>Critérios para o All-Star

>

Não não, Nenê

Saiu ontem finalmente a escolha dos reservas para o All-Star Game. Como sempre, tem muita gente indignada com as decisões e falando em complô, teoria da conspiração, alienígenas e na culpa do Justin Bieber (que no fundo é só um adolescente com cara de panaca e todas as ninfetas que quiser, igualzinho a todo mundo quando era adolescente, quer dizer, tirando a parte das ninfetas, claro). O problema é que todas as pessoas descontentes com a escolha dos reservas, achando um absurdo que o Duncan foi escolhido ou que o Nenê vai ficar em casa comendo pipoca, não pararam pra pensar que não existem critérios definidos para chamar os reservas. Isso quer dizer que todos os técnicos da NBA, que participam da votação, precisam bolar critérios próprios que não coincidem entre si. Quando alguém diz que o Nenê merecia ir para o All-Star, com certeza está usando critérios bem diferentes da maioria dos técnicos. Vamos então dar uma olhada em alguns dos critérios possíveis para convocar reservas e quais jogadores ficariam ou não de fora se eles fossem empregados.

Critério “É ritmo de festa”: escolher os jogadores mais legais, engraçados e divertidos

Se o All-Star Game não vale bulhufas e é uma festa para agradar os torcedores e trazer mais audiência para a NBA, então muita gente acha que apenas os jogadores que se encaixam nesse perfil Sessão da Tarde de festa, azaração e curtição deveriam ser chamados. No fundo, faz sentido. É meio ridículo usar a convocação para o All-Star como se fosse uma espécie de prêmio para os melhores jogadores sendo que esses prêmios já existem na forma de MVP, melhor quinteto da temporada, jogador que mais evoluiu, essas coisas. Então o All-Star seria algo único, que premiasse os jogadores mais divertidos e voltados para a torcida.

Pra mim, isso funciona muito bem para os titulares do All-Star, que são definidos pelos votos públicos na internet. Aí a galerinha vota nos “mais legais” e pronto, a festa está garantida. Para os reservas, que são definidos pelos técnicos, não acho que esse critério funcione porque provavelmente os técnicos são chatos e acham legal o Shane Battier e o Joel Anthony, pra fazer corta-luz.

Para os que usam esse critério, Vince Carter e Shaquille O’Neal deveriam ter cadeira cativa no All-Star Game. Da nova safra, muita gente estava exigindo que o Blake Griffin fosse chamado não pelos seus números, mas por aquilo que ele pode fazer na festança, enterrando na cabeça de todo mundo. Na minha opinião ninguém usa esse critério, só os torcedores mais românticos, mas foi ele que levou Blake Griffin para o All-Star esse ano. A imprensa cobrou, os técnicos ouviram, viram as enterradas no YouTube, e acharam que fazia sentido. Caso raro, mas os fãs da festa agradecem.



Critério “Um por todos e todos por um”: escolher os jogadores que fazem parte dos times que estão no topo da tabela de classificação

É desse modo que a mente da maioria dos americanos funciona: os melhores jogadores são aqueles que fazem seus times vencerem. Isso gera distorções bizarras, como um Pistons que não tinha nenhuma estrela tendo quase o elenco todo chamado para o All-Star porque o time estava no topo da tabela. Esse critério é usado também na escolha do vencedor do prêmio de MVP, e nós insistimos que ele é um absurdo. Funciona assim: o jogador, para receber o prêmio, tem que ser muito bom, ter bons números. Mas ele também precisa estar num time vencedor, de preferência no alto da tabela. Mas se ele está num time no alto da tabela, com certeza é porque o resto do elenco também é espetacular. Mas se o resto do elenco também é espetacular, o jogador então é menos necessário do que se estivesse num time ruim, então corre o risco de não ganhar o prêmio. Ué, então o cara precisa ser bom, jogar num time bom, mas o time não pode ser bom demais, senão ele perde? Afinal, o prêmio é para o melhor jogador ou para o jogador mais importante para sua equipe? É um prêmio individual ou um prêmio coletivo, para o jogador-símbolo de uma equipe com um elenco bom e vencedor?

No All-Star Game, não tem esse lance do prêmio de MVP de que apenas um pode ganhar, então a  mentalidade gringa faz com que vários dos jogadores que estão nos times do topo sejam agraciados com o prêmio. No Leste, todos os reservas estão nos 4 primeiros times da conferência: Celtics, Heat e Hawks (apenas o Bulls ficou de fora). O Celtics, líder da conferência, teve 4 jogadores convocados dentro das 7 vagas, mais da metade. Todos eles merecem? Apenas se você levar o critério do “time vencedor” em conta, premiando o líder da tabela. A ideia é que, se o Celtics é bom o bastante para ser o líder do Leste, deve ter os melhores jogadores e então o maior número possível deles deve ser chamado para a festa.

No Oeste, 5 dos reservas estão nos 4 primeiros times da conferência (Spurs, Lakers, Mavs e Thunder). O Spurs, que é o líder do Oeste, levou dois jogadores como reserva. O Duncan está tendo uma temporada mais fraca, é velho, está longe dos seus melhores dias de All-Star, mas a mentalidade de quem usa esse critério é essa: “como levar um reserva só do time que é o melhor da temporada até agora?” O Duncan não vai pelo nome que tem, mesma coisa com o Garnett, não é isso. Não é questão de fama ou cadeira cativa. Eles vão por jogarem nos dois melhores times da NBA no momento. Eu acho ridículo, All-Star não é um prêmio para os melhores times, um cara jogar num time vencedor não deveria lhe favorecer na escolha dos melhores jogadores, mas essa é a mentalidade que predomina na imprensa e nos técnicos. Duncan e Garnett jogam no All-Star porque seus times chutam traseiros, e Kevin Love, Zach Randolph e LaMarcus Aldridge ficam de fora porque seus times fedem. O Kevin Love é ignorado porque sua habilidade “não gera vitórias”, assim como o Monta Ellis, enquanto os próprios técnicos admitem que a vitória depende do conjunto, já que chamam 4 jogadores do Celtics e 2 do Spurs. Paradoxal, inconsistente, mas é o mesmo critério que se usa para o prêmio de MVP e para dizer que “um jogador é melhor porque ganhou mais anéis de campeão”. Se você está bravo porque o Duncan foi convocado mas é daqueles que dizem que o Kobe é melhor porque tem mais anéis, está misturando tudo. O critério, em todos os casos, é de que as vitórias são mais importantes do que tudo para definir a qualidade de um jogador – mesmo que as vitórias dependam do resto do elenco.

Critério “Nerd de estatística”: escolher os jogadores com as melhores estatísticas na temporada

Com esse critério, os jogadores chamados são aqueles que estão tendo o melhor ano estatisticamente. Seria um prêmio para as melhores performances, não teria nada a ver com seus times vencerem ou não. O resultado também é uma certa distorção, porque acaba priorizando jogadores que jogam sozinhos em times ruins, onde é mais fácil pilhar estatísticas, mas pra mim faz mais sentido. O Kevin Love não vai ganhar prêmios individuais ou coletivos ao fim da temporada, nada mais justo então que ele seja escolhido para jogar o All-Star em homenagem às suas atuações na temporada. Chamar reservas apenas de times bons é uma punição a mais para aqueles que estão em times sem chance de nada, é ser jogado definitivamente no limbo, na privada. O cara só perde, que participe ao menos da festa e coma de graça se está jogando bem o bastante. Quando o LaMarcus Aldridge foi informado que não tinha sido convocado, ele disse que já sabia, que já tinha avisado os companheiros que não seria chamado. Isso porque seu Blazers hoje está apenas na oitava posição do Oeste, de modo que passa invisível pelos técnicos se esse critério aqui não for usado. E ele não foi. Zach Randolph, nosso gordinho favorito, passou anos e anos sendo ignorado no All-Star porque seus times eram uma droga (e todo mundo dizia que o Randolph era o culpado por isso). O único jogador que pode mostrar que esse critério foi usado é o Blake Griffin, que tem médias espetaculares e seu Clippers amarga a terceira pior campanha do Oeste, mas ainda acho que ele foi chamado apenas pela cobrança da imprensa de que ele se encaixa na festança do All-Star, critério que vimos acima.

Critério “A primeira vez a gente nunca esquece”: escolher os jogadores que ainda não estiveram no All-Star ou estão tendo a melhor temporada da carreira
Tem gente que acha que perde a graça ficar todo ano indo os mesmos sujeitos para o All-Star Game. A repetição acontece porque os jogadores continuam a ser os favoritos da torcida, ou continuam em times vencedores, ou mantém os mesmos bons números. Mas e se o All-Star levasse sempre sangue novo, os caras que estão se destacando agora e não tiveram oportunidade de ir no ano passado? 
Acho esse critério bem idiota, mas ele sempre acaba sendo usado todo ano. Alguém que poderia ser considerado para o All-Star mas nunca é lembrado ganha comentários como “mas ele quase foi na temporada passada”, “ele ainda não teve uma chance”, e acaba indo jogar. Em geral são jogadores meio mequetrefes ou que ainda não estão em nível de All-Star, como aconteceu com o David West um tempo atrás. Foi também o que no ano passado finalmente levou o Zach Randolph, que merecia há um tempão mas não ia porque seus times sempre fedem. Nesse ano, apenas dois jogadores foram chamados pela primeira vez para o All-Star, Russell Westbrook e Blake Griffin, e eles não se encaixam nesse critério. Mas aqueles que afirmam que o Josh Smith deveria ter sido chamado se encaixam aqui, e o mesmo se aplica ao Nenê. Ele tem um ano melhor estatisticamente do que Kevin Love, LaMarcus Aldridge ou Zach Randolph? Não. Ele joga num time que está no topo da tabela? Não. Ele é um jogador divertido para a festa e vai cravar na cabeça de todo mundo? Não, aliás é por isso que nunca chamam pivôs se podem chamar alas no lugar. O que está do lado do Nenê é que seu ano está sendo muito bom para os seus próprios padrões e não existem muitos pivôs no Oeste, mas isso não é o bastante. Sei que todo mundo queria ver o Nenê indo para o All-Star, eu entendo, mas ele só iria pela falta de pivôs e, após as votações populares, esse lance de posição não importa mais. Como vimos, os critérios usados são outros (melhores times, melhores estatísticas, show) e o Nenê não se encaixa neles. Resta então para os que insistem que o brasileiro vá (e por que, mesmo?) que a imprensa choramingue muito que o Nenê merecia, que ele teve um bom ano, que ele sempre foi ignorado, para que o David Stern o escolha como substituto do Yao Ming, machucado. Mas não vai acontecer simplesmente porque a choramingação por outros jogadores, melhores, é maior. Provavelmente será escolhido alguém de um time entre os 8 melhores, com boas estatísticas. Como o Randolph já foi All-Star, ele não se encaixa nesse critério, então a choramingação deve ser por Love e Aldridge mesmo. 

Como funcionam as assinaturas do Bola Presa?

Como são os planos?

São dois tipos de planos MENSAIS para você assinar o Bola Presa:

R$ 14

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

R$ 20

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Como funciona o pagamento?

As assinaturas são feitas no Sparkle, da Hotmart, e todo o conteúdo fica disponível imediatamente lá mesmo na plataforma.