Derrick Rose chegou ao Bulls como a promessa de futuros melhores. Com a primeira escolha do draft de 2008, o Bulls esperava encontrar uma estrela que finalmente levasse a equipe a ter chances reais de título após um longo processo de reconstrução e algumas campanhas frustradas em playoffs anteriores. De fato, Derrick Rose correspondeu a essas expectativas: em sua primeira temporada foi eleito o melhor novato do ano, devolveu o Bulls aos playoffs e teve um duelo épico na primeira rodada da pós-temporada contra o Celtics, naquela que foi a primeira série da História dos playoffs a ter 4 prorrogações. Em sua primeira partida nos playoffs, já meteu 36 pontos e 11 assistências pra mostrar que não tinha encrenca. Na temporada seguinte, Derrick Rose voltou ainda melhor mas perdeu novamente na primeira rodada dos playoffs para o Cavs de LeBron James. Mas em seu terceiro ano de NBA, tudo mudou: Tom Thibodeau chegou à equipe implementando uma identidade coletiva e defensiva, ganhou o prêmio de técnico do ano, e Derrick Rose comandou a equipe para a primeira colocação do Leste, ganhando de brinde o prêmio de MVP da temporada. O Bulls chegou à final do Leste mas não conseguiu resistir ao Heat de LeBron, Wade e Bosh.
Com mais tempo sob o técnico Tom Thibodeau, mais entrosados, com mais experiência na pós-temporada, as expectativas eram altas para o Bulls na temporada 2011-12. Mesmo com Derrick Rose atrapalhado por lesões, a equipe terminou no primeiro lugar do Leste e sonhava enfim com um título merecido. Até que Derrick Rose rompeu um ligamento na primeira partida dos playoffs e tudo ruiu. Tentando segurar a onda na armação, Joakim Noah torceu o tornozelo feio e ficou de fora das últimas partidas da primeira rodada, e o Sixers conseguiu o milagre de avançar nos playoffs mesmo tendo se classificado apenas na oitava colocação.
A temporada seguinte viu o início da “novela Derrick Rose”: sua recuperação oficial durou até março, mas o jogador ainda não se sentia confortável fisicamente e optou por não jogar no restante da temporada. O problema é que a equipe estava segurando as pontas apenas esperando que Rose voltasse de lesão para liderar a campanha nos playoffs. Com lesões em vários outros jogadores do elenco, foi um milagre ver o Bulls se classificando em quinto no Leste, e a possibilidade de que Rose estreasse na pós-temporada cobria o time como uma nuvem sinistra. Passou-se um jogo, dois, três, e nada de Derrick Rose. O Bulls chegou nas semi-finais do Leste, e nada de Rose. O Bulls foi eliminado dos playoffs, e ninguém sabia explicar o motivo de um jogador fisicamente apto a jogar não ter entrado em quadra quando seus companheiros obviamente esperavam que isso acontecesse.
[image style=”” name=”on” link=”” target=”off” caption=”Deu ruim.”]http://bolapresa.com.br/wp-content/uploads/2015/11/Rose-hurt.jpg[/image]
Na temporada seguinte, Rose finalmente voltou às quadras – por 10 jogos, até rasgar o menisco e ficar fora pelo resto da temporada. Voltou o time, com um elenco cada vez mais completo e mais entrosado com Tim Thibodeau, a esperar por sua estrela retornar para levá-los à glória. Os jogadores jogavam com sangue nos olhos, falavam de Rose em todas as entrevistas, e os engravatados do Bulls continuavam a comprometer o futuro com o jogador, dando-lhe uma extensão milionária e pagando multas por estourar o teto salarial no processo. Esse time conseguiu uma fantástica quarta colocação no Leste, mas de novo morreu na primeira rodada dos playoffs.
Na temporada passada, Derrick Rose finalmente jogou o máximo desde sua temporada de MVP: 51 partidas. Teve que passar por outra cirurgia no joelho, dessa vez perdendo 20 jogos seguidos. Quando os médicos anunciaram que ele estaria pronto para jogar no começo dos playoffs, ninguém sabia se acreditava ou não: não seria surpresa alguma se ele ficasse fora por mais uma temporada inteira, ou se estivesse em condições médicas de jogo mas o jogador acreditasse não estar pronto fisicamente para as quadras. O time ficou mais uma temporada refém de Derrick Rose, sem saber se aprendia a jogar sem ele ou se aguardava seu retorno triunfal. No finalzinho da temporada regular Rose acabou mesmo voltando, mas com minutos limitados e bastante enferrujado. Pareceu ter dificuldade de se encaixar no time durante a pós-temporada, comprometendo uma movimentação ofensiva que já acostumara a não ter ele por ali. Quando perderam na semi-final do Leste independentemente de todo o esforço coletivo envolvido na ausência de Rose, ficou evidente a quantidade de excelentes temporadas de Bulls e Thibodeau que foram perdidas esperando o talentoso armador voltar. Quando o Bulls despediu o técnico ao término daquela temporada, considerei o fim de uma era: uma que poderia ter sido brilhante, mas que foi uma eterna batida na trave.
Quando sabe-se que Rose não estará lá, quando a comissão técnica e os dirigentes são firmes e informam que mesmo que o jogador volte de lesão será poupado, reinserido aos poucos, que seu futuro com a equipe será “reavaliado”, o resultado é que os espaços vazios podem ser verdadeiramente ocupados por outros jogadores. O Bulls poderia ter focado sua movimentação em Jimmy Butler muito antes; jogadores novatos poderiam ter sido inseridos na rotação para encontrar-se um novo armador; trocas poderiam ter sido feitas não para reforçar um garrafão que já era consolidado, mas sim para encontrar um pontuador agressivo no perímetro como o esquema tático exigia.
O que impediu que esse espaço essencial para o sucesso do Bulls fosse ocupado era a eterna sombra de uma possível volta de Derrick Rose, o sonho constante de ter de volta um jogador MVP, e as campanhas publicitárias sem pausa que propagandeavam Derrick Rose como uma estrela que daria a volta por cima. Psicológica e financeiramente, o Bulls se tornou refém, uma senhora à janela esperando por anos o marido voltar da guerra, colocando a vida inteira em hiato no processo.
Por mais estranho que pareça, a temporada de MVP de Derrick Rose acabou sendo muito ruim para o Chicago Bulls enquanto franquia: a promessa de tanto talento fez com que todos os outros planos fossem interrompidos em nome dessa possibilidade grandiosa. Somemos isso à vontade dos torcedores (e do mercado) de Chicago de ter uma nova estrela desde a aposentadoria do Jordan, e o resultado é uma receita para o desastre. Nem torcedores, nem patrocinadores nem a comissão técnica estão em condições de ver com clareza, de analisar o que é melhor para os resultados futuros da equipe. O que acontece se Rose se machucar novamente? Se ele sair da franquia a troco de nada? E, pior: o que acontece se ele mantiver atuações banais, fracas, decepcionantes, sem que ninguém tenha coragem de colocá-lo no banco ou encontrar um substituto à altura para sua função?
Sem dúvida alguma sou um fã de Derrick Rose, que em seu auge tem uma capacidade única de atacar a cesta e espaçar a quadra, uma velocidade incrível de pernas e de ver o jogo, uma vontade de decidir partidas apertadas, e uma tranquilidade essencial em momentos difíceis de um jogo. Mas nesse momento, analisando suas atuações nessa temporada sob a luz dos desastres passados, realmente acredito que o Bulls como equipe se beneficiaria de libertar-se do armador. Talvez seja hora de encarar o luto, fechar a janela e encerrar a espera por aquele MVP que talvez nunca volte mais. É hora de, assim como quer o jogador, testar o mercado.