>De castigo

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“JJ é Redickulo”…”samente gay”. Tá certo, quem
faz trocadilho merece mesmo cadeira elétrica
Depois de ganhar trocentos prêmios de “melhor jogador do ano” no basquete universitário, JJ Redick foi escolhido pelo Magic com a décima primeira escolha do draft. O contrato tinha duração de dois anos, com o Magic escolhendo se manteria o pivete por um terceiro ou até um quarto ano. Na sua temporada de novato, até que ele entrou bastante em quadra, mas ficou bem claro que era incapaz de defender, fraco demais fisicamente para fazer qualquer coisa além de arremessar, e os seus arremessos sequer entravam. No segundo ano quase não entrou em quadra, ficou apodrecendo no banco, e quando entrou passou pouquíssimo tempo. Estava bem claro que o Magic não se interessava pelo garoto, não iria optar por mantê-lo por mais dois anos, e o JJ Redick estaria livre para procurar outro time, jogar na Europa ou vender pipoca com provolone. E foi aí que o Magic extendeu o contrato do JJ Redick, que ficou com cara de bunda. Rá, pegadinha do Mallandro! Glu, glu, glu!
E não é como se tivessem mantido o JJ Redick para finalmente colocar o cara pra jogar. Não entrou em várias partidas, tinha minutos limitados, papel limitadíssimo, e começou a pedir uma troca. Lembro perfeitamente bem de ler os comentários dos engravatados do Magic afirmando categoricamente que uma troca não iria acontecer: o Redick iria continuar no time a todo custo. O próprio técnico, Stan Van Gundy, disse que era difícil manter um jogador bom no banco o tempo todo, mas que ele ainda não estava pronto para jogar e que o time estava dando certo sem ele. Para a gente entender o que aconteceu, o Magic é uma guria e o JJ Redick é um sapato: pode ser que ela nunca vá usar esse modelo, mas como não está quebrado é melhor manter no armário, mesmo que tenha custado 2 milhões de dólares. A mesma coisa aconteceu com o Marcin Gortat: o Magic sabia que ele não teria muitos minutos com o Dwight e o Brandon Bass no time, o Mavs ofereceu uma fortuna pra ele, mas mesmo assim o time de Orlando fez questão de cobrir a proposta e manter o sapato no armário. Com a diferença de que ele custa 7 milhões de verdinhas. O Magic não sabe usar direito o cartão de crédito do pai: todos nós sabemos o que eles também aprontaram com o Rashard Lewis e seu monstruoso contrato de 118 milhões, só porque era a blusinha que faltava naquele “look matador” – que no fim não fez tanto sucesso assim na baladinha.
Por isso está todo mundo tão confuso de ver o JJ Redick saindo de seu castigo que durou anos para liderar o ataque do Magic em momentos cruciais desses playoffs. Na partida de ontem, primeira vitória do Magic em cima do Celtics nessa série, o JJ Redick não apenas ficou em quadra como acabou tomando o lugar de Vince Carter, que foi pro castigo em seu lugar: colocou o bumbum no cantinho da disciplina (a “Super Nanny” pediria um minuto de castigo por ano de idade, mas o Carter deve ter ficado um minuto por arremesso errado, porque pareceu uma eternidade). Ver o Redick tanto tempo em quadra não é assim tão bizarro, porque desde que sua defesa melhorou um pouquinho (agora ele pelo menos finge que defende, e a farsa é sempre um bom começo) tem ganhado mais minutos nessa temporada. Com mais minutos e mais jogos (pela primeira vez entrou em todas as partidas do Magic na temporada), voltou a ganhar ritmo nos arremessos e se tornou ao menos um arremessador confiável. Mas liderar o ataque do Magic é um tanto demais mesmo.
Esse tipo de aberração às vezes acontece: já vimos jogadores aleatórios levando o Spurs a ganhar um anel com atuações-surpresa que nunca mais se repetiriam em suas carreiras. No caso do Redick, no entanto, vem acontecendo em toda a série e as atuações do rapaz sequer são impressionantes, não passam de uns arremessos certos aqui ou ali – é o time que está se focando nele porque não sabe mais pra onde olhar. Sempre batemos nessa tecla aqui no Bola Presa: mudar drasticamente seu estilo de jogo nos playoffs é sinal de burrice ou de desespero. Tem gente que acha que “playoff é diferente” e que por isso precisa mudar a rotação dos jogadores ou o esquema tático, o que é burrice. Mas tem vezes em que nada mais dá certo e você precisa tentar um troço completamente diferente, um jogador completamente esquecido, e aí é desespero. Acho que podemos considerar o Magic oficialmente desesperado.
As bolas de três pontos são parte essencial da tática da equipe, mas o Rashard Lewis é uma versão anêmica do Dirk Nowitzki de uns anos atrás: basta ser marcado de perto, com contato físico, e ele não consegue um arremesso sequer. Matt Barnes não é um gênio nos arremessos, mas tem que ficar em quadra o máximo possível para marcar Paul Pierce. E Mickael Pietrus está tendo uma série horrível no ataque a ponto de não valer a pena colocá-lo só pra defender. Na noite de ontem, errou dois arremessos seguidos, o Van Gundy quase teve um derrame cerebral, e lá foi apodrecer no banco. Nessas horas em que os arremessos não caem, em que as armas estão anuladas, deveria ser a hora do Vince Carter. Pena que ele fede.
Vale aqui uma pequena recapitulação: o Carter é aquele sujeito que dedou a jogada final do próprio time, quando estava no Raptors, para que a equipe perdesse e ele fosse trocado. É o cara fominha que não leva o time à vitória mas abandona o barco se não estiver dando certo. Até que o Nets trocou todo mundo, menos ele, e vimos um novo Vince Carter. Aquele Nets fedia mais do que fede hoje, era terrível, mas o Carter segurou as pontas, não reclamou, não pediu para ser trocado, virou líder da pirralhada, figura mais importante dos vestiários da equipe, passou a treinar os novatos e a tentar salvar os jogos no final depois de envolver o resto dos companheiros. Foi esse Carter, maduro e líder em quadra, que o Magic contratou. Sua temporada no Nets salvou sua carreira de um modo que o Iverson precisava desesperadamente mas não conseguiu aceitar. Não tenho medo de dizer: o Magic é um time melhor com Carter do que era com Turkoglu. Sei que Carter prejudicou o Magic muitas vezes na temporada por segurar demais a bola e por não querer decidir alguns jogos, mas ele é uma presença inestimável no vestiário e traz uma confiança em jogos decisivos que o Turkoglu nunca traria (vai, nem a mãe do turco acreditava que o rapaz decidiria alguma coisa, mesmo que ele sempre acertasse). Só que os jogos decisivos estão aí, e o Carter fede. Não é do meu feitio ficar dando desculpa para salvar um jogador, mas o caso do Vince Carter é quase todo mérito da defesa do Celtics, aquela que anulou LeBron James. E o Carter, crianças, não é nenhum LeBron James. Frustrado e sem saber como atacar a cesta, depois de ter perdido dois lances livres cruciais que poderiam ter tornado a série competitiva, parece que ele não acredita mais na vitória e não vê motivo em ficar dando cabeçada na parede. A partida de ontem foi terrível para ele, e aí o Magic tem que olhar para quem está interessado em ganhar, para quem quer arremessar. Sobra apenas um arremessador ultra-confiante, mas nem tão eficiente: JJ Redick. Se ele quer arremessar e o Carter não quer, então o Carter vai pro banco e o Redick fica em quadra. O time fica completamente diferente, é mais fraco, mais previsível, mas no desespero a gente fica com aquilo que tem. Parece que a estadia em New Jersey não deixou apenas Carter mais maduro, também o tornou mais incrédulo, como se a vitória pouco importasse, como se não fosse responsabilidade dele. De fato, não é. Carter não quer mais esse posto de líder da equipe no ataque, e ninguém pode impor esse papel a ele. O problema é que o Magic pagou a massagem completa sem saber que não rolava sexo no final.
Para o Magic, então, vai o que tem. Assim, Rashard Lewis não acertando nada por causa do jogo físico e o Dwight Howard incapaz de jogar de costas para a cesta abriram espaço para Brandon Bass e Marcin Gortat. Os dois conseguem jogar melhor nessas circunstâncias? Então coloca os dois em quadra. O Magic é um time irreconhecível, muito diferente, bizarro. Mas é melhor ser irreconhecível e ganhar uma partida do que insistir nos mesmos defeitos e ser varrido dos playoffs. O Magic desesperado, como vimos ontem, é um time muito melhor do que o time calmo, confiante e preso ao plano de jogo que enfrentou o Celtics nos primeiros jogos. O desespero ensinou coisas muito bacanas para a equipe de Orlando: o Dwight não pode receber a bola de costas pra cesta, tem que recebê-la no ar para enterrar, ou em movimento depois de um corta-luz. O Jameer Nelson tem que atacar a cesta em toda bola, passando a bola para o Dwight por cima dos defensores, cavando faltas e pontuando em bandejas. E o time precisa correr como louco para nunca, jamais, em hipótese alguma, enfrentar a defesa de meia quadra do Celtics montadinha e preparada. O resultado foram 30 pontos do Dwight, uma ótima partida de Jameer Nelson, e várias posses de bola em que Perkins acabou marcando o Rashard Lewis e o Garnett acabou marcando o Dwight, por causa da correria. Em todas, o Celtics foi punido.
Correria, menos bolas de 3, infiltrações, acionando menos o Dwight fora do garrafão, jogo baseado em pick-and-rolls, e JJ Redick na quadra. É um Magic do mundo bizarro, mas a vitória veio. E veio mais fácil do que parece, a prorrogação só aconteceu porque esse Magic tem memória curta. De vez em quando o Howard foi acionado de costas pra cesta, e claro que errou tudo. Nos minutos finais, o Jameer Nelson parou de correr como um retardado e passou a enfrentar a defesa do Celtics arrumada. E o armador do Magic resolveu também, no final, só arremessar de três ao invés de cavar mais faltas e atacar o aro como vinha fazendo. Esses momentos em que o Magic é o velho time de sempre foram um fracasso. Os momentos de desespero absoluto e histérico, digno de mulher vendo barata, com Carter no banco e outro estilo de jogo foram um sucesso.
Esperava, claro, um 4 a 0 para o Celtics nessa série. Mas tudo porque não tinha como imaginar um Magic desesperado, fazendo qualquer coisa que venha a dar certo e deixando em quadra quem quer arremessar, não quem ganha o maior salário ou foi contratado para decidir. Baita coragem do Van Gundy de deixar Pietrus e Carter no banco por tanto tempo, baita sacada de tirar JJ Redick e Brandon Bass do castigo. Só falta agora tirar o Rashard Lewis da quadra e colocar o Ryan Anderson. Vamos combinar que depois do Carter, o Rashard também tá merecendo um castigo lá no cantinho da disciplina.
Não sei mais o que pensar dessa série. No desespero, é bem provável que o Magic prolongue esse embate muito mais do que poderíamos sonhar. O jogo de ontem foi um dos mais físicos, brigados e divertidos jogos desses playoffs, e a primeira prorrogação até agora. Ou seja, vamos torcer para que o Van Gundy – famoso por ser “o técnico do desespero”, no sentido de que na hora que importa não sabe o que fazer – continue apostando apenas naquilo que der certo. Seja o que for. Colocar o Dwight na armação e o Jameer Nelson de pivô? Por que não? O legal de ver nesse Magic é que, perdendo por 3-1, eles não tem muito a perder.

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