>Em terra de cego

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É como dizem: em terra de cego, quem tem um olho é caolho

O jogo de ontem entre Warriors e Nuggets era o decisivo para decidir que iria levar para casa a oitava e última vaga para os playoffs da Conferência Oeste. A partida, com cara de final, estava sendo aguardada com euforia, deixando todos nós com água na boca. As razões para isso são várias. Além de estarmos há muitos meses aguentando jogos que não valem nada, assistindo nossos times enfrentando Sonics e Heat, e termos pela primeira vez em séculos um gostinho de decisão, tem também o fato de que ontem se encontraram dois dos melhores ataques da NBA. E duas das piores defesas. Quem, em sã consciência, iria perder uma disputa dessas?

Os dois times são até que bem organizados dentro de sua própria loucura, mas o Nuggets nunca mais foi o mesmo no critério organização desde que Steve Blake saiu. Já o Warriors é mais assumidamente biruta e o grau de organização em quadra depende muito da formação utilizada, o que aliás é sempre uma incógnita por causa da cabeça incompreensivelmente insana de Don Nelson. Com um mínimo de organização e muito de correria, o jogo tinha tudo para ser vistoso e bater novos recordes de pontuação na NBA.

Bastaram os primeiros minutos para ver que os dois times queriam levar seus estilos ao limite, correndo ainda mais do que estão acostumados. Era um duelo de quem iria ser mais rápido, sem noção e débil-mental. A julgar pela quantidade imensa de desperdícios de bola no início do jogo, os dois times esforçavam-se para ser caricaturas de si mesmos: versões exageradas de suas qualidades, de forma cômica, quase ridícula. Gargalhei meio envergonhado por eles quando alguns minutos se passaram sem que uma jogada sequer fizesse um puto de um sentido.

O Warriors, em especial, abraçou plenamente a idéia de levar seu estilo a um extremo risível, até as última consequências. O lema era “enterrada ou bola de 3 pontos”, com mais bolas disparadas de trás da linha de 3 do que meu cérebro pouco matemático seria capaz de contar. Eu vibrei como nunca com esse Warriors nos playoffs da temporada passada, eles são um dos meus times favoritos, mas tem dia em que eles se enfiam num buraco próprio, numa “encenação de si mesmos” que beira o patético. Ainda que, por muito tempo, se mantivessem à frente do placar.

Foi o Nuggets que simplesmente resolveu acabar com a brincadeira. Sair um pouquinho do estilo, parar com o exagero, buscar uma identidade verdadeira, menos ridícula. Num jogo em que as duas defesas eram completamente cegas, o time de Denver resolveu abrir um olho. A defesa por zona do Nuggets instigou o Warriors a arremessar ainda mais de fora. Os passes da equipe de Golden State saiam ainda mais sem critério. E foi com esse tiquinho de defesa que o jogo se encerrou imediatamente, deixando a equipe de Golden State, com isso, praticamente fora dos playoffs.

O Baron Davis, um dos melhores armadores da NBA para mim, acabou a partida com um triple-double nas costas. Mas que no fundo foi a maior enganação. Na ânsia de imprimir seu ritmo, seu estilo, salvar o jogo debaixo dos gritos eufóricos da ultra-barulhenta torcida na Oakland Arena, acabou arremessando quinhentas bolas absurdas e desnecessárias. Do mesmo modo, Azubuike veio do banco e meteu uma bola de 3 crucial para manter vivas as chances do Warriors há poucos minutos do fim e depois tentou de novo, e de novo, apressando os arremessos, fazendo uma série de cagadas, parecendo ingênuo e tolo e desesperado. Azubuike, Baron Davis e o Warriors pareciam palhaços de circo. Em momento algum me pareceu que tivessem chances reais de levar a vitória para casa.

A demonstração defensiva do Nuggets foi interessante, não pela sua eficiência, mas porque demonstra certa maturidade do time. Significa que eles podem mudar um pouco o modo de jogar, lidar com circunstâncias diferentes. O cone-na-defesa Carmelo Anthony provou que sabe vir na cobertura e dar um toco memorável em Monta Ellis. Eles têm capacidade e inteligência para lidar com grandes times. Mas também têm limitações sérias. O que acabará se mostrando muito cruel nos playoffs que começarão em breve. A defesa de ontem, esperta e oportunista, não será o bastante contra Hornets e Spurs. Para mim, as horas do Nuggets estão contadas.

Por isso mesmo, é uma pena ver o Warriors de fora da disputa porque seu estilo poderia surpreender vários times nos playoffs. Mas o Warriors não se adequa, não é maleável. Vence alguns times específicos, perde para outros times específicos. Infelizmente, dessa vez não foi o suficiente.

Antes de me retirar para pensar se o Warriors aguenta mais uma temporada nesse ritmo, com um técnico biruta e imprevisível que de uma hora para a outra decide não usar mais algum jogador fundamental (Matt Barnes) e que queimou trocentos novatos por matá-los de tédio no banco (Brandan Wright, Belinelli, Jasikevicius), eu queria pela milésima vez ressaltar como o Monta Ellis chuta uns traseiros. Se o Warriors, na noite de ontem, se manteve dignamente no jogo, foi só porque o garoto é um absurdo batendo para a cesta. Se um dia ele aprender a arremessar de três, seria All-Star. É, seria sim. Pode, pode anotar aí e me cobrar depois. Eu não ligo.

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