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Na noite de ontem, Saturno alinhou-se com Vênus e entrou na oitava casa de Capricórnio. Isso significa que, se você é de Gêmeos, é uma boa hora para reconsiderar seus planos de carreira. Se você é de Leão, é o momento certo para pegar uns gatinhos. E se você é um jogador de basquete, as forças cósmicas ajudarão que você tenha partidas absurdas.
Não há outra explicação para as atuações na rodada de ontem que não seja mística. Quer dizer, na verdade existam milhares de outras explicações, que variam de gnomos ao puro e simples acaso, mas nenhuma delas é divertida o bastante para valer como uma explicação pertinente. É como diz o conceito filosófico da “Navalha do Tiririca”, dentre duas explicações para um acontecimento, a mais engraçada é sempre a verdadeira.
Ou seja, a astrologia tem tudo a ver com o Amaré Stoudemire fazendo 49 pontos, acertando todos os 15 lances livres que tentou, pegando 11 rebotes, dando 6 assistências, 2 tocos e ainda roubando 5 bolas. É claro, um garrafão composto por Troy Murphy e Jeff Foster defendendo deve ter alguma relação com a atuação do Amaré também, mas chegou um momento em que simplesmente não fazia diferença quem estivesse em sua frente – até porque, com aqueles novos óculos, suspeito que ele não consiga enchergar nada à frente do nariz e simplesmente bata para dentro do garrafão tentando enterrar a bola numa região em que ele imagina ser o aro. Nada mais explicaria sua agressividade, e o resto do Suns parecia estar se divertindo com a brincadeira, passando a bola para ele o tempo todo mesmo quando não havia muita razão lógica. Amaré recebia na cabeça do garrafão, quase na linha de 3, e mandava ver. Só a astrologia explica.
Enquanto isso, LeBron James também sentia as boas vibrações místicas e teve outro jogo inacreditável. Foram 41 pontos, 9 rebotes, 6 assistências e 4 roubos de bola. Mas o sensacional foi o modo com que ele conseguiu esses números. O Bulls colocou todo o elenco, em turnos, para marcar o LeBron. No intervalo, achei que fossem fazer uma promoção para sortear alguns torcedores e deixá-los tentar também. O mascote do Bulls só não foi marcar o LeBron um pouco porque fingiu ter dor de barriga. E LeBron James humilhou tudo que foi colocado em sua frente, sempre do jeito certo. Derrick Rose? Levou na força para dentro do garrafão. Ben Gordon? Empurrou com as costas, arremessando por cima do nanico. Drew Gooden? Saiu e arremessou próximo ao perímetro. Deng e Nocioni? Venceu na velocidade, driblando para dentro. Marcação dupla, tripla? Passes certeiros para seus companheiros, incluindo vários que Delonte West converteu sem pensar duas vezes – aliás, o garoto joga cada vez melhor depois de ter vencido a depressão. Eu estou acostumado com o LeBron que faz o que quer na quadra, mas não com um LeBron tão inteligente e cheio de recursos. Será que foi o seu tempo na seleção americana ou o alinhamento de Saturno com Vênus? Fico com a explicação astrológica.
Outros jogadores também aproveitaram as boas energias. O novato Superintendente Mario Chalmers cada vez mais se confirma como o armador titular do Heat, ele sempre dá um jeito de fazer alguma coisa útil em quadra. Tem dia que são arremessos de último segundo, tem dia que são assistências, em outros é a correria. Ontem, foram 9 roubos de bola. E mal deu pra perceber, afinal seu coleguinha Wade estava fazendo 29 pontos com 7 rebotes, 6 assistências, 5 roubos e 3 tocos. Ai.
Até uns jogadores “nada a ver” aproveitaram o momento, Nate Robinson acertou todas as 5 bolas de 3 pontos que tentou na partida entre Knicks e Bobcats, por exemplo. Não sei quem ganhou, não vale a pena ir conferir, estou muito ocupado cutucando o nariz, mas ouvi dizer que foi em New York e que o técnico Larry Brown foi muito vaiado. É bom ele se acostumar, se ele não seguir uns conselhinhos, vai começar a ouvir essa mesma trilha sonora lá em Charlotte também.
Até o Nenê teve um bom dia, com 19 pontos, 15 rebotes, 3 tocos e todos os 7 lances livres acertados, algo que rompeu toda a estrutura normal do espaço-tempo. Em algum lugar do mundo, como consequência, nasceu um bezerro de duas cabeças. Ou outra Mallu Magalhães. Mas, astrologia à parte, o Nenê teve boas partidas de vez em quando – só é uma pena que ele não jogue contra o Warriors todos os dias. Ainda vale um post mais científico a respeito, mas todo jogador de garrafão que joga contra o Warriors e é marcado pelo Biedrins tem a melhor partida de sua carreira.
Mas nenhum jogador foi tão ajudado pelo movimento das estrelas ontem quanto Tony Parker. E eu nem estou falando dos movimentos que a estrela que ele tem na cama, a Eva Longoria, deve fazer todas as noites (aliás, parei para procurar e colocar a foto ali do lado por motivo algum, simplesmente porque eu mereço). Os astros influíram numa noite espetacular do armador francês que evitou mais uma derrota vergonhosa. A ajuda, convenhamos, era mais do que necessária.
Foram 55 pontos, 10 assistências, 22 arremessos certos em 36 tentados, 2 bolas de três pontos convertidas em 3 tentativas e 9 de 10 lances livres feitos. Surreal. E, ainda assim, não foi o bastante para que o Spurs escapasse de uma segunda prorrogação. Contra o Wolves. Não, tô falando sério, contra o Wolves. Tá, pode parar de rir agora.
A atuação cósmica do Tony Parker evitou a quarta derrota seguida do Spurs em quatro jogos, o que em algumas culturas significaria que eles se chamam Los Angeles Clippers. Então talvez seja hora de se preocupar.
Não vale nem a pena dizer que o Manu Ginóbili está fazendo falta, isso seria tão óbvio quanto dizer que a Alinne Moraes é a senhora do Universo conhecido, mas supostamente o Spurs deveria ser um time profundo com o melhor ala de força da história humana, um dos cinco melhores armadores que já comeram uma estrela de televisão e um banco experiente. Então, como isso não parece estar se comprovando, talvez seja a hora certa para admitir umas verdades incômodas. A primeira é que o Duncan é um ser humano, não um ciborgue construído pelo governo dos Estados Unidos, e como ser humano ele perde partidas quando o resto do time fede, ganhando quando tem apoio do resto do elenco. Uns anos atrás todo mundo diria que o Garnett era um bosta porque não ganhava nada, mas vejam só, acho que está meio óbvia a importância do resto do grupo, não? Pra mim, o mesmo vale para o Iverson, mas disso a gente fala depois (e comprova em breve, também).
A outra verdade que devemos considerar é que a tal da “experiência” é um eufemismo para “velho pra caralho, caindo aos pedaços, cheirando a poeira por debaixo das rugas”. Na hora de juntar as peças complementares, o Spurs nunca pensou no futuro e prefere jogadores vividos que sobrevivam ao menos durante uma temporada. Ao fim dela, acham outras peças. Jacque Vaughn, Kurt Thomas, temporada passada tinha até o Damon Stoudamire, e não dá pra esquecer do atual titular Michael Finley. Por isso, um tempo atrás, quando o Spurs resolveu assinar o ala Ime Udoka, fiquei muito assustado. Ele estava se destacando naquele Blazers em reconstrução e é um excelente jogador defensivo cuja especialidade são os arremessos de 3 pontos da zona morta. Jogador defensivo que arremessa da zona morta, isso lembra alguma coisa, crianças? Naquela hora, um arrepio passou pela minha espinha: sem quase ninguém perceber, o Spurs havia contratado o próximo Bruce Bowen, o Bowen do futuro. Parecia um projeto de renovação. Em represália, em algum lugar do mundo nascia um macaco albino, e mais um filho do Pelé.
A tendência não se confirmou. O Spurs continuou se livrando das suas escolhas de draft, mandou o Luis Scola de graça para o Rockets (quem está agradecido levanta a mão) e manteve a caça anual por peças de reposição. Essa é uma mentalidade de quem acha que seu núcleo vai vencer para sempre e que Duncan dorme num pote de formol, algo digno da franquia mais vencedora do mundo dos esportes na última década. Mas é uma postura não muito inteligente para os próximos anos e o primeiro sintoma podemos acompanhar agora. Sem uma das estrelas, o time não tem profundidade, ânimo, criatividade ou jogo físico. Roger Mason Jr. foi pego esquecido e fedendo num albergue e está jogando muito pelo Spurs, fazendo seus pontos e sendo a única presença do banco de reservas. O calouro do time, George Hill – escolha de draft que o Spurs finalmente resolveu manter – é até que um reserva sólido. O Udoka está lá, treinando com armas brancas para ser o Bowen do século XXI. Mas se tem uma coisa de que o Spurs precisa é sangue novo, gente atlética, novas caras, uns novatos, qualquer consideração que seja pelo futuro.
Duncan e Parker ainda são dois dos melhores jogadores da NBA, mas às vezes isso não é o bastante. E, definitivamente, isso não pode durar para sempre. Se o Parker tiver que fazer 55 pontos toda vez que eles quiserem ganhar do Wolves, esse negócio não vai dar certo. Só que, como disse o Denis numa conversa um dia desses, sem o Spurs essa tal de NBA vai perder grande parte da graça – seja pra quem torce a favor, seja pra quem torce contra. Então, deixo meus votos de que o Ginóbili volte logo. E de que o Spurs pense um pouco no restante do elenco, ao invés de se contentar, ano após ano, com simples peças de reposição. Quem sabe eles ficam com uma escolha de draft pelo segundo ano seguido? Vai ser um belo começo.