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Como meu Rockets anda fedendo e 11 partidas não é tanta coisa assim, o saldo positivo nem chega a ser tão gritante. Mas o caso do Wizards é tão berrante quanto o cabelo da Elke Maravilha: com o Arenas em quadra, foram apenas 2 vitórias e 5 derrotas. Nos últimos 6 jogos, ainda sem Gilbert, foram 5 vitórias, incluindo duas em cima do Boston e uma em cima do Mavs. Assim, fica fácil apontar dedos, criticar, julgar, queimar na fogueira e bolar a “troca do Arenas” número oito mil e duzentos para mandar pra nossa coluna “Both Teams Played Hard“.
Como o Denis cansou de dizer desde esse post aqui, o Wizards joga melhor sem o Arenas não porque as coisas fluem magicamente melhor sem ele em quadra, mas porque o time sabe que sem ele por lá precisa fazer algumas coisas que em geral dá preguiça, tipo pensar. Ou defender.
A fama de “fominha” é uma coisa comum aos grandes pontuadores e tanto Arenas quanto T-Mac sofrem com ela. Muito embora os dois às vezes mereçam uns petelecos na orelha porque entram em uma bolha de plástico, esquecem do resto do planeta e só arremessam sem pensar em nada até os braços descolarem do corpo e caírem, em geral os dois são jogadores inteligentes dispostos a fazer o que for necessário pelo time. Tracy Mcgrady já passou daquela fase em que era apaixonado por si mesmo como o Damon Jones (que se acha o melhor arremessador do mundo). Bastou ser cestinha da temporada no Magic e mesmo assim amargar a lanterna da tabela para o T-Mac perceber que fazer pontos em vão é como assistir Big Brother quando não tem gostosa na casa: simplesmente não faz sentido. No Houston, McGrady já disse em mais de uma ocasião que a estrela do time é o Yao e que ele só está lá para tentar facilitar as coisas para o chinês e para seus demais companheiros. E, mesmo quando a mira está descalibrada (o que, admito, não é tão raro assim), a simples existência de T-Mac em quadra realmente torna a vida de todo mundo em Houston mais fácil. Não só o sujeito é inteligente e, em geral, sabe o que fazer com a bola, como também é o melhor passador da equipe (o que não é lá tão difícil quando o armador principal é o Rafer Alston, mas deixa pra lá). Sua presença obriga a defesa adversária a se preocupar com ele, abre espaços, gera confusão, e as assistências de T-Mac são certeiras. Mesmo quando suas atuações são piores que piada da Praça É Nossa, ainda assim o time é melhor com ele, não há dúvida. Sem ele em quadra, o jogo foca demais no Yao Ming e as marcações duplas e triplas tornam o jogo viciado, estático.
Kobe Bryant também abraçou esse papel de facilitador, e não é algo tão recente quanto muita gente imagina. Claro, marcar 81 pontos numa partida não faz lá muito bem para a fama de “jogador de equipe” (embora faça maravilhas pela sua carreira publicitária, para as vendas de suas camisetas e, consequentemente, para seu bolso), mas o Kobe também parece, salvas raras exceções, fazer aquilo que o jogo pede. Ele reage ao que está acontecendo como poucos jogadores na NBA. Se o jogo pede que ele pontue, ele arremessa, mesmo que nada esteja caindo. Se o jogo pede que ele envolva outros jogadores, ele irá envolvê-los. Kobe é capaz de fazer 30 pontos em um tempo e não dar nenhum arremesso no outro, apenas focando nos outros companheiros. Só estar ali, uma ameaça eterna de que pode pontuar a qualquer momento, já deve deixar todos os jogadores mais tranquilos, menos o Kwame Brown que só fica tranquilo quando come um sanduíche.
O Wizards agora movimenta a bola, pensa duas vezes antes de arremessar, tem paciência, foca suas jogadas nas alas. Caron Butler está cada vez melhor, Jamison sabe por experiência quando deve arremessar e quando deve se omitir, e até o “bege” do Pecherov voltou de contusão. Tudo parece um sonho para o time de Washington e a volta do Arenas só vem acrescentar a isso, não estragar. Ele pode falar demais, causar polêmica, ser controverso e oportunista, mas não é burro. Sabe que deve forçar o jogo quando o time pede que ele force, e que deve facilitar para os companheiros às vezes, só aguardando para dar os últimos arremessos das partidas. Muita gente anda dizendo que o Wizards deveria ir atrás de um armador principal puro, passador, para substituir Arenas, mas o sistema de jogo da equipe sequer necessita de um armador principal. DeShawn Stevenson, um arremessador de berço, não teve problema algum em assumir a função de armador principal por uns tempos. O negócio é deixar o Arenas por lá, vibrar com sua volta, torcer para o Wizards não entrar no mundo da preguiça só porque recuperou sua maior estrela, e então deixar que a simples presença de Gilbert torne as coisas mais fáceis para quem está em volta. Se vierem uns arremessos certeiros de último segundo como brinde, também, eu e o resto da NBA agradecem.
Chega de achar que toda estrela que se machuca e vê o time melhorar é um Zach Randolph da vida. O nosso gordinho mais aloprado desse blog é um destruidor de esquemas de jogo, de química em quadra, incapaz de reconhecer a presença de outros companheiros num raio de 2 km. O Marbury também sempre foi um caso dos que tornam seu time pior, e o fato é comprovado durante toda uma carreira, com provas concretas e incontestáveis em New Jersey, Phoenix e agora em New York. Mas Arenas, Kobe e T-Mac não estão no mesmo grupo, mesmo que para muitos não sejam considerados “ganhadores”. Ao menos o Arenas, graças ao resto do Wizards, está muito próximo de acabar com esse fardo de não vencer, basta esperarmos sua volta – e os playoffs.