>
Estou indignado. Toda a honra da NBA está maculada. Minha fé na humanidade está perdida. Tudo porque o Memphis Grizzlies mentiu bem na nossa cara.
Pouquíssimos times sobraram com espaço na folha salarial suficiente para fazer propostas para Andre Iguodala e Josh Smith, o que indicava que os dois jogadores acabariam ficando mesmo com suas equipes de antes. O Grizzlies, com várias verdinhas sobrando, simplesmente anunciou que não iria contratar mais ninguém. Foi um relato que me encheu de alegria porque pela primeira vez uma equipe não usou seu dinheiro como se fosse videogame: “ah, sobraram ainda $20, então compra umas cinco adagas.” Parece que todo mundo na NBA tem horror a ficar com trocado no bolso e gasta todo o possível. Eu entendo que é meio complicado você ter um time que fede pra burro e dizer para seus fãs: “bem, nosso time é uma droga, tínhamos dinheiro para contratar reforços, mas preferimos não fazê-lo.” Mas alguém precisa ter culhão para isso. Não é porque você tem grana e o Ricky Davis está disponível que você obrigatoriamente tem que contratá-lo. Depois o jeito é ficar desesperado choramingando e esperando contratos acabarem para poder assinar alguém que preste. Oras, se o Grizzlies achou que não havia ninguém disponível que pudesse se tornar uma peça fundamental na equipe, então é melhor guardar o dinheiro mesmo do que se arrepender do contrato depois. Guarda a grana, pensa melhor, e na temporada seguinte veja o que dá para fazer. Não é como se o time de Memphis fosse ganhar qualquer coisa na próxima temporada com os reforços disponíveis no mercado atualmente.
Mas eles não resistiram. Ignoraram o que haviam afirmado, quebraram sua promessa, cuspiram na cara dos fãs crédulos. Resolveram oferecer um contrato de 5 anos e 58 milhões de doletas para Josh Smith.
Agora, já que Smith é um Free Agent restrito, o Atlanta Hawks tem 7 dias para decidir se cobre ou não a oferta. O que é uma decisão deveras complicada, veja bem. O novo manda-chuva do Hawks, que eu não sei o nome mas que não vou procurar no Google porque o time Atlanta mal existe de verdade, resolveu renovar o contrato do técnico Mike Woodson. Diz a lenda que o titio Mike é odiado pelos jogadores e Josh Smith já deixou claro que se ele for o técnico, então o Josh não brinca. Como toda criança que é dona da bola, prometeu fazer bico, bater o pé e, finalmente, ir embora pra casa. Ainda assim, o Hawks ofereceu um contrato de 45 milhões para o ala. Primeiro porque o Josh Smith é bom, segundo porque ele enterra o tempo todo e torna o time vendável, terceiro porque todo time tem um fetichezinho por jogadores que se fazem de difícil. É o clássico “diz que não me quer que aí eu gamo mesmo”, o que aliás parece verso de música de funk.
Josh Smith não aceitou os 45 milhões e agora tem um contrato consideravelmente mais gordo na mesa vindo de Memphis. Se o Hawks igualar, estará pagando mais do que queria por um jogador que estará assumidamente insatisfeito com o técnico. Se o Hawks deixar o Josh Smith ir embora, vai ser atacado pelos fãs e se arrepender profundamente se um dia ele se tornar mesmo a estrela que alguns acreditam que ele esteja prestes a se tornar. Ou seja, é a boa e velha vida na NBA: não há como acertar, todo dirigente está sempre fazendo merda.
Para o Grizzlies, apesar da mentira que me machucou porque sou um homem direito e que preza pelos bons costumes, só cutucando o nariz quando não estou em público, não deixa de ser um bom negócio. Se o Hawks cobrir a oferta, então essa novela mexicana digna da Talia com o Josh Smith termina logo de uma vez, o Josh ganha a grana que queria, vai pro time seguir a vida, e fica devendo uma para o empresário do garoto. Caso o Hawks não cubra a oferta, o Grizzlies ganha mais um jogador sensacional cheirando a talco e vestindo Pampers para compor o futuro elenco mais jovem e perdedor de toda a NBA. Ou seja, eles se tornam os sucessores espirituais do próprio Hawks de uns tempos atrás, antes de arrumarem o vovô Mike Bibby para introduzir o bingo e as boinas em Atlanta.
Mesmo assim, continuo achando que o melhor que o Grizzlies podia fazer era guardar a grana e pronto. Juntar um bando de jogadores aleatórios nunca dá certo, a não ser que você esteja montando um zoológico. Esse Grizzlies é novo demais e a maior parte dos jogadores nunca jogou junto. O armador deve ser Mike Conley, que ainda não teve reais oportunidades na NBA, ao lado do novato OJ Mayo, que acabou de chegar. O ala é Rudy Gay, a estrela do time mas que ainda não teve chances de mostrar que é capaz de levar um elenco nas costas. No garrafão, temos o fracasso-moderado Darko Milicic e a estrela européia Marc Gasol, que nunca colocou os pés numa quadra da NBA. A maioria dos jogadores nunca se viu e só devem saber os nomes uns dos outros lendo na camiseta. Será que faz sentido, portanto, gastar 58 milhões num jogador quando não se sabe qual é a identidade do time, quais suas deficiências, de que tipo de reforço ele precisa exatamente?
Contratar o primeiro desempregado que passar na frente é coisa do Clippers, e o Memphis Grizzlies não deveria seguir o exemplo se eles querem ser minimamente vencedores. O time fedido de Los Angeles continua seu estranho experimento social, juntando na mesma equipe as mais distintas personalidades, um bando de gente que não tem nada a ver um com o outro, um Big Brother Brasil em que – espero – ninguém vai posar pelado depois. Se não bastasse unir Baron Davis, Ricky Davis, Marcus Camby e Chris Kaman no mesmo barco, o Clippers acaba de assinar o armador Jason Williams. Eu já fui fã do moço nos seus tempos de Kings, mas ele é bastante descontrolado no ataque, arremessa sem muito peso na consciência e não consegue passar 15 minutos sem sofrer alguma contusão. De algum modo bizarro, isso faz dele uma escolha perfeita para compor o Los Angeles Clippers. A princípio, parecia que eles estavam contratando jogadores aleatoriamente, apenas gastando todo o dinheiro em quem estivesse disponível. Agora, já é possível notar o padrão: são jogadores que se machucam o tempo todo, vindos de times perdedores e incapazes de jogar coletivamente. Bem, cada um tem o fetiche que merece.
A preferência do Clippers ficou ainda mais óbvia quando eles ofereceram um contrato de um ano para o armador Shaun Livingston, cujo joelho havia arrebentado como fio de fone de ouvido paraguaio (crianças, nunca confiem na marca “Sonyc” ou nas pilhas “Durabell”). A lógica é simples: ele nunca ganhou nenhum jogo e tem saúde frágil? Então contrato nele! Mais bizarro que isso só o próprio Livingston que, depois de passar mais de uma temporada parado e com vários especialistas dizendo que ele nunca mais jogará basquete no mesmo nível de antes, acha que merece um contrato mais longo e portanto recusou a oferta do Clippers. Pensando bem, talvez ele esteja apenas fugindo do circo que está se formando em Los Angeles. Eu fugiria.
Até porque, num mundo em que todos os times parecem gastar até o último centavo em seja lá quem for o imbecil que estiver disponível, não há muitas dúvidas de que Shaun Livingston arrumará um contrato novo em algum lugar. Afinal de contas, se tudo mais falhar, sempre há a Europa para te arrumar um emprego. Não é o anãozinho Boykins que agora enche as orelhas com dinheiro europeu?