>Fetiche por gigantes

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Se o Brooks já era porra-louca, imagina quantas mães ele vai arremessar no Suns

Com a chegada da data limite para trocas na NBA, trocentos times resolveram fazer mudanças importantes. Alguns resolveram que era época de reconstruir, outros conseguiram peças importantes para tentar chegar ao título. Desde então sentamos e analisamos todas essas trocas, Jeff Green para o Celtics, Hinrich para o Hawks, Mo Williams para o Clippers, Deron Williams para o Nets, Carmelo para o Knicks e Gerald Wallace para o Blazers, além dos jogadores que foram dispensados e trocaram de time após as trocas, como o Mike Bibby indo para o Heat e o Troy Murphy indo para o Celtics. Só faltaram duas trocas, que são a parte que me cabe neste latifúndio. Como bom torcedor do Houston, é meu dever de cidadão analisar a troca que mandou Aaron Brooks para o Suns pelo Goran Dragic mais uma escolha de draft e a troca que mandou Shane Battier de volta para o Grizzlies pelo Thabeet e uma escolha de draft. Legal, vamos voltar do carnaval (em que você passou o dia inteiro atrás de atualizações do Bola Presa clicando com cara de fracasso vendo sua lista vazia no MSN, ou então estava bêbado demais para se importar com basquete) e nos deparar com mais um texto sobre o Houston escrito pelo lambedor de bolas oficial do Yao Ming. Ah, não é uma delícia fazer o que a gente bem entende?

No post sobre a troca do Blazers, lembramos do processo de reconstrução da equipe que começou mandando embora Zach Randolph, então melhor jogador da equipe. Mesmo sem outras trocas, escolhas de draft ou contratações, o Blazers já melhorou imediatamente só de não ter o Randolph em quadra. Em parte porque ele era um buraco negro (quando a bola chegava nele, nunca mais escapava), em parte porque ele produzia bons números mas não defendia bulhufas, mas o motivo principal da melhora da equipe foi que  a saída do Randolph abriu espaço para outros estilos de jogo e deu oportunidade para outros jogadores mais jovens. Cada caso é um caso, não é sempre que funciona, o Cavs sem seu melhor jogador virou um dos piores times da NBA, mas às vezes vale a pena perder uma peça que parece essencial e dar minutos ao resto do elenco. Curiosamente é o que está acontecendo com o Nuggets, por exemplo, que sem o Carmelo agora pode se dedicar a um sistema de jogo defensivo e dar minutos a um elenco bastante profundo. Com o Houston aconteceu algo parecido, mas em menor grau.

Desde que o Tracy McGrady foi boicotado e mandado embora, o time continua com sua política de manter um jogo coletivo e sem estrelas que consegue fazer estrago, mas que sem Yao Ming provou que não vai a lugar nenhum. Aaron Brooks foi um dos melhores jogadores da equipe nas duas últimas temporadas, foi líder da NBA em bolas de 3 pontos, deu sufoco para o Lakers nos playoffs e assumiu a responsabilidade nos momentos decisivos de inúmeras partidas – mas ele ainda era apenas mais um armador em uma equipe cheia até as orelhas de outros armadores. Rapidamente ele foi de jogador mais importante para jogador mais desnecessário – e a equipe melhorou muito sem ele.

Isso aconteceu porque a defesa do Houston desmontou inteira sem Yao Ming. Tendo que usar um garrafão muito baixo e com limitações defensivas graves (jeito simpático de dizer que todo mundo fede), a tática de afunilar a defesa para o centro do garrafão virou farofa. Os jogadores de perímetro passaram a ser responsáveis por impedir os adversários de infiltrar, e não de forçar a infiltração pelo meio como antigamente. O problema é que Kevin Martin e Aaron Brooks são simplesmente terríveis na defesa mano-a-mano, é de dar vergonha. Com os dois em quadra como titulares, a defesa da equipe virou uma peneira, mais aberta do que passista bêbada de escola de samba, e vários jogos foram perdidos por pouco no começo da temporada justamente porque o Houston não conseguia impedir pontos nos minutos mais importantes. A temporada foi pro saco bem no começo, com os jogos perdidos por pouco, e desde então o time não fez outra coisa além de correr atrás do prejuízo em busca de uma vaga nos playoffs.

Quando o Brooks se machucou e Kyle Lowry assumiu a armação da equipe, as coisas melhoraram muito. Lowry é um excelente defensor, um dos melhores na posição, e bastou que tivesse mais minutos (e se recuperasse da própria lesão que sofreu) para se acostumar com as funções do Brooks e começar a acertar os arremessos de três pontos que eram característica do antigo dono do cargo. A profundidade do elenco também apareceu com a contusão do Brooks: o Courtney Lee, também excelente defensor, joga muito bem quando tem minutos decentes. Chase Budinger se destaca nas bolas de três se o armador não arremessar tanto. Ish Smith, que teve minutos quando todos os outros armadores estavam lesionados, mostrou que consegue segurar as pontos. E Terrance Williams, que anda destruindo nos treinos da equipe, só não entra em quadra pra pontuar como um maluco porque ele é essencialmente igual ao Brooks no que tange à defesa.

Ou seja, não deu pra sentir falta do Brooks enquanto ele esteve contundido. Tem armador de baciada para entrar no seu lugar, incluindo um armador que sequer tem espaço para ser utilizado e que faz as mesmas coisas que ele. O time ainda tem suas dificuldades, continua perdendo, mas é melhor com Kyle Lowry armando e o resto dos armadores tendo oportunidade em quadra. O Brooks é bom, isso é inegável, mas Lowry é um armador mais experiente com uma carreira inteira em que foi reserva e merecia ser titular, é bonito ver ele finalmente morder a vaga e não largar mais.

Quando voltou de contusão, o Brooks foi pro banco de reservas. Sua vaga como titular estava tomada em definitivo, não adiantava chorar. Seu contrato acaba nessa temporada, então era bem óbvio que o Houston não iria reassinar o armador por uma bagatela e que o Brooks iria procurar outros ares. Seria normal perder o armador por nada e respirar aliviado com o espaço criado pela sua partida, coisa de elenco profundo e nenhuma chance de título, mas o Houston conseguiu trocá-lo numa jogada de mestre. Porque o Suns não sabe o que faz.

O Goran Dragic não estava jogando bem em Phoenix, é verdade, mas ele comandou o ataque do Suns nos playoffs passados com algumas partidas simplesmente espetaculares e é disparado o melhor defensor da equipe na posição (o que não quer dizer nada num time que tem o Nash, claro). Faz tempo que o armador esloveno está sendo cuidadosamente criado para assumir o time numa possível saída do Nash, mas parece que o Suns simplesmente encheu o saco. Mandaram o armador embora, junto com uma escolha de draft (do Suns, se eles não forem para os playoffs, ou do Magic, caso eles consigam ir) e pegaram o Brooks para assumir a reserva e o Ish Smith pra segurar as pontas quando Nash e Brooks jogarem ao mesmo tempo em quadra numa formação mais baixa. Caso a equipe tenha esperanças de se dar bem nos playoffs, o Brooks pode ser uma boa – ele fez chover contra o Lakers, é mais rápido que o Dragic, arremessa melhor e tem experiência levando um time nas costas na pós-temporada. Mas para assumir o lugar do Nash, a troca não faz sentido. O contrato do Brooks vai acabar nessa temporada e não há garantia de que ele vá reassinar com o Suns. A troca pareceu apenas um empréstimo para ver se a equipe consegue ir bem nos playoffs nessa temporada, o que é ridículo. Desde quando o Suns deveria se importar com essa temporada? Tudo bem que o time deveria feder mas nunca fede, que eles continuam ganhando mesmo quando a gente espera que eles desmontem, mas alguém realmente acredita que essa equipe que depende do Channing Frye e do Vince Carter vai a algum lugar? Quando finalmente achamos que o Suns vai se tocar, entrar em reconstrução e trocar o Nash, eles insistem em vencer uns jogos bizarros, continuam com chances de ir pros playoffs e fazem uma troca que não pensa em nada no futuro. Não entendo esse time nem lascando. Pra mim foi a troca mais desequilibrada da data limite, o Houston cometeu um assalto à mão armada e o Suns tá lá, feliz da vida, achando que dá pra vencer o Spurs nos playoffs e mandar o futuro às favas. Legal. Se eles forem campeões com esse time mequetrefe, sendo que não conseguiram com Amar’e e Jason Richardson, façam favor de jogar esse mundo fora porque não vou querer viver nele.

A outra troca do Houston tem muito em comum com a primeira. Os jogadores que ganharam espaço com a lesão do Aaron Brooks, como Courtney Lee e Chase Budinger, não apenas se mostraram competentes com os minutos como também são o futuro do Houston, que não tem motivo para pensar no agora. Shane Battier é um gênio, continua sendo um dos melhores defensores da NBA e é mais obediente do que cachorro de cego, respeita toda e qualquer instrução tática, lê bem o jogo e executa bem todas as pequenas coisas como se jogar no chão e dar cabeçadas em muros de concreto. Mas ele é o tipo de jogador essencial para equipes que querem ser campeãs, não para equipes que estão formando elencos profundos baseados em pirralhada. Ele era a peça final para levar Yao e Tracy McGrady ao titulo, o Houston até abriu mão do Rudy Gay novato porque não tinha paciência para esperar o pirralho amadurecer. Mas o título não veio, as lesões não deixaram, o Rudy Gay virou estrela no Grizzlies e o Battier agora não é mais necessário. Com o contrato expirante do Yao Ming, o Houston vai ter grana para decidir quais jogadores jovens manter e quem trazer para dar uma força, mas está longe de ter chances reais pelos próximos anos. O Battier estava sendo pouco aproveitado. Isso ficava óbvio quando o Houston vencia jogos graças às bolas de três pontos do Battier, não graças à sua defesa. Toda vez que ele entrava em quadra com a mira calibrada, as chances de vitória da equipe eram muito maiores. Pronto, agora o Houston pode usar o Chase Budinger de titular que é especialista nas tais bolas de três e o Courtney Lee pode brilhar na defesa arremessando muito melhor do que o Battier jamais arremessará. Ponto pra meninada.

No Grizzlies a situação é inversa. Agora o time se leva a sério, a reconstrução feita aos trancos e barrancos que começou com a troca do Pau Gasol deu resultado, e eles realmente acreditam que podem surpreender nos playoffs. O projeto do Grizzlies teve um monte de tropeços, o OJ Mayo deu dor de cabeça e foi deixando de ser usado, o Hasheem Thabeet veio com a segunda escolha do draft mas não está pronto para a NBA, o Rudy Gay se contundiu no meio dessa temporada (e só volta agora no final de março), e mesmo assim o Grizzlies continua impressionando todo mundo com uma defesa sufocante e vencendo jogos que não deveria vencer. É um time de verdade capaz de garantir uma vaga nos playoffs e surpreender qualquer adversário através da defesa. Quão bizarro é isso num time que tem Zach Randolph como titular? É maluco mas é real, e agora o Grizzlies precisa acreditar que pode vencer imediatamente, preparando terreno para a inevitável evolução da equipe. Tony Allen encontrou nova vida após o Celtics com a sua forte defesa individual, então Shane Battier com certeza vai se encaixar no esquema defensivo, quebrar um galho nos rebotes enquanto Rudy Gay está fora, e fazer as pequenas coisas que o time precisa nos playoffs. Ainda que o contrato do Battier também seja expirante como o do Brooks, tudo leva a crer que o Battier vai ter muitos movitos para continuar na equipe após essa temporada e terá um papel importante na campanha da equipe nos playoffs e no futuro.

Para conseguir Battier, o Grizzlies teve apenas que desistir de uma escolha de draft futura (provavelmente de 2013, quando eles esperam estar na elite da liga) e de uma cagada, o pivô Hasheem Thabeet. Todo mundo sabia que o pivô estava mais cru do que sashimi quando foi draftado, mas o Grizzlies insistiu em gastar uma segunda escolha com o rapaz. Agora que precisam vencer hoje mesmo, não dá pra esperar mais 10 anos até que o pivô aprenda a amarrar os próprios cadarços. O Houston pode ter essa paciência numa boa, e está tão desesperado por um pivô que vale até a pena arriscar um jogador que precisa de ajuda para se limpar quando vai ao banheiro. O lado positivo pro Houston é que o Thabeet não foi um fracasso completo como novato. Ele teve média de mais de um toco por jogo mesmo ficando em quadra por pouco mais de 10 minutos. Ele é um poste gigantesco com 2,21m de altura capaz de alterar muitos arremessos e bloquear outros tantos, mas com dificuldade para correr de um lado para o outro, técnica nenhuma no ataque e físico inferior ao do Justin Bieber. Se o Houston quer voltar a ter uma presença defensiva no garrafão para que a defesa do perímetro afunile em sua direção, como fazia com Yao e com o Mutombo, o Thabeet é uma esperança. O Grizzlies foi ficando bom e aí não fazia mais sentido dar minutos para o pirralho que só sabe dar tocos, o Houston pode esperar mas é bem capaz que também fique bom demais antes do pivô deslanchar, e aí não vai fazer sentido usá-lo. Por enquanto o Houston está sendo cauteloso, avaliando o Thabeet nos treinos, ainda vendo se a nova formação da equipe se encaixa e se tem chances de lutar por uma oitava vaga. Em breve ele vai ganhar mais chances e minutos, coisa de time com fetiche por pivôs com mais de 2,20m de altura. É legal ganhar um pivô com potencial em troca de um jogador que não era mais tão útil e cuja partida abrirá espaço para outros jovens promissores, mas convenhamos: ficar dependendo de pivôs gigantes mostra que o Houston definitivamente não aprendeu uma lição importante sobre a saúde desses jogadores-aberrações. Aposto que o Grizzlies agora respira aliviado por não ter que lidar com essa bomba, mesmo que no futuro o pivô venha a render alguma coisa. É melhor garantir umas vitórias agora do que ter que carregar o fardo de uma péssima escolha de draft pra vida toda. O fardo agora é do Houston, mas é mais leve porque é só uma pequena aposta que custou pouco – desde que a equipe não morra de amores pelo pivô e deposite todas as suas fichas nele. Mas como ele mal entrou em quadra desde que a troca aconteceu, não acho que seja o caso. Como torcedor, também não vou esperar grandes merdas, vou só ficar de olho porque, né, vai que dá certo?

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