>Em busca de uma explicação (e de um culpado!)

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Vince Carter tem sua bunda fotografada

A noite de segunda-feira teve um jogo que tinha tudo pra ter um clima de playoff, uma tensão no ar e os times com os ânimos à flor da pele. Mas acabou sendo mais um jogo comum da temporada regular. Foi a primeira partida entre Lakers e Magic desde a final do ano passado e por motivos difíceis de explicar, o jogo não era assim tão esperado. A NBA escolheu por dar à rodada de Natal Lakers-Cavs, que a torcida e a mídia abraçaram como um jogo imperdível, e eu, nesse post, sugeri que na verdade o grande jogo da NBA para o Natal ainda deveria ter sido Lakers e Celtics. E ninguém questionou dizendo que deveria ser uma revanche da final do ano passado.

Um dos motivos para essa aparente falta de respeito contra o Magic pode ser explicado pelo placar amplo da final do ano passado, 4 a 1, embora não dê pra esquecer que os jogos foram difíceis e que dois deles foram para a prorrogação. Talvez tenha faltado uma rivalidade maior, brigas, declarações polêmicas, sei lá. Outro motivo que justificaria um pouco esse descaso seria o time titular do Magic. 3 dos 5 que começaram aqueles jogos foram embora: Turkoglu, Rafer Alston e Courtney Lee.
Esses argumentos parecem válidos e certamente o são, mas tem uma outra coisa que eu acho que estragou tudo: timing. Se essa partida tivesse acontecido no meio de dezembro ela seria entre o líder do Oeste e o líder do Leste, os dois em grande fase. O jogo de ontem foi entre o líder do Oeste que perde terreno a cada semana e tem o Kobe muito baleado por dores nas costas, e o quarto colocado do Leste que perdeu mais do que ganhou nos últimos 20 jogos.
Se o problema do Lakers é bem claro, a saúde do seu principal jogador (que claramente precisa de pelo menos uma semana de descanso antes que desmonte como um lego mal montado), o problema do Magic é muito difícil de entender.
O jogo contra o Lakers foi o exato meio de temporada para o Magic, a partida de número 41. E essa metade pode ser cortada em mais dois pedaços pra mostrar como esse time não faz um puto de um sentido. Nos primeiros 21 jogos o Magic venceu 17 partidas e perdeu 4. Nas últimas 20 partidas ganhou 9 e perdeu 11.
A primeira reação a esses números é um sonoro “Que porra é essa, viado?”. Se o time mudou muitas peças, perdeu três titulares dos playoffs do ano passado e precisa pegar todo o entrosamento de novo não deveria ser o contrário, começar mal e melhorar depois? E faz menos sentido ainda quando se pensa que o time ainda estava sem Rashard Lewis e Jameer Nelson no começo da temporada.
Um dos motivos destacados durante o começo da temporada para o sucesso do Orlando Magic era o seu elenco profundo e talentoso. Se Rashard Lewis não poderia jogar como ala de força titular o técnico Stan Van Gundy tinha a opção de um garrafão pesado usando o Brandon Bass ou manter o mesmo esquema com o Ryan Anderson. Para a contusão do Nelson tinha o Jason Williams jogando muito. Isso sem contar as combinações nas posições 2 e 3 com Vince Carter, Matt Barnes, Mickael Pietrus e JJ Redick, todos com condição de ser titular, oferecendo talentos diferentes.
O número e a qualidade do elenco do Magic, portanto, está longe de ser uma desculpa, talento é o que não falta por lá. Inclusive eu cheguei a apostar no começo da temporada que o Magic tinha tudo para ter um dos três melhores ataques, tamanho o domínio do time nas primeiras rodadas, com o Jameer Nelson e o Vince Carter machucando as defesas com as infiltrações, o domínio dos rebotes ofensivos do Dwight Howard e o bombardeio constante e eficiente nas bolas de 3. Eles pareciam imparáveis.
Durante um tempo eu cheguei perto de acertar minha previsão, mas com esses últimos 20 jogos a coisa mudou. Hoje o Magic é apenas o 11º colocado no ranking de pontos por jogo e o 9º no ranking que conta o número de pontos marcados a cada 100 posses de bola. Os próprios números também descartam a defesa como motivo da queda de rendimento, o Magic é o 8º melhor em pontos sofridos por jogo e o 6º em pontos sofridos a cada 100 posses de bola.
Uma derrota para o Lakers em Los Angeles não é motivo para eu vir aqui escrever um post falando que o Magic está fedendo, mas nos últimos 9 jogos eles conseguiram perder para Bulls, Pacers, Raptors e Wizards, todos times com recorde bem inferior ao deles. E quando pegaram times mais fortes, o Nuggets e o Blazers, não só perderam como tomaram surras que me lembraram a saudosa Dóris em “Mulheres Apaixonadas”. A derrota para o Lakers, inclusive, foi até motivo de alguma comemoração por ter representado a melhor partida do time desde a última vitória sobre o Atlanta Hawks, equipe que hoje está na frente do Magic na classificação do Leste.
A gente comentou por aqui como o Dwight Howard estava jogando muito mal e muito abaixo do que se espera dele, e esse poderia ser um motivo para que o Magic estivesse mal das pernas, afinal é o melhor jogador do time. Eis então que na partida contra o Lakers o Superman resolve ligar para o Danilo, dizer “eu li teu post, moleque!” e começar a jogar como o Tim Duncan. Gancho pra cá, giro pra lá, vários arremessos usando a tabela e impressionantes 18 pontos no primeiro tempo contra o melhor garrafão da NBA. O Magic, no entanto, estava perdendo.
No segundo tempo o Magic começou a ter a síndrome do armador bom. É uma síndrome que ataca todo mundo que já jogou basquete em qualquer pracinha do mundo e funciona da seguinte maneira: se um armador ou qualquer outro jogador de perímetro está jogando bem e com confiança, ele não passa a bola para o pivô. Simples assim, não importa o quanto aquele grandalhão bobo fique balançando os braços. Foi o que aconteceu quando Jameer Nelson, Mickael Pietrus, Matt Barnes e principalmente o Rashard Lewis começaram a mandar bala no segundo tempo do jogo. E foi quando eles jogaram bem e o Dwight Howard nem enconstou na bola (foi dar seu primeiro arremesso no segundo tempo só no meio do quarto período) que o Magic cortou a diferença do Lakers e abriu mais de 10 de vantagem.
Até comentaram aqui no blog que não adiantava o Dwight Howard jogar melhor porque o time não jogava bem com ele como foco no ataque e a prova tinha sido o jogo contra o Lakers. Mas se você viu o jogo, deve ter percebido que enquanto o Dwight tomava conta do ataque, a defesa sofria com o Lakers acertando mais de 60% dos seus arremessos, enquanto no segundo tempo, quando o Magic abriu, o Lakers não conseguia fazer ponto nem arremessando papel amassado no lixo.
O Magic ideal é um mix disso tudo. O Magic pareceu melhor com o time correndo e todos os jogadores de perímetro envolvidos, mas só deu certo porque eles estavam jogando em contra-ataque, pegando a defesa do Lakers ainda na volta para a defesa. Quando a defesa do Magic funciona bem é que o time tem que partir rápido para o ataque e usar a velocidade de todos os seus jogadores, nenhum ala de força na NBA acompanha o Rashard Lewis na corrida. Dá para o Jameer Nelson ou o Vince Carter puxarem o contra-ataque e eles mesmos podem desmontar a defesa com uma infiltração e provavelmente outros três caras vão acompanhar e parar em diferentes lugares da quadra para se posicionar para o arremesso, é muito difícil marcar um time que sabe fazer um jogo de transição assim.
O Dwight Howard entraria para o jogo como o cara que pega o rebote para essa transição e principalmente para quando ela não desse certo. Ele tem que ser o foco ofensivo da equipe quando eles forem obrigados a jogar um basquete de meia quadra e quando isso acontecer ele deve ser o jogador que foi contra o Lakers, com recursos ofensivos e com arremesso de meia distância. Não vai ser sempre que vai dar certo, ele não desenvolveu esse jogo como deveria nos últimos anos, mas cedo ou tarde vai ter que começar.
Tudo isso parece bem óbvio e é mesmo, mas não é o que estamos vendo no Magic. A transição e o jogo de meia quadra como eu descrevi dependem de uma coisa básica para todo o time, a movimentação de jogadores e de bola. O Rashard Lewis só é um matchup ruim para um outro ala de força mais alto e mais pesado quando ele se movimenta bem pelo perímetro, o Jameer Nelson é um armador que mereceu ser chamado para o All-Star Game do ano passado quando usa e abusa dos bloqueios para achar arremessadores e seu próprio arremesso. O que a gente tem assistido é o Rashard Lewis parado em um canto para arremessar enquanto Jameer Nelson e Vince Carter passam 20 segundos driblando a bola e aí forçam um arremesso.
Parte da culpa é dos dois jogadores, principalmente do Carter. Ele está jogando tão mal, mas tão mal, que eu o colocaria como a maior decepção individual de toda a temporada, inclusive à frente do Turkoglu, que tem sido pior e menos útil do que o Jarret Jack no Toronto Raptors. O Carter está com uma patética média de 16 pontos por jogo, 38% de aproveitamento nos arremessos de quadra e só 30% nos três pontos. Isso sem contar os inúmeros jogos em que arremessou 15 bolas e acertou duas. A grande desvantagem de ter o Carter ao invés do Turkoglu na equipe é que o Magic perdia em movimentação de bola e passe, já que o Turko era um armador em corpo de ala, mas pelo menos ganhavam alguém que poderia marcar pontos criando o próprio arremesso quando o ataque estivesse estagnado. Alguém pra isolar e ganhar uns pontos só no talento.
Pois o Carter realmente não tem um terço da visão de jogo do Turkoglu, a bola não se mexe, o resto do time fica parado vendo o Carter jogar (isso não é culpa dele, no entanto) e ele não consegue marcar os seus pontos. Ele trouxe todos os pontos negativos que a gente esperava e não trouxe os positivos.
Sabe a última grande vitória do Magic que eu citei, a contra o Hawks? Ela foi seguida de uma vitória sobre o Kings e os dois jogos tinham uma coisa em comum entre eles e de diferente em relação à derrota anterior para o patético Washington Bullets: Vince Carter não estava jogando. Pois é, com o branquelo do JJ Redick no time titular e com ele dividindo os minutos com Pietrus e Barnes, o time foi infinitamente melhor do que com Vince Carter. Tá bom que não deu muito certo contra o Nuggets, mas é que o Redick oferece a movimentação e a filosofia que o Magic precisa para jogar, mas em compensação não é bom o bastante para se garantir como titular e fazer o time vencer o Nuggets em Denver.
Sem o Carter o time não tem pra quem entregar a bola e ficar esperando alguma coisa acontecer. O Jameer Nelson até é mais do tipo fominha mas não chega aos pés do Carter, e com a bola na sua mão o time se mexe mais e ele responde com mais passes.
O Vince Carter como o principal motivo do Magic estar jogando mal acaba respondendo uma crítica que eu tinha feito a ele no começo na temporada. Eu tinha falado que esperava que ele fosse mais do que só um arremessador e finalizador de contra-ataques como vinha sendo nos primeiros jogos e que se tornasse um líder, alguém que chamasse o jogo como fazia o Turkoglu, principalmente nos minutos finais do jogo. Errei feio. Carter não é Turkoglu e o time funcionava bem melhor quando o VC se limitava a ser um marcador de pontos, um cara que se posiciona para finalizar jogadas e só. Parece ridículo contratar um cara desse nome e desse porte só para isso mas era assim que o Magic jogava quando vencia.
Não custa lembrar esse post que eu escrevi depois de um mês de temporada, lá já me mostrei preocupado com a quantidade de tempo que o Vince Carter passava com a bola na mão. Naquele texto, porém, falei como é bom para eles ter um cara talentoso para arremessar umas bolas importantes no fim dos jogos, só falta achar equilíbrio.
Se eles voltarem a tirar a bola da mão do Carter e descobrirem quando usar o perímetro e quando apelar para o pivô que eles tem lá no meio, o Magic estará de volta à briga do título do Leste. Do jeito que eles estão jogando hoje eles não passam da segunda rodada dos playoffs nem com reza brava. E que atirem as pedras no Carter, mas não no ombro porque ele já está machucado.

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