>Do prêmio de MVP e de como ninguém deve ganhá-lo

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“É canja, é canja, é canja de galinha!”

Antes de mais nada, abaixa essa pedra. Isso, com calma, devagar. Pode ficar tranquilo que não vou escolher o ganhador do prêmio de MVP sendo que a temporada nem começou direito, não precisa me apedrejar. Até porque eu acho o prêmio de “Jogador Mais Valioso” o prêmio mais idiota desde aquele torneiozinho de verão da FIFA que o Corinthians ganhou em 2000. Minha intenção é apenas apontar os tipos de candidatos que surgem todos os anos, invariavelmente, que geram milhões de discussões por aí e que tornam a escolha do ganhador um problema grave. Com mais de um mês de temporada, já dá pra ver direitinho quem se encaixa em cada um dos padrões de candidatos. E como, por isso, parece que ninguém vai levar o troféu pra casa.

A estrela em times bons demais:

É até engraçado. Lembra quando o Lakers fedia, não tinha chances reais de título de jeito nenhum e o Kobe carregava a equipe nas costas? Uma evolução meio Pokémon de Bynum, duas trocas quase criminosas (Ariza e Gasol) e um azeitamento no elenco depois, o Lakers agora é tão bom, mas tão bom, que o Lakers poderia sair de férias e esquecer o Kobe em casa sem perceber, no estilo “Esqueceram de mim” (mas numa versão para maiores de 18 anos, afinal o Kobe não é bobo nem nada e iria gastar melhor seu tempo sozinho ao invés de ficar dando uma surra em dois bandidos pé-de-chinelo). Como resultado, Kobe está jogando apenas 33 minutos por partida – menor média dos últimos 10 anos de carreira. Kobe tem mais quartos períodos inteirinhos assistindo do banco de reservas do que o Knicks tem de vitórias nas duas últimas temporadas somadas (meta diária de piadas com o Knicks: completa). E aí, como fica o papo de “jogador mais valioso” se o time às vezes nem percebe que o Kobe está lá? O mesmo acontece com LeBron James, que vem jogando apenas 35 minutos por jogo num time que até ontem fedia pra burro e agora chuta traseiros mesmo sem ele no final dos jogos. Os dois podem descansar sossegados, chegar nos playoffs com o HP cheio (não a impressora e muito menos a banda de pagode, estou falando de “pontos de vida” – nerd é foda) e então assumir os jogos supostamente mais complicados. Mas o que acontece é um estranho paradoxo: quanto melhor eles ficam, menos eles jogam, melhor seus times se portam sem eles, e menores são as chances de que ganhem MVP. E você achando que era só a Maísa que não fazia sentido…

O quase-MVP:

Esse só acontece de vez em quando, mas gera um problema terrível. Se o cara quase foi MVP na temporada passada e dessa vez está apresentando números praticamente idênticos numa campanha inferior à anterior, como dar o prêmio para o sujeito? Chris Paul perdeu por pouco com 21 pontos, 11.6 assistências, 4 rebotes e 2.7 roubos por jogo. Nessa temporada está tudo muito ligeiramente melhor: 21 pontos, 11.8 assistências, 5.6 rebotes e 2.8 roubos por partida. Mas a lógica deveria ser a seguinte: se ele fez isso temporada passada e não foi o bastante para superar Kobe e seu Lakers, por que seria o bastante agora que o Lakers de Kobe tem tudo para bater recordes de vitórias e o Hornets anda completamente inconsistente? Fora aquela regra velada do “novo demais”, de que ele vai ter mais umas milhares de chances de ser MVP em sua longa carreira e blablablá. Vamos fazer uma aposta de quantas vezes esse argumento vai ser usado para o Derrick Rose? Aliás, quem falou que o Beasley era melhor do que ele não manja nada de basquete e deveria ser proibido de, por exemplo, escrever em qualquer blog de basquete por aí.

O jogador no pior time:

Sempre tem um cara que joga demais, poderia ser o jogador mais valioso dessa budega, mas ninguém nem fica sabendo dele. Quem assistiu mais de 3 jogos do Al Jefferson no Wolves, por exemplo, levanta a mão. Pois é, fora a gordinha da terceira fileira que é a mãe do moço, ninguém presta atenção na estrela do time dos lobinhos. No caso de Dwyane Wade todo mundo assiste, presta atenção e bate palmas, mas o time fede e se conseguir ir aos playoffs vai ser por muito pouco. Então o Wade e sua temporada monstruosa estará, no máximo, no pior time dentre os melhores – o mais capenga dentre os que atingirão os playoffs. Como o prêmio leva muito em consideração as vitórias e o desempenho da equipe, Wade dificilmente poderia levar o prêmio. As médias são absurdas: 30 pontos, 5 rebotes, 7.5 assistências, 2.3 roubos, 1.7 tocos e acertando metade de seus arremessos. Isso é o bastante para colocá-lo entre os três primeiros em roubos, oitavo em assistências e líder em pontos (sem contar os comentários sobre melhor defensor do ano). Mas o Heat por enquanto está em sétimo no Leste com muito custo, o que machuca a campanha do Wade. Se nem for pros playoffs, aí é que tá tudo lascado mesmo.

O jogador que não ganha sozinho:

Vamos imaginar que o Spurs faça uma reviravolta histórica, escale o Oeste até o topo, ganhe dos grandes times, volte aos velhos tempos de dominância, descubra a cura para o câncer e erradique a mortalidade infantil e o analfabetismo (como diria o Pelé, “a-bê-cê, toda criança tem que ler e escrever“). De quem vai ser a responsabilidade? Quem vai receber os aplausos de todo o Universo e a consagração de jogador mais valioso? Ninguém, ué. Tony Parker teve as melhores partidas de sua carreira mas não conseguia fazer o Spurs ganhar sem Ginóbili, o Duncan voltou no tempo e teve partidas dominantes tanto no ataque quanto na defesa mas não conseguia vencer sem Parker, e o Ginóbili não pode ser MVP porque é argentino – brincadeira, ele não pode ser MVP porque Duncan e Parker tiveram atuações impressionantes sem ele, o que mostra demais o talento da equipe e acaba tacando ele no primeiro caso, abordado lá em cima, dos caras em times bons demais.

Resumindo, a temporada tem jogadores em grandes fases, mesmo que os números e os minutos de Kobe e LeBron não indiquem isso muito bem – na verdade, os números de Kobe e LeBron apenas mostram a discrepância entre os líderes (tanto do Leste quanto do Oeste) e o resto das equipes (a derrota do Lakers pro Kings ontem não conta). Cabe a nós acompanhar de muito perto, degustar cada minutinho, e arrancar o termo “MVP” dos nossos vocabulários porque todos as grandes estrelas não merecem ganhar o prêmio, que é definido por critérios bizarros. Os dois maiores sequer passarão muito tempo em quadra, o que obviamente não os torna melhores ou piores, apenas aponta a evolução de seus times e, de certo modo, retoma na miúda o velho debate: LeBron sai do Cavs em 2010 sendo que, pela primeira vez, tem um time de verdade que lhe deixa descansar em paz no banco – mas que, talvez justamente por isso, lhe torne difícil um título idiota como o de MVP? Embora o número de prêmios seja um critério nos debates acalorados em fóruns por aí, em que todo mundo tenta embasar suas opiniões em fórmulas matemáticas (“Karl Malone foi muito mais jogador, ele dava 1,3 cotoveladas por minuto!”), não acho que os jogadores sejam capazes de dar qualquer valor para essa palhaçada de “jogador mais valioso”. No fim das contas, diante do peso do tempo, LeBron será julgado pelo número de títulos que terá – o que, aliás, também é injusto, mas nem de perto tão ridículo quanto o prêmio de MVP.

Arrisco-me então a elaborar uma equação bastante bizarra mas, imagino, funcional: quanto melhor o Cavs, menos o LeBron joga, menos chances ele tem de ser MVP, mais chances tem de ganhar um título da NBA e menos chances ele tem de aceitar jogar no Knicks. Então, mesmo com meus terríveis talentos lógico-matemáticos, de uma coisa eu tenho certeza nessa equação: o Knicks sai perdendo.

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