Dormir é para os fracos

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Se o Yi Jianlian achava seu Bucks ruim, o que dizer da seleção chinesa?

Vou até o espelho, vejo minha cara amassada, as olheiras bem marcadas, e então não tenho dúvidas: a Olimpíada começou. Vários fãs de basquete podem ir para o espelho e conferir em seus próprios rostos também, afinal muitas pessoas apareceram para assistir aos jogos ao vivo em nosso chat. Tudo um bando de maluco que levou nossas dicas para curtir as Olimpíadas a sério e está duelando com seus despertadores e tirando cochilos esporádicos. Mas a verdade é que, para um primeiro dia, valeu bastante a pena.

A primeira partida da noite foi um desimportante duelo entre Rússia e Irã que eu supostamente deveria ter deixado de lado em nome de importantes minutos de sono, mas era o primeiro jogo e – sabe como é vida de viciado – eu simplesmente não resisti. É claro que os russos não tiveram nenhuma dificuldade, a seleção iraniana praticamente não existe. Aliás, o pivô titular do Irã (cujo nome foi apagado de minha mente pelo sono) é um dos piores jogadores de basquete que já vi na vida, perto dele o lendário Greg Ostertag sentiria pela primeira vez que sua mãe tinha razão quando dizia que ele era “especial” durante sua infância. Ainda assim, vale dizer que nos poucos minutos em que o armador russo Kholden (o naturalizado americano JR Holden) ficou fora da quadra, seu time pareceu bem perdido. Ainda que ele arremesse demais (foram 19 tentativas, com 9 acertos) é bem óbvio que a organização da equipe está em suas mãos.

Após essa brincadeira, a Alemanha enfrentou a Angola. Bem, digamos que se fosse boxe, o treinador angolano teria tacado a toalha ainda no meio do jogo. Mas ainda assim tenho que dizer que gostei da seleção de Angola. O tal do Eduardo Mingas sabe o que está fazendo, os jogadores são simpáticos, não têm pelos nas orelhas e parecem ter bastante potencial. Acontece que ninguém ali poderia ser capaz de parar Nowitzki e Chris Kaman. O pivô do Los Angeles Clippers comandou o jogo, acertando 10 de seus 12 arremessos, num total de 24 pontos. Os míseros dois rebotes a gente ignora, nesses jogos porra-louca não é fácil sobrar tanto rebote para um pivô lento e branco, ainda por cima. Já o Nowitzki fez 23 pontos chutando apenas 9 bolas e acertando 7, incluindo 3 bolas de três pontos e todos os seus 6 lances livres. Não cheguei a ver o alemão bocejando em quadra porque acabei pegando no sono antes. Sabe como é, minutos preciosos e o jogo mais aguardado era o próximo.

Grécia e Espanha era o clássico da madrugada de sábado para domingo e tirou o sono de todo mundo que apareceu no chat. Foi um jogo muito técnico e bastante disputado – quer dizer, até certo ponto. A Espanha simplesmente foi mais consistente e de repente, sem ninguém perceber, criou uma vantagem no placar que era muito difícil de ser revertida. Cheguei a desconfiar que havia rolado uma propina para o sujeito do placar aumentar os pontos espanhóis, porque juro que nem percebi quando a vantagem foi aberta. Pela Espanha, o grande destaque foi Rudy Fernandez, acertando um punhado de arremessos de fora e dando boas enterradas. E aí, você já está com medo do Portlando Trail Blazers? Pois deveria.

Outro espanhol que estará iniciando na NBA temporada que vem é o Marc Gasol, o irmão gordinho do Pau Gasol. Dá pra imaginar a infância desses dois? Um chamava “pau”, o outro pesava mais do que todos os coleguinhas juntos. O Marc corre pra burro, tem bastante agilidade, mas aqueles que estão esperando uma estrela para compensar a ridícula troca do Pau Gasol para o Lakers, podem tirar o cavalinho da chuva. Pra mim, ao menos por enquanto, Marc é gordinho (e grosso) demais para os padrões da NBA. Pense num Eddy Curry branco, barbudo e que sabe levantar os braços. Melhor que ele, e que estará em 2010 na NBA, é o armador-sensação Ricky Rubio, que ainda não tem idade para beber mas já joga demais na seleção. Apesar de uns deslizes de pirralho, deu passes absurdos tipo Ronaldinho Gaúcho e é motivo mais do que suficiente para assistir aos próximos jogos da Espanha.

Pela Grécia, o Spanoulis até tentou equilibrar o jogo, mas não foi o suficiente. Para quem não se lembra, o grego era do Houston Rockets mas por não defender nem ponto de vista passou uma temporada inteira esquentando banco. Então, quando avisou que queria voltar para a Europa, o Houston conseguiu trocá-lo com o Spurs pelo argentino Luis Scola. A troca até hoje não faz um puto de um sentido, mas eu e os demais torcedores do Houston agradecemos. O Spanoulis voltou pra Europa e contra a Espanha mostrou que é realmente o Ginobili grego (se bem que, pelo nariz, o Ginobili já é grego em essência). Os dribles do Spanoulis são totalmente ginobilentos, ideais para dominar jogos e matar o técnico Greg Popovich do coração.

Por falar em argentinos, o melhor jogo da rodada foi sem dúvida Argentina e Lituânia. Os lituanos foram liderados por Sarunas Jasikevicious, um dos dez mil novatos estrangeiros que o técnico Don Nelson nunca colocou pra jogar no Warriors, e chegaram a abrir 12 pontos de vantagem com cerca de 5 minutos para o fim do jogo. A reação da Argentina veio na hora certa com arremessos certeiros, grande atuação de Carlos Delfino (que abandonou a NBA e lascou meu time de fantasy), e nos segundos finais o jogo já estava empatado. Ginobili teve a chance de virar o jogo nos segundos finais mas forçou um arremesso horrível. No rebote, Linas Kleiza, ala do Nuggets, acertou uma bola de 3 pontos com 1 segundo sobrando no relógio para vencer o jogo. Foi quase tão emocionante quanto a final de Arco e Flecha feminino por equipes, que estava rolando ao mesmo tempo.

Mas o jogo da Argentina serviu para levantar uma questão interessante. Muita gente reclama que na NBA qualquer coisa é falta, que as estrelas passam tempo demais cobrando lances livres, e até é verdade, já que David Stern mudou as regras de arbitragem justamente para aumentar os placares das partidas. Mas na partida com a Lituânia, ficou muito claro que tanto Oberto quanto Scola, que jogam na NBA, estavam desacostumados com a rígida arbitragem internacional. Os dois pulavam em bolas soltas no garrafão, criando contato que seria ignorado na NBA, e foram premiados com faltas nas Olimpíadas. Os dois ficaram pendurados com faltas boa parte do jogo e o Luis Scola estava visivelmente frustrado com as faltas de ataque que marcavam nele volta e meia. Pra mim ficou bem claro que a NBA é muito mais amena na arbitragem de contatos no garrafão – e de faltas flagrantes também, mas isso a gente comenta outra hora.

Ao fim desse jogo emocionante, foi o momento de tirar um cochilo de emergência. Afinal de contas, quem iria querer assistir Austrália e Croácia? Tudo que sei é que o Bogut fedeu (apenas 3 arremessos e um mísero rebote), que a Croácia praticamente não errou arremessos, e que foi um cochilo bem satisfatório sem nenhum resquício de culpa.

Mas já estava de pé para assistir China e Estados Unidos, claro. Vibrei um bocado com o começo chinês, acertando tudo quanto é bola de 3 pontos, incluindo uma do Yao Ming. A tática da seleção da China era visivelmente deixar o garrafão vazio e Yao passou a maior parte do tempo fora do garrafão, andando pela linha de 3 pontos e fazendo corta-luz para todo mundo. Essa mesma tática foi utilizada pela Rússia nos amistosos contra os Estados Unidos e se mostrou bem eficiente. Embora os rebotes ofensivos fiquem comprometidos, essa prática obriga Dwight Howard a sair do garrafão e principalmente impede os contra-ataques dos Estados Unidos, facilitando a transição defensiva. Obrigar a seleção americana a jogar basquete de meia-quadra é sempre melhor do que deixar que corram como uns malucos para enterrar na sua cabeça, e com isso a China manteve o jogo parelho por um bom tempo. Aos poucos foi se soltando no jogo, querendo correr mais, esquecendo um pouco a velocidade na hora de voltar pra defesa e perdendo bolas graças a marcação mais pressionada americana. Em uma pequena série de contra-ataques, os Estados Unidos abriram 20 pontos de diferença em um punhado de minutos. O fato de que os arremessos de 3 pontos simplesmente pararam de cair também não ajudou. A partir daí, o jogo foi só festa, com todo mundo querendo dar um passe mais maluco do que o outro, Yao ainda na quadra para deixar a torcida feliz (decisão bem imbecil, aliás) e o time reserva dos Estados Unidos com Michael Redd e Deron Williams se mostrando por muitas vezes melhor do que o titular.

As atuações de Dwyane Wade e LeBron James foram impecáveis, mas vamos deixar para falar neles após algum jogo de verdade em que não possam simplesmente sair correndo e enterrar porque são mais altos, fortes, atléticos e elegantes. Como o próximo jogo deles é contra Angola, vai demorar um pouquinho. Mas vamos estar aqui para assistir essa partida do mesmo jeito, por que não? Se a gente se empolga no chat assistindo Arco e Flecha debaixo de chuva, como é que iríamos resistir a um jogo de basquete, qualquer que seja?

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