>Escola de porrada

>

O bom basquete tem classe, técnica e dedo no olho

Duas séries da primeira rodada desses playoffs foram ao épico, aguardado e sonhado jogo 7. Teríamos então dois jogos inesquecíveis, que dariam significado às nossas vidas, assunto pelos próximos anos e uma razão para os netos não caçoarem da gente por termos vivido na era do Kwame Brown. Nós, pobres fanáticos, lutamos desesperadamente por links que ficam cada vez mais difíceis de encontrar, em canais que são tirados do ar a cada 5 minutos e sites que expulsam os espectadores por haver uma cota para cada país. Deixamos de lado as namoradas, o cachorro morrendo de sede, o desfile de lingeries da Luciana Gimenez, a saída com os amigos bêbados de que a gente sempre se arrepende. Alô, Alinne Moraes? Não, nada feito, hoje tem jogo 7 entre Bulls e Celtics! Você sabia que nenhum time havia jogado 7 prorrogações num playoff, somando todas as séries, e Bulls e Celtics jogaram 7 apenas na primeira rodada? Você sabia que foram 4 jogos com prorrogações, recorde absoluto dos playoffs? Desculpa, Alinne Moraes, seria legal passar na sua casa, mas eu tenho história para presenciar. No dia seguinte? Nada feito, tem Dwyane Wade, em uma série sem dono em que nunca houve mudança de liderança após o primeiro quarto, qualquer um pode vencer! Bem, talvez possamos sair depois do primeiro quarto, então.

E foi aí que… funhé.

Bulls e Celtics começou com tudo, mas a recuperação da equipe de Boston ainda no segundo período decidiu o jogo. O John Salmons jogou como um pedaço de cocô, Brad Miller e Noah deram umas porradas e passaram muito tempo sentados, e o Ben Gordon até tentou colocar o jogo no bolso mas errou a bola que cortaria a vantagem do Celtics para 3 nos minutos finais. Foram quinhentas bolas imbecis arremessadas como sempre, mas dessa vez duas bolas importantíssimas dele simplesmente não caíram e seu cheque multibilionário foi parar em uma instituição de caridade.

No fundo, o jogo não deu nem pro cheiro. Com a melhor série de primeira rodada de todos os tempos, nos acostumamos a ver qualquer diferença desaparecer num punhado de bolas de sorte, e toda vez que um time precisava desesperadamente de um arremesso, o Ben Gordon e o Ray Allen estavam lá. Dessa vez, quando a bola foi parar nas mãos do Gordon num ângulo muito similar à bola lendária que ele já havia acertado na série, o aro impediu a cesta e alguma coisa morreu no fundo dos nossos corações. Fomos lembrados repentinamente que estávamos assistindo seres humanos e aquilo era apenas uma partida de basquete, não mágica sendo feita. Na bola anterior, o Ben Gordon tinha dado uma airball num arremesso de três pontos relativamente livre. Algumas posses de bola depois, errou grotescamente o arremesso que era a última esperança do Bulls. Foi como descobrir que não existia Coelhinho da Páscoa. Como diria Chico Xavier, “Fodeu”.

Me sinto até envergonhado de pegar no pé do Ben Gordon pela milésima vez, porque ele me proporcionou alguns dos momentos mais memoráveis da minha vida basquetebolística, mas sua falta de inteligência em quadra ganha e perde jogos. Dessa vez, perdeu, e a bola que deveria estar nas mãos do Derrick Rose foi parar nas mãos do Gordon porque nos acostumamos a ver arremessos ridículos que nunca deveriam ser dados mas caíam como se fosse a coisa mais natural do mundo. Em grande parte, claro, porque o elenco fede. Não vamos sentar aqui e fingir que o Bulls é um timaço, por favor. As trocas tornaram o time mais profundo, o Derrick Rose é o calouro do ano, existe tamanho e atleticismo no garrafão, mas diabos, a equipe ainda é aquele mesmo time limitado e jovem demais que ninguém acreditava ser capaz de arranhar o todo-poderoso Boston Celtics, a Alinne Moraes do mundo do basquete. Se o Bulls participou da melhor série de primeira rodada da história, é em parte porque o Ben Gordon estava lá para ser ridículo e moderadamente bem-sucedido, com os culhões (e o cheiro das verdinhas por perto) para dar os arremessos que o resto da pirralhada não teri coragem, ou que o resto do elenco simplesmente não teria o talento para arriscar.

É com incrível mérito que o Chicago se despede dessa temporada. Se a chegada anterior aos playoffs tinha sido rotulada de “pura sorte”, provaram que esse elenco só precisa de uma arrumadinha para dar cansaço à elite da liga. Eles são sempre jovens demais, sempre falta alguma peça, mas diabos, não era esse o mesmo problema do Hawks que também levou o Celtics para o jogo 7 nos playoffs passados e agora reinam?

Times jovens que enfrentam o Celtics e dão muito, muito trabalho, acabam acreditando em si mesmos e entrando com grande confiança na temporada seguinte. O Hawks escalou o Leste, então o Bulls pode fazer o mesmo. Não falta muito para que esse time se encontre, os problemas são óbvios e conhecidos há muito tempo, só falta decidir o que fazer com o Ben Gordon, mas seres humanos não deveriam ser obrigados a tomar esse tipo de decisão. O negócio é deixar para a moeda.

E esse Hawks, que amadureceu horrores com a derrota para o Celtics nos playoffs passados, chutou o traseiro do Miami Heat. O negócio é o seguinte: enfrentar o Boston é sempre uma lição sobre luta-livre, vale-tudo, dor, sangramento, chute no saco, cotoveladas no queixo e ódio, muito ódio. Hawks e Celtics foi uma série regada a trocentos confrontos, discussões, faltas flagrantes e expulsões. Acho que tem a ver com o Garnett, que devora criancinhas no café da manhã, mas mesmo sem ele na série contra o Bulls, houve muita confusão e a cota obrigatória de pancadaria e empurra-empurra. Esse Hawks que aprendeu como é bater e como é apanhar no clima de playoff – em que tiro de canhão não é falta (a não ser no Ginóbili e no Dwyane Wade) – entrou na temporada regular mordendo. Os meninos viraram homens bárbaros cabeludos e sanguinários comendo carne crua e assistindi “Linha Direta”, coisa de macho. Tornaram-se um dos times mais odiáveis da NBA e, vejam só, ensinaram aquilo que aprenderam para o pobre Miami Heat. Wade já foi campeão da NBA, tem um anel no dedo e tudo, mas não me lembro de ver ele apanhando tanto quanto nessa série. As costas rapidinho começaram a reclamar, doloridas, e boa parte do elenco do Heat se fingiu de morto no chão só pra não ter que levantar e apanhar de novo. Depois de 6 jogos, o técnico do Heat, Erick Spoelstra, alertou que já poderia dizer com garantia que não restava nenhuma amizade entre qualquer jogador das duas equipes. Todos oficialmente se odiavam e estava muito claro que, se algum jogo ficasse disputado, ia dar merda. Mas não deu – a verdade é que nenhum jogo foi disputado, sempre quem ganhava tivera um jogo um jogo fácil.

O jogo 7 acabou sendo outro “funhé” porque não deu nem pro cheiro, o Hawks foi mais físico, agressivo, motivado e filhodaputa desde o segundo inicial. E é claro que o Heat, na hora mais importante da temporada, não podia contar com Jermaine O’Neal. Troço mais óbvio impossível, o Jermaine até conseguiu ficar saudável na temporada regular, dar uma força, colocar o Heat em outro nível, fingir que a equipe tinha um garrafão, mas como assim ele estaria em quadra quando a equipe precisa dele? Impossível, a saúde teria que falhar – especialmente numa série em que tomou tanta porrada de um Hawks que queria assar todo mundo no espeto. O time ficou na mão e, como previsto, a equipe que ganhou o primeiro quarto acabou levando o jogo fácil, fácil. Deveria ter saído de casa logo ao fim do primeiro período.

Ainda assim, palmas também para o Heat, que foi cuspido, desacreditado e chamado de boboca mas conseguiu se posicionar bem no Leste e durar até um jogo 7. Pensar que essa equipe ganhou 15 jogos na temporada passada é ridículo, o Wade voltou melhor do que nunca, uma máquina de dar tocos, acertando bolas de três pontos (mas tentando elas em excesso), sendo o cestinha da NBA, e levando a equipe a 43 vitórias sem o tal do Shaquille O’Neal. O Jermaine ainda chegou com o bonde andando (não o do Tigrão, por favor), então na prática o Wade ganhou 43 jogos com o Joel “Zé Ruela” Anthony de pivô e um novato, o Superintendente Mario Chalmers, armando o jogo para ele. Patético. Pensar nisso deixa bem claro quem deveria ser o maldito MVP da temporada, esse time é tão ruim que me dá até vontade de ir ao banheiro!

Dois jogos 7 muito dos meia-bocas me arrancaram a vida social, me deram sono, mas permitiram que duas equipes muito jovens partisses dessa temporada de formas honradas. O Bulls e o Heat com certeza aprenderam a ser mais físicos, bater mais e jogar com mais vontade. Tudo cortesia, direta ou indireta, do Boston Celtics. No fundo, é o estilo de jogo que cria vencedores.

Vale lembrar que os verdinhos suaram contra o Hawks na temporada passada e, bem, como dizer, foram meio que campeões. Não quero dizer que o mesmo vá acontecer, longe disso, mas não dá pra descartar o time logo de cara, por mais cansados e sem-Garnett-zados que eles estejam. Se o Eddie House conseguiu ganhar o jogo 7 com quatro bolas de três pontos arremessadas com toda a inteligência de um orangotango no cio, o Cavs pode ter problemas caso venham a se enfrentar. Avisem o dentista do LeBron James, porque Hawks e Bulls sabem a verdade: dentes vão cair nessa série. O pau vai rolar solto, e o primeiro jogo do Celtics na segunda rodada é contra o Magic às 21h da segunda-feira. A próxima fase dos playoffs já começou, com o Nuggets dando um pau no Mavs, e o negócio está ficando sério. Os playoffs continuam a toda, e a gente aqui no Bola Presa corre atrás, sempre que a Alinne Moraes dá um tempo e pára de ligar pra gente. Coisa chata.

Como funcionam as assinaturas do Bola Presa?

Como são os planos?

São dois tipos de planos MENSAIS para você assinar o Bola Presa:

R$ 14

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

R$ 20

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo: Textos, Filtro Bola Presa, Podcast BTPH, Podcast Especial, Podcast Clube do Livro, FilmRoom e Prancheta.

Acesso ao nosso conteúdo exclusivo + Grupo no Facebook + Pelada mensal em SP + Sorteios e Bolões.

Como funciona o pagamento?

As assinaturas são feitas no Sparkle, da Hotmart, e todo o conteúdo fica disponível imediatamente lá mesmo na plataforma.