>Draftados em 2001 – O Top 10

>No último post anunciei essa nova série de textos sobre os jogadores que foram Draftados em 2001. No aperitivo que publiquei dias atrás falei sobre o Top 3 daquele ano, Kwame Brown, Tyson Chandler e Pau Gasol. Comentamos sobre as expectativas sobre eles quando entraram na liga e o que aconteceu com cada um nos últimos 10 anos.

Agora é hora de analisar os outros 7 jogadores que fecharam o Top 10 daquele Draft 2001.

4- Eddy Curry (Chicago Bulls)



Esse é um típico caso de “E se…” que para sempre vai inundar a imaginação dos fãs da NBA. E se Eddy Curry tivesse mais força de vontade? E se ele tivesse treinado mais? E se ele não fosse mais gordo do que uma convenção inteira de RPG? E se um dia alguém conseguisse entender o que se passa naquela cabecinha?

O pivô era um dos 3 jogadores mais badalados do colegial daquele ano ao lado de Kwame Brown e Tyson Chandler, e a definição da ordem do Draft foi decidida em duelos individuais. Em um treino pré-draft o Kwame Brown chutou o traseiro do Chandler de forma que hoje seria inimaginável, por outro lado Chandler anulou Curry em um encontro entre seus dois times de colegial. Curry passou o jogo inteiro apagado e participando pouco da partida, ninguém entendeu e ele perdeu muita moral.

Mesmo assim ele chegou no Draft recebendo scouts do tipo “Tem força parecida e técnica maior do que Shaquille O’Neal tinha na sua idade” e “Tem qualidades parecidas com Shaq e Wilt Chamberlain, mas sem o problema nos lances livres” e, para terminar, a frase que define sua carreira: “A única coisa que pode fazer Eddy Curry não ser a próxima força dominante da NBA é Eddy Curry”.

E foi assim mesmo. Primeiro no Bulls, onde começou ao lado de Tyson Chandler em um time péssimo, sem líderes e ele se perdeu. Frustrado, jogava mal e parecia desinteressado e perdido. Pouco a pouco foi melhorando e em seu último ano de contrato no Bulls surpreendeu fazendo 16 pontos por jogo, dando um sinal de que talvez houvesse futuro ali. Os defeitos eram claros, porém, uma vez o então técnico do Bulls Scott Skiles foi perguntado o que Curry deveria fazer para virar um melhor reboteiro, o treinador respondeu secamente: “pular”. O pivô passou da marca dos 10 rebotes em apenas 6 dos 63 jogos que disputou naquela temporada de 04-05.

Foi a vez do New York Knicks aparecer na sua vida. Naquela época, a temporada 05-06, o time de NY estava desesperado pela falta de perspectivas positivas e resolveu gastar muito dinheiro em jogadores ainda não estabelecidos na liga, investiram em Curry, Jerome James e Jamal Crawford, outro ex-Bulls. O primeiro ano foi bem ruim, mas sua segunda temporada foi animadora, com o pivô até beirando os 20 pontos por partida! Incomodava que sua média de rebotes ainda era pífia (7 por jogo em 35 minutos em quadra) e os tocos eram dignos de um armador de 1,80m (0.4 por partida), mas pelo menos ofensivamente ele parecia finalmente chegar um pouco perto do que deveria vir a ser. Doce ilusão: no ano seguinte ele fez a dupla peso pesado com Zach Randolph e os dois viraram chacota mundial por serem o garrafão mais pesado e preguiçoso da história do basquete, a dedicação defensiva deles fazia o glorioso meia Douglas parecer o Gamarra.

Então antes da temporada 08-09 Curry apareceu novamente muito acima do peso para o começo dos treinos com o Knicks. Foi a gota d’água para uma relação já desgastada com o técnico Mike D’Antoni. Naquele ano o pivô jogou apenas 3 partidas e teve média de 1.7 pontos por jogo. Mas 2009 não foi um ano traumático para Curry só por causa do que aconteceu (ou deixou de acontecer) dentro de quadra, foi nesse ano que a ex-namorada do jogador e sua filha foram assassinadas em Chicago. É pouca zoeira?

Depois disso Curry nunca voltou à boa forma e nem pareceu interessado o bastante para tentar uma nova chance. Eventualmente pipocam notícias de que ele estaria pegando pesado nos treinamentos e que o Miami Heat lhe daria uma chance, mas ninguém sabe se isso é verdade mesmo.

Abaixo um vídeo de um dos momentos mais bizarros da história recente da NBA: Bucks e Knicks jogavam em Milwaukee e o jogo estava empatado. Ruben Patterson (!!!) acerta uma bola de 3 usando a tabela (!!!) e coloca o Bucks à frente a 0.9 segundos do fim. Então é a vez de Eddy Curry acertar a segunda bola de três da sua carreira (!!!) e levar o jogo para a prorrogação! Curry acabou esse jogo com 43 pontos (!!!), o máximo de sua carreira. Outro detalhe bizarríssimo: Curry tem 100% de aproveitamento de 3 pontos na carreira, 2 acertos em 2 tentativas (!!!!!!!!!)

5- Jason Richardson (Golden State Warriors)



O Jason Richardson é um caso estranho nesse Draft de 2001: ele se tornou o que esperavam que ele iria virar. Tá bom que alguns analistas muito otimistas costumavam dizer lá pelos meios de 2004 e 2005 que a próxima temporada sempre seria aquela em que o J-Rich iria se tornar uma mega estrela da NBA. Exagerados e otimistas, mas em geral todos sabiam que ele era um bom pontuador e nada além disso. O Warriors o draftou por isso, foi o que ele fez e é o que faz há 10 anos.

A única diferença no seu jogo é que quando era mais novo, enterrava mais e batia para dentro do garrafão com mais frequência, hoje, mais velho, apela mais para as bolas de longa distância, no que é muito bom também. Abaixo o meu momento favorito do J-Rich, quando em um duelo de novatos contra segundo-anistas jogou a bola na testa do Carlos Boozer antes de acertar a sua sétima bola de 3 pontos no jogo.

6- Shane Battier (Memphis Grizzlies)



Bons tempos pré-Hasheem Thabeet em que o Memphis Grizzlies saía com dois dos melhores jogadores do Draft, né?

Shane Battier jogou 4 anos pela Universidade de Duke, levando o time a duas finais e um título. O ala era o líder do time, seu melhor defensor era considerado “o jogador que melhor sabe sofrer faltas de ataque na história do basquete universitário”. A torcida era tão fanática por ele que a cada falta de ataque sofrida por ele, gritavam “Who’s your daddy? Battier!”.

A 6ª posição acabou sendo justa para ele, como veterano todos conheciam seu jogo e sabiam como poderia ajudar qualquer time, por outro lado todos descartavam a chance dele ser muito mais do que um role player de luxo. Não daria para esperar 20 pontos por jogo ou coisas do tipo. Assim como J-Rich, teve uma carreira como a prevista em 2001, virou um dos melhores defensores da NBA.

7 – Eddie Griffin (New Jersey Nets)
Trocado no dia do Draft para o Houston Rockets por Jason Collins, Richard Jefferson e Brandon Armstrong



Espero que ninguém fique deprimido ao ler essa série de posts, mas se ficarem, não será por falta de motivos. Já lemos a história derrotada do Kwame Brown, os percalços de Tyson Chandler até a glória do título e o fracasso da carreira de Eddy Curry que teve até filho assassinado. Agora some tudo isso: talento mal utilizado, mal comportamento fora da quadra, decepção dentro dela e morte, é a história de Eddie Griffin.

No seu único ano de Universidade em Seton Hall ele conquistou os EUA. Seu jogo era bonito, eficiente e seu semblante sério dentro da quadra fazia todo mundo lembrar de outro ala de força que há pouco havia entrado na NBA, Tim Duncan. Ele tinha arremesso, força, técnica e tudo isso muito desenvolvido quando só tinha 18 anos de idade, era um daqueles fenômenos difíceis de explicar. Mas como um cara desses cai para a 7ª colocação do Draft, certo?

Ele, ao contrário de Duncan, apenas aparentava calma, mas fora de quadra era explosivo. Chegou a brigar com um companheiro de time e abandonar o time antes de se colocar à disposição do Draft, preocupações em relação a seu comportamento tiraram a coragem de muitos times em escolhê-lo.

O Houston Rockets teve coragem para escolhê-lo, mas os resultados não apareceram logo de cara, sua primeira temporada foi bem irregular. Ele mesclou momentos em que conseguiu 25 pontos e 13 rebotes em jogos consecutivos para depois marcar 2 pontos e parecer que nem estava em quadra. Até normal para um novato, mas isso se manteve durante todo o seu segundo ano. O terceiro, que poderia ser o que ele estouraria, nunca aconteceu. Com problemas de alcoolismo e consecutivas faltas a treinos, o Rockets simplesmente o dispensou. Griffin não conseguiu outro time e passou o resto da temporada em um centro de reabilitação.

O Wolves o contratou depois disso, na época haviam rumores de que Kevin Garnett poderia ser um bom tutor e espécie de irmão mais velho para Griffin, que assim poderia evoluir dentro de quadra e amadurecer fora dela. Nada feito. Ele continuou sua carreira de grandes momentos, em que todos vislumbravam o dia em que ele resolveria jogar assim sempre, e outros em que parecia um jogador comum. O então técnico do Wolves, Dwayne Casey, chegou a dizer que todos na organização tentaram dar uma de psicólogo, amigo ou pai e ajudá-lo, mas em vão. Em 2006 o ala sofreu um acidente de carro em que estava bêbado. Pouco tempo depois o Wolves o mandou embora.

Com a imagem na NBA manchada, alguns amigos próximos diziam que Eddie Griffin se preparava para voltar à boa forma e tentar uma vaga no basquete europeu, mas não deu tempo. Em 17 de agosto de 2007 ele ultrapassou uma barreira de aviso em uma estrada e em alta velocidade bateu contra um trem em movimento, despedaçando o seu carro. Seu corpo foi queimado, muito machucado e somente cerca de 10 dias depois da batida o seu corpo foi reconhecido e todos puderam saber que Eddie Griffin havia morrido. Testes indicaram que ele estava bêbado, com álcool em nível 4 vezes maior do que o permitido no Texas, local do acidente. Como os avisos sobre a linha férrea eram claros, algumas pessoas cogitam que ele atirou o carro contra o trem de propósito.

8- DeSagana Diop (Cleveland Cavaliers)



Mais um da classe de super pivôs colegiais daquele ano. Apesar de ter nascido no Senegal, DeSagana Diop já jogava no high school dos EUA e um jogo em que defendeu Tyson Chandler com perfeição garantiu seu nome entre os principais do Draft. Pois é, naquele tempo achavam que deixar o Chandler sem fazer pontos era algum tipo de grande mérito!

Mas a verdade é que DeSagana Diop acabou virando um bom defensor na sua carreira, o problema é que ele só rendia contra alguns tipos de jogadores e chegava a atrapalhar em outros aspectos do jogo, é uma espécie de Jason Collins só que com o triplo da força nominal.

Nos 4 anos que passou no Cavs ele quase não jogava, era jogador para o famoso “garbage time” ou para entrar e fazer faltas no Shaquille O’Neal, lembro que naquela época não tinha League Pass e eu morria de curiosidade para saber como aquele negão enorme que chegou na NBA com tanta moral jogava.

Só fui descobrir em 2006, quando ele foi para o Dallas Mavericks como Free Agent e ganhou papel importante no time que se classificou para a final da NBA. O Diop que chegou na NBA veloz e razoavelmente magro ganhou tanta massa muscular que acabou perdendo sua mobilidade, porém a força e o bom posicionamento defensivo o fizeram ser o grande marcador do Tim Duncan que o Mavs precisou para vencer aquela série de 7 jogos na semi-final do Oeste contra o Spurs. Por anos eu o chamei, meio brincando e meio sério, de Duncan-Stopper. Contra pivôs um pouco mais velozes ele já era inútil, mas por algum motivo contra o TD ele parecia um gênio, é mais ou menos o caso do Jason Collins com o Dwight Howard.

Essa boa pós-temporada dele no Mavs garantiu contrato pra ele por mais uns anos, mas sempre sem o brilho daquela série contra o Spurs. Chegou a ter espaço em um Bobcats do Larry Brown, é verdade,  mas pode-se considerar Diop um one-hit-wonder da NBA.

No vídeo abaixo poucos grandes momentos de Diop: Um toco em Gilbert Arenas, outro em Tim Duncan (claro!) e um em Carmelo Anthony nos últimos segundos de um jogo que o Mavs vencia por 1 ponto.

9- Rodney White (Detroit Pistons)



Apesar de alguns dos fãs de NBA mais jovens provavelmente não conhecerem o Eddie Griffin e ignorarem a existência do DeSagana Diop, nenhum deles é mais desconhecido atualmente do que Rodney White. E nem é que ele seja realmente tão ruim, apenas é um caso de um jogador que sempre esteve no time errado, na hora errada.

White se destacou no basquete universitário porque apesar de ser bem alto, 2,08m, ele sabia bater a bola, arremessar de longe e tinha um jogo ofensivo bem variado. Como falamos na parte sobre Pau Gasol, jogadores altos que sabiam jogar longe da cesta eram tendência naquela época como short de cintura alta é hoje em dia.

Mas Rodney White não só era um péssimo defensor, era daqueles que nem parecem que estão se esforçando. Isso causou ira no então técnico do Pistons, o atual campeão da NBA Rick Carlisle, que o colocou para jogar em apenas 16 jogos na sua temporada de estreia. Sem perspectiva no clube, foi trocado no ano seguinte para o Denver Nuggets. Faça as contas: Draft de 2001, ano seguinte, Nuggets… é, White estava naquele time horripilante do primeiro ano do Nenê na liga americana! Ao lado de caras como Vincent Yarbrough, Junior Harrington, Chris Whitney e Juwan Howard, fizeram um dos piores times que já vi na vida, incluindo times de pelada de domingo no parque.

O técnico Jeff Bzdelik sabia das limitações do seu time e ele aceitava jogadores que cometiam erros mas tentavam, como o fraco Donnell Harvey, mas White o tirava do sério com seu descomprometimento. No ano seguinte, para piorar, o Denver conseguiu um jogador um pouco melhor justamente na posição de White, um tal de Carmelo Anthony. O ala caiu no esquecimento e até tentou continuar carreira no Warriors, mas estava acabado. Saiu da NBA em 2006 e desde então passou por dois times na Espanha e outros na Itália, Porto Rico, China, Israel e hoje é jogador do Anyang KGC da Coréia do Sul.

10- Joe Johnson (Boston Celtics)

Muita gente não lembra que o JJ jogou no Boston Celtics antes de começar a se destacar no Phoenix Suns no começo da última década. E não é à toa, depois de apenas 48 jogos com os verdes na sua primeira temporada ele foi trocado para o time do Arizona em troca dos veteranos Rodney Rogers e Tony Delk. A justificativa na época era que o Celtics estava desesperado por ajuda imediata para conseguir se classificar para os playoffs pela primeira vez desde 1995. Conseguiram, mas fizeram um negócio terrível no meio do caminho.

Não que Joe Johnson fosse bom como é hoje, na época não estava completamente preparado mesmo, mas a falta de paciência custou um excelente jogador que teria sido, a longo prazo, melhor parceiro para Paul Pierce do que foi Antoine Walker ou qualquer outro até as contrações de Ray Allen e Kevin Garnett. Joe Johnson é uma espécie de jogador-RPG que foi sempre evoluindo pouco a pouco (e em tudo!) durante toda a carreira. Quer dizer, até a temporada bem mais ou menos que fez no ano passado pelo Hawks, mas vocês entenderam.

Curioso ler o que o NBADraft.net escreveu sobre o jogador antes do Draft de 2001:

“Poucos com a altura dele tem a habilidade que Johnson tem com a bola nas mãos. Penny Hardaway, Lamar Odom e Magic Johnson são alguns dos outros. Tem ótima visão de jogo e passe, entende o jogo. Tem uma sensibilidade para o basquete que só os grandes tem. Sabe onde estar em quadra e o que fazer. Fraquezas: Precisa ficar mais forte e aprender um pouco mais sobre o jogo na NBA, entrou muito cedo na liga.”


Exagerado, mas se o Celtics tivesse levado a sério e entendido a mensagem clara de que “espere que vai dar certo”, eles teriam se dado muito melhor do que com Rodney Rogers e Tony Delk em fim de carreira.


-Agradeço ao leitor @GuiRodrigues23 pela foto do Joe Johnson no Celtics, essa foi muito difícil de achar!

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