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O espetáculo do basquetebol-arte

O Rodrigo Alves fez um texto muito bom no Rebote dizendo como esses playoffs estão chatos, ou pelo menos mais chatos do que a gente esperava depois de uma temporada regular que a revista Dime, em seu novo número, chama de “a melhor temporada de todos os tempos“. O que estamos vendo nesses playoffs são muitas séries bem disputadas mas que não são nada mais que sequências de lavadas, de goleadas, uma pra cada time, fazendo sériea disputadas de jogos não-disputados.

Mas ontem vimos uma exceção, um típico e bom jogo de playoff. Um bom jogo de playoff tem que ser disputado, tem que ser definindo no final e, mais importante, tem que nos manter empolgados e acordados até esse final emocionante. Muitos jogos, principalmente do Cavs, são um martírio durante três quartos e só no último é que ficam legais, com o LeBron dominando. Mas o de ontem não, o de ontem teve história em todos os períodos, heróis e vilões diferentes em vários momentos do jogo e, por fim, um final disputado com decisões polêmicas dos juízes. O que mais podemos pedir?

Podemos pedir pro Spurs perder. E perderam.

A história do jogo

Primeiro ato:

Era uma vez um primeiro período. Assim começa a história do jogo, e logo no começo o Lakers resolveu mostrar porque o Phil Jackson e o Kobe estavam tão bem humorados no final do jogo 3, quando tomaram porrada do Spurs. Estavam felizes porque sabiam que iam jogar muito no jogo seguinte. Com uma defesa fulmintante e saídas rápidas para o ataque, o Lakers chegou a abrir uma diferença de 14 pontos logo no começo da partida e, vocês não acreditam, com o Radmanovic jogando bem de novo! Quando a gente ia pensar que o Radmanovic ia ter dois jogos bons contra o Spurs SEGUIDOS? Foi ele o herói do primeiro quarto, basquete é uma caixinha de surpresas mesmo.

Como nada é perfeito, o Spurs resolveu acordar e foi tirando a diferença aos poucos. Tudo porque o herói do Spurs no período foi o Tony Parker, que em contra-ataques resolveu provar pela milésima vez que ninguém, simplesmente ninguém, consegue pará-lo em transição sem uma arma de fogo em mãos. Inclua Chuck Norris e Obina na lista dos que não param o Sr. Longoria.

Segundo ato:
Foi a vez de outra história aparecer. Jogo que é bom sabe trocar de personagem principal várias vezes para manter o interesse do público. Foi a vez do Luke Walton aparecer para o Lakers, e ele deu uma deu uma de cafajeste simpático porque foi herói e vilão, dependendo da posse de bola. Em uma, ele fazia a maior cagada do mundo, na seguinte dava um grande passe, depois errava um arremesso livre e aí resolveu liderar o Lakers nos minutos finais, fazendo a diferença acabar em 6 pontos.

Pelo Spurs, apesar da diferença magra, dois vilões aparecem na história: Manu Ginobili e Robert Horry. O argentino continuou narigudo e chato como no jogo 3, mas ao invés dos 22 pontos no primeiro tempo, não fez nenhum, foi fazer seus dois primeiros pontos só em lances livres e no terceiro período. Já o Horry, bem, o Horry, pra se ter uma idéia, está sendo chamado por um blog do Spurs de “o cadáver de Robert Horry” e tem dois pontos em toda a série até agora.

Terceiro ato:

A gente gosta de jogo com bastante personagem, mas se no fim das contas o jogo é decidido em um duelo épico entre o Linas Kleiza e o Keyon Dooling, é porque alguma coisa está errada. Então no terceiro quarto do jogo Kobe e Duncan foram fazer sua obrigação moral enquanto estrelas e um marcou 10 e o outro 11 pontos, tudo nesse período. E engraçado ver como os dois conseguiram essas cestas. Kobe fez os seus pontos em alguns lindos arremessos de longa distância e com duas enterradas maravilhosas, já o Duncan fez a maioria em tapinhas de rebotes ofensivos e bandejas na tabela. Não tô nem aí pra quem discute quem é melhor, mas quem diz que prefere ver o Duncan jogando deve estar mais drogado que o Joakim Noah.

Destaque nesse quarto para como o Lakers, mais uma vez nessa série de playoff, conseguiu sair de um empate nos minutos finais do quarto para começar o período seguinte com uma vantagem confortável. Foi assim nos jogos em Los Angeles, foi assim no final do segundo quarto e foi assim no final do terceiro também, quando o Sasha Vujacic fez uma jogada de 4 pontos e deixou a liderança do Lakers em sete para o último e decisivo período do jogo.

Quarto ato:
Como bom personagem principal, o Kobe sempre descansa no começo do quarto período, para só depois fazer sua entrada triunfal. E foi com o Kobe no banco que eu sabia que o Lakers ia vencer esse jogo. Explico: estava vendo o jogo pelo site da TNT, com trocentas câmeras ao mesmo tempo. Enquanto duas câmeras mostravam o jogo, uma mostrava só o Parker correndo pra cima e pra baixo, e outra, a do Kobe, apenas mostrava o MVP assistindo o jogo. A expressão dele era a mesma do começo da partida, tranquilo, sereno. Nem parecia que via o seu time ser engolido pelo Spurs e a diferença de sete pontos indo pelo espaço. Aí reparei na cara dos jogadores em quadra, estavam todos focados mas também sem desespero nenhum, simplesmente executando o ataque numa boa e nem esquentando a cabeça depois de turnovers. Epa, epa, epa! O que fizeram com o Lakers de um ano atrás que só faltrava trancar a porta e gritar em baixo do travesseiro depois de um turnover do Smush Parker? Cadê o Kobe que no quarto período nem tocava a bola de tanta falta de confiança nos outros jogadores? Sumiu tudo isso.

O Lakers de hoje não se desespera. Eles ficam com aquele ar de Pistons que sabe que o jogo está sob controle, está onde eles querem, e sabem que a pressão está no outro time. Quando me toquei disso eu soube que o jogo era nosso.

E foi assim mesmo que aconteceu, o Lakers não abaixava a cabeça diante de nada que o Spurs fazia, simplesmente ia lá e fazia melhor. O Kobe, quando voltou pra quadra, foi lá e meteu uns três jumpers seguidos e mostrou que estava no comando, depois foi a vez do Lamar Odom, que tantas vezes foi criticado por ser amarelão e por se desequilibrar emocionalmente nos jogos, decidir a parada com muitos rebotes e bandejas decisivas. Lembro que nessa temporada, depois que o Odom fez uma falta violenta no Ray Allen em uma derrota para o Celtics só porque o jogo estava perdido e o Odom decepcionado e bravo, perguntaram para o Phil Jackson o que fazer para deixar o Odom mais calmo, mais tranquilo, menos emotivo nos jogos. O Phil respondeu que não ia tentar fazer isso porque via mais pontos positivos do que negativos em ter um cara emotivo em quadra. O Zen Master entende das coisas. O Odom simplesmente usa toda sua energia para pegar rebotes como se fosse o Ben Wallace de anos atrás.

Tá, mas se essa merdinha do Lakers é tão bom como você diz, por que o jogo foi decidido na última bola?

Bom, tudo culpa do Brent Barry. Herói da noite em San Antonio.

Primeiro herói para o Spurs, acertou cinco bolas de 3, fez todo mundo esquecer da atuação pífea do Ginobili e fez o máximo de pontos em sua carreira em playoffs, 23 pontos. Toda vez que o Lakers tentava abrir, lá tava o Barry com aquele arremesso feio, parado e que é o gatilho mais rápido do Oeste. É simplesmente injusto e desleal ter um arremessador tão bom ao mesmo tempo em que se tem o Duncan no garrafão, deveria ser proibido.

Depois de tanto lenga-lenga, chegou o esperado minuto final. O Lakers tinha 7 pontos de vantagem e parecia ter a vitória garantida. Mas aí aconteceu tudo o que não tinha acontecido até então. A primeira loucura foi o Gasol errar seus primeiros lances livres no jogo, depois o Ginobili acertou sua primeira bola de 3 do jogo, aí o Kobe forçou uma jogada estúpida ao invés de gastar tempo, fazendo sua primeira cagada no jogo, e então o Parker pegou a bola, correu como um retardado e fez uma bandeja. Não, não foi a primeira bandeja dele no jogo, pelo menos alguma coisa tinha que ter ficado normal nesse último minuto.

Com 28 segundos no relógio, o Kobe decidiu gastar o tempo e nos segundos finais deu a bola pro Fisher, que errou o arremesso. E começou o show da arbitragem.
O primeiro erro foi ter dado airball do Fisher, quando na verdade a bola bateu no aro e, depois de desviar no Horry e cair pra fora, deveria ser posse de bola do Lakers com 24 segundos no relógio de posse. Mas como deram air ball, o Lakers tinha 2 segundos de posse e 4 segundos restavam no relógio. Então Kobe tentou um arremesso, errou, e o Spurs, que parecia morto, tinha 2 segundos para tentar vencer o jogo.

O Barry, depois do jogo, disse que a jogada tinha sido desenhada para o Ginobili, mas como deu tudo errado, caiu na mão dele mesmo. Aí ele pegou a bola e errou seu arremesso, dando a vitória pro Lakers. O problema foi que antes dele errar o arremesso, os juízes cagaram com tudo de novo, não marcando uma falta óbvia do Fisher no Barry. A falta deveria ser para dois arremessos apenas, porque Barry não estava arremessando, mas poderia levar o jogo à prorrogação. Eu não gosto dessa idéia de compensar marcação errada, mas no fundo foi o que aconteceu, uma cagada compensou a outra e o Lakers mereceu a vitória. Mas faltou para o Barry um pouco de malícia, se ao invés de tomar a trombada do Fisher tentando achar espaço para o arremesso ele tivesse tomado o contato ao tentar arremessar, os juízes não iam ter outra escolha senão dar os 3 lances livres para o Barry. Como o Felipe, nosso webdesigner e colaborador aqui do Bola Presa (além de torcedor do Spurs) disse depois do jogo: “A jogada era pro Ginobili. Se fosse ele, ia arranjar um jeito de cair no chão e sangrar depois do contato”. A mais pura verdade. Lição de hoje: ensinem seus jogadores a cavar faltas, pode ser decisivo.

Pro jogo 5 não tem muito o que dizer. Para o Lakers tem que ser o ato final dessa série, deixar o Spurs ganhar é dar moral demais para um time muito bom, o negócio é ir lá e ganhar. Para o Spurs, eles não tem lá mais muito a perder, é se jogar pra cima do Lakers e ver no que dá.

Números:

O Spurs liderou em acertos e em aproveitamento de lances livres e bolas de 3 no jogo de ontem. E foi esse jogo que eles perderam e que pode ter decidido a série. Quem liga para os números? São para os tolos.

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