Pré-temporada é hora de dar atenção para o Ryan Gomes mesmo não sendo a mãe dele
Como o Danilo disse antes de ontem, começou a pré-temporada da NBA! E é motivo de festa? Por um lado sim, porque significa que estamos perto da temporada regular, e por outro lado não, porque não quer dizer lá tanta coisa.
Mas como não tem mais nada acontecendo no mundo, vamos falar de pré-temporada. Até me falaram que tá rolando algo por aí como uma grande crise econômica de dimensões astronômicas, mas acho que nem deve ser nada, então não há nada mais importante que a pré-temporada da NBA para comentarmos.
Até agora foram poucos jogos, só quatro, o negócio começa pra valer mesmo hoje, com mais cinco. Hoje tem a estréia do Greg Oden no Portland, conta o Kings, e a do Ron Artest no Houston, contra o Grizzlies, o que significa que tem estréia do OJ Mayo também.
Mas a pergunta que não quer calar é: mesmo não acontecendo mais nada no planeta, por que dar importância para a pré-temporada? Por que não ocupar esse mês no blog fazendo uma eleição da apresentadora de TV mais gostosa do Brasil?
Primeiro porque a Diana Bouth ia ganhar fácil, depois porque temos muito o que aprender com a pré-temporada. O segredo é saber no que prestar atenção e o que você pode ignorar. Vou explicar usando como exemplo os quatro jogos que já aconteceram.
Ontem, o Atlanta Hawks venceu o Orlando Magic e daí já podemos tirar a primeira lição: não importa quem ganha o jogo. Os técnicos estão testando sistemas, colocando jogadores em teste e os titulares só jogam um pouco para ganhar ritmo, então o placar é o de menos. Mas nessa vitória vimos que o Maurice Evans, contratação nova do Hawks, marcou 17 pontos e o Acie Law fez uma partida impecável com 20 pontos, 4 assistências e 5 rebotes.
O Acie Law era uma grande promessa antes do draft do ano passado mas fracassou na sua temporada de novato. Mesmo sendo um caso raro (atualmente) de jogador que jogou os 4 anos de faculdade, ele parecia um menino em quadra, todo perdido procurando a mãe. Ver uma estréia tão boa dele pode ser sinal de que ele está tomando jeito. Mas uma coisa importante em pré-temporada é que tudo pode ser mentira, é importante ficar de olho mas não se enganar achando que tudo vai se repetir na hora da verdade.
O caso do Maurice Evans é mais interessante porque ele foi dispensado pelo Magic e pareceu realmente magoado em sua entrevista após o jogo, mas eu acho que foi melhor pra todo mundo essa mudança. Com ela, o Evans foi para um lugar onde ele tem muito espaço. Com a saída do Childress, o Evans é, junto com o Law, o principal reserva do Hawks e pode ser reserva imediato do Joe Johnson, Marvin Williams e até do Josh Smith.
Para o Magic foi bom porque abriu espaço (junto com as saídas do Dooling e do Arroyo) para assinar o Anthony Johnson e o Mickael Pietrus, que é uma dupla melhor do que os dispensados. Ontem, aliás, o Pietrus foi titular e deve continuar assim quando começar a temporada. Ele é um bom defensor (nada Bruce Bowen, mas é bom) e sabe meter seus arremessos. Mas pelo o que vimos ontem, o Stan Vun Gundy está disposto a finalmente dar uma chance para o JJ Redick. Segundo alguns, o Redick é o melhor arremessador do mundo (não é o Damon Jones, desculpe) e tá todo mundo esperando ele pelo menos entrar em quadra. Ontem ele jogou 20 minutos e fez 12 pontos, como seu contrato está acabando o Magic deve botar ele mais em quadra para ver se vale a pena manter ele por lá.
O outro jogo de ontem foi Wolves e Bucks. No placar o Wolves trucidou o Bucks, mas o que mais chama a atenção ao ver os números do jogo é ver que o técnico do Wolves colocou o Mark Madsen (sim, o branco que dançava no banco do Lakers) ao invés do Kevin Love. Como era previsível, o Madsen jogou mal e o Love jogou bem. Dá pra esperar uma escalação com Foye, Mike Miller, Ryan Gomes e Al Jefferson como ontem, mas com o Love completando o quinteto. É um time pra se respeitar, com jogadores bons em todas as posições embora ainda provável antepenúltimo colocado no Oeste. Um antepenúltimo respeitável, digamos assim.
Pelo Bucks não deu pra esclarecer a minha maior dúvida, que é quem será o armador titular. Ontem foi o Ramon Sessions, que jogou 35 minutos de jogo, mas o Tyronn Lue e o Luke Ridnour não estavam em condição de jogo e nem entraram, ou seja, falta de opção. Já vi gente dizendo que o Ridnour provavelmente é titular e o Sessions tem a pré-temporada pra provar que merece a vaga. Ontem, porém, não foi um bom começo, foram 6 assistências, 5 turnovers e apenas 3 arremessos certos em 11 tentados.
O que deu pra ver no Bucks é o que o banco deles é terrível em talento mas ótimo em Força Nominal. Ontem tinhámos Luc Mbah a Moute e o terrível Kevin Kruger. Entenda o “terrível” como quiser.
Antes de ontem, quem fez sua estréia foi o Pistons. Em geral o Pistons é um time que ignoramos durante a pré-temporada porque são os mesmos jogadores, o mesmo elenco, o mesmo técnico e o mesmo esquema de jogo. Mas nesse ano é diferente, tem técnico novo, o Michael Curry, que disse que quer explorar mais o Rasheed embaixo da cesta e mais do que isso, o time tem um novo titular: Amir Johnson.
A pré-temporada é o momento de ver como começa a aventura do pivete que sempre impressionou todo mundo que via ele jogando as partidas já ganhas do Pistons. O Curry adorou ele e resolveu dar uma chance pra ele de titular. Mas o começo foi digno de seu reserva, o Kwame Brown. Amir jogou 18 minutos e fez apenas dois pontos e 5 faltas. Mas espere ver mais do Amir Johnson na pré-temporada, ele é a grande atração do Pistons até a temporada começar.
O Pistons jogou (e perdeu na prorrogação) com o Heat. No time do Miami a expectativa, claro, era pra ver como se sairia o Michael Beasley. E o novato não decepcionou. Na semana em que ele deu uma de Derrick Rose e disse que quer ser MVP da liga no seu ano de novato, ele foi o cestinha do time e fez 16 pontos. Na disputa para ser armador titular, quem saiu na frente foi o Chris Quinn, escolhido para iniciar nesse primeiro jogo. Mas ele fedeu um bocado, errando 6 dos 7 arremessos que tentou. Seus reservas, Mario Chalmers e Marcus Banks, não foram muito melhores. Sobra para o Heat torcer para que o talento do novo contratado Shaun Livingston não tenha ido embora com metade do seu joelho naquela contusão de dar medo.
Na luta pela posição de pivô, o Magloire está dando adeus à sua carreira ao conseguir ser uma opção pior que o Mark Blount. E um dado interessante sobre o Magloire: ele não tem 75 anos.
E finalmente tivemos o Hornets enfrentando o Warriors. A única novidade no Hornets é o James Posey, que jogou bem mas que foi contratado para ser decisivo nos playoffs, não agora e nem na temporada regular. Entre um jogo de pré-temporada do Hornets e almoço na casa da sua tia, pode ir comer bolo de nozes na casa da sua tia sem traumas.
No Warriors sem Baron Davis, era de se esperar que alguém chamasse a responsa para armar o jogo e dar as assistências que o Baron daria. O Monta Ellis não pode ser porque ele caiu da lambreta e torceu o pé, a tarefa então ficou nas mãos do CJ Watson, que jogou bem mal e não deu nenhuma assistência sequer. Seu reserva, o Marcus Williams, foi melhor, mas também mal. No fim das contas o lider em assistência do time não foi um armador, mas sim o debutante da noite, o Ronny Turiaf, com 7 assistências (além de 7 rebotes e 6 pontos!). Como o Warriors é imprevisível de um jogo para o outro, é bom nem levar muito em consideração o que acontece no primeiro jogo da pré-temporada, mas acredito que o Turiaf, pelo seu estilo veloz e agressivo, se dará bem no Warriors como já se deu na sua estréia.
Acabando o texto num estilo clássico do maior escritor do Brasil, Voltaire de Souza: assistir pré-temporada de NBA é como ouvir mulher falar, você pega o que interessa e ignora a maior parte.
Nota:
Voltando aos bons tempos de temporada onde sempre tem alguma notícia tola para ser comentada: o técnico do Heat, Eric Spoelstra, está provando que é realmente o técnico mais jovem da NBA. Ele distribuiu para os jogadores um iPod Touch com todo o livro de jogadas lá dentro para visualização.
O livro que os jogadores tinham que ver antes tinha (ou melhor, tem, porque não foi extinto) 300 páginas de jogadas e variações. Mas o iPod não é presente, é do Miami Heat e quem for trocado precisa devolver e se perder tem que pagar uma multa equivalente a quase dez vezes o valor do iPod. O Udonis Haslem disse que o Spoelstra deixou até colocar música lá dentro, só não vale apagar as jogadas pra caber mais música.
E o Haslem, todo malandrão, ainda deixou uma piadinha com um ex-companheiro mais vovô:
“Se o Alonzo Mourning ainda estivesse aqui a gente ia ter que dar um manual junto com o iPod pra ele conseguir usar. Ele ainda usa beeper.”