comprei sorvete pra ele um dia”, essas coisas. Sempre tem uns votos imbecis que, apesar de anônimos, dá pra saber exatamente de onde veio (tipo o único voto para o Deron Williams como novato do ano que obviamente veio de um narrador de Utah.) Poucos devem pensar realmente nesse papo de “jogador mais valioso”e os que pensam não devem nunca pensar na mesma coisa, chegar ao mesmo critério. Ou seja, baita coisa idiota.

O prêmio não vai para o melhor jogador da NBA. Não é essa a intenção. A intenção é premiar sem se fazer a menor idéia do maldito critério. Existem umas leis meio implícitas, que vivem ali por baixo do pano, exemplificando a bagunça. O prêmio tem que ir para um jogador bom, espetacular, mas que faça seu time vencer. Se você está num time fracassado ou mediano, não tem nenhuma chance. Então não importa se o Kobe faz 800 pontos por partida, se o Lakers só ficar em oitavo lugar no Oeste, o prêmio não vai pra ele. Pode ir para um cara qualquer que é simplesmente beneficiado por ter um time melhor. Ou seja, é como se a premiação fosse para o time inteiro, não para o jogador em particular. Porque no fundo ele é justamente premiado pelo resto do elenco que tem. Se o Kobe só jogar com elencos ruins, por exemplo, nunca vai ter um prêmio de MVP mesmo tendo sido vários anos o melhor jogador da NBA.

Essa regrinha é bem explícita: nunca o prêmio de jogador mais valioso foi para um time com menos de 50 vitórias, e raríssimas vezes foi para qualquer jogador em um time abaixo do terceiro lugar em sua Conferência. Ou seja, a equipe pode contar até mais do que as atuações particulares na hora de entregar o prêmio.

Mas a palhaçada fica pior, porque quando o time é bom demais, os críticos dizem que a estrela da equipe deixa de ser o mais valioso, deixa de ser o mais importante, porque o resto do elenco pode se garantir sozinho. Ah, o Duncan não pode ser MVP porque as vitórias do Spurs são obras também de Parker e Ginobili. O Kobe não pode ser MVP porque, diabos de troca apelona, agora ele tem Gasol e Bynum.

O paradoxo é ridiculamente cômico. Se você está num time ruim, não é MVP porque não ganhou o bastante. Se está num time bom, não é MVP porque o resto do time é bom demais e se vira sem você. Que maravilha!

No maravilhoso 82games.com, um maluco descobriu uma forma infalível para descobrir quem vai ser o MVP. Eu não vou entrar em detalhes sobre os cálculos (lembrem-se de que passei de favor em matemática) e prometo, mais pro fim da temporada, até colocar a calculadora para trabalhar e ver quem, pela fórmula, deve ganhar o prêmio. Mas o que interessa no momento são alguns dos critérios levados em conta pela fórmula e que ajudam as chances de um jogador ser eleito o MVP:

– Ser o primeiro colocado da sua Conferência
– Seu time vencer mais nesse ano do que venceu na temporada anterior

– O jogador ter, em suas estatísticas, uma temporada melhor do que a anterior

– Ser o líder da NBA em pontos, rebotes ou assistências

– Ter jogado mais de 70 jogos na temporada

Levando isso em conta, Kevin Garnett, Ray Allen e Paul Pierce são imediatamente candidatos ao prêmio de MVP porque o Celtics foi de uma campanha desprezível para serem os líderes do Leste. Mas me diz uma coisa, não seria meio ridículo o Garnett ganhar? Ele tinha números melhores no Wolves, perdia porque o time era uma merda. Agora ele tem números piores, ganha jogos porque o resto do time tem outros dois futuros membros do Hall da Fama, e vai ser MVP? Valioso de verdade é o trio, não o Garnett sozinho! E olha que eu sou um dos maiores fãs do KG e era um dos defensores fervorosos de que ele tinha que ser MVP todo ano. Mas dessa vez seria ridículo, com esse critério babaca ele ganharia o prêmio por causa de Pierce e Allen. Bah, ele não precisa disso no currículo.

Esse critério dúbio-esquisito-patético nos obriga a encontrar um maldito jogador que melhorou seu time, que melhorou seus números, que vence pacas e que não depende da ajuda de outras estrelas. O Spurs sempre vence, o Duncan sempre tem os mesmos números, então não vale. Já repararam que o Nowitzki saiu das conversas de MVP porque o Dallas não ganhou tanto quanto no ano passado, como se isso significasse que o Dirk piorou e não que a Conferência Oeste ficou ainda mais difícil? Então o alemão também já era. O Kobe tem agora Gasol, Bynum e um Odom-que-chuta-traseiros, então eu corto. É ridículo, eu sei, é mongol e besta, mas eu corto. O Tracy McGrady está destruindo sem o Yao, está vencendo mesmo sem a outra grande estrela, mas ele passou tempo demais contundido e todos os jogadores que ganharam MVP em outros anos jogaram pelo menos 75 partidas na temporada. Quem sobra então nessa budega?

Só consigo olhar para dois indivíduos: Chris Paul e LeBron James. O Paul chegou a levar o Hornets para o primeiro lugar do Oeste, coisa absurda hoje em dia, e é possivelmente o melhor armador da Liga no momento. Seu time é cheio de jogadores competentes mas nenhuma estrela (a não ser que você considere o Tyson Chandler e o David West estrela). As circunstâncias, o time bem montado, o técnico bom, favorecem o Chris Paul a vencer sem que outros jogadores chamem muito a atenção. Pra mim, cheira a MVP.

No caso de LeBron, nem preciso explicar muito. Seus números beiram o ridículo, são praticamente uma ilusão de óptica, tipo a Alinne Moraes. O time fedia pacas até umas semanas atrás e todas as jogadas da equipe eram “passa pro LeBron que o sujeito resolve.” E ele resolve, a gente sabe. É claro que ele está no Leste, onde dá para ser primeiro colocado e chupar manga ao mesmo tempo, mas não dá pra negar que o Cavs tinha o pior elenco dentro todos os times com candidatos a MVP. E o LeBron, crianças, tem os melhores números. Segundo a listinha ali, ser o líder em pontos por jogo da temporada conta bastante para levar o troféu estúpido para casa.

Quem eu acho que deveria ser MVP? Oras, depende do critério. Mas se o lance for esse de jogador mais valioso para uma equipe meia-boca que consegue vencer mesmo assim, ninguém tira o prêmio de LeBron. Veja seus números, veja suas vitórias, veja seu elenco que tinha Larry Hughes e Damon Jones, veja como o time se saiu sem ele. Será mesmo, MESMO, apesar de ser o melhor jogador da NBA há anos e o Lakers chutar traseiros rumo a um possível título, que o Kobe leva essa?

Até 1980, o prêmio era decidido com uma votação entre todos os jogadores da NBA. Acho um modo bem mais bacanudo, os jogadores elegem o melhor entre eles, não tem esses critérios incompreensíveis, esse lance de “valioso”, jornalistas metidos a besta, é só os jogadores votando no melhor de sua categoria. Tá bom que o Kobe ia ganhar todo ano, mas é o preço a se pagar para ter um prêmio que ao menos faça um puto de um sentido. Outro modo de botar ordem na brincadeira seria criar regras específicas, como a tal conta que o fã maluco descobriu, ou simplesmente votar no melhor jogador da NBA. O Garnett ia ganhar com o Wolves sendo uma bela duma porcaria? Ia, ué. Mas se ele era o melhor jogador na época, merecia levar ao menos um troféu pra casa. É tipo o Kobe, vai ser o melhor sempre e não ter nem um trofeuzinho individual? O que complica é que é impossível saber quem é o melhor sem levar em consideração a Conferência, o elenco, o técnico, o horóscopo, fase da lua. O LeBron faria tantos pontos se jogasse junto com o Kobe, no mesmo time? Claro que não, mas ele não seria necessariamente pior por isso. Garnett seria melhor ou pior no lugar de Duncan no Spurs? Pano pra mais polêmica do que esse prêmio confuso já tem agora.

Vamos encarar a realidade, “melhor jogador”, “jogador mais valioso”, é tudo uma tremenda bobagem. Coisa de quem é desocupado, de jogador frustrado. Como me encaixo nessas duas categorias, fico pensando em modos de arrumar os critérios para o prêmio, mesmo sabendo que nunca vai dar certo, nunca vai ficar bom e nunca vai fazer sentido. Tipo o Los Angeles Clippers. Aliás, se você tiver uma idéia melhor para padronizar os critérios para a premiação, manda bala aí na caixa de comentários.

Mas enquanto isso, repito: com esse critério mais-ou-menos-padrão que se usa hoje em dia para o MVP, que nos obriga a procurar jogadores bons com elencos meio mequetrefes, o Denis que me desculpe, mas Kobe não é o homem da vez. De novo.

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