Errar é humano, repetir é burrice

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Ben Gordon e Rip Hamilton sabem: uma bola é pouco

A troca de Billups por Allen Iverson foi um tremendo fracasso, o equivalente do Leste à troca do Shaw Marion pelo Shaq, que desmantelou o Suns no Oeste. Nem foi tanto culpa do Iverson, que não fazia sentido no esquema tático e fazia necessária uma decisão sobre quem (dentre ele, Hamilton e Stuckey) iria ficar no banco. Richard Hamilton foi parar na reserva mas não achou nem um pouco divertido, principalmente levando em conta que, sem Billups, ele havia se tornado o líder do time. Os confrontos com o técnico Michael Curry, as dúvidas sobre a identidade do time e o desconforto com a troca acabaram por destruir a temporada, o conjunto e, por fim, levaram a uma saída estratégica de Iverson, dado como contundido e retirado do elenco para acalmar os ânimos. Agora que a temporada acabou, Michael Curry foi demitido e o saldo final da troca mostrou-se catastrófico: um time desmanchado, sem liderança, sem estrutura, sem saber para onde vai, com um Hamilton irritadinho e – cereja no bolo – sem técnico. Mas com dinheiro, muito dinheiro, já que o contrato de Iverson terminou. Essa era a graça desse experimento bizarro: se tudo desse errado (e, minha nossa, como deu!), pelo menos o Iverson iria fazer as malas e liberar uma grana para que o time contratasse qualquer um.

Quer dizer, qualquer um não. Com Stuckey e Hamilton no elenco e a experiência fracassada com Iverson, o Pistons aprendeu que não pode contratar um armador que passe tempo demais com a bola nas mãos sem envolver os outros companheiros, que estrague o ritmo do ataque, e que crie duelos de ego. Hamilton precisa de um armador puro que lhe entregue as bolas nos momentos certos, depois de suas movimentações “oi, eu sou um hamster”, e Rodney Stuckey precisa segurar a bola para bater pra dentro do garrafão como um maluco. Como um time, o Pistons precisa então de alguém que defenda com a mesma intensidade do resto da equipe, que entenda o conceito de basquete coletivo, e que preencha buracos nas posições mais carentes, já que na armação Stuckey e Hamilton devem ser soberanos. Ou seja, o Pistons definitivamente não precisa de um baixinho apenas focado no ataque, individualista e metido a estrela, não é mesmo?

Pelo jeito estou errado. Depois de se livrar de um armador baixinho individualista puramente ofensivo chamado Iverson, o Pistons acaba de contratar outro: Ben Gordon. Depois dos playoffs em que ganhou um par de partidas sozinho, desesperado pelo contrato mais gordo que pudesse encontrar, era meio óbvio que algum time meio breaco iria lhe pagar a grana que ele tanto queria. Pessoalmente eu achava que seria o Bulls, porque o time não é lá muito esperto e é facilmente impressionável, mas calhou de ser o Pistons – justamente o time com mais experiência para saber que contratar um sujeito como o Ben Gordon é uma furada. Não é que ele seja ruim, longe disso, o Ben Gordon chuta uns traseiros. Mas ele passou a carreira inteira reclamando de jogar como sexto homem, odeia o banco de reservas, e ataca sozinho, completamente sem critério. E agora ele vai no Pistons para ser o quê, além de reserva? Ou será que o novo técnico do time, seja quem for o pobre coitado, vai querer tentar mandar o Hamilton de novo pro banco e arriscar o próprio pescoço? O negócio já parece patológico, tipo gente que sofreu na infância e passa a vida inteira se obrigando a sofrer de novo. É a única explicação para alguém sair do sufoco que foi ter Iverson no time e querer tentar a mesma coisa com o Ben Gordon. E pior: pagando 50 milhões num contrato de 5 anos. Não é como se fosse apenas um teste e no fim do ano tudo acaba e libera dinheiro para novas tentativas. Agora a brincadeira será por anos a fio, a não ser que rolem trocas. Desejo, desde já, boa sorte para o Pistons em sua empreitada por trocar Ben Gordon ou Richard Hamilton. Esse universo é pequeno demais para eles dois.

A grana do Iverson rendeu um pouco mais, pelo menos. Além de Ben Gordon, o Pistons conseguiu contratar o Charlie Villanueva por 35 milhões, num contrato de também 5 anos. Pagar 7 milhões por ano pelo Villanueva não é nada tão absurdo assim, alguns dirão que é até uma pechincha se vier junto com um Juicer Walita. Versátil, excelente ofensivamente, jovem, o rapaz certamente seria uma aquisição muito bacanuda para várias franquias da NBA, mas acho que não para o Pistons, infelizmente. Capaz de jogar dentro do garrafão, de costas para a cesta, e ainda arremessar de três pontos, o Villanueva parece um bom substituto para o Rasheed Wallace, que tornou-se velho, entediado, sem motivação, e deve sair da equipe já que seu contrato terminou. Mas acontece que o Villanueva não defende patavinas e, no ataque, costuma segurar a bola demais. Não parece se encaixar perfeitamente num time focado na defesa e em que todos os jogadores parecem prender a bola demais nas mãos? Gostei da contratação, acho que vale a tentativa, mas a impressão é de que o Pistons não aprendeu nada com a última temporada e está montando um circo, não uma equipe de basquete – um monte de talentos aleatórios juntos, tipo aquela zona chamada Los Angeles Clippers.

O Clippers, aliás, também mudou o elenco. Para quem se lembra, o time tinha adquirido o Zach Randolph um tempo atrás numa clara incapacidade de aprender com os erros alheios. Como já analisamos várias vezes no passado, o Blazers melhorou muito ao trocar Randolph, na época sua única estrela, e montar uma equipe focada no trabalho coletivo. No Knicks, o Randolph rendeu como sempre, com ótimos números, pontuando bem e garantindo seus rebotes, e estava satisfeito com um trabalho bem feito. Rapidinho, no entanto, foi trocado para o Clippers numa decisão bastante sensata. Todo time que se livra do nosso gordinho favorito acaba melhorando. Apesar do enorme arsenal ofensivo e de ser muito bom nos rebotes, Randolph não defende, não pula e é assustadoramente individualista no ataque. Chamar de individualista, aliás, é ser politicamente correto: o Randolph é burro, simplesmente. Ele prefere arremessar de costas da zona morta do que passar a bola, e resolve passar quando simplesmente não faria sentido. Ninguém na NBA lê tão mal o jogo e é tão incapaz na arte de tomar decisões em quadra. E olha que eu passei muitos anos vendo o Rafer Alston jogar…

Com Zach Randolph, Kaman, Camby e o recém-draftado Blake Griffin, o Clippers tinha mesmo que se livrar de algum homem de garrafão e fez a coisa certa, se livrando do jogador que derruba qualquer franquia e ainda bate no peito se dizendo um dos melhores jogadores do planeta. Mas alguém teria que aceitar nosso querido roliço, cometer o erro que vimos outras franquias cometerem tão recentemente. Só que, como aprendemos com o Pistons, as equipes da NBA são burras e não aprendem necas.

Foi o Grizzlies que mordeu a isca. Na noite do draft, trocaram o fracasso humano Darko Milicic (que o Denis aposta que vai dar certo no Knicks) pelo Quentin Richardson e seu contrato gordo (e dedos frenéticos no gatilho de arremessos). Agora, o Quentinho vai para o Clippers em troca do Randolph. O Grizzlies draftou o Thabeet, um gigante defensivo que pode dar muito certo ou muito errado, e enquanto isso o Marc Gasol segura as pontas do garrafão também com sua defesa e rebotes. Mas um ala de força não se via no elenco desde Pau Gasol, e ninguém sabe marcar pontos lá na área pintada. É a situação perfeita para o Zach Randolph brilhar, marcar milhões de pontos, e o engraçado é que a bola nem vai chegar nas mãos dele mesmo, porque o OJ Mayo é um baita fominha. Se eu não conhecesse o histórico dos times pelos quais o Randolph passou, diria que há uma chance bem alta de dar certo. É claro que não vai, até porque estamos falando do Grizzlies e ninguém quer ir pra lá, ainda mais quando perceberem que com Mayo, Gay e Randolph, é melhor que o esporte comece a ter três bolas, tipo máquina de pinball.

Para o Clippers faz bastante sentido se livrar do gordinho porque o contrato do Quentin Richardson, que veio em seu lugar, expira na próxima temporada. Assim, o time no qual ninguém quer jogar vai ter uma bela graninha para oferecer para sujeitos como LeBron, Wade, Bosh, e até Carlos Boozer, que ficou no Jazz nessa temporada e será livre na outra (mas dele a gente fala em breve, em outro post).

Ou seja, o Clippers pode até ter evoluído um pouco e se livrado do Randolph, mas assim como o Pistons e o Grizzlies, ainda é burro e incapaz de aprender de verdade com seus próprios erros: continua achando que alguém importante vai topar uma boa grana pra jogar lá. Se muito, o Clippers vai conseguir algum jogador bom – e contundido. Pra marcar presença na enfermaria mais famosa e bem paga da NBA.

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