>Doce ilusão

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Rir mesmo quando você é a piada


O Memphis Grizzlies é um dos meus times favoritos de assistir. Pelo jeito de jogar, pelas enterradas do Rudy Gay, pela evolução do Mike Conley, para chorar de emoção e orgulho com o renovado Zach Randolph e porque é bem comum eles estarem envolvidos em jogos emocionantes decididos no quarto período. E eles não tem padrão, podem chegar no último segundo perdendo por um ponto para o Heat (quando ganharam com uma cesta de último segundo do Gay) e depois perder na mesma situação contra o Kings, como foi nessa semana. Com poucos segundos no relógio o Grizz apostou em OJ Mayo para um arremesso lindo (se bem que ele andou, não?), mas simplesmente não foi o bastante. No segundo que restava Tyreke Evans conseguiu pegar a bola e acertar uma bola de antes do meio da quadra.

Foi épico! Não só pela dificuldade da cesta, mas porque foi em casa e a torcida foi ao delírio. A cereja do bolo foi o Donte Greene correndo e pulando quando a bola ainda estava no ar. O novo apelido dele? Biff Tannen. Que os que já assistiram “De volta para o futuro” saboreiem a genialidade da piada. Reparem também no repórter completamente idiota que chega a entrar em quadra quando o Kings está colocando a bola de volta em jogo para o Evans arremessar, deve ser uma espécie de Régis Rösing californiano narrando um game-winner no momento em que ele está acontecendo.

Provavelmente essa jogada já tem lugar cativo no Top 10 da temporada junto com a enterrada do Blake Griffin no Timofey Mozgov, os outros que briguem pelas outras oito posições. Mas ao contrário da promissora temporada do Clippers (sério!), que aos poucos está engrossando para cima de equipes mais fortes, o Kings parece cada vez pior. Essa vitória heróica sobre o Grizzlies pode ser um ponto positivo isolado no time que é, hoje, o pior da NBA.

O primeiro problema deles é em relação ao elenco. Levando em conta o time do ano passado eles apenas perderam os úteis Andres Nocioni e Spencer Hawes para o Sixers em troca do Samuel Dalembert, que não tem sido a âncora defensiva que se esperava dele. Outra mudança foi a adição do novato DeMarcus Cousins, que por enquanto não tem rendido nem metade do que se esperava dele, um privilégio que não é só dele na classe de novatos desse ano. E não é só que ele está jogando mal, muita gente tem questionado se ele tem cabeça para encarar a NBA. O pivô comete muitas faltas (é o segundo mais faltoso da NBA com 4 por jogo) e perde a cabeça com as marcações, sem contar quando resolve que vai ganhar o jogo no quarto período e comete um erro atrás do outro. Em um jogo contra o Bucks ele fez um monte de merda, foi pro banco, se recusou a cumprimentar o técnico e criou um clima péssimo no vestiário de um time que já está mal pelo excesso de derrotas.

Com essas questões já sendo discutidas não pegou bem o que ele fez com o Reggie Williams em um jogo contra o Warriors, quando usou as mãos para simular uma enforcamento no próprio pescoço depois que o ala adversário errou um lance livre decisivo. “Choke”, que significa enforcar, estrangular ou asfixiar é a palavra usada pelos gringos para dizer quando alguém amarelou ou tremeu na hora de decidir.

Ou seja, além de nervosinho, do exagero nos erros, da óbvia falta de paciência e temperamento durante os jogos, ele ainda estava sendo absurdamente escroto. O próprio Sacramento Kings multou o jogador pela sua atitude. Pode-se questionar se era pra tudo isso, mas a soma de tudo faz o Kings não estar tão orgulhoso de seu draft como estava no ano passado.

E é nos jogadores do Draft do ano passado que achamos o segundo problema do Kings: Omri Casspi e principalmente Tyreke Evans não estão jogando no mesmo nível do ano passado. O problema do Casspi é o mesmo de outros jogadores da equipe como Beno Udrih, Jason Thompson e Donte Greene. Em um dia são gênios e no outro parece que não entraram em quadra, não é à toa que o técnico Paul Westphal muda tanto o quinteto titular, não dá pra saber em quem confiar, todos são bons e nenhum é confiável.

Se eles fossem assim e pelo menos o Tyreke segurasse a barra sendo a base do time, tudo bem, eles não seriam bons mas não seriam os piores, mas o Tyreke despencou de qualidade desde o ano passado. Seus números caíram em pontos (de 20 para 17), rebotes, assistências, aproveitamento de arremessos (de 45% para 38%) e é só assistir dez minutos dele jogando pra ver que não é o mesmo cara. Depois de um ano de novato atuando como um veterano ele pela primeira vez parece sem confiança no seu jogo.

No começo a preocupação maior era com a cabeça do jogador. Antes dele entrar na NBA existiam uns questionamentos sobre seu profissionalismo e sua vontade de jogar, mas depois do ano passado fora de série é claro que todo mundo esqueceu. Acontece que, felizmente, não parece ser isso mesmo. O que está parando Tyreke Evans é uma contusão no seu pé, fascite plantar, que pode ser tratada com ou seu intervenção cirúrgica. Ele decidiu não operar e jogar com dor, mas ela foi aumentando e o tratamento não estava respondendo. Foi então que, semana passada, ele confessou que já cogita largar essa temporada para se cuidar. Um número que mostra claramente as dificuldades físicas do Tyreke é o que mostra os arremessos tentados no aro, enterradas e bandejas. Eram 8.4 no ano passado e 5.4 nessa temporada, hoje ele vive longe da cesta.

Seria bom se fosse só isso, mas os problemas de Tyreke Evans e do Kings ainda são piores. Segundo Paul Westphal o seu jogador tem passado por uma fase de muitos problemas na vida pessoal, “Tem muita coisa acontecendo na vida dele, é uma época difícil”. E o próprio jogador confirmou: “Está me afetando sim, tem muita coisa passando pela minha cabeça e eu ainda preciso achar um jeito de deixar isso de lado”.  Ninguém diz exatamente o que é, e acho que nem interessa, mas está afetando o seu jogo. A soma do problema físico com os pessoais fez o Tyreke ser um dos vários jogadores do time a aparecer acima do peso para o começo dos treinamentos. Dizem que Tyreke estava 7kg mais gordo que na temporada anterior e o Donte Greene 12kg. E não de massa muscular, mas de Eddy Curry mesmo. Muito tempo de treinamento foi perdido tentando recondicionar estes e outros membros do time que chegaram fora de forma.

Já deu pra fazer a conta completa né? O elenco não é tudo isso, é irregular, piorou em relação ao ano passado, o novato que deveria impulsionar o time dá mais dor de cabeça que soluções e a estrela está com problemas físicos e particulares. Depois de saber tudo isso dá pra ficar surpreso se eles acabarem a temporada com o menor número de vitórias? A vitória contra o Grizzlies foi empolgante, foi um bom jogo do Tyreke Evans (que está melhorando pouco a pouco), mas é uma ilusão, eles não vão ser nada além disso nessa temporada e precisam pensar no futuro, mais coisas precisam mudar.

Chegaram a comentar que um dos donos do Kings disse que era a hora de recomeçar tudo do zero, cogitando demitir Westphal e Geoff Petrie, o General Manager, ao mesmo tempo. Mas foi logo desmentido e a afirmação real foi de que o time precisa mesmo ser remodelado, mas sem demissões. Eles estão usando seus jogadores talentosos e de lua para conseguir um bom armador para liberar o Tyreke Evans para a posição dois, foram atrás de Aaron Brooks e o negócio não rolou, dizem que Jonny Flynn é o próximo alvo.

Se nenhuma troca der certo fica para a temporada que vem, não sabemos como serão as novas regras salariais, mas de qualquer jeito o Kings, que já é o time que menos gasta com salários na NBA (menos da metade que o Lakers, por exemplo), vai contar com o fim do salário do Dalembert para ter espaço para atrair muita gente que esteja atrás de grana. É trabalhar para melhorar no resto de temporada para mostrar que um bom time pode nascer dessa confusão e assim chamar a atenção de alguns bons jogadores. Espero que dê certo, é triste ver um jovem time que era um dos mais empolgantes da temporada passada estar jogando tão mal.

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