Dono da Bola – Cleveland Cavaliers

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Dan Gilbert não é pão duro como a foto sugere

Dan Gilbert
Temporadas no comando: 6
Playoffs: 5
Títulos de divisão: 2
Títulos de conferência: 1
Títulos da NBA: 0

Riqueza estimada: 1.5 bilhão de dólares
Comprou o time por: 375 milhões de dólares (2005)
Valor atual da equipe: 355 milhões de dólares
Maior contrato oferecido: Larry Hughes  (US$60 milhões, 2005)
Técnicos contratados: 2 (Mike Brown e Byron Scott)

Durante um bom tempo Dan Gilbert teve uma história comum para os donos de time da NBA. Era um empresário de sucesso, ficou milionário, depois bilionário e por gostar de esportes decidiu ter como investimento/hobby um time de basquete. O cara era tão comum que muito torcedor da NBA nem sabia o nome dele, mas isso mudou de um ano pra cá. Nos últimos meses deve ter sido o dono de equipe mais citado pela imprensa especializada, ultrapassando até figurões como Mark Cuban, James Dolan e Jerry Buss.

Comecemos com a história tradicional. Em 1985 Dan Gilbert reuniu os 5 mil dólares que juntou entregando pizzas na faculdade e fundou a Rock Financial, empresa de crédito imobiliário. A companhia foi crescendo pouco a pouco até que estourou nos anos 90 quando decidiu usar a internet para fazer os seus negócios diretamente com os clientes. Em 2000 uma empresa chamada Intuit comprou a Rock Financial, mas três anos depois Gilbert a comprou de volta e como CEO a renomeou para Quicken Loans. Sim, você conhece esse nome, é o mesmo do ginásio onde o Cavs joga, apelidado de “The Q”.

Como homem de negócios o Dan Gilbert é um sucesso. Sua empresa sobrevive muito bem mesmo sendo da área que desencadeou a crise econômica de 2008, ficou no Top 30 da Forbes de melhores empresas para se trabalhar e o cara foi listado no ano passado como o 293º homem mais rico dos EUA.

Mas o que achei de mais interessante na história do Gilbert é como ele está investindo em duas das cidades mais decadentes dos Estados Unidos: Cleveland e Detroit. Ambas vivem recessões terríveis há tempos e que foram agravadas pela crise econômica, sofrem com desemprego recorde nos EUA e parecem em um buraco sem fim. Não vou aqui julgar se Gilbert foi investir nas duas cidades por apego emocional (ele nasceu em Detroit e é dono do Cavs), bondade ou só porque era um nicho a ser explorado, não importa, vale o que ele faz. Em Cleveland e em outras cidades grandes de Ohio ele conseguiu uma liberação para cassinos, o que trouxe investimentos, empregos e, quando os cassinos ficarem prontos, provavelmente muitos turistas. Para Detroit as mudanças foram maiores: A sede da Quicken Loans mudou para lá e Gilbert começou a financiar a criação de empresas de tecnologia sediadas em Detroit, sem contar que ele comprou diversos prédios no centro da cidade para poder reformá-los, usá-los e assim revitalizar a cidade.

Ele é, portanto, um cara importante no seu meio, nas suas cidades, mas, como a maioria dos donos das equipes, não era muito de chamar a atenção para os fãs da NBA. Ele ficava lá no seu camarote e as grandes e polêmicas decisões sobre os rumos que o Cavs tomava eram feitas pelos técnicos e General Managers escolhidos por Gilbert, que tinham total autonomia e pouca pressão. O dono, aliás, nunca regulou muito dinheiro e aprovou trocas como a do Antawn Jamison e contratos insanos como o do Larry Hughes. Mas o foco saiu dos managers e passou para o dono há pouco mais de um ano, no instante em que LeBron James decidiu levar os seus talentos para South Beach.

Na fatídica noite do “The Decision”, quando torcedores do Cavs queimavam camisetas de LeBron nas ruas, Dan Gilbert resolveu se manifestar. Em poucas horas redigiu uma carta e a publicou no site do Cavs. Nela disse coisas como “EU GARANTO QUE O CLEVELAND CAVALIERS IRÁ VENCER UM TÍTULO DA NBA ANTES QUE O AUTOINTITULADO REI GANHE UM”.

Eu não tropecei sobre o Caps Lock do meu teclado não, ele escreveu esse trecho da carta em caixa alta mesmo, assim como escreveu toda a mensagem em Comic Sans, a fonte mais odiada da internet! Procure a coitada no Word e veja como não é das fontes mais bonitas, mas o ódio sobre ela na internet é algo digno de ganhar um site próprio, um documentário e matéria na BBC. Bizarrices da internet (e de designers metidos a artistas) à parte, só serviu para a carta, que já era uma demonstração de total descontrole emocional de Gilbert, virar piada mundial.

O esquecido dono de time então virou celebridade e as opiniões sobre ele eram as mais diversas possíveis. Por um lado ele era um herói por ter falado mal publicamente do LeBron James, o vilão número 1 da América no último ano, por outro ele era o dono incompetente que teve o mesmo LeBron no seu time durante anos e nunca ganhou um título. Alguns exaltavam o seu jeito desastrado-porém-sincero de se expressar, outros viam o cara como um maluco despreparado para qualquer função dentro do time. Comentários bons ou ruins, Gilbert se tornou um daqueles poucos donos que todo mundo lembrava o nome.

Quando o Miami Heat perdeu a final para o Dallas Mavericks todos esperavam uma palavrinha do dono do Cavs, afinal sua promessa da franquia ser campeã antes do LeBron estava ainda viva, e Gilbert não decepcionou: “Uma velha lição para todos: NÃO EXISTEM ATALHOS. NENHUM”. Novamente o Caps Lock é todo dele. Toda a torcida anti-Heat (o planeta Terra, menos Miami) foi ao delírio, mas os mais sóbrios o associavam a uma ex-namorada ainda inconformada e ressentida. Mesmo quando ganhava, Dan Gilbert não tinha uma imagem lá muito boa no mundo do basquete. Algo oposto da percepção no seu mundo de negócios.

Ele virou notícia de novo quando o Cavs venceu o sorteio que definia a ordem de escolha do Draft 2011, e não só porque ficaram com a escolha 1 (que virou Kyrie Irving), mas também com a 4 (Tristan Thompson). No dia do sorteio cada time escolhe uma pessoa para representar a franquia no programa de TV que anuncia o resultado, geralmente equipes levam seus donos, managers, algum jogador ou, como já aconteceu, sorteiam um torcedor para ir lá tentar dar sorte. O Dan Gilbert resolveu levar o seu filho de 14 anos, Nick Gilbert, que sofre de Neurofibromatose, um distúrbio genético de ficção científica que faz com que tumores possam crescer a qualquer hora em qualquer parte do corpo. Durante a participação de muita sorte, que reergueu a esperança da franquia voltar a ser relevante, ele ainda conseguiu juntar dinheiro e atenção para a “Children’s Tumor Foundation“, entidade de pesquisa especializada em tumores em crianças.

Foi um momento bonito que humanizou Gilbert e fez sua imagem melhorar. Por pouco tempo. Eis que semana passada lá está ele de volta aos noticiários. Nada a ver com LeBron James, nenhuma carta pública e ninguém para ver o lado bom das suas ações dessa vez. Dizem os noticiários norte-americanos que os donos das equipes da NBA estavam prontos para aceitar algumas propostas dos jogadores que estavam emperrando as negociações, mas quando se reuniram entre si, Dan Gilbert e Robert Sarver, dono do Phoenix Suns, rejeitaram as ofertas e tudo voltou à estaca zero. Eram coisas como o não congelamento e mantimento sem restrições dos salários atuais e a chance dos jogadores aumentarem seus salários quando a liga começar a dar mais lucros.

O que revoltou a galera é que um acordo entre as partes deveria estar, claro, em um meio termo entre o pedido por donos e jogadores. O meio termo estava lá, era só aceitar e bola pra frente. A maioria dos donos já tinha feito isso, mas Gilbert e Sarver deram pra trás. O dono do Cavs, aliás, sempre teve uma política de torrar dinheiro, pagar multas e contratar caras de salários estratosféricos para dar um elenco decente para LeBron James (fortunas para Anderson Varejão, Zydrunas Ilgauskas, Antawn Jamison, Mo Williams, Larry Hughes e outros caras mais ou menos), mas agora que ninguém mais quer ir para Cleveland, ele tem essa visão de que não é certo alguns times gastarem tanto e que qualquer economia é necessária. Defender só o próprio time ao invés da liga como um todo não pegou bem entre donos, jogadores, imprensa e torcida.

Foi a vez da internet de novo jogar sua fúria sobre Dan Gilbert e diversos blogs sobre NBA nos Estados Unidos desceram a lenha no cara que havia impedido o fim da greve. Como resposta ele disse no Twitter que “esses blogssistas inventam histórias do nada e tentam fazer seus leitores acreditarem. Triste e patético”. De novo não é erro meu, ele inventou a palavra “bloggissist” mesmo. Não preciso explicar a chuva de piadas e de blogueiros se chamando de blogssistas.

Não sabemos ao certo se o que aconteceu foi isso mesmo, pra falar a verdade nem sei o quanto apenas dois donos podem empacar o que os outros 27 querem. Mas é o que foi noticiado. Como afirmo desde que começou a greve, nenhum dos dois lados se sente na obrigação de contar tudo o que acontece para a imprensa e para os fãs, que são completamente ignorados, e tudo o que sabemos são de fontes anônimas que muitas vezes estão manipulando a imprensa para fazer jogos com a outra parte. Nesse caso, portanto, Dan Gilbert pode não ser vilão como muita gente quer que pareça. Mas convenhamos que é fácil, prático e conveniente jogar nossas frustrações com a falta de NBA em cima do cara da carta em Comic Sans.

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“Dono da Bola” é uma série que faz perfis dos donos de equipes da NBA. Abaixo o link para os textos já publicados dentro dessa coleção:

Philadelphia 76ers – Ed Snider
Boston Celtics – Wyc Grousbeck
Washington Wizards – Abe Pollin
Los Angeles Clippers – Donald Sterling

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