>De volta do além

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Duelo de gerações: quando um estava nascendo, o outro já via Castelo Rá-tim-bum

Como coloquei na previsão da série, o duelo entre Hamilton e Ray Allen era uma das grandes diversões do confronto entre Pistons e Celtics. Um Ray Allen envolvido no ataque poderia cansar Hamilton na defesa, enquanto o Hamilton correndo como um hamster em sua gaiola que não tem nada melhor pra fazer da vida além de girar sua rodinha acabaria expondo a idade de Allen e suas limitações defensivas. Para a sorte de nós, seres humanos que assistimos basquete em nossas gaiolas ao invés de correr em rodinhas, tanto Ray Allen quanto Rip Hamilton fizeram de tudo no ataque e deram um show memorável.

Sim, Billups jogou demais e foi muito mais agressivo do que no primeiro jogo da série, embora ainda contundido, Paul Pierce ainda está no clima “eu chutei o traseiro de LeBron James e posso acertar qualquer arremesso quando eu bem entender” e Garnett jogou como MVP mesmo errando arremessos decisivos que serão lembrados por todos aqueles sujeitos que comem meleca e acham ele pior que o Duncan. Mas, ao menos para mim, as histórias da noite foram Hamilton e Ray Allen.

Faça quinhentas temporadas impecáveis e todos vão comentar sobre como, apesar de ter 530 anos, você não mostra nenhum sinal de envelhecimento. Passe duas semanas sem acertar nenhum arremesso e então, repentinamente, todos dirão que a idade enfim te alcançou e você é um velho acabado, destinado a usar boina, fumar cachimbo e assistir Hebe Camargo. Shaquille O’Neal já foi transformado pela mídia em porteiro idoso de boate, e a pós-temporada do Celtics transformou Ray Allen num frequentador de bingos. Todo mundo falando em idade, criando milhares de desculpas, caçando pistas de que os Monstars tenham visitado Boston, mas bastou um pouco de confiança do técnico Doc Rivers, maior envolvimento no ataque e uma mudança na atitude para Ray Allen voltar ao que sempre fora. A partida de Allen não foi impecável, mas fez os olhos de todos os fãs de basquete brilharem simplesmente por mostrar que ele está vivo, que seu talento ainda não é coisa do passado, da época em que todo mundo tinha internet discada do IG e e-mail do BOL. A cesta de três que Ray Allen acertou nos segundos finais, cortando a diferença para 3 pontos mesmo com o Celtics já praticamente não tendo mais chances de empatar, foi um atestado de volta do além: Allen chutou bem marcado, pressionado, com Rasheed em sua cara, sua bola fez um arco surreal que foi contra todas as leis da física e deu só rede, chuá, resultando num Ray Allen feliz, sorridente com o próprio feito. Foi uma das bolas de 3 pontos mais maravilhosas que eu já vi na vida mas acho que ninguém achou isso, afinal, não encontrei no YouTube. E sabe como dizem, se não está na internet, não existe.

Infelizmente, para ele, seu decreto de retorno ao basquete de alto nível foi estragado por uma atuação surpreendente de Rip Hamilton. Já estamos acostumados com o modo com que Rip joga: correndo como um débil-mental pela quadra, recebendo corta-luz de todo mundo, recebendo a bola e arremessando com certa liberdade. Sempre imaginei o Hamilton sendo usado por um técnico burro, que não criasse as condições para ele jogar dessa maneira, e sempre pude vê-lo apodrecendo no banco do Cavs ou do Bucks sendo considerado um jogador mediano. Mas Hamilton ontem tirou a noite para arrancar essa visão da minha cabeça e jogou uma monstruosidade fora do seu esquema padrão de jogo, criando seus próprios arremessos, batendo para dentro, cobrando dezenas de lances livres e acertando uma infinidade de floaters, aquele arremesso com uma mão só em que você só solta a bola por cima da defesa. Como assim o Hamilton domina a arte dos floaters? Talvez eu tenha visto jogos do Pistons de menos, mas juro que não imaginava que ele tivesse essa capacidade. Agora consigo ver Hamilton jogando para um técnico burro, mas o que importa é que ele tem tudo para ser campeão com um técnico inteligente, que lhe dá milhares de opções no ataque. Como diabos o Celtics vai marcar Hamilton criando seu próprio arremesso enquanto Billups é agressivo no ataque?

A defesa do Celtics, aliás, me parece cada vez mais aquelas histórias absurdas que quando se conta pela décima vez, acabamos acreditando, tipo o Sérgio Mallandro ter comido as Mallandrinhas. No fundo, olhando bem, você percebe que o Mallandro não conseguiria nem dar as mãos pra uma delas, e que a defesa do Celtics é distraída e desaparece do jogo por longos períodos. Como caímos no conto do vigário de que essa era a melhor defesa presente na NBA nos últimos anos? Foram as estatísticas, os números? A defesa do Pistons, de ontem e de hoje, dá um pau nessa do Celtics. E mesmo sendo cedo demais para afirmar, não vejo a equipe de Boston sendo capaz de defender todas as armas do Pistons de modo eficiente o bastante para vencer uma partida fora de casa. Ou seja, acho que já era.

O Detroit tem tantas armas ofensivas, somadas a uma defesa tão bem treinada, que uma vitória do Celtics do asno do Doc Rivers seria uma ofensa ao deus do basquete. Nesse Pistons, as coisas são tão bem planejadas e estruturadas que o Rodney Stuckey, quando entra em quadra, parece fazer parte do esquema tático desde o princípio dos tempos e joga com um veterano. Aliás, o Stuckey foi a 15a escolha do draft passado. O que o Wolves de Corey Brewer (7a escolha) deve estar pensando sobre isso, por exemplo?

Do outro lado, o veteraníssimo Sam Cassell parece um novato quando entra em quadra pelo Celtics, um time que não tem um jogo direcionado ao armador principal. Mas mesmo assim, ainda que tenha errado todos os seus arremessos contra o Cavs, Cassell merece uma nova chance. Sequer entrou em quadra nessa série e até o Tony Allen jogou na noite de ontem. O que diabos o Doc Rivers está pensando? O Leon Powe não entra mais, o Sam Cassell tá de castigo e o Tony Allen está jogando. Esse é um mundo bizarro, mesmo. O caso do Cassell lembra o do Ray Allen, já que estão acusando-o de estar velho embora sem aparentar, tipo o falecido Beto Carreiro, que mesmo na cova parece ter 20 anos, e eu adoraria ver o velho armador ter uma noite como a de Allen, dando a volta por cima, mostrando que o talento está lá, apesar de tudo.

Se o Celtics quer ter alguma chance de ser campeão do Leste terá que vencer, pela primeira vez nos playoffs, uma partida fora de casa. Se alguém acha que seria possível fazer isso sem Ray Allen e Cassell, está completamente maluco. Bem, um deles já está de volta. Agora só falta o outro.

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