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O desconhecido desse mês já marcou 25 pontos e pegou 17 rebotes em um jogo. Já meteu 5 bolas de 3 em um jogo. Já foi o jogador favorito de uma cidade inteira. Já irritou um adversário ao ponto do cara sair do sério e o ameaçar de morte, já brigou com Kevin Garnett, já derrubou um adversário no chão com um drible e ainda é formado em administração. Sabe quem é capaz disso tudo?
Matt Bonner.
Falamos que nesse mês não teríamos nenhum especialista em defesa na lista de desconhecidos, então pegamos um cara que é simplesmente fantástico no ataque. O quê? Não acredita? Estamos falando de um cara que tem média, na carreira, de 40% de aproveitamento de 3 pontos, e seu aproveitamento geral de arremessos já foi, em um ano, de 53%, um dos mais altos de toda a NBA.
Esse primeiro ano foi no Toronto Raptors. O Bulls o selecionou no draft de 2003 e logo depois o trocou para o Toronto. O time do Canadá fez um acordo verbal com o Bonner e ele então foi passar um ano na Europa com a promessa de ter uma chance real no time na temporada seguinte. Bonner então foi para o Sicilia Messina da Itália passar um ano. Mas não foi nada fácil. No meio da temporada ele ficou muito doente, chegou a ficar com 40 graus de febre (igual à música do Twister) e passou muito, muito mal. Quem teve que tratá-lo foi o dentista do time, já que não tinha um médico disponível, e depois foi descoberto que a causa tinha sido salmonella e que a origem poderia ter sido a falta de água quente em seu apartamento.
Seu apartamento não tinha água quente porque a situação lá era tão bisonha que o time foi à falência no meio da temporada e parou de pagar os jogadores. Bonner teve seu aquecimento e eletricidade cortados e recebeu duas ordens de despejo. Como um bom profissional, ele continuou jogando e finalizou a temporada com uma ótima média de 19,2 pontos e 9,3 rebotes.
Pelo menos essa situação demorou apenas um ano e na temporada seguinte o Raptors cumpriu sua parte no acordo e chamou Bonner para testes em que ele se deu bem e ganhou a vaga na equipe. O time do Raptors na época não era lá grande coisa mas também não era um lixo, então ter uma vaga naquele time não era tão fácil assim, não era como ter uma vaga naquele time do Nuggets do ano de novato do Nenê quando o Rodney White era o melhor da equipe.
O seu primeiro ano foi o melhor da carreira de Bonner na coisa em que ele mais se destaca até hoje, ou seja, sua pontaria. Ele é ainda um ótimo arremessador de média e longa distância e, pela falta de marcação, costuma marcar seus pontinhos em arremessos livres. Na sua primeira temporada ele teve um aproveitamento de 53% e garantiu vaga na rotação do time, até sendo um dos jogadores favoritos dos torcedores canadenses.
Mas como ele virou o favorito é o que é engraçado. Primeiro veio o apelido, Red Rocket. O apelido nasceu porque sempre viam ele nos trens públicos de Toronto, cujo slogan é “ride the rocket” e como o cabelo do Bonner é ruivo, ele virou o “Red Rocket”. Se você estava em Toronto em 2003 e viu um ruivo de 2,10m no trem, sim, era o Matt Bonner. E além dele ser visto pela cidade no transporte público e não em um mega carro de luxo, em um jogo contra o Timberwolves ele fez uma falta flagrante em cima do Kevin Garnett, que levantou com tudo querendo ir pra briga! Depois de uma boa confusão e discussão, a torcida foi ao delírio gritando “Bonner, Bonner, Bonner” e como fãs de hóquei, sabemos que os canadenses adoram uma boa briga dentro de uma quadra. E foi assim que ele virou herói em Toronto.
O vídeo da briga é esse aqui:
Mas não só herói, como rambém estrela de TV, ele virou. Ele fez uma ponta na série “Instant Star”, no episódio “The Jean Genie”.
Mas a alegria de ser o herói canadense não durou muito. Em 2006 ele foi trocado para o San Antonio Spurs junto com Eric Williams pelo Nesterovic. Para os fãs do Toronto, uma pena; para o Bonner, a melhor chance da vida dele de ser campeão, o que acabou acontencendo no ano passado. Sim, Bonner tem um anel de campeão e o Karl Malone não tem. Que ala de força você queria no seu time?
Imagino que no começo não tenha sido fácil para Bonner, mudar de cidade nunca é fácil, você tem que se adaptar ao clima, aos hábitos, tem que fazer amigos. E é por isso que ele tem uma página no MySpace! Dizendo que quer conhecer pessoas de San Antonio, ele fez sua página pessoal e você pode ir lá ser amigo dele e dar apoio para o cara quando o Spurs, se deus quiser, for eliminado dos playoffs! O link é esse aqui.
No Spurs, além de um anel de campeão, ele aprendeu muitas outras coisas. Como por exemplo a não ficar três segundos parado no garrafão sem estar marcando ninguém. Lição do Gregg Popovich:
Sobre a vida em San Antonio, o melhor ruivo da NBA (desculpe, Robert Swift) respondeu uma série de e-mails. Aqui estão algumas respostas:
“Já que sou só um role player na NBA, o meu sucesso pessoal depende do sucesso do time, então ser campeão é o auge pra mim. Mas eu não costumo usar meu anel de campeão não, tenho medo de que ele caia do meu dedo. Talvez quando eu me aposente e vá a algum banquete eu use.”
“Quando eu era mais novo não costumavam me zoar porque eu era ruivo como costumam fazer com outras crianças como eu. Mas é que eu sempre fui o mais alto da turma, aí ninguém mexia comigo.”
Mas uma coisa que não tem em San Antonio e que tinha em Toronto é o trem. Sem seu transporte público, como Bonner iria andar pela cidade? Foi obrigado a comprar um carro. Comprou um Pontiac Grand Prix porque, segundo ele, tem espaço para as pernas e ao mesmo tempo gasta pouca gasolina, é econômico. E ele falou que não é pelo dinheiro, ele sabe que não ganha mais o salário mínimo dos novatos, mas ele gosta de carros econômicos porque pensa no meio-ambiente. É isso aí, Bonner, o Capitão Planeta da NBA. Vai Planeta!
No próximo texto falaremos do dia em que Bonner deu um drible que fez um adversário quase cair no chão e do dia em que ele fez um jogador o ameaçar de morte. Imperdível.