>Eu taco fogo!

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A bola é completamente secundária nesse esporte

Sempre existe aquela coisa em que somos especialistas embora não nos orgulhemos disso nem um pouco. Pode ser todas as coreografias da época áurea do “É o Tchan” com a Carla Perez, o nome de todos os pokémons ou então todas as discussões do Toninho do Diabo e do Inri Cristo no programa da Luciana Gimenes. No meu caso, como blogueiro de basquete, a especialidade da qual não me orgulho é justamente sobre NBA: sou especialista quando o assunto é perder para o Utah Jazz.

Como torcedor do Houston Rockets, conheço cada pequeno detalhe que possa levar a uma derrota para o time de Salt Lake durante os playoffs. Basta um jogador do Jazz dar uma cutucada no nariz e eu sei dizer se seu time ganhará ou não. Ontem, no duelo entre Lakers e Jazz, todos os sinais da vitória vindoura estavam presentes: Okur passeando livre na linha de 3, Deron Williams deitando e rolando nos passes picados, Kirilenko participando do ataque, Millsap acertando jumpers da cabeça do garrafão.

Aliás, pode acreditar, já vi o Houston perder trocentas vezes assim: se o Millsap acertar arremessos da cabeça do garrafão, nem que seja apenas um ou dois, o Jazz vai acabar ganhando. É tipo o Sixers de uns anos atrás que era invicto nos jogos em que Iverson desperdiçava mais de 4 bolas na partida. Faz sentido? Não. Mas que funciona, ah, funciona.

O Lakers pode ser amplamente favorito, pode ter o MVP, pode ter feito a troca mais café-com-leite da história da NBA, mas nada disso importa quando se trata do Jazz. O negócio com esse time é que eles são capazes de vencer qualquer jogo de qualquer equipe e ninguém, nem mesmo eles, sabem o que vai acontecer em quadra. Talvez não vençam 4 jogos numa melhor de 7, é verdade, mas nenhum dos jogos terá um favorito: seja com quem for, o Jazz poderá vencer. Eles são simplesmente profundos demais, com recursos demais, e quando as coisas dão bastante certo, a vitória acaba saindo. Basta uns arremessos do Millsap, um par de bolas seguidas de 3 pontos de Okur ou Deron Williams (aliás, alguém sabia que o D-Will está acertando 56% de suas bolas de 3 pontos nos playoffs?!), uma cravada de Kirilenko, um arremesso de Kyle Korver e lá está, o time dos mórmons ganhou mais uma.

Na partida de ontem, Kobe Bryant estava sofrendo com dores nas costas, tomou uma pancada na perna esquerda e a dor pareceu torná-lo um psicótico completo. No quarto período e na prorrogação, arremessou sem parar de todos os lugares da quadra – sem acertar coisa alguma. Em um punhado de jogadas, Kobe ignorou movimentações ofensivas, tática ou mesmo bom senso e simplesmente arremessou por cima de seu marcador. Arremessos forçados e desnecessários, principalmente tendo em vista que Kobe estava engolindo seus marcadores vivos quando jogava de costas para a cesta, dentro do garrafão. O atual MVP estava fora de si, num estado mental lastimável. Se ele fosse técnico, provavelmente teria aceitado ir treinar o Knicks.

Apesar de Kobe numa noite atípica, bolas certeiras de Fisher no final do tempo regular colocaram o Lakers na partida, até Odom acertar um improvável arremesso de 3 pontos para empatar o jogo. Eu adoro Lamar Odom e Monta Ellis, são jogadores monstruosos que atacam a cesta como ninguém, mas prenda os dois num ginásio e só permita que saiam quando um deles acertar dois arremessos seguidos – meses depois, um terá assado o outro numa fogueira para sobreviver. Quando Odom acertou o arremesso sem sequer mexer a redinha da cesta e Fisher deu um toco em Deron Williams na posse de bola final, levando o jogo para a prorrogação, os torcedores do Lakers ficaram esperançosos. Ah, pobres ignorantes! Por acaso não viram o Millsap acertando arremessos da cabeça do garrafão logo no começo do jogo?! Não sabem o que isso profetiza?

A prorrogação foi demais para o Lakers numa noite em que Kobe estava com a barra de energia vazia e tudo funcionava para o Jazz na hora em que precisava funcionar, ainda mais com a partida sendo em Utah. Todos aqueles que apostavam num 4 a 0 para o Lakers obviamente não torcem para o Houston e não conhecem a minha especialidade. O Jazz pode perder as próximas partidas mas pode ganhar a série sem muitas dificuldades, o que fará 400 bilhões de chineses torcedores do Houston levantarem placas de “Eu já sabia”. E depois voltarem a comer arroz.

Mas não se pode acertar todas, não é mesmo? Se eu apostava no empate do Jazz desde o princípio, mostrando toda minha genialidade, também apostei numa varrida do Hornets em cima do Spurs, mostrando toda minha burrisse, insanidade e ingenuidade. No entanto, eu tinha alguns argumentos para não acreditar numa recuperação do Spurs. Pra começar, a defesa que o Hornets arrumou para lidar com o Duncan é algo para ser ensinado nas escolas, de preferência no lugar das aulas de Química. Quando Tim Duncan começa a bater bola, a marcação dobra nele mas há uma rotação imediata, antes mesmo de Duncan passar a bola, de modo a manter um marcador sempre em cima dos jogadores mais próximos do Spurs na linha de 3 pontos. Um jogador corre para cobrir o espaço deixado por seu companheiro até que o jogador do Spurs que sobre livre esteja no canto oposto da quadra, dificultando assim os passes de Duncan pela distância e até pela imprevisibilidade da marcação. Some a isso o fato do técnico do Spurs, Gregg Popovich, ser um dos caras mais chatos e metódicos da história da humanidade. Ele é do tipo que taca a mulher pela janela se não puder dormir no seu lado de sempre da cama. Quem acompanha o San Antonio sabe o quanto Tony Parker sofreu até ganhar a pseud0-liberdade que tem hoje em quadra, e se o francês tivesse um pouco menos de paciência, estaria jogando gamão. Consequentemente, concluí que Popovich não iria mudar o estilo de jogo do Spurs de modo algum, algo que, aliás, ele pessoalmente afirmou depois de perder o segundo jogo em New Orleans. Mas o sujeito resolveu parar de frescura e colocou Ginobili como titular (afinal, ele já ganhou o prêmio de melhor 6o homem mesmo, não precisa mais manter as aparências), para meu espanto. Quando achei que isso era ousado, me deparei com as outras coisas que Popovich fez na série.

Depois de perder dois jogos para Chris Paul, o técnico do Spurs resolveu tirar Bowen de cima do homem. A idéia, provavelmente, era deixar Paul fazer o que quisesse e incentivar Tony Parker a fazer o mesmo, dando o troco. A série virou um duelo pessoal entre os dois que beira o ridículo e Bowen ficou livre para anular uma das armas ofensivas do Hornets na linha de 3 pontos: Stojakovic. Agora, Chris Paul faz o que quer mas tem menos ajuda no perímetro, enquanto Parker também faz o que bem entende e o Spurs ainda se garante nas bolas de fora. Além disso, Duncan foi instruído a agir diferente quando dobram a marcação em cima dele, sendo agora mais agressivo e aproveitando sua altura para passar a bola diretamente para o homem livre que fica do lado oposto da quadra. A defesa do Hornets ainda é eficiente nesse sentido, mas os passes de Duncan foram certeiros e Tyson Chandler, também agora vítima de sua versão do hack-a-Shaq, tem sido obrigado a descer o braço no Duncan mais do que seria o ideal.

Agora, virou xadrez. Se o Byron Scott nos fez acreditar, com sua defesa ousada, que o Hornets iria levar a série fácil, agora Gregg Popovich nos leva a crer que o Spurs vai ganhar as próximas partidas graças a contra-ataques certeiros às ações do adversário. E agora, qual será a inovação tática dos dois lados no Jogo 5 da série?

Lakers e Jazz fazem uma série imprevisível enquanto Spurs e Hornets jogam xadrez nas pranchetas. Não posso perder mais nenhum jogo, finalmente os playoffs estão mais legais do que aquelas discussões do Toninho do Diabo com o Inri Cristo que eu mencionei antes. Aliás, os dois dariam excelentes mascotes na NBA. Já consigo até imaginar uma propaganda na TV gringa, falando sobre como os playoffs estão pegando fogo, ao som do Toninho do Diabo cantando “Eu taco fogo!”. Imperdível.

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