>Detalhes tão pequenos

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-Tô bem, mãe

Outro dia o Fábio Balassiano, comentando algum jogo de basquete brazuca, reclamou de como muitas vezes os jogadores ou técnicos derrotados, ou até comentaristas, dizem que o jogo foi decidido “nos detalhes”. Realmente é bem irritante, até porque isso levanta uma importante questão: que raio de detalhes são esses?! Não é nem uma resposta errada, é só uma resposta pela metade, ou por um terço. É comum que séries de playoff muito disputadas com times muito parelhos seja realmente definidas em alguns detalhes, mas dizer só isso é vago. Estou aqui então para dar um pouco de atenção aos pequenos detalhes que vão aparecendo como os fatores decisivos na final do Leste entre Chicago Bulls e Miami Heat.

Os dois times estão muito no mesmo nível, é simplesmente impossível afirmar com qualquer grau de certeza quem é a melhor equipe. Ambos tem defesas absurdamente fortes, jogadores que individualmente decidem partidas e até problemas semelhantes no ataque que fazem com que não sejam equipes perfeitas. O nível equilibrado das equipes foi mostrado no primeiro tempo das duas primeiras partidas da série em Chicago, o jogo 1 teve o primeiro tempo encerrado com um 48-48 depois de uma cesta de LeBron James no último segundo e o jogo 2 acabou com um 48-46 para o Heat depois que o Bulls errou um arremesso no último segundo que teria empatado o jogo. Falando em igualdade, curioso que embora tenham sido times diferentes ditando o ritmo da partida nos segundos tempos, ambas partidas tiveram exatas 85 posses de bola. Até na velocidade em que tentam jogar os times são parecidos.

As coisas mudaram sempre no segundo tempo, no jogo 1 a favor do Bulls e no jogo 2 a favor do Heat e, curiosamente, eles não fizeram nada de muito diferente. Claro que cada um dentro de seu esquema tático e usando seu elenco de maneira diferente, mas tudo pode ser resumido em movimentação ofensiva e proteção dos rebotes. No jogo 1 o Bulls ganhou a batalha dos rebotes por 45 a 33, quase empataram nos defensivos, mas no de ataque destruíram com 19 a 6, Joakim Noah sozinho, com 8, bateu o Heat. Os rebotes de ataque renderam 23 pontos de segunda chance para o Bulls! Como já disse o próprio presidente do Heat, Pat Riley, anos atrás quando era técnico, “No rebounds, no rings” (sem rebotes, sem anéis).

No segundo jogo eles perderam de novo a batalha dos rebotes ofensivos, deixando o Bulls pegar 17, mas dessa vez responderam com 10 e asseguraram mais defensivos. É difícil demais enfrentar um garrafão com Carlos Boozer, Taj Gibson e principalmente Noah e sair ganhando nos rebotes, principalmente quando se usa caras como Joel Anthony e Jamal Magloire como pivôs durante o jogo, mas nos playoffs é assim, você enfrenta grandes times com suas óbvias qualidades e tem que viver com isso, apenas precisa minimizar o estrago a um nível aceitável. O Heat diminuiu o número excessivo de arremessos extras do Bulls e quando não conseguiu garantir o rebote pelo menos conseguiu defender melhor. O Chicago estava matando no primeiro jogo com rebotes que viravam assistências fáceis para os arremessadores no perímetro, na segunda partida houve uma melhor cobertura e maior atenção para que os rebotes virassem uma nova posse de bola bem defendida e não uma bandeja ou arremesso rápido e fácil.

Os rebotes são importantes em todos os jogos de basquete, mas ganham importância bônus em partidas em que arremessos errados acontecem com mais frequência, o que é o caso dessa série. As duas defesas são fortes e fazer pontos às vezes é um parto. Por isso o outro detalhe importante que vai decidir a série é como os times se comportam ofensivamente para conseguir fazer alguns pontinhos extras que fazem toda a diferença.

No jogo 1 o Bulls fez o que faz sempre, conseguiu a maior parte dos seus pontos em três tipos de jogadas: pick-and-roll, isolações e spot-up shots, aqueles arremessos onde o mané fica paradinho esperando o passe e só chuta quando recebe a bola. As duas primeiras jogadas acontecem porque é o que eles fazem quando o Derrick Rose tem a bola na mão (todo o tempo em que ele está em quadra) e os arremessos são ou jogadas armadas pelo Rose ou aqueles arremessos fáceis vindos de rebotes ofensivos que eu citei antes. No segundo jogo as três jogadas mais usadas foram as mesmas, mas com uma diferença, os spot-ups subiram do terceiro lugar para o primeiro entre as jogadas mais usadas. Isso é sinal da defesa mais agressiva que o Miami Heat tentou e conseguiu. Usando uma escalação mais baixa, com Udonis Haslem e Chris Bosh como os dois homens de garrafão, eles ganharam mais mobilidade e foram apertar o Bulls lá longe, não era estranho eles só conseguirem começar a rodar uma jogada nos últimos 14 ou 12 segundos de posse de bola. Aí o máximo que conseguiam eram uns arremessos xoxos por aí. Geralmente a resposta para defesas baixas e leves assim são os post-ups, as jogadas no garrafão com o atacante de costas para a cesta, mas nenhum jogador do Bulls, nem os pivôs, são especialistas nessa jogada. Os post-ups foram a jogada menos usada (cerca de apenas 3% das posses de bola) pelo Bulls em todo o jogo 2.

A alteração tática do Miami Heat teve efeito duplo porque o mesmo Udonis Haslem que permitiu que eles não precisassem usar Joel Anthony ou Jamal Magloire em quadra foi o que abriu os espaços para o ataque do Heat florescer (além de ter feito isso). As três jogadas mais usadas pelo Heat no jogo 1, o que perderam, foram as mesmas do Bulls (eu insisto, os times são mais parecidos do que a maioria das pessoas quer admitir): pick-and-roll, isolações e spot-ups. Mas lembram como o Boston Celtics era perfeito marcando o pick-and-roll? Então, eram lições do então assistente técnico Tom Thibodeau, o seu Bulls faz a mesma coisa hoje em dia. As isolações rendem de vez em quando pelo excesso de talento individual e os arremessos são trabalho dos coadjuvantes, depende do humor deles. No jogo 2, o da vitória, Udonis Haslem estava inspiradíssimo e toda vez que a excelente marcação do Bulls fechava todos os espaços para LeBron e Wade eles respondiam achando Udonis Haslem, que estava preciso nos arremessos. Ele fez bolas importantíssimas e causou uma situação nova que quase nenhum time que enfrentou o Heat teve que lidar antes: um time de cinco jogadores capazes de fazer pontos. Uma das razões do primeiro jogo fraco do LeBron James foi que ele não teve espaço para fazer nada, estava sempre rodeado de pessoas como se ele estivesse jogando basquete na 25 de março em semana de Natal. Mas quando os seus companheiros de time começam a acertar arremessos tudo fica mais fácil e vazio.

Mas para mim a maior surpresa do ataque do Heat no jogo 2 foi como eles se movimentaram mais sem a bola. Durante a vitória eles não tiveram de novo os mesmos três tipos de ataque do Bulls como predominantes, o pick-and-roll e o spot-up estavam lá em primeiro e terceiro lugares, mas entre eles uma nova modalidade: cut. O cut é quando o jogador que tenta o arremesso é o que corta em direção à cesta, recebe o passe e então finaliza. Só depois dessas três formas de atacar é que aparece a bendita isolação.

O excelente site NBA Playbook fez uma seleção com algumas dessas jogadas de cut feitas pelo Miami Heat no jogo 2, veja como eles são muito mais eficientes quando se movimentam sem a bola ao invés de só assistir alguém brincar de 1-contra-1.

Até a câmera aqui ajuda. Vendo por cima dá pra ver como o LeBron James se movimenta bem sem a bola, faz o Luol Deng se perder no meio de bloqueios e assim consegue uma boa posição próxima à cesta. Wade e LeBron juntos tentaram 17 arremessos dessa distância no último jogo e acertaram 13! Eles sabem chegar até lá com velocidade, dribles e giros, mas tudo pode ser mais fácil com jogadas como essa.

A decisão do Keith Bogans de dobrar a marcação em cima do Chris Bosh é bem questionável, mas aqui estamos para comentar o ataque do Heat. Wade fez o certo ao se posicionar perto da cesta e aguardar o passe do companheiro de time, que não forçou um arremesso imbecil como o próprio Wade seria capaz de fazer.

A média de cuts do Heat durante a temporada regular foi de 7% das jogadas, no jogo 1 foram 6%, no jogo 2 pulou para 18%! Difícil acreditar que a média vai continuar tão alta de uma hora para a outra, mas é possível que tendo percebido como isso é efetivo executem com mais frequência. E olhe que pensamento assustador: O  Heat pode ter, de repente, um elenco monstruoso, Udonis Haslem saudável e acertando arremessos e ainda, acreditem, podem jogar em equipe. Aí vai ser brabo parar!

O Heat quer manter a invencibilidade em casa nos playoffs e o Bulls não pode ficar abaixo 3 a 1 senão a vaca começa a deitar. Para as próximas duas partidas esses times tem os seguintes objetivos:

Miami Heat: Manter a movimentação ofensiva sem a bola do Jogo 2, não tomar uma surra muito dolorida nos rebotes e continuar variando Dwyane Wade e LeBron James na marcação de Derrick Rose. O tamanho de LeBron atrapalha nos arremessos e passes, a velocidade e força física de Wade tem sido muito úteis para incomodar Rose e tirar tempo do ataque do Bulls.

Chicago Bulls: Forçar o jogo dentro do garrafão quando o Miami Heat usar sua escalação mais baixa, talvez o novato Omer Asik seja uma boa opção para jogar de costas para a cesta contra a dupla Bosh e Haslem. Precisam de melhor cobertura e ajuda na marcação da movimentação do Heat para forçar eles a voltar com o infrutífero ataque de jogadas de isolação. No jogo 2 as bolas de três também não caíram (3-20), eles precisam dessas bolas para que a defesa seja obrigada a deixar o garrafão e abra espaço para Derrick Rose.

Torcedores: Nós precisamos relaxar, abrir um pacote de salgadinho, tomar uma coca-cola gelada e torcer para que nenhum dos dois times consiga tudo isso logo de cara. Paguei pelo meu League Pass e quero ver sete jogos!

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