>
Poucas coisas no micro-cosmos da NBA são tão certeiras, brutais e impiedosas quanto a maldição do Los Angeles Clippers. Há uns anos atrás, quando eu me referia a algo que deu errado por puro azar, sem muita explicação lógica, dizia que tratava-se de algo “muito Clippers”. Ainda hoje uso essa expressão às vezes, meio sem querer.
Por um momento, pareceu que essa lógica seria finalmente vencida, que a maldição se dissipara quando o Clippers foi enfim para os playoffs, venceu sua primeira partida de pós-temporada em 13 anos, venceu sua primeira série e foi perder só para o Suns num dramático jogo 7 nas semi-finais. Promissor, para dizer o mínimo! Mas foi só uma ilusão passageira. A ida do Clippers aos playoffs foi apenas o anúncio de que tudo daria errado de novo. Na temporada seguinte, o jovem armador Shaung Livingston, a grande aposta da equipe para segurar as rédeas da franquia na armação pela próxima década, viu seu joelho virar farofa num lance completamente banal. A perna dele simplesmente desmontou como se fosse feita de Lego e muito se falou sobre ele jamais poder jogar novamente. Além disso, contusões ocorreram com Cassell, Maggette, Kaman e com o Tim Thomas, recém-contratado. O coitado saiu do Suns imaginando estar indo para outro time que disputaria os playoffs, nem imaginava em que tipo de maldição estava se metendo. Descobriu logo, indo pra enfermaria.
Pensar no banheiro no que o Clippers poderia fazer para se recuperar é impossível sem analisar o que vem acontecendo com a equipe nos últimos tempos. Veja bem, por anos eles formaram um elenco competente e bem treinado, com uma série de jogadores talentosos com diferentes capacidades que se completavam bem. Elton Brand é um dos melhores alas de força da NBA, tanto no ataque quanto na defesa, e o dia em que ele não fizer 20 pontos com 10 rebotes por jogo numa temporada, o Universo vai implodir. Além dele, passou pelo Clippers o então jovem promissor Lamar Odom, atualmente chutando traseiros no primo rico, o Lakers. O elenco também continha Corey Maggette, lá até hoje, um cara que, quando tudo está dando errado, consegue bater para dentro, cavar faltas e passar horas e mais horas cobrando lances livres. Comandando a brincadeira, Shaun Livingston aprendia com o veteraníssimo Sam Cassell, que tem três bolas no saco. E o pivô Chris Kaman se firma como uma potência no garrafão do Oeste a cada jogo. Sério, com um elenco desses, qual é o problema? Por que há uns anos atrás, quando todos esses jogadores eram jovens cheios de potencial, o time fedia demais e todos eles só sonhavam com a possibilidade de dar o fora? O próprio Elton Brand tentou escapar mas acabou sendo segurado em Los Angeles, a princípio meio a contragosto. A impressão é de que existe um grave problema de relacionamento, um terrível sistema de torturas, algo que faz todos os membros da equipe só pensarem em fugir de lá, sem importar quanto talento a equipe contém. É como se eles soubessem que estão jogando num time amaldiçoado.
Nessa temporada, eles também foram desolados por contusões. Sam Cassell passou boa parte da temporada machucado e, quando sarou, fugiu para Boston o mais rápido que conseguiu. Elton Brand sequer conseguiu participar da temporada regular e, quando enfim conseguiu retornar à equipe, viu Chris Kaman acusar lesão e ficar fora nos jogos que restam. Isso sem contar Maggette e Quinton Ross, ambos lesionados em boa parte da temporada. É ou não é assustador? O que será que se passa pela cabeça do novato Al Thornton, que parece tão talentoso, ao ver que todo mundo quer dar o fora do time pelo qual foi draftado? O que ele pensa em fazer ao perceber que grandes estrelas como Elton Brand correm o risco de serem completamente ignoradas pela história da NBA porque “queimaram” seus anos de carreira apanhando no Clippers? O que ele conversa quando encontra com Lamar Odom, a jovem estrela que conseguiu escapar e hoje tem chances reais de título também em Los Angeles?
Não consigo ter outro pensamento que não seja imaginar que Al Thornton vai ficar no Clippers até seu contrato de novato acabar para, então, dar o fora dali como o diabo foge da Preta Gil. Qual novato, em sã consciência, estaria disposto a lidar com uma maldição como essa?
Foi por isso que, quando vi o Clippers enfrentando o Denver Nuggets, fiquei muito feliz de ver Elton Brand de volta às quadras quando isso não era sequer necessário. Era como se ele sentisse uma obrigação de devolver alguma coisa, o que quer que fosse, para a equipe que teve que aguentar sua contusão, ao invés de querer escapar da equipe que o condenou ao azar. Em entrevistas, Brand (cujo contrato acaba nessa temporada) já deixou bem claro que quer continuar no Clippers. Ele quer insistir.
Anos e anos de sua carreira gastos em Los Angeles e Elton Brand ainda quer estar lá enquanto todos os outros querem fugir. Enquanto ouvia isso na transmissão, via imagens de Shaun Livingston voltando a praticar basquete. Correndo lentamente, arremessando sem pular, mas pronto para voltar às quadras na temporada que vem.
Eu tenho dó do Clippers. Contra toda a lógica, quero acreditar que Brand, Livingston, Kaman e o novato Al Thornton podem mudar os rumos dessa franquia. Quero realmente achar que eles podem superar as lesões, as dificuldades, o desânimo e a fuga em massa para alcançar os playoffs e voltar ao menos a uma semi-final da NBA.
Mas eu sei que isso é pouquíssimo possível. Em toda minha racionalidade, que acha que o Clippers simplesmente não tem chances de ser bem sucedido, a solução que me vem à mente é uma só: já é hora de chamar um exorcista.
…
Nota (por Denis)
Sim, como disseram dois comentários de ontem, esse texto estava aqui ontem mesmo. A culpa é minha. O Danilo deixou esse texto do Clippers escrito para eu postar no domingo e fazer o meu ontem, eu me confundi na hora de publicar e deixei o do Clippers aqui por uns 10, 15 minutos, o que foi o bastante para algumas pessoas lerem. Falha de Rookie, perdão!