Muitos fãs (chatos) de basquete que preferem um bom jogo da Euroliga ou da NCAA a um jogo da NBA dizem que pensam assim por gostar da maneira mais focada no jogo coletivo dessas ligas. Acham que na liga americana a coisa é muito focada no jogo individual, com times esperando que suas estrelas vençam os jogos e façam jogadas de efeito.
A NBA é a liga das estrelas mesmo. Quem joga é o Lakers de Kobe Bryant contra o Utah Jazz de Deron Williams. Todos os times têm esse aposto com o nome de seu jogador principal, são esses nomes que vendem o time. Não era raro ver uns anos atrás mais transmissões na TV do mediano Lakers do Kobe ou do medíocre Cavs do novato do LeBron ao invés de jogos em rede nacional dos fortes, defensivos e coletivos Pistons ou Pacers.
Mas tá, usar a imagem dos jogadores como heróis, como ídolos, é muito legal e entendemos os motivos do negócio. Mas o quanto isso vale para o jogo propriamente dito? Essas super estrelas resolvem mesmo? Dá pra ser campeão sem um estrela de primeiro porte no time?
O último sábado me inspirou a falar sobre o assunto porque em todos os jogos tivemos estrelas com atuações muito acima da média. Kobe fez um dos jogos mais impressionantes dos últimos tempos marcando 38 pontos quase que exclusivamente em arremessos de meia distância muito contestados. D-Wade cobrou o escanteio e foi cabecear, já diria minha vó, com pontos de longa distância, com enterradas, tocos, defesa e ainda armou para o resto do time. Chris Paul levou o Hornets, que parece cada vez um time pior, para uma inesperada vitória sobre o Nuggets e por fim o Tony Parker mostrou que o melhor jogador de garrafão de NBA tem 1,90m e é francês.
No domingo o LeBron ainda fechou a conta das superestrelas ao engolir mais uma vez o Pistons em Detroit.
Dos 4, apenas Tony Parker, que ainda contou com a ajuda de quase um triple-double de Tim Duncan, saiu com a derrota. Kobe, Wade, LeBron e Paul, que não tiveram outra nenhuma atuação espetacular para acompanhá-los, conseguiram vencer.
Ao ver uma atuação brilhante como a do Kobe, por exemplo, pensamos na hora que não dá pra vencer um time com um cara jogando daquele jeito. Parecia que toda vez que o Jazz pensava em fazer alguma coisa pra reagir, o Kobe estava lá pra acabar com eles. Fica a impressão de que o Jazz não vai ganhar nunca porque não tem Kobe Bryant.
Mas ao ver Tony Parker furando a defesa do Dallas o tempo inteiro com as bandejas mais malucas que você pode imaginar e mesmo assim perdendo, você pensa que não adianta nada o cara jogar sozinho se do lado dele tem o Matt Bonner e o Ime Udoka.
A sabedoria popular da NBA diz que um bom jogador ganha um jogo, um bom time vence uma série. E acho que a sabedoria popular acertou dessa vez. Podemos passar horas e horas aqui elogiando cada toco do Wade, cada arremesso impossível do Kobe sobre o coitado do Ronnie Brewer, mas quem vence uma série é sempre o melhor conjunto.
Claro que isso não quer dizer que você possa vencer um campeonato sem uma grande estrela na equipe, que fique muito claro! Isso simplesmente não existe na NBA!
Desde o fim da era Jordan, por exemplo, são 4 títulos para o Tim Duncan, talvez o melhor ala de força da história da NBA, 4 títulos para o Shaq, um dos melhores pivôs da história, e um para um time que só tinha Kevin Garnett, Paul Pierce e Ray Allen. Faltou alguém?
Faltou o Pistons de 2004. Tem muita gente que cai na lorota de que o Pistons é uma prova de que dá pra vencer na NBA sem grandes estrelas, mas o que aquele título na verdade prova é que a gente é muito ligado a nomes, a status, ao show, e não presta atenção no que está acontecendo de verdade. O Billups naquele ano já estava jogando como um dos melhores armadores da NBA e na final foi mais que isso, foi fora de série. O Rasheed Wallace já tinha sido muitas vezes all-star e o Ben Wallace já tinha se consagrado como o melhor defensor da liga.
Eles podiam ter um estilo de jogo bem coletivo, podiam não ter um cestinha com 30 pontos por jogo, mas dizer que eles não tinham estrelas é demais. O que acontece é que na época, em 2004, muitos deles ainda não tinham se consagrado em outras equipes ou não vinham de 10 temporadas sensacionais seguidas, ainda se tinha o medo deles serem meio fogo de palha ou time de temporada regular. Mas eram estrelas e ninguém percebeu, foram perceber depois quando Billups, Hamilton, Rasheed e Big Ben foram all-star na mesma temporada. O time sem estrelas de repente tinha 4.
Estrelas sozinhas ganham um jogo ou dois em uma série, mais que isso só se o adversário for bem fraco. Times bons vencem séries. Deu pra sacar, né? Mas acontece de dois times bons se enfrentarem, é o que geralmente acontece em finais de conferência ou nas finais da NBA mesmo. Muitas vezes (esqueça 2007) não fica muito óbvio qual é o melhor time.
E aí, entre dois times muito bons e parelhos, aquele único joguinho que a estrela ganha sozinha faz muita, muita diferença, alimentando de novo os argumentos de quem acha que estrelas vencem campeonatos sozinhos. Balela, uma herança maldita de quem acha que o Jordan ganharia 6 títulos mesmo se jogasse com o Zach Randolph e o Brian Scalabrine do lado.
São 30 times, os melhores jogadores do mundo e uma temporada enorme e desgastante. Você precisa de estrelas, de um time sólido, de união, de defesa, de confiança e de sorte para ser campeão.
…
Mais tarde o Danilo aparece com um texto bem bacana sobre o jogaço entre Bulls e Celtics, o melhor dos playoffs até agora e que por falta de uma teve uma renca de estrela. Até o John Salmons brincou de superstar na tarde de domingo.