>Double Drible – A história do NBA2K

>

Finalmente chegou a hora de começar nossa seção “Double Drible”, sobre videogames de basquete. Nosso primeiro post será sobre um confronto tão problemático quanto israelenses e palestinos, Lakers e Celtics, ou os torcedores do Jazz e o bom gosto. Vamos lá!

Naquela época, o Iverson valia mais do que um sapato velho

No Brasil, muita gente lembra do Mega Drive. Mesmo tendo perdido naquela época para o Super Nintendo (todo mundo queria o jogo do encanador bigodudo em cima de um dinossauro verde), o Mega foi um enorme sucesso nos Estados Unidos e no Brasil. Por aqui, o grande responsável por isso foi a Tec Toy, que lançou o videogame a preços acessíveis e traduziu uma série de títulos (muita pirralhada entrou no gênero “RPG” jogando “Phantasy Star” em português, enquanto a geração seguinte começou com “Final Fantasy VII” no Playstation sem entender uma maldita palavra e achando que era o melhor jogo do mundo porque tinha uns videozinhos com caras de cabelo espetado). Nos Estados Unidos, o sucesso do Mega foi por outro motivo: jogos de esporte. Uma parceria com a EA permitiu que o console da Sega recebesse as primeiras entradas de franquias como “Fifa” (futebol), “Madden” (futebol americano), “NHL” (hockey) e “NBA Live” (basquete, ou ao menos algo que de longe no escuro lembrava vagamente um troço mais ou menos parecido com basquete). Naquela época a maior parte dos jogos era feita no Japão e, como bem sabemos, o gosto dos orientais para jogos é um troço altamente questionável. Fazer um videogame estourar nos Estados Unidos exigia algo com que os americanos pudessem se identificar mais do que magia e espadas, e a resposta para isso foram os esportes.

Quando o Mega Drive já estava morto e enterrado (menos no Brasil, onde ele continuaria a receber consoles novos com 4 milhões de jogos do Sonic na memória e títulos novos como “Show do Milhão”), a Sega resolveu lançar um console novo chamado Dreamcast. Como parte da estratégia de lançamento nos Estados Unidos, a Sega sabia que precisava de jogos de esporte que chutassem traseiros. Quando encontraram uma empresa chamada “2K”, que havia desenvolvido uma tecnlogia muito avançada em simulações esportivas, compraram rapidinho e prepararam versões de NBA, futebol americano, hockey e até baseball. Os responsáveis pelo console nos Estados Unidos botaram tanta fé na “2K” que começaram a colocar mais e mais dinheiro na empresa e resolveram que seus jogos sairiam no lançamento do console. A grande sacada do Dreamcast é que ele vinha com acesso à internet, e nada melhor para mostrar o poder da jogatina online do que enfiar um jogo de esporte nessa brincadeira.

No entanto, a EA não ficou muito feliz de saber que teria concorrência. O sucesso no Mega Drive tinha deixado a EA empolgada, então eles resolveram avisar a Sega de que não lançariam nada para o videogame se eles insistissem na ideia idiota de apoiar a tal de “2K”. O problema é que os jogos da EA iam muito além da área esportiva, com sucessos em quase todos os gêneros. Perder todos os jogos da EA seria uma cagada para qualquer console do planeta, mas o pessoal da Sega confiava tanto nos jogos da “2K” que acharam que valia a pena.
Quando o Dreamcast foi lançado com o jogo “NBA 2K”, eu fiquei biruta. Muitos anos haviam me acostumado com aquele lixo que a EA lançava sob o nome de “NBA Live”, mas bastaram 5 minutos com o jogo da “2K” para que eu vomitasse ao lembrar daquilo que eu vinha jogando antes. É claro que o Dreamcast era um videogame poderoso que chutava traseiros e não dava para comparar com o que a EA estava lançando para o Playstation, que era tecnicamente muito inferiro, mas o cuidado da “2K” com os detalhes era pra ficar impressionado. Eu falava tanto no Dreamcast e no “NBA 2K” que colegas meus que foram para os Estados Unidos não resistiram e compraram uma versão do console que vinha junto com o “NBA 2K1”, a sequência do título. Não demorou muito para, jogando isso toda semana, o Denis e eu comprarmos um Dreamcast cada para inicar longas jornadas, madrugadas adentro, nos enfrentando no jogo de basquete da 2K.
Infelizmente, o mundo conspirou um tanto contra o Dreamcast. Não ter apoio da EA (apoio esse que foi parar no Playstation 2, lançado pouco depois) machucou muito as vendas do videogame, além do fato de que o Playstation 2 era o leitor de DVD mais barato da época e rapidamente começou a inundar os lares japoneses junto com a onda de filmes piratas no país. Com tantas unidades vendidas, rapidamente as produtoras começaram a lançar exclusivamente para o videogame da Sony e a Sega foi se lascando. O videogame anterior deles, o Sega Saturn, tinha sido um fracasso gigantesco fora do Japão (os jogos eram muito esquisitos!), então a Sega estava cheia de dívidas e precisava que o Dreamcast desse certo rápido. Nos Estados Unidos ele até que se saiu bastante bem, no Brasil ele foi novamente um sucesso nas mãos da Tec Toy, mas no Japão ele vendia menos do que a Playboy da Mariana Kupfer (que é uma bela Playboy, aliás, mas o maior fracasso da revista no Brasil). Não demorou muito para a Sega precisar começar a lançar jogos para outras plataformas para tentar acalmar as dividas, mas é claro que as outras empresas (em especial a Microsoft, com seu recém-lançado Xbox) exigiram o fim do Dreamcast para que os jogos fossem lançados para seus consoles.
O Xbox acabou herdando uma série de jogos que sairiam para o Dreamcast, numa clara tentativa da Microsoft de dominar o mercado americano. Baita visão de mercado: em alguns anos, o mercado japonês tornou-se secundário perto das vendas nos Estados Unidos e Europa e a Microsoft conseguiu se consolidar mesmo sem convencer os japoneses, principalmente através de uma rede de jogatina online – que antes pertencia ao videogame da Sega.
O último NBA lançado no Dreamcast foi o “NBA 2K2”, mas a maior parte das pessoas que jogava na internet migrou para o Xbox, que passou a receber as continuações da franquia. A EA continuou lançando a série “NBA Live” em todos os consoles e muita gente ainda comprava porque não tinha ouvido falar da “2K” (e nem do Dreamcast!), mas aos poucos a diferença entre as franquias ficou tão gritante que não havia como ignorar. Quem jogou “NBA Live” na última década simplesmente não conhecia a franquia rival, que era melhor em todos os aspectos possíveis. Quando a EA parou de lucrar apenas com a própria fama, resolveu soltar um comunicado admitindo que a série “NBA 2K” era mesmo melhor e que, portanto, iriam tacar o “NBA Live” na privada e começar de novo. O resultado não foi nada bom, mas pelo menos foi uma tentativa de melhorar e correr atrás da concorrente. A evolução da EA é evidente ano a ano e agora, finalmente, o “NBA Live 10” e o “NBA 2K10” são mais próximos do que jamais foram na última década, ainda que a 2K continue mantendo uma clara vantagem.
A abordagem da EA sempre foi a de criar jogos de esporte em estilo “arcade”, ou seja, um esporte divertido e irreal que atraia jogadores de todas as idades e interesses. No futebol é possível driblar todo mundo, no basquete todas as jogadas terminam com enterradas. Quando a 2K apareceu no basquete e a Konami no futebol com “Winning Eleven”, a tentativa era de criar jogos de esporte em estilo “simulação”, o mais perto possível das possibilidades e complexidades do esporte de verdade. Obviamente, quem é apaixonado por algum esporte quer jogar algo complexo que lembre ao máximo sua paixão real, e foi assim que a EA sentou na própria fama e perdeu espaço brutalmente para as novas franquias.
A série “Fifa” teve que correr atrás de “Winning Eleven” e com muito dinheiro e a decisão de tornar o futebol uma simulação perfeita, conseguiu se colocar novamente como a líder do mercado (e não tem nem como questionar, “Fifa 10” é bilhões de vezes melhor do que a nova entrada da série “Winning Eleven”). A série “NBA Live” também está gastando uma grana absurda para virar um clone dos jogos da 2K. E o mesmo só não aconteceu com o futebol americano, em que o “Madden” da EA ainda reina absoluto, porque eles conseguiram assinar um contrato de exclusividade com a NFL. Na época do Dreamcast, o “NFL 2K2” já era superior ao Madden, mas sem a licensa para os jogadores e times ficou impossível competir com o rival. A solução da 2K foi colocar no jogo apenas atletas aposentados e permitir a os jogadores montar seus próprios times, mas é claro que isso é muito mais chato do que jogar com sua equipe favorita e, portanto, não deu certo. Mas pergunte para qualquer fã do esporte que tentou esses jogos da “2K” e ele te dirá que Madden ainda é inferior, apenas tem os direitos. E é assim que eles querem: lançar jogos com poucas inovações e esforço perto do zero, gastar pouco dinheiro, atualizar os elencos e relançar o jogo para vender milhões. Malditos safados, não vejo a hora da “2K” poder lançar jogos da NFL de novo apenas para forçar a EA a fazer um trabalho decente.
Não existe por aqui, no Bola Presa, nenhuma birra em particular com a EA, eu por exemplo sou um grande fã da série “Fifa” (e recentemente fiquei muito impressionado com a atenção dada aos detalhes em “Dead Space”), mas é ridículo o descaso com que eles tratam os títulos de esporte em geral.
O trabalho só é bem feito quando a água bate na bunda, parece o Lakers que só joga bem quando precisa. A atitude de tentar um monopólio na época do Dreamcast, se negando a enfrentar qualquer competição, ou de pegar os direitos da NFL apenas para si (algo que eles já tinham feito em maior grau com os “Fifas” anteriores), é típico de quem não quer ter que gastar um centavo para melhorar o jogo a menos que seja obrigado.
Basta jogar um pouquinho de “NBA 2K10” e de “NBA Live 10” para qualquer fã de NBA ter o bom senso de ficar com o jogo da “2K”. É legal que a EA esteja investindo, correndo atrás, e não há dúvidas de que a gente vai jogar quando eles tiverem o melhor jogo de NBA do mercado. Mas, por enquanto, quem jogar “NBA Live” vai ser queimado na fogueira pelo Bola Presa (mesmo destino de quem não concordar que o Dreamcast foi o melhor videogame de todos os tempos). A série de NBA da “2K” continua muito a frente, e estamos até pensando em montar um encontro em São Paulo para jogar basquete virtual com os adoradores da franquia e, ao mesmo tempo, tentar converter os infiéis. Em breve falamos mais sobre essa ideia, e aí aproveito para escrever um pouco mais sobre o “NBA 2K10” em si e o que ele inovou na jogabilidade. Mas isso fica pra depois, porque agora vou religar o meu Dream e jogar com o Michael Jordan no Wizards do meu “NBA 2K2”!

Como funcionam as assinaturas do Bola Presa?

Como são os planos?

São dois tipos de planos MENSAIS para você assinar o Bola Presa:

R$ 14

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

R$ 20

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Como funciona o pagamento?

As assinaturas são feitas no Sparkle, da Hotmart, e todo o conteúdo fica disponível imediatamente lá mesmo na plataforma.