>Dois Celtics diferentes

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Paul Pierce faz manha: só sai do chão quando puder
arremessar todas as bolas e ganhar um PS3
Depois de acertar apenas 2 dos 11 arremessos que tentou no Jogo 2 das Finais, Paul Pierce diminuiu o trabalho defensivo do Ron Artest, dizendo que o ala do Lakers não era o culpado pela sua falta de mira. Pierce afirmou que os erros haviam sido culpa dele mesmo, que o Artest não estava fazendo nada de especial. A princípio, achei que ele estava apenas sendo escrotinho como sempre, diminuindo o adversário. Mas agora estou começando a acreditar: a culpa é mesmo do Paul Pierce. Não apelas pela falta de mira, mas também pela derrota em casa do Celtics no Jogo 3.
Estou longe de ser um daqueles odiadores birutas do Paul Pierce, pelo contrário, gosto muito do jogo do sujeito e sempre fiquei feliz de vê-lo assumir a responsabilidade no Celtics, como se a casa fosse dele e seus amigos estivessem apenas visitando. Mas os jogos dessa final estão deixando uma coisa cada vez mais clara: existem dois Boston Celtics completamente diferentes. Um é o que aparece quando o time puxa o contra-ataque e coloca a bola nas mãos do Rajon Rondo. O outro é o que aparece no jogo de meia-quadra e que é, quase invariavelmente, comandado por Paul Pierce. Nem preciso dizer qual desses times chuta traseiros e qual deles fede um bocado e corre o risco de perder a série.
Quando o Celtics consegue puxar um contra-ataque após um rebote defensivo, a movimentação ofensiva é impecável. Rajon Rondo recebe a bola e parte para a quadra de ataque. O garrafão do Celtics se mata na corrida, sempre deixando Bynum e Gasol para trás, e constantemente Garnett e Kendrick Perkins conseguem uma bandeja fácil, ponte-aérea ou ao menos cavar uma falta. A defesa de transição do Lakers não é das melhores, surge a dúvida de quem deve marcar quem, quem deve cobrir quem, e o garrafão fica exposto. Aí, quando o Lakers começa a correr desesperado na defesa para fechar o caminho para o aro, surge Ray Allen. É muito legal ver seu treinamento em quadra antes dos jogos, e um dos movimentos mais treinados é uma corridinha tranquila vinda do meio da quadra, uma freiada na linha de três pontos, e um arremesso rápido e certeiro dali. O Ray Allen é o melhor arremessador de três pontos em transição atualmente e, ao contrário do Mavs que costuma só fazer isso, o garrafão veloz do Celtics abre espaço para os arremessos em contra-ataque – que por sua vez abrem mais espaço para o garrafão, ou seja, a defesa em transição do Lakers é um cobertor curto demais.
O curioso é que mesmo quando o contra-ataque não funciona e o Lakers consegue se posicionar defensivamente, forçando o Celtics a ter que construir uma jogada, a bola estar nas mãos do Rondo já é lucro. É como se ele se sentisse no direito de atacar a cesta (e fazer uma cagada, que seja) por ter perdido a chance de um contra-ataque, tipo uma compensação. O Celtics é um time muito melhor com o Rondo atacando a cesta, mesmo quando dá errado, e também funciona muito bem quando ele resolve acionar Garnett no garrafão e o Ray Allen vindo de um corta-luz.
Nós sabemos que Ray Allen fedeu na última partida, errando todos os seus arremessos, mas vida de arremessador é assim. Um dia você acerta todos, bate recorde da linha de três pontos, e no outro erra tudo e teu time vai pro saco. É normal, bola de três não é confiável. Por isso arremessadores que não sabem quando parar prejudicam tanto os seus times, como Rafer Alston, JR Smith e até (em nível internacional) o Marcelinho Machado. Quando os arremessos caem o cara é herói, venceu o jogo, mas quando não caem jogou a partida no lixo porque não consegue fazer mais nada. Arremessadores precisam de cérebro para saber quando parar, saber não forçar arremessos, envolver os companheiros, saber forçar a reação da defesa mesmo quando os arremessos não estão caindo. Na pior das hipóteses, esses arremessadores precisam de bons técnicos que saibam sentar seus traseiros quando as coisas não estão dando certo para que o time não saia prejudicado. Ray Allen tem cérebro e, por mais bizarro que pareça, sua partida horrorosa nível Preta Gil não prejudicou o Celtics tanto assim simplesmente porque os arremessos não foram forçados ou desnecessários. Uma hora ele vai fazer exatamente a mesma coisa e os arremessos vão cair, então o Lakers precisa sempre marcá-lo, sempre, não importa se os arremessos caem ou não (ao contrário do Rafer Alston, por exemplo, que você pode deixar livre num dia ruim porque você sabe que é melhor que ele arremesse porque o time vai pro saco). Mesmo errando tudo, o Lakers temeu Ray Allen e isso é essencial para forçar a defesa a se mexer.
O Garnett também veio de partidas horríveis, o primeiro jogo foi patético de um jeito triste, vou até queimar o filme daquela partida para que meus filhos não saibam que aconteceu. Mas ele é inteligente e sabe o que fazer de um jogo para o outro, o que mudar, forçando a velocidade do time, fazendo pontos fáceis nas costas de Gasol e Bynum, e dessa vez levando a bola em direção ao Gasol, e não pra longe dele. É que o Gasol é muito mais comprido do que o Garnett e está destruindo nos tocos, então o Garnett estava tentando arremessar por cima dele através de giros, se jogando para trás, indo na direção oposta à cesta. Mas ele logo entendeu que os juízes estão apitando qualquer peidinho, se alguém pensar na mãe do adversário toma falta só pela intenção, se pensar nela pelada está expulso, então Garnett entendeu que dá pra ir em direção ao Gasol sem problemas, criando contato no garrafão, porque vai receber mais faltas do que tomar tocos. O espanhol também não é burro e entendeu a arbitragem, então tentou contestar menos as investidas do Garnett e acabou criando espaço para o ala do Celtics usar seus movimentos elegantes debaixo do aro.
Não tem erro: puxando contra-ataques, ou pelo menos saindo rapidamente com a bola na linha de fundo após tomar uma cesta, o Rondo pode atacar a cesta, Ray Allen pode fazer seus arremessos de transição ou em movimentação, mesmo que eles não caiam, e o Garnett pode ser acionado no garrafão para se aproveitar da arbitragem e equilibrar as coisas perto do aro. É simples. Quando o Rajon Rondo sentar, quem precisa entrar é o Nate Robinson, que está imitando bem o Rondo, atacando a cesta e passando muito bem a bola para os jogadores de garrafão. Nada de colocar o Tony Allen armando, porque ele não tem confiança de bater bola na frente de Fisher ou Kobe e acaba dando a bola para o Pierce para não se comprometer. E aí a merda começa.
Quando o Celtics não corre, quando não aumenta o ritmo da partida, quando o Rondo não fica com a bola nas mãos, quando o Tony Allen está armando, as jogadas do Cetics se resumem a uma coisa: dar a bola para o Paul Pierce e assistir. O Garnett estava chutando traseiros no Jogo 3 e mesmo assim passou longos minutos sem receber a bola olhando para o Pierce enquanto o time afundava. Uma hora fiquei esperando que o Garnett tirasse uma cruzadinha do calção e começasse a preencher. Pontos fáceis dos minutos iniciais de jogo começaram a ser substituídos por arremessos contestados do Paul Pierce, o garrafão ficou abandonado, e o Celtics parou de cobrar lances livres. Ali eu já sabia que o time ia perder e fiquei torcendo para o Pierce voltar para o banco rapidinho, ou ter um aneurisma.
O engraçado disso é que o Artest saiu com 2 faltas logo no começo do terceiro jogo, então o Pierce estava sendo marcado pelo Luke Walton (que sozinho tem mais cérebro do que o Knicks inteiro somado, mas não defende necas). Não importa, a dificuldade do Pierce está sendo, como ele afirmou, independente da marcação. Seus arremessos de média distância não caem, suas infiltrações estão estabanadas e os arremessos de três são forçados, mesmo quando entram. Aqui, o resultado não interessa, o Pierce pode errar todos os arremessos ou então acertar quase metade deles, como foi no Jogo 3. O que importa é que o Celtics fica estagnado, sem garrafão, sem ameaças da linha de três para abrir o caminho para a cesta, sem armação de jogadas.
O que o Celtics precisa fazer para igualar a série é forçar a correria o tempo inteiro, sem parar, esquecer que eles são velhinhos e abusar da cadeira de rodas. Só isso garante a bola nas mãos do Rondo, coloca o Paul Pierce em segundo plano (onde ele prejudica menos e, também, pode produzir mais), pega a defesa do Lakers desprevenida, usa melhor as bolas de transição do Ray Allen, facilita os pontos no garrafão, e força o Lakers a cair nessa armadilha e repor a bola com velocidade. O Rajon Rondo é um excelente ladrão de bola nas reposições de linha de fundo, então se o Lakers repor sempre rápido, entrando na brincadeira da correria, o Rondo sai de quadra com um punhado de roubos de brinde pra colocar no currículo. Se o Lakers quer (e está conseguindo) vencer a série na defesa, é hora do Celtics dar um jeito de não ter que enfrentar a defesa deles. Roubos de bola, correria, e outro ponto fundamental: cometer menos faltas.
Se toda vez que o Lakers bater para dentro o Celtics cometer faltas, o jogo fica truncado e a reposição de bola é lenta e pega a defesa do Lakers já montada. Mesmo tomando cestas fáceis, é melhor não cometer as faltas e enfrentar o time de Los Angeles do outro lado desmontado, com falhas de marcação. Por mais bizarro que seja dizer isso, o Celtics precisa ser menos agressivo, mais mole, e mais veloz. Se não dá na força, o Celtics é inteligente e experiente o bastante para saber vencer de outros jeitos. Só precisa dar uma fria maior no Paul Pierce, ou então lhe fazer um implante de cérebro (já pensou o Pierce com o cérebro do Luke Walton? A medicina deveria tentar). Se o Pierce tiver um grande jogo, marcar 30 pontos, o Celtics vai vencer, mas na próxima partida sua monopolização do jogo vai levar a uma derrota, e o time de Boston não pode se dar ao luxo de ficar subindo e descendo. Os próximos jogos são em casa e o Celtics precisa vencer os dois seguintes, sem erro. Hoje à noite, veremos se os vovôs conseguem botar isso em prática.

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