>Deu tudo errado

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Jonny Flynn é a cara da breguice

Todo mundo fala do Clippers como time amaldiçoado e todos tem inúmeras razões para isso. Também dizem que agora o time B de Los Angeles passou parte de sua maldição para o Blazers, que sofre com uma contusão atrás da outra. Primeiro foi Oden, depois Pryzbilla, depois Outlaw, Webster, Rudy Fernandez, Brandon Roy e a última foi que o Pryzbilla precisa operar o joelho de novo porque se machucou ao tomar um tombo no chuveiro! Um tombo no chuveiro, não tem como fazer piada com isso porque o fato já é mais engraçado e patético que qualquer coisa que eu possa falar, a realidade sempre supera o humorista. Vale pelo menos lembrar um velho post com as contusões mais bizarras da NBA.

Ninguém na liga chega perto de Clippers e Blazers na hora do azar, isso é claro, mas se hoje existe um time que luta pelo terceiro lugar é o Timberwolves. Eles também entram no clube dos times que tem talento, que parecem fazer a coisa certa, mas que depois, por qualquer razão, essas decisões parecem as mais erradas possíveis.

Vamos resgatar o Wolves ao fim da temporada passada. Mais uma temporada ridícula, mas que serviu para consolidar Al Jefferson como um dos melhores pivôs da NBA (ano passado houve quem defendesse que o pivô só não foi para o All-Star Game pelas poucas vitórias do Wolves, mais ou menos o que houve com Brook Lopez nesse ano). Depois de vir como uma mera aposta na troca de Kevin Garnett, um cara que ninguém sabia se conseguiria render como pivô ou só como ala de força, Jefferson provou não só que era bom mas que conseguia ser bom toda noite. O time fedia e perdia, mas sempre com uma boa atuação do pivô. No caminho ele até desenvolveu um dos melhores “fakes” de um pivô na NBA. O fake não é aquele perfil ridículo que você tem no Orkut, é quando o jogador finge que vai arremessar mas não arremessa, um bom exemplo está nesse vídeo, onde ele engana o Yao Ming umas três vezes.

Sem contar que o cara tem um grande coração, vocês já viram quando ele beijou o Tim Thomas na boca depois que o Thomas, seu adversário, acertou uma bola de 3? Al Jefferson, o último romântico.

Além da ascenção e consolidação de Jefferson, a temporada passada serviu para todo mundo perceber que Kevin Love seria um dos poucos americanos brancos a vingar na liga. No começo pareceu uma decisão estranha ter trocado OJ Mayo por ele no dia do draft, mas alguns meses depois e Kevin Love já estava sendo a máquina de rebotes que é até hoje. Ao lado de outro branquelo, o David Lee, é um dos jogadores que você já conta com um double-double antes do cara pisar na quadra.

Essa temporada era para simbolizar uma nova franquia. Eles tinha uma dupla de garrafão bem sólida com Jefferson e Love para construir um time em volta, tinham escolhas boas de draft e ainda trocaram de General Manager, mandando embora Kevin McHale e contratando David Kahn, e um novo técnico, Kurt Rambis. Jogadores bons, jovens, garrafão forte e novo técnico era tudo para apostar no Wolves para ser o que Thunder e Grizzlies estão sendo.

Eu não conhecia o Kahn, mas gostei dele por ele ser o manager mais aberto que já apareceu na NBA. Lembro que não economizou entrevistas quando chegou, no dia do draft, e ainda mandou uma carta aos fãs do time (aquela meia dúzia de viúvas do Garnett) explicando todas as suas ações. E, para nossa surpresa, elas até que faziam sentido.

Uma dessas decisões era a contratação do Kurt Rambis, o cara mais brega da história da NBA. Ele tinha sido assistente técnico do Phil Jackson por anos e era muito cotado para ser o herdeiro do Zen Master no Lakers quando ele se aposentasse, mas preferiu assumir o risco de pegar um time que estava começando do zero. A escolha de Rambis, pelo o que Kahn disse (alguém consegue ler esse nome sem lembrar do Gengis Khan ou do Shao Khan?), foi porque se interessava em implantar o sistema de triângulos que o Rambis ajudava a aplicar no Lakers. Porém, ao mesmo tempo, o novo Manager disse que no dia do draft escolheu dois armadores, Jonny Flynn e Ricky Rubio, porque queria copiar a combinação de Isiah Thomas e Joe Dumars que o Pistons do fim dos anos 80 usava.

Essa indecisão entre estilos de jogo parecia o primeiro sinal de que a temporada do Wolves poderia não dar certo, mas acabou não dando em nada porque outra coisa deu errado. Não dá pra usar os dois armadores juntos se eles nem estão no mesmo país. Ter a sorte de conseguir draftar o jogador mais esperado dos últimos anos veio seguida do azar de o pirralho espanhol decidir passar mais tempo na Espanha. O experimento Flynn-Rubio ficou adiado por pelo menos um ano, talvez dois e talvez para nunca, já que dizem que é possível que o Wolves troque os direitos do Rubio antes que ele vá para os EUA.

Kahn, Love, Jefferson, Rambis e Flynn. Tudo parecia lindo e promissor até começar a cheirar mal. Vamos por partes:

Al Jefferson: Mesmo talentoso e romântico, ele fedeu nessa temporada. Começou muito devagar e por um tempo achamos que era porque ele não fez pré-temporada, afinal estava voltando de contusão e parecia ainda fora de forma. Mas o tempo foi passando, passando e agora, a um mês do fim da temporada, ele só jogou no mesmo nível da temporada passada um punhado de vezes, uma decepção. Só não vai ganhar o prêmio Monstars de jogador que mais involuiu na temporada porque o outro Jefferson, o Richard, conseguiu ser pior. Se ano passado ele era talvez o melhor pivô do Oeste, nessa temporada ficou atrás de, no mínimo, Nenê, Kaman e Bynum.

David Kahn: Errou ao chegar no dia do draft antes de ter escolhido um técnico, depois falhou (tá bom que não foi só culpa dele, mas falhou) ao não conseguir trazer Rubio para a NBA. Depois ainda deu o azar de a sua outra escolha, Jonny Flynn, não estar nem perto de ser o melhor armador do draft. Muitos acreditavam nisso na época da escolha e até por isso não dá pra jogar toda a culpa no Kahn, mas é no mínimo um baita azar que, alguns meses depois, Flynn seja cotado para ter um futuro menos promissor que Steph Curry, Brandon Jennings, Ty Lawson e Darren Collison, todos outros armadores principais escolhidos depois de Flynn. Lawson chegou até a ser escolhido pelo Wolves e trocado por uma escolha futura.

Jonnt Flynn: Como acabei de dizer, está longe de ser o melhor armador do draft, mas nem é pelo ranking entre os novatos que ele decepciona. Mesmo sem comparar com outros e só olhando a sua atuação no Wolves, parece que ele não se achou dentro da equipe. Às vezes segura demais a bola, às vezes quer ser herói no final dos jogos e por muitas vezes lembra o lado ruim do TJ Ford por ter uma velocidade absurda e não saber usar isso para mudar o jogo. Talvez acabe sendo melhor que outros armadores de sua classe, mas é hoje, ao lado de Jrue Holiday, o armador mais cru, despreparado para a NBA, do Draft 2009.

Kevin Love: Até o que está dando certo, dá errado. Love continua jogando bem, sendo um ótimo passador, reboteiro e tudo mais, mas não conseguiu se entrosar direito com Al Jefferson e acabou sendo opção do técnico para o banco de reservas. Com isso Love divide menos tempo com Jefferson e deixa o quinteto que vem do banco um pouco mais forte. Uma solução até inteligente, mas até onde vai o Wolves se Love e Jefferson não sabem jogar juntos? Em entrevista recente Love jogou boa parte da culpa no técnico Kurt Rambis.

Kurt Rambis: Sempre sobra para o técnico. Como havíamos previsto no começo da temporada, aplicar o sistema de triângulos em um time jovem como o Wolves seria um desafio. O Señor Amor jogou a culpa no técnico porque disse que hoje, depois de mais de 60 jogos na temporada, o time ainda não sabe direito o que fazer em quadra. Não sabe como se movimentar, quando vão receber a bola, nada, um bando de gente perdida como vestibulandos em dúvida entre Direito, Artes Plásticas e Engenharia Química.

O Sistema de Triângulos é um conjunto de movimentações básicas dos jogadores, e nessa movimentação costumam existir poucas jogadas desenhadas e fechadas, em geral é um ataque que funciona reagindo às ações da defesa. Então costuma funcionar com jogadores que sabem ler a defesa, que sabem explorar bons matchups, que tem paciência e que não se desesperam esperando o momento e o lugar certo para atacar. Ao contrário disso, o Wolves é um time apressado, que pensa pouco e que tem o terceiro maior ritmo de jogo da NBA, é muita correria para poder dar certo.

Como se não bastasse o ataque ser perdido, a defesa é um lixo. Em pontos sofridos a cada 100 posses de bola o time tem a 3ª pior defesa da NBA. Para se ter uma idéia de como o Rambis não sabe mais o que fazer com esse time, no último jogo contra o Nuggets ele mandou Kevin Love marcar o Carmelo Anthony! Love olhou assustado para o treinador e respondeu “Você tem certeza?”. Carmelo Anthony acabou cestinha do jogo e o Nuggets venceu.

Se haviam expectativas altas para tanta gente e tudo deu errado, é ainda mais irônico que o lado positivo dessa temporada tenha sido um jogador por quem não se dava mais nada, Corey Brewer. O ala foi espetacular naquele time da Florida bi-campeão universitário e esperava-se muito dele na NBA. Acabou passando anos sendo um cara apenas mediano e nessa temporada explodiu. Enterrou na cabeça do Derek Fisher, teve muitos jogos acima dos 20 pontos e começou a mostrar um pouco do potencial defensivo que tinha na sua carreira universitária.

Outro destaque positivo dessa temporada, embora bem menor que Brewer, é Darko Milicic. O “Human Victory Cigar” foi contratado como uma aposta final de David Kahn, ele disse que sempre achou que Darko tinha algum talento e queria dar uma última chance para ele, que já disse que deve voltar para a Europa na próxima temporada. Em poucos jogos pelo Wolves o Darko já foi titular, defendeu bem, pegou vários rebotes e tem mostrado ser bem útil. Não sei se ele vai se sentir bem o bastante para querer ficar na NBA, mas não dá pra dizer que foi uma aposta ruim, até porque eles só perderam o Brian Cardinal pra isso. O grande problema do Darko foi mesmo aquele draft onde ele foi a segunda escolha. Se ele fosse o pivô regular que é e tivesse sido escolhido na posição 40 do draft ele seria considerado hoje um ótimo reserva com potencial para ser titular em alguns times. Melhor ser reserva bom do que ser uma piada ambulante, certeza disso.

Com essa temporada do Wolves no lixo fica a pergunta para a próxima temporada. Dará certo da próxima vez? Difícil prever, tudo depende do time entender melhor seu esquema tático, defender melhor e da vinda de Rubio para os EUA. Mas o futuro não é tão negro assim, na pior das hipóteses eles tem todos esses jovens bons jogadores para trocar e começar tudo de novo, dessa vez torcendo para que a medalha de bronze da maldição da NBA já tenha mudado de mãos.

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