>FAQ – Seleção Brasileira

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Eu não tinha a menor ideia de quem era o cara que chutou a bunda do Scola

No glorioso 7 de setembro, independência da nossa grande nação das garras portuguesas, um grupo de heróis resolveu homenagear a nossa pátria acertando uma bola laranja dentro de um cesto defendido por um grupo de estrangeiros. Ao fim de 40 minutos de batalha, o número de bolas acertadas nesse cesto foi grande o bastante para que 190 milhões de pessoas (ou pelo menos umas 300 no Twitter) conclamasse que Rafael Hettsheimer tinha um valor tão grande quanto o de Dom Pedro I para essa data.

Ao ver que o Bola Presa, esse blog da imprensa imperialista/golpista/mala-sem-alça/anti-patriota não tinha comentado nada sobre o jogo, pipocaram muitas perguntas no nosso Twitter e Formspring questionando o motivo de não tocarmos no assunto e, ao mesmo tempo, nos pedindo opiniões sobre a seleção brasileira e seus jogadores, em especial perguntas suuuper novas como “Por que o Machado ainda está na seleção?” e “Por que o Huertas não está na NBA?”.

Resolvemos então fazer um FAQ respondendo as perguntas repetidas que recebemos e encerrando o assunto. E faremos isso antes do decisivo jogo de amanhã contra a República Dominicana para não ser uma resposta motivada por resultado.

Pergunta 1
Versão educada: “Por que vocês não falam do Pré-Olímpico e do Eurobasket?”
Versão troll: “Te peguei no flagra assistindo a seleção! Cadê os Mr.NBA? Cadê? Tão vendo outras coisas agora, é?”

Se você acompanha o blog desde os tempos mais remotos, quando éramos underground, pouco conhecidos e não eramos modinha mainstream, você irá lembrar que já fizemos cobertura de Pré-Olímpico, Pré-Olímpico Mundial, de Mundial, de Olimpíada (mesmo com o Brasil fora) e até de Paraolimpíada! Ou seja, já tentamos.

Mas depois de fazer tudo isso, eu e o Danilo paramos para refletir se realmente valeria a pena partir para essa mais uma vez. A proposta do blog quando o criamos era falar de NBA, não de basquete em geral, e isso foi uma decisão baseada nos nossos gostos, talentos e conhecimentos. Mudamos no meio do caminho e não gostamos do resultado, o que não quer dizer que não gostamos do assunto. As revistas INFO ou Capricho evitam o assunto política porque não é a proposta delas, não porque os seus repórteres e responsáveis não achem o assunto digno de atenção, a mesma coisa da gente com o basquete fora da NBA.

Sentimos que estávamos saindo fora do nosso meio, que não nos divertíamos no processo e, mais importante e broxante, não acrescentávamos nada de novo à discussão. Modéstia à parte, acho que trazemos à tona assuntos, pensamentos e informações que são novas e interessantes para o público da NBA. Mas quando falamos de outros torneios acabamos caindo no lugar comum e só repetindo informações e opiniões que estão em toda a parte. Estão aí o Rodrigo Alves, o Balassiano, o BasketBrasil, DraftBrasil e o novo Basketeria cobrindo a seleção com gosto, vontade e conhecimento, não somos necessários nessa frente.

Pergunta 2
Versão educada: “Então quer dizer que você só assistem NBA?”
Versão troll: “Bando de paga pau dos EUA, só assiste o que acontece lá, né?”

Eu volta e meia estou assistindo a NBB, Euroliga, ACB e NCAA, no Chipre eu até assisti a jogos da bizarra Divisão A Cipriota, mas não quer dizer que assista todo dia/semana e entenda do assunto. Um dos motivos que faz com que eu me sinta à vontade fazendo um post sobre, por exemplo, o Bucks, é que eu já assisti uns trocentos jogos deles antes de escrever. E assisti ainda mais no ano passado e no anterior e no anterior. E acompanho a carreira do Michael Redd, do Brandon Jennings, do Richard Luc Mbah a Moute, do Andrew Bogut e de quase o elenco inteiro desde o começo. Sei das brigas e doideiras do Scott Skiles e do seu estilo de jogo. Ou seja, é um assunto que eu posso contribuir de maneira profunda e interessante.

Em contrapartida, o que eu poderia falar sobre o grande nome (em todos os sentidos) do último jogo entre Brasil e Argentina, o Rafael Hettsheimer? Nunca tinha ouvido falar até alguns meses atrás, não sabia onde o cara jogava, nada. Acabaria fazendo o que eu mais odeio que façam em jogos da NBA: que comentem só o momento, aquele segundo, sem saber nada da história do jogador, suas características ou função no time. Quantas vezes um jogador está fazendo uma temporada espetacular mas aquele jogo que calhou de passar na ESPN é um dos seus piores? Aí dá-lhe os comentaristas desinformados dizendo que o cara é um prego. Sim, naquele dia o cara está sendo e isso merece ser dito, mas não sempre e a informação passada fica toda errada.

Pergunta 3
Versão educada: “Mas vocês não acham que tem que dar uma força para o basquete nacional?”
Versão troll: “Por isso que o basquete brasileiro não vai pra frente, ninguém dá atenção. A SporTV fica passando o US Open ao invés de Venezuela x Panamá!”

Nessas 4 temporadas de NBA que acompanhamos no Bola Presa muita gente veio nos dizer que tinha desanimado da NBA e de basquete por muitos anos, mas que voltou a acompanhar o esporte por causa dos nossos textos. Alguns se animaram até a começar/voltar a jogar! Para dar uma força ao basquete basta fazer com que as pessoas achem ele um esporte interessante e dá pra fazer isso falando de qualquer torneio.

O futebol americano e o rugby cresceram em número de praticantes no Brasil porque assistimos aos gringos jogando. Para crescer ainda mais precisamos de mais jogos da NFL por semana ou precisamos passar jogos amadores dos brazucas? Na minha opinião é de mais NFL, é vendo o jogo em seu melhor que as pessoas se encantam e desejam praticar e consumir o jogo.

Nossa intenção com o Bola Presa nunca foi nobre e não pensamos em fazer um site sobre NBA para incentivar o esporte no território brasileiro. Fizemos porque achamos que seria legal, mas naturalmente vimos que ajudamos algumas poucas pessoas a criarem gosto pelo basquete. E para isso não precisamos mentir dizendo que a Liga Sub-13 do Mato Grosso do Sul é interessante.

Pergunta 4
Versão educada: “Mas já que vocês assistem, podem dar a opinião de vocês sobre a seleção?”
Versão troll: “Comenta aê, porra!”

Agora que vocês já sabem que nossa opinião não vale muita coisa, sim, comentamos.

Pergunta 5
Versão educada: “O que acham do Marcelinho Huertas comandando a seleção?”
Versão troll (na íntegra e direta do formspring): “Como voces podem dizer que o Huertas não tem vaga na NBA? O cara destrói, inclusive contra os caras da própria liga americana”

O curioso da segunda pergunta é que a gente nunca disse que ele não tem vaga na NBA! E pior, no ano passado fizemos mais de um post só discutindo o assunto de maneira mais profunda do que uma mera especulação mereceria. Vou tentar ser mais breve dessa vez.

O Huertas é o cara mais importante dessa seleção. Até o jogo contra a Argentina, quando o time (sei lá porque) começou a movimentar a bola e jogar como um time, ele segurava a bola durante 23 segundos dos 24 de posse de bola do time. Quando o Brasil jogava bem era por causa dele, quando estava mal era por causa dele, quando era o melhor time do mundo, era graças ao Huertas. Por um lado vimos um jogador amadurecido, de visão de jogo espetacular e um “floater” quase infalível. Por outro um cara que parecia não confiar em ninguém que não fosse o Tiago Splitter e que queria ganhar sozinho. Não dá pra culpar totalmente ele, o resto do time não é de inspirar tanta confiança assim, mas não é o papel dele como armador. No maior estilo Kobe Bryant, ele é fantástico, mas seus times são melhores quando eles tentam controlar menos o jogo.

E lembram quando entrevistei o Splitter? Parei e conversei um pouco com o Huertas também para uma matéria para o site do Clube Paulistano, onde estou trabalhando. Ao fim da conversa não resisti e disse “Todo mundo fica enchendo o saco de você na NBA, o que VOCÊ acha disso tudo?”. Ele me disse que o sonho de ir pra lá sempre existe e que ele acha que tem jogo pra atuar lá, mas que teria que ser no time certo (ele não queria ir para o Miami Heat assistir o Wade e o LeBron controlar a bola, por exemplo) e nem queria ser um novo Sarunas Jasikevicius, ídolo/deus na Europa e que foi para a NBA ser um arremessador que jogava 5 minutos por jogo.

No fundo não faz sentido para ele arriscar uma carreira ótima na Europa (grandes times, torneios importantes, atenção, salário, fãs apaixonados, etc) para jogar na NBA sem garantia nenhuma. Acho que ele tem toda razão, jogo para ir para a NBA é claro que ele tem, mas vale mais a pena você gastar o auge da sua carreira sendo armador titular do Barcelona ou correndo o risco de algum técnico que nunca viu basquete europeu na vida dar piti e te jogar na reserva do Mardy Collins? Se fosse para ir para um time onde ele se encaixasse e tivesse espaço e tempo para se adaptar, ótimo, ir só para dizer que foi é furada.

Pergunta 6
Versão educada: “Por que o Nezinho e o Marcelinho Machado, tão criticados, ainda estão na seleção?”
Versão troll: “O que os técnicos ainda veem nesses merdas do Nezinho e do Crazy Shooter?”

Triste choque de realidade aqui, mas até eu que não assisto basquete brasileiro tão de perto assim já percebi que quando o Marcelinho Machado e o Nezinho jogam, eles dominam. Não é à toa que eles estão todos os anos disputando os títulos mais importantes, não é sorte, no nosso cenário nacional eles ainda estão entre os melhores. De longe.

Talvez, por questão de princípios, de implantar uma nova mentalidade e de forçar uma renovação, você até pode não querer chamá-los, mas se for para levar os melhores jogadores de suas posições eles tem que estar lá. Eles tem uma tonelada de defeitos condenáveis? Sim, e isso mostra como o basquete brasileiro, com ou sem vaga olímpica, é pior do que gostaríamos de admitir.

Pergunta 7
Versão educada: “Se classificarmos, precisamos de Nenê, Varejão e Leandrinho ou isso é uma prova que eles não são necessários?”
Versão troll: “Chupa Leandrinho! Chupa Nenê! Não precisamos de quem não ama o nosso país!!!!1”

Reproduzo aqui uma resposta que o Danilo deu no nosso formspring:

“Olha, o Leandrinho já topou jogar pela seleção antes. Já topou jogar por uma CBB bagunçada, com técnico medíocre, elenco medonho, fora da sua posição natural em quadra, chance de não ter seu seguro pago (como já sabemos que aconteceu), botando em risco seu emprego na NBA, seu salário milionário e sua carreira lá fora, a contragosto dos chefes que assinam seus cheques e pagam suas contas. E sabe o que aconteceu? O Leandrinho foi Leandrinho, ou seja, assumiu um papel secundário, que é o que ele sabe fazer e onde se sente confortável, e a torcida brasileira caiu matando. Gente que não entende bulhufas de basquete, que não faz ideia do que significa o cara ir contra a NBA e vir jogar aqui pra essa zorra da CBB, querendo pendurar o Leandrinho num poste porque ele é “amarelão” e “cagão”. Sério? Então foda-se, o Leandrinho tem mais é que não jogar mesmo. Mesma coisa com o Nenê, que além de ser desrespeitado quando joga por aqui, ainda se lesiona sempre porque tem ossos de vidro.

Seleção brasileira é uma escolha, não é serviço militar obrigatório. É um time aí que você joga se estiver com vontade, com pique, com clima, com saúde, se você for respeitado, e se não quiser gastar seu tempo com sua filha recém-nascida, que merece bem mais atenção.

E eu já desencanei desse papo de que “os nossos melhores jogadores precisam vir pra cá para tirar o basquete brasileiro desse buraco”. Isso é furada e uma baita falácia. Se tivermos uma geração fantástica aqui e formos para as Olimpíadas, a estrutura do basquete no Brasil vai continuar a mesma, com os mesmos campeonatos, o mesmo nível técnico, a mesma administração, e o público comum vai continuar assistindo só quando for contra a Argentina para extravasar um mal colocado patriotismo. Andei lendo por aí que a “geração de ouro” argentina não é fruto de categorias de base fantásticas como se imaginava, que não mudou a estrutura do basquete no país, e que a renovação da seleção é um pesadelo. Mesma coisa por aqui. Ainda acredito que a popularização do esporte passa por acompanhar com qualidade a melhor liga de basquete do mundo ao invés de ficar se preocupando se o Nenê ou o Leandrinho vão enfrentar a Venezuela.”


E completo com minhas palavras. Caso o Brasil fique com uma vaga, terá provado que não precisa de Nenê, Leandrinho e Varejão para ser melhor que República Dominicana e Porto Rico. Nada mais do que isso. Mesmo vencendo a Argentina é ingenuidade achar que a equipe brasileira é melhor, em geral, que a deles. Se ir para os Jogos Olímpicos basta e estar lá deva ser um prêmio para quem conquistou a vaga, algo no espírito Dunga de ser, então não precisamos dos jogadores da NBA. Agora se o importante é levar os melhores jogadores e tentar ganhar umas partidas, é óbvio que eles tem que ser chamados. Mas pelo o que eu vejo por aí o público do basquete é muito patriota e não vai querer alguém que “fugiu à luta” os representando na próxima guerra Olimpíada.

Pergunta 8
Versão educada: “Como dá ponte aérea no NBA2K11?”
Versão troll: “Como dá ponte aérea no NBA2K11?”

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Eu sei que essas respostas vão gerar mais perguntas, mais trolls e mais discussões, mas acho que serviu para deixar claro o motivo do assunto ser geralmente ignorado por aqui. E que ironia um assunto deixado de lado ter rendido algo tão grande, não? É hora de parar.

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