>Draftados em 2003

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A melhor dupla desde Claudinho e Bochecha

Nosso leitor Salgueiro sugeriu, nos comentários, uma análise sobre como se saíram LeBron, Carmelo e Wade desde que foram draftados, cercados desde então por tanta badalação. Resolvi ir além. Analisarei todos os jogadores draftados em 2003, a expectativa sobre eles, como se saíram em seus times e o que o futuro os reserva. Pretendo analisar, futuramente, todos os drafts dos anos recentes, fazendo o mesmo. É sempre muito divertido ver as cagadas que alguns times cometeram e que, após algum tempo, ninguém se lembra mais.

1 – LeBron James (Cleveland Cavaliers)

Às vezes me pego rindo sozinho de como os críticos e os palpiteiros de plantão eram descrentes do garoto vindo do colegial. Todo mundo dizendo que ele levaria tempo para se adaptar, que passaria uns anos fedendo bastante, que deveria ter feito faculdade. Ou seja, todo mundo pensava que ele seria o próximo Olowokandi. Aí ele começou com 14 pontos, 6 rebotes e 7 assistências no seu primeiro jogo de summer league e enquanto alguns já berravam “o garoto é real!”, outros já xingavam culpando a imprensa por ter criado um mito, uma farsa, o novo Michael Jordan número 3578. O pé atrás durou pouco porque não tinha como negar o que LeBron estava fazendo nas quadras, mas sempre tem uns três ou quatro por aí que acham que ele é uma palhaçada criada pela mídia, que é um andróide ou tem um chip alienígena. Não tem problema, esse é um mundo estranho mesmo.

O mais sensacional sobre o LeBron é que, quando começou a carreira na NBA, ele não sabia driblar com a mão esquerda, só cortava para o lado direito e não tinha arremesso nenhum. Me recordo bem dos defensores do LeBron simplesmente deixando o lado esquerdo aberto, desafiando-o a tomar aquela rota para a cesta. Não demorou muito para que ele estivesse dominando o jogo com a mão esquerda e a direita nas costas. Começou a acertar seus arremessos, depois a chutar cada vez mais de 3 pontos, acertou um punhado de arremessos com uma mão só da própria quadra de defesa e diz até que acerta arremessos assim o tempo todo nos treinos. Agora, não faço idéia do que mais resta para ele evoluir. Arremessar de costas, talvez?

Chegou às Finais da NBA depois de uma das atuações mais memoráveis de todos os tempos, em que marcou 29 dos 30 últimos pontos de seu time, no 4o período e na prorrogação. Foi o único jogador do Cavs a pontuar nos últimos 13 minutos de partida, e o único a acertar um arremesso nos últimos 18 minutos. Foram 48 pontos, 9 rebotes, 7 assistências e 2 roubos. Meus filhos vão saber que assisti esse jogo. Meus netos vão saber. Meus cachorros. Meus vizinhos. Meu porteiro. Meu padeiro.

Isso se chama “levar o time nas costas”, todo o resto é brincadeira de criança. Se fez uma vez, pode fazer de novo, mesmo com o time fedendo pacas. Mas pra ser campeão da NBA, falta um bocado. Quando eles tentaram assinar Michael Redd, que não aceitou, e assinaram Larry Hughes no lugar mesmo sabendo que ele não era o jogador ideal, morriam ali as chances do LeBron ganhar um anel. Mas o contrato dele deve acabar um dia…

2 – Darko Milicic (Detroit Pistons)

Será que o Detroit ainda tem pesadelos com essa escolha? Na época, não draftar o Carmelo não parecia tão absurdo assim: eles estavam felizes com o Tayshaun Prince, o time era equilibrado, sem estrelas, e um novato que não sabia defender e iria dar 500 arremessos por jogo poderia estragar tudo. O Darko não teve muitas chances, o time já estava feito, e acabou sendo o primeiro dessa turma de 2003 a ter um anel de campeão. E o mais incrível, sem sequer suar a camisa.

Conforme o tempo passou, mais ficava óbvio que o Darko nunca entraria em quadra pelo Pistons e que o Carmelo, se tornando uma estrela, poderia ter levado o time de Detroit a outro nível. Nunca saberemos, talvez o Carmelo também tivesse ficado mofando no banco. Mas o Darko encheu o saco, foi para o Magic onde mostrou sinais vagos de talento, e agora assinou um contrato milionário com o Grizzlies. Até teve suas chances mas ele nunca será um jogador digno de uma segunda escolha. É limitado no ataque, mediano no rebote e embora seja realmente bom nos tocos, não consegue ser bom o bastante para mudar um jogo só nesse quesito. Não boto fé, nem nele nem no Grizzlies, e em alguns anos será só um jogador vindo do banco que servirá apenas para assombrar o Detroit.

3 – Carmelo Anthony (Denver Nuggets)

A imensa maioria dos jogadores frustados do mundo achava que o Carmelo seria escolhido o Novato do Ano porque já estava mais pronto, vindo da faculdade com mais ferramentas no ataque. Ou seja, duvidaram do LeBron e se lascaram. O Carmelo realmente se mostrou uma estrela logo de cara mas sempre deu pintas de ser um jogador limitado em qualquer coisa que não fosse colocar a bola na cesta. Não é lá muito fã de jogar em equipe, não defende e nunca foi um grande reboteiro. Foi chamado para brincar com a seleção americana na campanha da medalha de bronze das Olimpíadas – medalha que, diz a lenda, ele jogou num lago. Isso porque mal participou dos jogos, punido por seu comportamento, falta de espírito de equipe e problemas defensivos. Não muito tempo depois ele se tornou o foco principal da seleção americana no ataque e o melhor jogador da equipe na maioria dos jogos, relegando Kobe e LeBron a outros papéis menores em quadra nesse seleção que vai ganhar as Olimpíadas do ano que vem sem a menor dúvida.

Sei que muita gente não concorda mas não há outro jogador que possa atacar como Carmelo na NBA, nem mesmo o Senhor Oitenta e Um Pontos, Kobe Bryant. Carmelo joga tão bem no garrafão quanto fora dele, domina de frente ou de costas para a cesta, e faz todo mundo achar que defesa é uma babaquisse para os fracos. Às vezes ele se apaixona demais pelo seu arremesso (o técnico do Nuggets tinha um acordo com o Carmelo que o obrigava a penetrar no garrafão duas vezes para cada bola que arremessava) mas ainda assim é o melhor no que faz.

Com a chegada de Iverson, Carmelo teve que aprender a jogar com outros amiguinhos, e vem se saindo bem embora o time feda bastante. Tem talento o bastante para chegar longe nos playoffs mas o time é um mistério que não estou com saco para tentar resolver. Pagar aquela bagatela para o Nenê, que se contunde direto só para comer rosquinhas, não ajuda. Mas há esperança.

4 – Chris Bosh (Toronto Raptors)

Esperavam uma espécie de Kevin Garnett e, de algumas formas, foi realmente o que aconteceu. Bosh se tornou rapidamente um dos melhores pivôs jovens da liga, com um único problema: ele não é um pivô. Bosh é destruidor jogando de ala-pivô, chutando de fora do garrafão e batendo para dentro. Aliás, ver o Chris Bosh batendo bola é sempre uma experiência divertida: ele tem a velocidade e os movimentos para jogar de PG se o mundo fosse feito de Yao Mings.

Bosh nunca fingiu que gostava de jogar de pivô, fez vários protestos públicos, mas entendia que não havia nenhum infeliz na equipe para colocar no lugar. Num ato de desespero de contentar sua jovem estrela, o Raptors resolveu draftar o Baby para jogar na posição, mas essa é uma outra história de fracasso que não pretendo abordar para não vomitar.

O Raptors se espelhou no Phoenix Suns, montando um time veloz e com um punhado de extrangeiros e que deixasse defesa para os chatos. Trocaram pelo TJ Ford, o único armador da NBA que tranca a gaveta com a chave dentro, e então chegaram aos playoffs. O talento está lá, o Bosh está lá, mas as contusões também. Os guardas florestais que torcem para o time devem ficar desesperados a cada vez que TJ Ford dá sinais de que vai quebrar a coluna em mil pedaços de novo ou que o Bosh tem problemas no pé. Mas com um pouco de sorte, o Raptors pode fazer estrago no Leste. E o Bosh deve rezar todas as noites pela chance de poder jogar com um pivô de verdade.

5 – Dwyane Wade (Miami Heat)

Eu e o Denis assistimos alguns jogos dele como universário e achamos que parecia um Iverson com tamanho. Deveríamos ter apostado dinheiro nessa: é algo bem próximo do que se tornou. Assim como o Iverson, é um SG que foi obrigado a jogar como armador principal mais vezes do que gostaria, é exepcional batendo para a cesta, tomando um monte de porradas e ainda assim acertando a bandeja. Diferente do Ginobili, não valoriza o contato, apenas toma as cacetadas e continua sempre com a cesta em mente. Eu sei, eu sei, ele foi campeão debaixo de um monte de críticas de que os árbitros tinham paixões homossexuais enrustidas por ele, mas isso não é lá culpa do Wade. De todo modo, ganhou seu anel de campeão em quadra, jogando ao lado de Shaq, ao contrário do Darko que estava só sentado lendo dicionários de inglês para entender o que significava a palavra “bust”.

O Wade também evoluiu seu jogo a cada temporada, no estilo LeBron. No começo, não ousava arremessar da linha de 3 pontos. Hoje em dia, arremessa com naturalidade e acerta com constância. Tem talento para ser campeão da NBA mais umas trocentas vezes mas o Miami começou a envelhecer tão rápido quanto a Britney Spears e agora parece que todo mundo na equipe nasceu na época da Derci Gonçalves.

6 – Chris Kaman (Los Angeles Clippers)

De um pivô cru de tudo ao foco principal do ataque do Clippers, a trajetória não foi muito fácil para o Kaman. Sem o Elton Brand, o time se voltou para ele em busca de pontos no garrafão e o Kaman vem respondendo grandiosamente tanto no ataque quanto na defesa. Muito se fala de Yao Ming e Dwight Howard, mas Chris Kaman é o próximo da lista na posição mais ingrata da NBA.

Nessa temporada, independente dos votos, deve ser All-Star e talvez conseguir uma atenção merecida. Mas o time não vai longe tão cedo. Afinal, o Clippers é quase tão amaldiçoado quanto o Hawks. Todos os jogadores querem sempre escapar da equipe, ninguém quer ser trocado para lá ou assinar com eles. Se o time voltar mais alguma vez para os playoffs, eu engulo meu tênis do Arenas. Juro pelo Kaman.

7 – Kirk Hinrich (Chicago Bulls)

Um armador competente, exímio arremessador de 3 pontos e muito melhor defensor do que se credita. Constou em várias listas de melhores armadores da NBA mas isso foi há bilhões de anos atrás, na época em que a Sandy cantava com o Júnior e o Bulls era um time competitivo ao invés de saco de pancadas oficial do Leste. Hinrich é mais limitado do que se imaginava, o arremesso é inconsistente, mas ele seria muito melhor aproveitado se o time não fosse inteiramente focado nos tiros de fora.

Todos os jogadores que vimos até agora nesse draft são melhores que o Darko. Mas o Hinrich, em especial, poderia ter se dado muito bem no Detroit, embora fadado a ser eternamente o reserva do Billups, claro. No Bulls, ele será eternamente titular (a não ser quando faz muita cagada e vai passar umas férias no banco deixando o Duhon entrar) e terá chances de título, mas desde que as falhas da equipe sejam concertadas para que as habilidades do Hinrich possam ser melhor utilizadas. Do jeito que está, o Bulls não parece ter muitas chances. Talvez seja melhor o Ben Wallace tirar a faixinha da cabeça…

8 – TJ Ford (Milwaukee Bucks)

Todo mundo lembra de Parker, Iverson e Leandrinho na lista dos jogadores mais velozes da NBA. Mas o TJ Ford não apenas deveria ganhar créditos como também liderar a lista. Possivelmente o armador mais rápido da liga e um casamento perfeito com o Raptors, também conhecido como Suns-cover. A fragilidade do Ford vai ser sempre um problema, no entanto. Já perdeu uma temporada inteira com uma lesão na coluna vertebral e agora está fora por tempo indeterminado depois de ter tomado uma raquetada meio-sem-querer do Al Horford, o novato troglodita do Hawks.

Ford e Calderon são a melhor dupla de armadores principais, um titular e outro no banco, de toda a NBA. E eu, como torcedor do Houston, cortaria meu dedo mindinho para ter qualquer um deles no meu time, usando os outros armadores do Houston como material para ração canina. Acontece que o Calderon vem tendo atuações inacreditáveis como titular e vai ser realmente difícil para o TJ Ford recuperar a vaga quando voltar.

No Bucks, algo me diz que alguém deve se arrepender um pouco de ter trocado o Ford pelo Charles Villanueva. O novo chinês sensação, Yi Jianlian, vem ganhando cada vez mais espaço no Bucks, relegando Villanueva ao banco. Enquanto isso, o Bucks sequer tem um armador reserva digno de nota (Royal Ivey não conta, por favor). Alguém em Milwalkee quer voltar numa máquina do tempo?

9 – Mike Sweetney (New York Knicks)

Um ala gordo e baixo demais para a NBA. Na hora de chutar qual time o draftaria, não precisava pensar muito para adivinhar que o Isiah Thomas não resistiria. O gordo não fez nada além de acabar com a geladeira, foi mandando para o Bulls na troca do Curry e passou a acabar com geladeiras em Chicago. Ao fim do contrato, foi convidado a se retirar para não prejudicar a alimentação dos outros jogadores. Seu paradeiro é desconhecido mas possivelmente está devorando geladeira na Europa. Sweetney, Curry, Randolph e Jerome James são o bastante para tornar o Knicks a franquia com a maior concentração de gordura por artéria de todos os tempos.

10 – Jarvis Hayes (Washington Wizards)

Parecia ter talento e o Wizards resolveu apostar, torcendo para que ele se tornasse uma boa opção vindo do banco de reservas. Aguardaram, aguardaram, aguardaram, e aí o contrato terminou e Hayes deu o fora. Agora que seu talento parece estar finalmente desabroxando, resolveu tentar ganhar uns anéis em Detroit. Por melhor que seja, é limitado na defesa e inconsistente nos arremessos. Ganharia alguns prêmios de Melhor Oitavo Homem do Ano, se isso existisse.


Em breve, na continuação desse artigo, as escolhas 11 a 30 e as menções honrosas do segundo round. Preparem-se para o mar de cagadas. Alguém se lembra de Reece Gaines?

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